Caros Amigos
15º A N O
deverão recordar, comemorar e até imitar a
Vida dos Santos e Beatos de cada dia
(ao longo dos tempos) e durante toda a vida
(**)
(**************)
(**)
(**)
(**)
(**)
(**)
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
****
Maria Goretti
Este artigo ou secção contém uma lista de referências no fim do texto, mas as suas fontes não são claras porque não são citadas no corpo do artigo, o que compromete a confiabilidade das informações. (Março de 2018) |
Maria Goretti | |
---|---|
A única fotografia conhecida de Santa Maria Goretti, sobre um balde, alimentando os animais, em 1902 | |
Virgem e Mártir | |
Nascimento | Corinaldo 16 de outubro de 1890 |
Morte | Nettuno 6 de julho de 1902 (11 anos) |
Progenitores | Mãe: Assunta Carlini Pai: Luigi Goretti |
Veneração por | Igreja Católica |
Beatificação | 27 de abril de 1947 Vaticano por Papa Pio XII |
Canonização | 24 de junho de 1950 Vaticano por Papa Pio XII |
Festa litúrgica | 6 de Julho |
Portal dos Santos |
Maria Teresa Goretti (Corinaldo, 16 de outubro de 1890 – Nettuno, 6 de julho de 1902), foi uma jovem católica italiana, venerada como santa e mártir, brutalmente assassinada aos 11 anos de idade, ao recusar-se fornicar numa tentativa de estupro.
Biografia
Maria Teresa nasceu em Corinaldo, Província de Ancona, Itália, filha de um pobre casal de agricultores Luigi Goretti e Assunta Carlini. Era a terceira de sete filhos. Suas irmãs chamavam-se Teresa e Ersilia; seus irmãos eram Angelo, Sandrino, Mariano e Antônio (nascido morto).
A vida da pequena Maria, até o seu assassinato, não foi diferente da dos filhos de muitos trabalhadores rurais que tiveram que deixar suas terras para buscar sustento em outros lugares: analfabetismo, desnutrição e trabalho pesado desde a infância.
Aos 6 anos sua família foi forçada a deixar a fazenda e trabalhar para outros fazendeiros, para poder se sustentarem. Em 1899, mudaram-se para Le Ferriere, próximo da cidade de Latina, depois para Nettuno, no Lácio, onde viviam no prédio conhecido como "La Cascina Antica", partilhado com a família Serenelli, cujo filho Alessandro Serenelli viria a matá-la, três anos depois.
O pai de Maria contraiu malária e morreu quando esta tinha apenas nove anos, em 6 de maio de 1900. Enquanto seus irmãos, mãe e irmãs mais velhas trabalhavam nos campos sob condições sub-humanas, Maria cozinhava, limpava a casa e cuidava de sua irmã menor. Era uma vida extremamente difícil e miserável, mas a família estava sempre próxima, compartilhando um profundo amor por Deus e sua fé.
Morte
Em 5 de julho de 1902, Alessandro, então com 20 anos, encontrou a menina de 11 anos costurando, sozinha em casa. Ele entrou e a ameaçou de morte se ela recusasse a ter relações sexuais com ele. A intenção era estuprá-la, porém, ela não se submeteu e, mesmo após as investidas do rapaz ardente do desejo lascivo, manteve-se resoluta em não pecar contra a castidade. Agarrada à força, ajoelhou-se, protestando que seria um pecado mortal e advertiu Alessandro de que a alma dele poderia ir para o Inferno se consumasse o ato de fornicação. Como ele não cedia, ela desesperadamente lutou para evitar o estupro, e gritava "Não! É um pecado! Deus não gosta disto!". Alessandro primeiro tentou controlá-la, mas como ela insistia que preferia morrer a perder sua inocência, pureza e decência, ele a apunhalou 11 vezes. Ferida, Maria tentou alcançar a porta, mas ele a agarrou e deu mais três punhaladas, antes de fugir. O episódio é análogo ao da Beata Alexandrina.
Em 2002 o jornalista Noel Crusz[nota 1] escreveu o livro "Maria Goretti-Saint under siege" ("Maria Goretti-Santa sob assédio"),[1] baseado em entrevistas de Alessandro Serenelli e de Ersilia, uma irmã de Maria, feitas em 1952, adiciona novos detalhes: em 5 de Julho de 1902, às 15h00 horas, Serenelli que insistentemente pedia favores sexuais à menina, aproximou-se. Ela estava cuidando de sua irmã menor, na casa da família. Ele a ameaçou com uma adaga de quase 30 centímetros. Quando Maria recusou, como sempre fazia, ele a deu 14 facadas. Os ferimentos atingiram a garganta, coração, pulmões e diafragma. Os cirurgiões no hospital ficaram surpresos que ela ainda estivesse viva. Na presença do chefe de polícia, Maria disse a sua mãe que Alessandro já havia tentado estuprá-la duas vezes mas que ela não contara a ninguém porque ele a ameaçara de morte.
