Caros Amigos:
Embora não se insira exactamente no que eu entendo como textos a colocar neste Blogue, que se destina prioritariamente a falar de assuntos da Igreja, como Vidas de Santos e outros (que não todos – porque seria um trabalho incomensurável para mim, já que sou eu que trato diariamente do seu conteúdo, como já disse várias vezes, ao longo destes quase três anos…), considero DE SUMO INTERESSE este texto que acabo de receber por parte do Padre Fernando Soares, da SSVP, pelo que me permito transcrevê-lo, SEM QUAISQUER COMENTÁRIOS… Obrigado e desculpem a ousadia. António Fonseca.
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(Sem Assunto)
17:17
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Manuel Fernando Lopes Soares
padrefernando77@hotmail.com
De:
Manuel Fernando Lopes Soares (padrefernando77@hotmail.com)
Enviada:
segunda-feira, 12 de Setembro de 2011 17:17:18
Para:
O recente debate sobre política fiscal é tão interessante quanto intrincado. Pergunta-se: quem tem mais deve contribuir mais? Eis um daqueles dilemas de solução impossível. Tirando o sentido de justiça e o mais elementar bom senso, não há nada que nos ajude a tomar uma posição definitiva. Devem os ricos pagar mais impostos do que os outros? É uma questão complexa. Arrebanhar metade do 13.º mês acima do salário mínimo é incontroverso, mas quando se trata de taxar grandes fortunas os analistas tornam-se filosóficos: mas o que é um rico?, perguntam. Parece tratar-se de um conceito vago e populista, comentam, com admirável prudência intelectual.
Fazia falta um destes analistas no versículo 24 do capítulo 19 do Evangelho segundo São Mateus. Quando Jesus dissesse que é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus, o analista havia de contrapor: "Mas, Senhor, o que raio é um rico? Abstende-vos de usar conceitos vagos e populistas." No entanto, Jesus Cristo, talvez por ser filho de quem é, pode dizer o que lhe apetece sem ser acusado de demagogia. Uma sorte que Jerónimo de Sousa não tem.
Na verdade, os analistas têm razão. A riqueza é um conceito vago. Tão vago que o homem mais rico de Portugal conseguiu dizer esta semana que não era rico. Ora, se o homem mais rico de Portugal não é rico, isso significa que em Portugal não há ricos, o que inviabiliza a criação de um imposto especial para eles. É impossível taxar quem não existe, como a direção-geral de impostos bem sabe - até porque já tentou.
Toda a gente conhece aquele poema do António Gedeão sobre Filipe II: o rei era riquíssimo (passe a imprecisão e o populismo) e tinha tudo. Ouro, prata, pedras preciosas. O que ele não tinha, diz o último verso, era um fecho éclair. Américo Amorim tem tudo, incluindo um fecho éclair. Talvez não tenha vergonha, mas também vem a calhar: nem criando um imposto sobre a vergonha o apanham.
Américo Amorim constitui, por isso, um mistério tanto para a fiscalidade como para a teologia. Sendo o homem mais rico de Portugal, talvez não entre no reino de Deus. No entanto, na qualidade de pobre de espírito, tem entrada garantida.
Texto de Ricardo Araújo Pereira
Transcrição de
António Fonseca