Nº 1582 - (3)
BOM ANO DE 2013
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Caros Amigos:
Desde o passado dia 11-12-12 que venho a transcrever as Vidas do Papas (e Antipapas)
segundo textos do Livro O PAPADO – 2000 Anos de História.
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ALEXANDRE VI
Alexandre VI
(1492-1503)
Foi eleito em 26 de Agosto de 1492, tomou o nome de Alexandre VI e, mesmo aclamado pelos Romanos, diz-se que comprou dois terços dos votos para conseguir a eleição.
A verdade é que uma vida dissoluta e nepotismo faziam dele mais um príncipe da Renascença do que um papa.
Como escreveu o historiador Ludwig von Pastor: «nas altas classes sociais do século XV as leviandades eram o pão nosso de cada dia. Que alguns príncipes eclesiásticos viveram melhor que os seculares, isso pouco ou nada escandalizava os italianos do Renascimento – consequência, antes de mais, do laxismo então reinante, quer nas ideias, quer nos costumes, o que fazia com que os dignitários da Igreja fossem vistos sobretudo como príncipes seculares.
Tinham comprado para a Igreja os dias da infâmia e do escândalo».
De facto, Alexandre VI era conhecido pelas sua vida com muitas amantes, sendo a mais importante Vannoza Caetani, de que teve quatro filhos, João, César, Lucrécia e Jofre, que tiveram um papel importante no papado, particularmente, César e Lucrécia Bórgia, sendo seu principal cuidado tratar do interesse da família. Nomeou o filho César, ainda adolescente, bispo de Valência, o sobrinho Giovanni, cardeal, e tentou que o filho João, duque de Gandia, se apoderasse do reino de Nápoles.
Como papa, agiu com pulso de ferro e acabou com a anarquia em Roma, melhorou a defesa da cidade, transformou o mausoléu de Adriano numa fortaleza e mandou fortificar a Torre de Nona, para proteger a cidade de ataques navais.
Como patrono das artes, erigiu a universidade romana de Sapienza, restaurou o Castelo de Santo Ângelo, construiu uma mansão grandiosa para a chancelaria apostólica, embelezou os palácios do Vaticano e obrigou Miguel Ângelo a dirigir a reconstrução da Basílica de São Pedro e a decorar a abóboda de Santa Maria Maior, com o primeiro outro trazido da América por Cristóvão Colombo.
Perante o paganismo e o descalabro moral da sociedade, ergueu-se a voz do frade dominicano Savonarola, prior do convento de São Marcos, em Florença, a pregar contra o papa e todos os que viviam à sua volta no fausto reclamando terríveis castigos.
Alexandre VI procurou chamar Savonarola a Roma para o dominar e acabar com os ataques, mas o frade recusou-se sempre e acabou condenado à morte e enforcado em Florença.
No campo espiritual, preocupou.-se com a propagação da fé nas terras dos infiéis descobertas por portugueses e espanhóis e, em 1494, depois da viagem de Colombo na descoberta da América, conferiu a Isabel de Castela e a Fernando de Aragão, o título de Reis católicos.
Entretanto, nasciam divergências entre os reinos de Portugal e de Castela e o papa, por bula de 4 de Março de 1493, tenta resolver a questão por meio de uma linha que, de pólo a pólo, passando a 100 léguas para lá dos Açores, dividia o mundo ao meio; as terras descobertas para ocidente dessa linha pertenciam a Castela e para oriente, a Portugal.
D. João II, rei de Portugal, não aceita a bula e daí resultou o Tratado de Tordesilhas, firmado com os Reis Católicos, em 7 de Junho de 1494, conseguindo afastar a linha divisória mais 270 léguas para ocidente, sinal de que já antes da descoberta do Brasil por Pedro Álvares Cabral os cartógrafos portugueses tinham conhecimento dessas terras.
Na sua atividade pastoral, foi sempre favorável às ordens monásticas e aprovou a Ordem dos Mínimos, fundada por São Francisco de Paula, e a da Anunciata, fundada por Santa Joana de Valois, e empenhou-se na defesa dos mosteiros dos Países Baixos.
Fomentou, também, o culto da Santíssima Virgem, por meio da criação da Confraria do Rosário e, restaurou o costume de rezar um pai-nosso e uma ave-amaria, ao toque do sino do meio-dia e, mais tarde ação do Angelus.
Pessoalmente era muito devoto da Santíssima Virgem e primava pelo decoro das funções litúrgicas, o que se notou especialmente no Jubileu do Ano de 1500, introduzindo cerimónias novas, como a da abertura da Porta Santa, que ainda perdura.
Uma multidão de cerca de 200 000 pessoas afluiu a Roma para o jubileu, segundo disse o mestre-de-cerimónias, J. Buorchard. Entre os peregrinos, viu-se o sacerdote polaco e célebre astrónomo Copérnico, que se manteve em Roma, dando aulas e tendo entre os seus discípulos Miguel Ângelo e o cardeal Alexandre Farnnese, futuro papa Paulo III.
Alexandre VI morreu com um ataque de malária, aos 73 anos, e mostrou-se arrependido, como já acontecera quando seu filho João morreu afogado nas águas do Tibre, dizendo: «Foi pelos nossos pecados que Deus nos mandou esta prova. Que perdoe a quem o matou. Pela nossa parte, resolvemos empreender a emenda da nossa vida e da Igreja.