A irmã menor de Maria acordou com o barulho e começou a chorar. Ao acorrerem, o pai de Alessandro e Assunta viram Maria a sangrar e levaram-na para o hospital em Netuno, onde foi operada sem anestesia. Porém, os ferimentos estavam além da capacidade dos médicos. Durante a cirurgia, Maria recobrou os sentidos e insistiu que preferia ficar acordada. O farmacêutico do hospital respondeu: "Maria, quando estiveres no céu, pense em mim". Ela olhou para o homem e disse: "Mas quem sabe qual de nós chegará primeiro ao céu?". Ele respondeu: "Você, Maria". "Então ficarei feliz em pensar em você". No dia seguinte, ela perdoou seu agressor e afirmou que gostaria de encontrá-lo no Céu. Morreu vinte horas após o ataque enquanto olhava uma bela pintura da Virgem Maria. Inspirada em suas mestras Santa Cecília e Santa Inês, aceitou o martírio piedosamente.
A morte ocorreu devido a septicemia após a cirurgia. O funeral foi celebrado em 8 de julho de 1902 na capela do hospital, e o corpo da adolescente foi enterrado no cemitério municipal. O relatório da autópsia revelou: Tereza morreu aos 11 anos de idade, tinha 1,38 m de altura e aparentava estar visivelmente abaixo do peso, além de apresentar sintomas de malária avançada.
A devoção a Maria Goretti se espalhou entre as camadas mais humildes da população, especialmente as rurais, pertencente ao mesmo mundo em que a pequena mártir havia crescido. O próprio regime fascista tentou aproveitar a devoção popular para favorecer o nascimento de um ícone local caro aos camponeses dos pântanos recuperados. Mesmo após a queda do fascismo e da dinastia Sabóia, nos anos cinquenta, a imagem de Maria Goretti permaneceu popular mesmo entre os não-católicos, a tal ponto que o líder comunista Enrico Berlinguer apontou para a coragem e tenacidade da santinha como um exemplo imitar para os jovens militantes comunistas. Em 1953, o líder do Partido Comunista Italiano Palmiro Togliatti propôs Maria Goretti como modelo de vida para os jovens membros comunistas da FGCI, a Federação da Juventude Comunista Italiana.
A partir dos anos setenta, em um período de afirmação do feminismo, a figura de Maria Goretti gradualmente perdeu popularidade na Itália, porque consideram Goretti ligada à visão tradicional das mulheres, que devem ser castas, modestas e recatadas, dedicadas ao trabalho do lar.
Prisão e arrependimento de Serenelli
Alessandro Serenelli era filho de agricultores, tão miseráveis quanto a família da vítima e de todos os desgraçados agricultores daquela região pobre da Itália. Ele foi capturado logo após atacar Maria. Serenelli, no julgamento, confessou ter preparado a arma e decidiu usá-la se a menina resistisse a ele. Ele também confessou que a decisão de matar Maria foi parcialmente motivada pelo desejo de escapar da vida intolerável nos campos, na crença de que a vida na prisão era preferível ao trabalho degradante e da miséria em que vivia. É possível que o jovem Alessandro, vindo de uma família na qual numerosos membros haviam mostrado sinais de desequilíbrio mental, sendo ele filho de um pai alcoólatra, encontrasse-se realmente impotente e mortalmente preterido ante a desafortunada vítima, uma vez que ele percebeu que não poderia consumar a conjunção carnal na menina.
Inicialmente, seria condenado à prisão perpétua, mas como era menor, a sentença foi comutada para 30 anos na prisão. Ele manteve-se isolado do mundo por três anos, sem demonstrar arrependimento algum pelo ocorrido. Até o bispo local, Monsenhor Giovanni Blandini visitá-lo na cadeia. Serenelli escreveu uma nota de agradecimento ao bispo, pedindo que o incluísse em suas orações e contando sobre um sonho que tivera, onde a santa lhe alcançava flores, que se queimavam imediatamente em suas mãos.
