Arai Daniele
A tradição do culto ao Anjo Custódio com a expressão de Arcanjo São Miguel “protector dos portucalenses” vem do tempo do Conde D. Henrique, pai do primeiro rei de Portugal. Em Braga, no cimo do outeiro o cavaleiro Amares, das hostes do conde, fundaria a capela consagrada a São Miguel nos fins do século XI. E o culto continuou em mosteiros beneditinos, depois cistercienses, até o nosso tempo, numa longa e importante história.
Aqui nos interessa a aparição do Anjo de Portugal em 1916 a fim de preparar os pastorinhos para a aparição de Nossa Senhora de Fátima em 1917. Sabemos que um Anjo foi precursor dessas aparições por três vezes: no verão, na primavera e no Outono, quando trouxe a comunhão aos pastorinhos.
“Eu sou o Anjo da Paz” disse antes, e depois, “Eu sou o Anjo de Portugal”. O cônego Barthas interrogou a vegente Lúcia para saber se eram dois anjos. Soube então que era uma só pessoa que aparecia como um jovem (sem asas). Mas não há nenhuma descrição do Anjo do «Terceiro Segredo», que apareceu com uma espada e clamava por – penitência, penitência, penitência! Que devia ser o mesmo Anjo em outra veste.
Ora, também à santa Joana d’Arco apareceu o Anjo protetor do Reino da França. Mas disse o seu nome: “Eu sou Miguel”. São Tomás de Aquino, referindo-se ao profeta Daniel, deduz que as Nações como as pessoas, têm um guardião espiritual do Coro dos Principados. E para as Nações católicas, quem senão o Arcanjo São Miguel?
De fato, Portugal sempre o celebrou como festa litúrgica, pelo menos desde 1514. A devoção a S. Miguel é portanto profundamente católica e lembrada pelos Papas. A ele se dirigiu o Papa Leão XIII com os exorcismos para a defesa da Igreja e do Papado até o triunfo final do Reino de Jesus Cristo.
No século XX até a Maçonaria conhecia essa proteção e neste sentido lembramos o seguinte episódio do mesmo ano de Fátima, 1917: A Maçonaria, que é a organização secreta e sectária organizadora da Revolução Mundial, tinha alcançado tal poder, em 1917, que os seus seguidores, em comemoração do bicentenário da fundação e do aniversário de Giordano Bruno, desafiou a Igreja na Praça de São Pedro, sob as janelas do Papa, com incursões sacrílegas. Exibia sinais representando S. Miguel pisoteado por Lúcifer, e gritando que Satanás teria de reinar no Vaticano, e ter o Papa como seu escravo! Padre Maximiliano Maria Kolbe, testemunhando este espetáculo sinistro, em seguida, decidiu fundar a "Milícia da Imaculada" para lutar contra as hordas maçônicas e rezar pela conversão de seus seguidores.
Como se vê S. Miguel é combatido como grande defensor da Igreja Católica e agora tudo indica ter sido ele o Anjo que apareceu em Fátima, primeiro, como um jovem luminoso sem asas, depois, com uma espada de fogo para anunciar um pedido estremo de conversão. Vejamos essa sequência.
O Centenário da aparição do Anjo em Aljustrel
Quem se ocupa dos Eventos de Fátima, sabe que estes começaram aqui em 1915 com estranhas aparições à Lúcia e a outras crianças. «Afirmam que lhes aparecia um vulto todo embrulhado num pano branco sem se lhe verem o rosto na Cova da Iria e noutros sítios, atrás do moinho do Cabeço. Umas poucas vezes. Os outros é que disseram. A Lúcia só depois é que disse.» (Documentação Crítica de Fátima. I – Interrogatório aos Videntes – 1917, Santuário de Fátima, 1992, p. 83).
Havia algum misterioso simbolismo nestas aparições? Porque tratava-se de um vulto indefinido. No ano seguinte, porém, esta aparição ficou bem clara na imagem de um Anjo, que se apresentou como Anjo da Paz e de Portugal. Portanto, Portugal tem um seu Anjo especial e quem estudou a questão do ponto de vista histórico diz que sem dúvida se trata nada menos que de São Miguel Arcanjo.
