Nº 58
A DIOCESE DO PORTO E OS SEUS BISPOS
A DIOCESE DO PORTO E OS SEUS BISPOS
27 DE ABRIL DE 2019
Caros Amigos:
55º Bispo do Porto
DOM
ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ DE CASTRO
Bispo do Porto
1799-1814
Na Lista de Bispos do Porto da WIKIPÉDIA consta além da indicação abaixo, uma biografia e um retrato (que não publico aqui, por ser um pouco extensa) e também porque é mais ou menos idêntica à da Cronologia da Diocese:
António de São José de Castro
1799-1814
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Por outro lado no livro "Retratos dos Bispos do Porto na Colecção do Paço Episcopal" na CRONOLOGIA consta o nome, imagem (acima) e biografia (que abaixo transcrevo) do Bispo Dom ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ DE CASTRO e também no EPISCOPOLÓGICO com a indicação de que terá exercido essas funções durante cerca de 15 Anos de 1799 até 1814
A transcrição é como segue:
Dom ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ DE CASTRO nasceu em Lisboa, na freguesia de Santa Isabel, muito provavelmente no ano de 1741. Era filho ilegítimo de Dom António José de Castro, 1º Conde de Resende, almirante de Portugal, senhor da Casa de Resende, donatário do seu concelho e de várias vilas e terras no reino e no Brasil, casado com Dona Teresa Xavier da Cunha e Távora, filha dos 4ºs condes de São Vicente. Era meio-irmão de Dom FRANCISCO RAFAEL E CASTRO, principal da igreja patriarcal de Lisboa, reformador e reitor da Universidade de Coimbra.
Iniciou a sua formação no seminário episcopal de Coimbra tendo, posteriormente, ingressado na Cartuxa de Santa Maria Scala Coeli, em Évora, que pertencia à Ordem de São Bruno. Nesta Instituição leccionou teologia moral, apesar de não ter adquirido formação superior em tal matéria. Veio a ser ordenado presbítero a 3 de Dezembro de 1775, na igreja patriarcal de Lisboa. Foi durante a vivência no convento eborense que fez copiar um dos manuscritos que pertencia à respectiva livraria, a saber: a reputada obra Da Virtuosa Benfeitoria, escrita nos princípios do século XV pelo infante e regente Dom Pedro, filho de Dom João I e irmão de Dom Duarte. Por achar o texto de elevado interesse, remeteu um exemplar à Academia de Ciências de Lisboa que, mais tarde, o recebeu como sócio honorário. Neste período procedeu, também, à reimpressão dos opúsculos de João de Barros, Grammatica da Língua Portuguesa, Cartinha para aprender a ler e Dialogo da viciosa vergonha, num volume intitulado Compilação de várias obras do insigne portuguez João de Barros editado em 1785.
Em 1789 foi nomeado prior do convento da Cartuxa de Nossa Senhora do Vale da Misericórdia, em Laveiras, na freguesia de Caxias concelho de Oeiras.
DOM FREI ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ foi eleito Bispo do Porto pelo principe regente Dom João, futuro rei Dom João VI, a 13 de Junho de 1798. Tomou posse da Diocese por procuração, a 15 de fevereiro de 1799, continuando no lugar de provisor o Dr. Manuel Lopes Loureiro. Fez a sua entrada solene na cidade volvidos quatro anos, a 19 de setembro de 1802.
Apesar de fisicamente distante, DOM FREI ANTÓNIO não deixou de exercer os seus deveres pastorais, publica ndo cartas e editais, e de, no seu papel de colaborador do poder estatal, contribuir para a execução das medidas político-governamentais do principe regente.
Mas uma das primeiras medidas deste Prelado foi a criação de um seminário diocesano. Recebida a autorização regia e a licença pontifícia, DOM FREI ANTÓNIO DE CASTRO instituiu o seminário episcopal de Santo António, na Quinta do Prado, por provisão datada de 20 de Junho de 1804. Apesar das obras não estarem ainda concluidas, o seminário iniciou a leccionação no ano escolar de 1811/1812 tendo-lhe o bispo outorgado os respectivos Estatutos a 4 de Janeiro de 1812.
Como patrocinador do papel das ordens Terceiras na cidade, lançou a 17 de Abril de 1803, a primeira pedra da igreja da Santíssima Trindade, e, a 19 de Maio de 1805, fez a sagração da Igreja da Ordem Terceira de São Francisco. O quadro deste antístite portuense que se conserva na galeria de retratos dos benfeitores da venerável ordem da Lapa é também revelador do seu apoio a esta instituição. DOM FREI ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ foi, igualmente, membro da Irmandade dos Clérigos, presidiu a sessões da respectiva Mesa e à reforma dos seus estatutos, como se recorda num retrato do Prelado que ainda hoje é visível na secretaria da igreja desta Irmandade.
No exercício do seu múnus pastoral, publicou uma carta, a 23 de Novembro de 1804, Sobre os capitolos da Visita do Bispado e outras determinações, que se centra, em especial, na vigilância e na disciplina dos clérigos e na importância da organização de reuniões arciprestais do clero.
