Nº 64
A DIOCESE DO PORTO E OS SEUS BISPOS
A DIOCESE DO PORTO E OS SEUS BISPOS
3 DE MAIO DE 2019
Caros Amigos:
61º Bispo do Porto
DOM
ANTÓNIO JOSÉ DE SOUSA BARROSO
Bispo do Porto
1899-1918
Na Lista de Bispos do Porto da WIKIPÉDIA consta a existência de uma longa Biografia sobre DOM ANTÓNIO JOSÉ DE SOUSA BARROSO
que, se inicia do seguinte modo:
ANTÓNIO JOSÉ DE SOUSA BARROSO
ANTÓNIO JOSÉ DE SOUSA BARROSO (Remelhe, Barcelos, 5 de Novembro de 1854 - Porto, 31 de Agosto de 1918) foi missionário em África, Bispo de (Meliapor) São Tomé e Principe. e finalmente Bispo do Porto.
(NOTA DE AF: Dado o facto de ser mais ou menos idêntica à que vem na CRONOLOGIA da Diocese do Porto, substituía-a por esta última que transcrevo de seguida):
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Por outro lado no livro "Retratos dos Bispos do Porto na Colecção do Paço Episcopal" na CRONOLOGIA consta o nome, imagem (acima) e biografia (que abaixo transcrevo) do Bispo Dom AMÉRICO FERREIRA DOS SANTOS SILVA e também no EPISCOPOLÓGICO com a indicação de que terá exercido essas funções durante cerca de 28 Anos de 1871 até 1899.
A transcrição é como segue:
DOM ANTÓNIO JOSÉ DE SOUSA BARROSO nasceu no lugar de Santiago, freguesia de Santa maria de Remelhe (concelho de Barcelos), a 5 de Novembro de 1854. Era filho de José António de Sousa, carpinteiro e caseiro e de Dona Eufrásia Maria Barroso, tecedeira.
Recebeu as primeiras letras do seu avô materno, Joaquim Gomes Barroso, cirurgião e mestre-escola, frequentando, posteriormente, a escola primária em Góios, freguesia contígua à de Remelhe. Simultaneamente, estuda latim com o fidalgo Bernardo Limpo da Fonseca de quem a familia era vizinha. Depois de um ano no liceu de Braga, no período lectivo de 1871-1872, regressa à casa paterna, continuando a receber lições de latim com Bernardo Fonseca. Por influência deste fidalgo e vontade da sua familia, em Novembro de 1873, ingressa no Real Colégio das Missões Ultramarinas, em Cernache do Bonjardim (concelho de Sertã). Em 1879 termina o curso de teologia, com elevadas classificações, recebendo as ordens do diaconado e do presbiterado, respectivamente em Junho e em Setembro.
Completada a sua formação embarca para África, em Agosto de 1880, com a incumbência de restaurar a antiga missão do Congo, que se encontrava totalmente destruída e sem vestígios de evangelização. Em finais desse ano foi nomeado superior da missão, chegando a São Salvador, antiga capital do reino do Congo, em Fevereiro de 1881. De modo a dar forma à missão, DOM ANTÓNIO tratou, no imediato, de construir uma residência com capela anexa, uma escola, um pequeno hospital, uma roça que funcionava como escola de ensino de práticas agrícolas e, pouco tempo depois, um observatório meteorológico. A par destes trabalhos, efectuou várias viagens missionárias e, entre 1884 e 1885, fundou uma missão sucursal em Marimba. No seguimento destas viagens e dos trabalhos realizados escreveu vários relatórios onde expôs, entre outras observações, as suas preocupações face à realidade vivida pelas populações africanas, nomeadamente as práticas esclavagistas ainda existentes.
Após oito anos de serviço, DOM ANTÓNIO BARROSO veio para a metrópole gozar um ano de licença a que tinha direito e restabelecer a sua saúde. Foi nessa altura que proferiu uma conferência, na Sociedade de Geografia de Lisboa, intitulada O Congo, seu passado, presente e futuro, onde reflecte sobre os problemas da missionação ultramarina.