Ora, sobre a importância dos santuários dedicados a São Miguel e às suas manifestações para o bem dos homens e a defesa da Igreja, haveria muito que dizer, porque seria justo que neste sentido, em Fátima, uma homenagem fosse tomada em consideração. Todavia, enquanto muito se fala e se fazem preparativos para comemorar o Centenário das Aparições de Fátima de 1917, quase nada se faz para comemorar o centenário das aparições do Anjo de Portugal, que preparou o extraordinário Evento em 1916. Este fato devia merecer, pelo menos agora, neste povoado escolhido por Nossa Senhora, muito mais atenção. Mas 2015 passou, sem que haja praticamente nenhum sinal de querer comemorar estas manifestações angélicas nesse lugar.
Vamos repetir o que foi testemunhado pelos três Pastorinhos de Aljustrel sobre essa figura angélica que se apresentou como um jovem, sem asas, nem couraça; sem espada nem ameaças. Ao contrário, veio pedir fé, adoração, esperança e amor. E na terceira aparição no Cabeço, trouxe a verdadeira arma divina para salvar: a Eucaristia. Note-se, porém que na hierarquia sagrada, um arcanjo tão potente tem menos poder que um sacerdote, com poder para consagrar o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo. Portanto a Eucaristia que foi trazida pelo Anjo, foi consagrada por um padre em algum altar desconhecido!
Dai o estudo de Carlos Evaristo, sobre o desaparecimento de um cálice consagrado na Capela dedicada a São Miguel no Juncal nessa mesma ocasião. E aqui seria o caso de falar do poder de quem teve em suas mãos o cálice contendo o Sangue de Jesus Cristo. Basta pensar que até no mundo profano se tecem lendas incríveis sobre o poder do santo Graal, o vaso que recolheu sob a Cruz o Sangue do Salvador.
Come se vê, há muito para considerar nessa tríplice aparição angélica no Cabeço e no Poço do Arneiro, nos fundos da Casa de Lúcia.
Centenário das primeiras aparições de Aljustrel (Fátima, 1915)
Lúcia ainda não tinha nove anos de idade, mas já tinha o trabalho de manter ovelhas da família. Acompanhavam-na geralmente três meninas. Está nos documentos que em 1915 à Lúcia e às outras apareceu uma figura envolta em uma nuvem branca tão brilhante como a neve, que não se aproximou ou falou com elas. As três amiguinhas falaram disso com outros. Lúcia não contou nem mesmo em casa e na aldeia sofreu porque as pessoas riram da história. Por isso, Lúcia ficou reservada no futuro, quando teve que descrever todas as manifestações angelicais de Fátima.
Foi então que ela contou: "Eu posso calcular que foi em 1915 que houve a primeira aparição do que penso ter sido o anjo, que não se atreveu a manifestar-se, senão mais tarde. Quanto ao tempo, eu acho que teve lugar entre Abril e Outubro de 1915.
"Na costa do Cabeço, que é voltada para o Sul, eu dizia a coroa na companhia de três companheiras, de nome Teresa Matias e sua irmã, Maria Rosa Matias e Maria Justino, do povoado de Casa Velha. Ele veio na parte superior do arboreto que se estendia no vale, flutuando como uma nuvem, mais branco do que a neve, algo transparente, com forma humana. Minhas companheiras perguntavam o que podia ser. Eu respondi que não sabia. Em outros dias isto se repetiu mais duas vezes.
"Esta aparição deixou-me no espírito uma impressão que não posso explicar. Gradualmente, essa impressão foi sumindo e acredito que, se não fossem os eventos subsequentes, ao longo do tempo, eu a teria esquecido completamente.
As três aparições do ano seguinte (1916)
"Não posso especificar as datas, porque naquela época eu não sabia como contar os anos, os meses, ou, até mesmo os dias da semana. Mas eu acho que foi na primavera de 1916 que o Anjo apareceu-nos, pela primeira vez na cova do Cabeço.