Mas a sua acção como Prelado e lider eclesiástico do povo portuense seria posto à prova aquando das invasões francesas. De facto, DOM FREI ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ, à semelhança do Patriarca de Lisboa e dos restantes Bispos do reino, acabaria por optar, inicialmente, por uma posição de não resistência aos ocupantes. Por essa razão, a 5 de dezembro de 1807 publicou uma pastoral exortando os seus diocesanos a respeitar as tropas francesas e espanholas, que deviam ser vistas como aliadas, pedindo aos párocos que difundissem as ordens do Principe Regente que iam, precisamente, nesse sentido. Pouco tempo depois, a 18 de janeiro de 1809 numa nova pastoral, DOM FREI ANTÓNIO agradece aos portuenses o acolhimento prestado aos invasores, solicitando-lhes que continuassem a manter essa postura. E com este mesmo tom, o Prelado enviaria outra carta aos seus diocesanos, a 21 de maio desse mesmo ano, e, manifestando a sua preocupação com possiveis tumultos, ordena aos párocos que cancelem todas as procissões quaresmais. Esta pastoral é reveladora das mudanças que se avizinhavam. De facto, a conjuntura política acabaria por se alterar e com ela também a posição do Prelado. A revolta anti francesa de Junho de 1808 catapultaria DOM ANTÓNIO para o lugar de presidente governador da Junta Provisória do Governo Supremo, a qual se constituiu no dia 19 desse mês. Esta Junta estaria em funções até finais de setembro, uma vez que nessa altura já se havia restabelecido a regência nomeada por Dom João VI, sendo o Bispo do Porto nomeado membro do respectivo Conselho.
Tendo em conta a nova realidade DOM FREI ANTÓNIO escreve aos seus fiéis, a 14 de Julho de 1808, pedindo-lhes que fizessem preces, promovessem jejuns, procissões de penitência e grandes solenidades em acção de graças pelo bom êxito da restauração nacional e das autoridades regentes. Em nova carta pastoral, de 27 de Setembro seguinte, renova os pedidos de oração e louvor pelo êxito das armas portuguesas ao mesmo tempo que se centra na reforma da sociedade e dos costumes dos fiéis, nomeadamente, no cuidado com a forma de vestir.
Nos inícios de 1809, DOM FREI ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ DE CASTRO foi nomeado Patriarca de Lisboa, mas em Março, aquando da segunda invasão francesa, o Prelado ainda permanecia no Porto. DOM FREI ANTÓNIO convocou, então, a Junta provisória extinta no ano anterior de modo a organizar e chefiar a defesa militar da cidade, que se proveu, inclusivamente, com um corpo de 600 eclesiásticos. Os seus esforços foram malogrados e o Bispo acabaria por abandonar o Porto que sucumbiu ao exército francês no dia 29 de março. Por ausência do Prelado, o cabido viu-se obrigado a declarar a Sé impedida sendo o governo da diocese entregue ao vigário/geral e ao provisor. Esta situação foi fruto do desencontro de informações, provocada esta pelo rebuliço das invasões, e terminaria pouco tempo depois das tropas anglo-lusas recuperaraem a cidade a 12 de maio de 1809. Assim, a 23 de Junho já o cabido estava informado da presença de DOM FREI ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ em Lisboa, congratulando-o pela eleição como vigãrio capitular do Patriarcado e a promoção a Patriarca dessa diocese Por se encontrar ausente, o Prelado nomeou provisor do Bispado do Porto o Dr. TEODORO PINTO COELHO DE MOURA vigário-geral de Penafiel. Ainda nesse ano, a 29 de Agosto, o bispo ordenou a execução de um inventádos bens do paço.
A situação político-eclesiástica da Europa haveria de impedir que DOM FREI ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ fosse confirmado Patriarca de Lisboa. E foi com o título de eleito que faleceu a 12 de Abril de 1814, no palácio da Mitra, em Marvila. Por sua vontade foi sepultado na igreja da Cartuxa de Laveiras, dois dias depois, no seguimento de um cortejo fúnebre a que acorreram inúmeras autoridades e que contou com honras militares que demonstravam a importância do Bispo Cartuxo. No Porto, o cabido, que assumiu as despesas do funeral por falta de meios deixados por DOM FREI ANTÓNIO, e outras instituições eclesiásticas, associaram-se e promoveram também manifestações de luto pela morte do seu Prelado.
Apelidado de "alma da resistência aos franceses em 1808" (FERREIRA, 1923, p.417), a figura de DOM FREI ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ DE CASTRO ficaria para sempre associada ao conturbado período das invasões revelando, durante essa conjuntura, as suas qualidades de "energia, coragem, prudência e tacto diplomático... (de) pastor solícito... (de) político consumado... (e de) generalíssimo incansável"
(TAVARES, 2009, p. 61/62)
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Na publicação de amanhã, prosseguirei com a história dos BISPOS DO PORTO
ANTÓNIO FONSECA