A sua acção não passaria despercebida e colheu-lhe a nomeação para a prelazia de Moçambique, em Fevereiro de 1891. A DOM ANTÓNIO BARROSO foi pedido que, através do seu saber missiológico e dos métodos que eficazmente aplicara no Congo, procurasse recuperar essa Província da decadência religiosa em que se encontrava. Com essa missão, e depois de confirmado pelo papa na dignidade de Bispo da Himéria (a 1 de Junho de 1891), parte para Moçambique, onde desembarca a 20 de Março de 1892. Do seu pontificado africano destaca-se a preocupação em visitar as paróquias e as missões já estabelecidas no seu vasto território diocesano, assim como a criação de novas missões, de modo a formar uma rede de postos missionários. Atendeu, igualmente, á questão da instrução, em especial a feminina, tendo fundado os Institutos D. AMÉLIA e LEÃO XIII que deixou a cargo das Irmãs de São José de Cluny, sendo estas as primeiras escolas moçambicanas para ensino feminino.
Em 1895 regressa a Portugal, para recuperar de problemas de saúde, e aqui se encontrava DOM ANTÓNIO BARROSO quando foi nomeado, por decreto de 2 de Agosto de 1897, Bispo de São Tomé de Meliapor, na Índia. A sua escolha em muito se deveu ao facto de nele se depositar toda a confiança para resolver os problemas de jurisdição eclesiástica que surgiram entre o padroado Português do Oriente e a Congregação da Propaganda Fide, e de posse e gestão de terras da diocese. Apesar do curto espaço de tempo que permaneceu na Índia, entre outras acções o prelado visitou várias igrejas e missões dos bispado, reformou os programas do Seminário e dotou-o de uma biblioteca, construiu um convento para franciscanos e remodelou o orfanatrófio-asilo de Madras.
Praticamente duas décadas depois de ter iniciado a sua missão ultramarina, DOM ANTÓNIO BARROSO foi nomeado Bispo do Porto, a 21 de Fevereiro de 1899 (há 120 anos), vendo-se confirmado no Consistório de 20 de maio seguinte. regressa a Lisboa em Julho, escrevendo aí a sua carta pastoral de saudação, datada de 27 desse mês, onde traça as linhas gerais do seu programa de acção episcopal, fazendo a sua entrada solene na cidade a 2 de Agosto.
Tal como procedera em terras africanas e indianas, o novo Prelado portuense deu prioridade ao conhecimento da sua diocese, iniciando as visitas pastorais um ano após a sua chegada. O contacto com a realidade impeliu DOM ANTÓNIO a agir no sentido de corrigir as falhas e os erros encontrados, nomeadamente no que dizia respeito à instrução da doutrina cristã, à administração dos sacramentos e à prática das obras de devoção e caridade. No vasto número de cartas pastorais, provisões e circulares que escreveu, o Pontífice dá voz a essas questões, insistindo, com especial constância, na necessidade da educação religiosa, de crianças e de adultos, através da catequese e da pregação. Apoiava, por conseguinte, a formação em escolas católicas, tendo sido o grande mentor da Congregação da Doutrina Cristã, associação a que deu Estatutos em Novembro de 1906.
DOM ANTÓNIO foca, igualmente, a sua atenção na Igreja universal, no valor do primado romano e na missão do papa, sempre lembrando a necessidade da contribuição para a recolha do dinheiro de São Pedro, destinado ao Sumo Pontifice. Mas a Igreja local também o preocupa, e, nessa senda, fez nascer a Obra de Assistência aos Clérigos Pobres da Diocese do Porto, com Estatutos aprovados em Junho de 1916. E às questões económicas junta as de formação, revelando grande cuidado com o Seminário da Sé, onde ergueu a Biblioteca (junto da qual ainda hoje se encontra um retrato de DOM ANTÓNIO), com o restabelecimento das Conferências theologico-moraes e lithurgicas, com a organização de retiros. Criou, ainda, o Boletim da Diocese do Porto, em 1914, e transformou o jornal católico A Palavra.
Os problemas sociais foram outra das grandes preocupações de DOM ANTÓNIO BARROSO. Nesse sentido, incita nos seus diocesanos a apoiarem diversas Instituições, como a Assistência Nacional aos Tuberculosos e a Comissão de Propaganda de Assistência Nacional, e pede-lhes o contributo para situações de calamidade e de subsistência, especialmente no período da 1ª guerra mundial. O papel da agricultura e as questões salariais também são motivo de reflexão do prelado que aponta, na suja abordagem, para o sentido cristão de trabalho e para o papel social da Igreja como alavanca para a transformação da sociedade.