A primeira aparição na colina de Cabeço - Em 1916, Lúcia está sempre cuidando das ovelhas, mas desta vez com os primos, Francisco, de oito anos de idade e Jacinta de seis anos. Na primavera de 1916, os três estavam na colina do Cabeço… "Eu já contei no meu relato sobre Jacinta, como nós escalamos a encosta em busca de abrigo; e como, depois da merenda e da oração, começamos a ver, à distância, encima das árvores que se estendiam em direção ao leste, uma luz mais branca do que a neve na forma de um jovem, transparente, e mais brilhante do que um cristal atravessado pela luz solar. Conforme se aproximava, distinguíamos sempre melhor suas feições. Ficamos surpresos e meio absorvidos sem dizer uma palavra.
A figura apareceu como um jovem vestido de um branco como neve cristalina. Só podia ser um anjo, desta vez aproximou-se e disse: "Não temais. Sou o Anjo da Paz. Orai comigo ". Em ajoelhando em terra, curvou a fronte até o chão e faz-nos repetir três vezes estas palavras: "Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam ".Depois, erguendo-se disse: "Orai assim. Os Corações de Jesus e Maria estão atentos à voz das vossas súplicas". E desapareceu. “As suas palavras gravaram-se de tal forma na nossa mente, que jamais nos esqueceram”.
“A atmosfera sobrenatural que nos envolveu era tão intensa que quase não tinha consciência de estar por longo tempo ainda na posição em que tinha deixado, repetindo a mesma oração. Era tão intensa e íntima a presença de Deus, que nós não tínhamos a coragem de falar, mesmo entre nós. No dia seguinte nós sentíamos ainda o espírito imerso nesse ambiente, que só muito lentamente foi desaparecendo.
Francisco vê, mas não ouve as palavras, que serão relatados por Lúcia e Jacinta. Assim será para todas as aparições que se seguiram.
Desta aparição, ninguém pensou de falar nem de pedir segredo. Obrigou-se por si mesma. Era tão íntima que não foi coisa fácil até mesmo dizer a menor palavra. Talvez ela fez maior impressão, sendo a primeira, tão clara.
Seguiram a segunda aparição no poço da casa de Lúcia e a terceira novamente no cabeço, como relataremos mais adiante, sempre seguindo o relato autógrafo da irmã Lúcia. Estes foram publicados pelo P. António Maria Martins S. J. (L. E. Porto, 1976).
Observações
Em cada uma das três aparições do Anjo já é mencionado o Sagrado Coração de Jesus e o Coração Imaculado de Maria, como corações inextricavelmente ligados um ao outro. O Anjo lembra a extrema gravidade do pecado e a necessidade de reparação no amor de Deus com a oração, o sacrifício, a oblação da Eucaristia e a comunhão reparadora, também para os pecados dos outros.
Sobre o nome "Anjo da Paz" (Primavera 1916), note-se que, pouco antes das três aparições de 1916, em fevereiro, o Governo Português tinha aceito o pedido inglês de apreender navios alemães, causando a declaração de guerra à Alemanha em 9 de março e os resultados tidos em conta a necessidade de preparar as tropas portuguesas para enviar à frente francesa.
É importante notar que cerca o Anjo da Paz (na primavera, verão e outono 1916) não pedia para rezar pela paz, mas, em vez disso, pede reparação pelos pecados e orações para a conversão dos pecadores. A guerra também é castigo divino, cujo remédio é especialmente sobrenatural; reparar somente os crimes dos homens. Só por meio de conversões pode voltar a tranquilidade da ordem de Deus, causa da paz.
Como para o nome de "Anjo da Guarda de Portugal" (Verão 1916) observam que as nações cristãs eram protegidas ao longo dos séculos pela Providência, como queridas de Deus, através do ministério dos Anjos.
Alguns estudiosos identifica, este Anjo com São Miguel Arcanjo, ao qual várias vezes nos últimos séculos os Reis de Portugal confiaram o país.