Daqui por diante, os benefícios serão atribuídos apenas por mérito. Queremos renunciar ao nepotismo a começar a reforma por nós, estendendo-a depois aos outros membros da Igreja, levando esta empresa até ao fim».
De um papa, é verdade, exige-se muito mais, mas Alexandre VI terá sido também, caluniado. Foi indigno? É possível, mesmo com o ambiente pagão do renascimento, mas fica de pé a afirmação do papa Leão Magno: «A cadeira de Pedro não se degrada com um herdeiro indigno».
Segundo L. Hearting, «se Alexandre VI, em, vez de papa, tivesse sido um rei ou imperador, não haveria inconveniente em exaltá-lo entre os políticos e governantes mais eminentes da sua época, omitindo as manchas da sua vida particular».
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PIO III
Pio III
(1503)
Foi eleito em 22 de Setembro de 1503 aos 64 anos, mas já gravemente enfermo, tomando o nome de Pio III. Foi papa apenas por 24 dias.
Era um homem íntegro e piedoso e o povo via nele o reverso do seu antecessor, muito esperando dele.
A este respeito, o geral dos Camaldulenses escreveu: «Uma nova luz nos amanheceu. os nossos corações estão cheios de júbilo e os nossos olhos enchem-se de lágrimas porque Deus se apiedou do povo cristão, dando-lhe um Pastor santo e imaculado.
Sob o seu governo a vinha do Senhor não voltará a produzir cardos e espinhos, mas estender-se-á florescente de um mar a outro mar».
De facto, Pio III, era declaradamente um papa disposto a colocar a Igreja no seu lugar e logo que foi eleito mandou prender César Bórgia pelos seus pecados e excessos públicos.
Infelizmente não teve tempo para governar a Igreja como queria e podia, pois morreu devido a uma úlcera que tinha numa perna ou, como foi dito então, envenenado por Pandolfo Pettrucci, governador de Siena. Foi enterrado em São Pedro e, posteriormente, os seus restos mortais foram trasladados para Santa Andrea del Valle, onde ficou ao lado de seu tio Pio II.
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JÚLIO II
Júlio II
(1503-1513)
Apenas com um dia de reunião, o conclave elegeu como papa o cardeal Giulliano della Rovere, um homem de 60 anos, que tomou o nome de Júlio II e foi coroado em 26 de Novembro de 1503.
Destacou-se mais como notável homem de Estado do que como eclesiástico, pela sua enérgica atuação política, reorganizando administrativamente o Estado Pontifício e criando a Liga de Cambrai, contra Veneza, e a Santa Liga, contra a França.
Começou por organizar uma expedição militar para reaver as cidades de Perúsia e Bolonha, que se renderam sem combate.
Recebido triunfalmente em Roma, parte em seguida para outra empresas de maior envergadura: pressionar Veneza com ameaças para que restituísse à Igreja várias cidades usurpadas. Veneza responde com arrogância, mas é organizada contra ela uma Liga constituída pela França, Alemanha e Milão, acabando por negociar com o pontífice a restituição das cidades reclamadas. O rei de França porém, reclamando direitos de conquista, não aceita de bom grado o entendimento de Veneza com Júlio II. para isso entende-se com alguns cardeais contrários ao papa e convoca uma assembleia do clero que proclama, arbitrariamente, os privilégios da Igreja francesa, provocando a irritação de Júlio II, que lança a excomunhão sobre Luís XII e os cardeais que o apoiavam. Estes, com o auxilio do monarca francês, intimam o papa para um concílio em Pisa, em 1511.
Não concordando, Júlio II convoca para Latrão aquele que seria o XVII Concilio Ecuménico, com início em 19 de Abril de 1512.
Os reis de Inglaterra e Aragão, tal como o imperador alemão, recusam as manobras dos cardeais dissidentes e as maquinações do rei francês e aderem a Júlio II, rejeitando o concílio em Pisa.
Para se vingar, Luís XII procura malsinar o papa, permitindo e fomentando chacotas teatrais e panfletos que, criticando Roma, o apresentavam a ele como enviado de Deus para reformar a Igreja.
Autorizou o casamento de Catarina de Aragão, filha dos reis Fernando e Isabel de Espanha, com o rei Henrique VIII, depois de ter ficado viúva de Artur, irmão do rei.
Júlio II ficará ainda assinalado na história por ter sido promotor das artes, dando proteção a artistas como Bramante, Miguel Ângelo e Rafael e promovendo a reconstrução da Basílica de Latrão.
Foi um extraordinário pontífice para a mentalidade da época renascentista, mas das suas ações beneficiam mais a Itália e as artes do que a Igreja como corpo espiritual.
Saliente-se o apoio dado às expedições marítimas portuguesas, que, com os seus missionários, contribuíram eficazmente para a propagação da fé na Índia, Etiópia e Congo.
Merecem destaque ainda algumas bulas e cartas a proibir a simonia, a refrear excessos da Inquisição espanhola, a incentivar a reforma das ordens religiosas, a proibir o duelo e a abolir o jus naufragil (o direito de ficar com os despojos dos naufrágios).
Sem ter recuperado de uma grave doença, que o atormentava desde 1510, ficou novamente enfermo, vindo, entretanto, a falecer.
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Este Post era para ser colocado em 8-3-2013 – 10H30
ANTÓNIO FONSECA