DOM ANTÓNIO, apesar de centrar a sua atenção no Porto, não passou ao lado e não foi imune às profundas alterações políticas que aconteceram no país nos inícios do século XX. Logo a 27 de Abril de 1901 foi encarregue de entregar ao rei Dom Carlos uma carta colectiva do Episcopado. Nessa carta os Prelados expuseram a doutrina da Igreja sobre as Congregações Religiosas, reagindo assim ao polémico caso Calmon, que envolvera a filha do cônsul do Brasil, a qual fugira dos pais para entrar na vida religiosa.
Após a implantação da República, a 5 de Outubro de 1910, os Bispos escreveram uma Carta Pastoral colectiva em defesa dos direitos da Igreja Católica, condenando os agravos das novas leis civis e a forma autoritária como o novo regime cerceava e atacava os princípios e as Instituições da Religião Católica. Este documento foi expedido em Fevereiro do ano seguinte (1911) e destinava-se a ser lido pelos párocos nas missas. Mas o seu conteúdo não foi bem recebido pelo governo que, de imediato, proíbe a sua leitura. DOM ANTÓNIO BARROSO não aceitou esta ordem e mandou que o documento fosse lido em todas as paróquias da Diocese. Por causa desta decisão, o antístite portuense foi chamado a Lisboa, ouvido pela justiça, e, a 8 de Março, destituído das suas funções, ficando proibido de voltar a qualquer lugar do seu bispado.
Entre Março de 1911 e Abril de 1914, DOM ANTÓNIO viveu exilado, na sua casa em Remelhe, mas por ter estado presente numa cerimónia baptismal em Custóias, ou seja, dentro dos limites da Diocese do Porto, foi-lhe movido um processo em tribunal, do qual seria absolvido. A 22 de Fevereiro de 1914, uma amnistia decretada pelo governo permite o seu regresso e, a 4 de Abril, reassume solenemente a sua cátedra com Te Deum na catedral e várias manifestações de regozijo.
A 7 de Agosto de 1917, e já com a saúde debilitada, DOM ANTÓNIO BARROSO seria novamente expulso da diocese por ter dado licença a 3 religiosas para viverem juntas em Vila Boa de Quires. Apesar de ter sido condenado a cumprir dois anos de exílio, um decreto da Junta revolucionária, datado de 9 de Dezembro mesmo ano, anula a sentença anterior, fazendo-o regressar de Coimbra onde se instalara.
Foram 18 os anos que DOM ANTÓNIO BARROSO esteve á frente da Diocese Portucalense, e a intensidade dos mesmos é inegável, ressentindo-se na sua saúde. Acabaria por falecer a 31 de Agosto de 1918, no Paço Episcopal dos Sacais, no Porto. Prevendo o destino próximo, ditara no ano anterior o seu testamento, de onde ressalta uma frase constantemente citada pelos seus inúmeros memorialistas: "nasci pobre, rico não vivi, e pobre quero morrer". A 3 de Setembro celebraram-se solenes exéquias na Sé e, dois dias depois, foi sepultado no cemitério paroquial de Remelhe, no jazigo que mandara erigir, em 1899, com as suas armas episcopais. O seu corpo seria trasladado, posteriormente, para a capela-jazigo construída em 1931, por subscrição pública.
Aos 63 anos findava o périplo terreno deste prelado que "foi único entre os missionários do seu tempo (...) e dos melhores e maiores missiólogos do século XIX"
(ARAÚJO, 2007-2008, p. 218),
e, como bispo, se mostrou "um místico de olhos abertos (...)( para a realidade presente com a coragem de lhe responder sem medo (...) para a largueza da missão a que Deus o chamou e simplicidade de alma para dar os passos nos limites da vida e do tempo"
(AZEVEDO, 1993, p, 250).
Em 1992 deu-se início ao processo de beatificação e canonização de DOM ANTÓNIO JOSÉ DE SOUSA BARROSO. Muito recentemente, a 16 de Junho de 2017, o papa FRANCISCO aprovou o decreto que declara, "as Virtudes heróicas" de DOM ANTÓNIO BARROSO, reconhecendo, assim, "as virtudes e o exemplo de vida de ministério e de missão" deste Prelado da cidade invicta
(DOM ANTÓNIO, Bispo do Porto, nota pastoral, 17/6/2017, in http://www.,diocese-porto.pt/index.php?option=com_content&view=article&id%3312:feliz-e-abencoada-noticia&catid=85:notas-pastorais&Itemid=157, consultado em Junho de 2018)
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Na publicação de amanhã, prosseguirei com a história dos BISPOS DO PORTO
ANTÓNIO FONSECA