Nº 55
A DIOCESE DO PORTO E OS SEUS BISPOS
A DIOCESE DO PORTO E OS SEUS BISPOS
24 DE ABRIL DE 2019
Caros Amigos:
52º Bispo do Porto
DOM
FREI ALEIXO DE MIRANDA HENRIQUES
Bispo do Porto
1770-1771
Na Lista de Bispos do Porto da WIKIPÉDIA consta uma longa biografia (que não transcrevo, por ser idêntica à que vem mencionada na Cronologia da Diocese do Porto).
DOM
FREI ALEIXO DE MIRANDA HENRIQUES
(1770-1771)
Por outro lado no livro "Retratos dos Bispos do Porto na Colecção do Paço Episcopal" na CRONOLOGIA consta o nome, imagem (acima) e biografia (que abaixo transcrevo) do Bispo DOM FREI ALEIXO DE MIRANDA HENRIQUES e também no EPISCOPOLÓGICO com a indicação de que terá exercido essas funções durante cerca de 2 Anos de 1770 até 1771
A transcrição é como segue:
DOM FREI ALEIXO DE MIRANDA HENRIQUES nasceu em Lisboa, a 12 de Agosto de 1692. Era filho ilegítimo de Henrique Henriques de Miranda, provedor-mor do Arsenal de Lisboa e de Dona Maria de Landroby, os quais acabariam por contrair matrimónio dez anos após o seu nascimento.
Em 1709 professou na Ordem dos Pregadores, no convento de São Domingos de Benfica, em Lisboa. Depois de completar os seus estudos, foi para a Índia onde leccionou nas cadeiras de filosofia e teologia, no colégio da sua Ordem, e onde exerceu o cargo de qualificador da Inquisição de Goa. Regressando ao reino, continuo o ensino de teologia moral no colégio de Nossa Senhora da Escada. Em 1728 foi eleito prior do convento de Benfica, onde professara, e três anos depois, tornou-se vigário das Religiosas Dominicanas Recolhidas na claustra de São João Baptista de Setúbal,. Regressando a Lisboa exerceu a função de consultor da Bula da Cruzada.
A 26 de Outubro de 1756 foi nomeado, por ordem régia, vigário capitular e governador do arcebispado de Braga, cargo que ocupou até à tomada de posse de Dom GASPAR DE BRAGANÇA, em 1758. Durante esse período, mandou fazer na igreja do Recolhimento de São Domingos de Tamanca uma nova capela com porta para a rua, e para lá fez conduzir, em procissão, uma imagem de Nossa Senhora da Lapa.
DOM FREI ALEIXO seria nomeado Bispo de Miranda, tendo tomado posse em maio de 1758. A esta nomeação não será alheio mo facto de o Prelado ser amigo e parente de Sebastião José de Carvalho e Melo, ministro dos negócios do reino e futuro marquês de Pombal, bem como tio do cardeal patriarca de Lisboa, Dom FRANCISCO SALDANHA DA GAMA.
Enquanto pontífice mirandês, DOM FREI ALEIXO percorreu uma parte da diocese nos meses de Setembro e Outubro de 1760. Antes desta visita, como também depois, o Bispo publicou várias pastorais, sendo duas, de Janeiro e Fevereiro de 1759, dedicadas à questão da expulsão do seu Bispado dos Padres da Companhia de Jesus. Nas restantes, denota as suas preocupações com a formação do clero, com o ensino da doutrina cristã, com a existência de um registo paroquial em duplicado (ficando um exemplar para a paróquia e outro para a câmara eclesiástica), com a boa administração dos sacramentos de baptismo, matrimónio e da confissão, com as práticas do siligismo, entre outras. Em 1761, o Prelado de Miranda celebrou um sínodo diocesano para reformar as Constituições do Bispado.
Na Sé desta cidade ordenou o antístite fazer o seu jazigo, na capela de Nossa Senhora do Rosário, estando gravado na pedra sepulcral:
SEPULTURA DE FR. ALEIXO INDIGNISSIMO BISPO DE MIRANDA DA ORDEM DOS PREGADORES. FILHO TAMBÉM INDIGNISSIMO, POR SUA ALMA. AVE MARIA. FEITA 1764.
Na mesma catedral mandou ornamentar a capela do Santíssimo Sacramento com grades de ferro forjado, colocando no seu topo um brasão, também de ferro, com as armas dos Miranda Henriques.
Mas o pontificado de DOM FREI ALEIXO DE MIRANDA HENRIQUES na diocese mirandesa ficaria para sempre marcado pela transferência da sede da mesma para Bragança, em 1764. Com efeito, desde 1706 que o paço episcopal se encontrava em ruínas devido a um incêndio, e a cidade estava muito destruída desde Maio de 1762, quando o exército espanhol queimou e arruinou a muralha e o castelo. Aproveitando estas circunstâncias e o facto de Portugal se encontrar de relações cortadas com a Santa Sé, o Prelado pediu ao rei Dom José a mudança, sendo esta confirmada a 17 de Novembro de 1764.
Apesar dos protestos do cabido, da Câmara de Miranda e da confraria do Santíssimo Sacramento, DOM FREI ALEIXO ordenou a transferência, para a igreja de São João Baptista em Bragança, de todos os móveis de prata, ouro e estanho e de todas as alfaias e paramentos da Sé de Miranda. Devido à pequena dimensão da Igreja e ao facto de estar em mau estado de conservação, o Prelado entendeu, posteriormente, transferir a catedral para a Igreja do colégio dos Jesuitas, deixada vaga após a expulsão da Companhia.
Em Bragança, DOM FREI ALEIXO DE MIRANDA HENRIQUES deixou uma arca dos santos óleos em pai-santo, que ostenta as suas armas gravadas na cobertura. Esta alfaia, de grande valor artístico, destinava-se a ser usada na nova catedral, cujo projecto era grandioso, mas que durante o seu governo se ficou apenas pelos alicerces. DOM FREI ALEIXO mandou também construir a casa do aljube na Rua Fora de Portas, tendo a mesma, no seu frontispicio, o brasão da família do Prelado.
Por sua iniciativa foram feitos em Lisboa, e trazidos para a cidade brigantina em 1764, os retratos dos 22 Bispos que lhe antecederam, estando hoje conservados no paço Episcopal de Bragança e no Museu do Abade de Baçal. Neste Museu existe também um retrato de DOM FREI ALEIXO que marca a sua passagem por Bragança. Nele pode observar-se que segura na mão esquerda um livro com as Constituições de 1761. Na página esquerda do mesmo lê-se:
D. Fr. Alexius de Miranda Henriques ordinis praedicatorum in sacra teologia magister, primas hispaniarum bracharensis dioceses primus vicarius capitularis ac goubernator a rege domno nostro Joseph 1º episcopus Mirandensis electus a S.mo Domino Benedicto XIV fuit confirmatus XVI matii (sic) et consacratus XXIV augusti M.D.CC.LVII aetatis suae LXVI eodem mense quo natus;
e, na página direita:
Constituições Synodaes do bispado de Miranda novamente feitas e ordenadas pelo Ex.mo e Rev.mo Senhor D. F. Aleixo de Miranda Henriques da Ordem dos Pregadores e Bispo do mesmo Bispado e do concelho de S. Magestade Fi.ma propostas e aceites em o mesmo Synodo diocesano que o dito Senhor celebrou em 10 de mayo do anno de 1761.
A 5 de Março de 1770 foi DOM FREI ALEIXO DE MIRANDA HENRIQUES eleito bispo portucalense, tendo feito entrada solene na cidade a 4 de Novembro seguinte. Durante o seu curto episcopado apenas se publicou uma pastoral, a 28 de Janeiro de 1771, com o objectivo de divulgar as determinações do papa BENTO XIV relativamente ao consumo de carne e de peixe durante a Quaresma. DOM FREI ALEIXO acabaria por falecer pouco tempo depois, a 23 de maio de 1771, com 78 anos. Foi sepultado na capela-mor da Igreja do convento de São Domingos do Porto, do lado do Evangelho, num túmulo de mármore preto, sustentado por quatro leões de mármore branco. Esta igreja seria destruída em 1833, durante o cerco do Porto (feito pelas tropas de Dom Miguel às forças leais a Dom Pedro), sendo depois demolida. Tanto quanto se pode apurar, é provavel que os restos mortais de DOM FREI ALEIXO tenham sido trasladados para o panteão dos Bispos na capela-mor da Sé Portuense.
Os moralistas e historiadores nem sempre estão de acordo em relação ao carácter, às intenções e às acções de DOM FREI ALEIXO DE MIRANDA HENRIQUES. No entanto, todos concordam que se tratou de um pregador "em evidência no seu tempo" (FERREIRA, 1923, p. 362), como atestam os dois sermões que dele foram editados, nomeadamente, o
Sermão da canonização de S. Peregrino Laziosi da sagrada Ordem dos Servitas pregado no solemníssimo Outavario com que sua Magestade, que Deos guarde, ordenou se festejasse a Canonização do mesmo Santo no Real Collegio de Santo Antaõ desta Corte,
publicado em Lisboa, na Patriarchal Officina da Musica, em 1728, e o
Sermão da Canonização de Santa Ignes de Monte Policiano da sagrada Ordem dos Pregadores pregado no solemníssimo Outavario com que os Religiosos de São Domingos desta Corte festejaraõ a canonização da mesma Santa,
também publicado em Lisboa, na mesma Officina, em 1733.
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Na publicação de amanhã, prosseguirei com a história dos BISPOS DO PORTO
ANTÓNIO FONSECA