Após sair da prisão, visitou a mãe de Maria, Assunta, e implorou seu perdão. Ela respondeu que se a filha lhe havia perdoado em seu leito de morte, ela não poderia fazer diferente. No seguinte, ambos foram juntos à Santa Missa, recebendo a Eucaristia lado a lado. Ele foi aceito na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, vivendo em um monastério e trabalhando como recepcionista e jardineiro até morrer tranquilamente em 1970. Referia-se a Maria como "sua pequena santa" e esteve presente na sua canonização.
Beatificação e canonização
Em 27 de abril de 1947, o Papa Pio XII celebrou a cerimonia de beatificação na Basílica de São Pedro. Ao final da celebração, o Papa caminhou até Assunta, a mãe de Maria. "Quando eu vi o Papa vindo na minha direção, eu rezei, Nossa Senhora, por favor me ajude. Ele colocou sua mão na minha cabeça e disse, abençoada mãe, feliz mãe, mãe de uma abençoada por Deus. Ambos tinham lágrimas nos olhos.
Três anos após, em 24 de junho de 1950, o Papa Pio XII canonizou Goretti como santa, a "Santa Agnes do século XX". Assunta estava presente na cerimónia, junto com os quatro irmãos e irmãs ainda vivos. Segundo algumas fontes, ela foi a primeira mãe a estar presente na canonização de seu filho. Mas, talvez, seja a segunda, pois a mãe de São Luiz Gonzaga talvez tenha estado presente na sua canonização. Alessandro Serenelli, o assassino, também estava presente na celebração.
A celebração foi realizada na Praça São Pedro, em frente à Basílica. Uma multidão de 500 mil pessoas assistiu à celebração, na sua maioria jovens, vindos de vários países do mundo. O Papa perguntou a eles: "Jovens, prazer ao olhos de Jesus, vocês estão determinados a resistir a todos os ataques à castidade com a ajuda da graça de Deus?". A resposta foi um grande "sim".
Os três irmãos contaram que Santa Maria Goretti interveio miraculosamente nas suas vidas. Angelo ouviu sua voz orientando-o a emigrar para a América. Sandrino recebeu uma quantia de dinheiro para pagar sua viagem aos EUA, de maneira inesperada. Faleceu em 1917, ao lado do irmão Angelo. Este, por sua vez, faleceu em 1964, quando retornou para a Itália. O terceiro irmão, Mariano, enquanto lutava na I Grande Guerra, recebeu ordens de abandonar a trincheira e atacar. Neste momento, teve uma visão de Santa Maria Goretti dizendo-lhe para desobedecer e permanecer na trincheira. De todo batalhão, ele foi o único a salvar-se.
Seu corpo é mantido em uma cripta na Basilica de Santa Maria delle Grazie e Santa Maria Goretti, em Nettuno, ao sul de Roma. Nenhuma foto de Maria Goretti era conhecida até 2017, quando a revista italina Famiglia Cristiana, depois de longos anos de meticulosa investigação, afirmou tê-la encontrado.[2]
Representações e homenagens
A Festa de Santa Goretti é celebrada em 6 de julho. Maria é a santa da castidade, vítimas de estupro, juventude, pobreza, pureza e perdão. É representada como uma menina da cabelo ondulados, em roupas simples, carregando lírios, tradicional sinal de pureza na iconografia católica. Também pode estar trajando vestes brancas.
Há várias igrejas, capelas e paróquias dedicadas à santa. Sua devoção se espalhou quase que instantaneamente após a canonização. Na América, a primeira comunidade dedicada a Santa Maria Goretti, foi em Belo Horizonte (Minas Gerais, Brasil) no dia 5 de outubro de 1950 tendo a Capela criada após. Como outras igrejas dedicada a ela é a Capela de Santa Maria Goretti, em Currais Novos (Rio Grande do Norte, Brasil), fundada em 1952. Como outras Capelas pelo Brasil, também foi fundada em setembro de 1992 em São José do Rio Preto SP, a Capela Santa Maria Goretti, hoje sobre a orientação espiritual do Padre Leonildo I. Pierim. Em Maringá, no Paraná, a Paróquia Santa Maria Goretti foi fundada no dia 3 de setembro de 1964 por Dom Jaime Luiz Coelho (1.º Arcebispo de Maringá-PR), sendo nomeado o Padre Raimundo Le Goff, como o primeiro Pároco. Atualmente, a Paróquia é administrada pelo Pe. Reginaldo Teruel Anselmo e congrega muitos devotos. Na cidade de Guarulhos, estado de São Paulo, no bairro dos Pimentas, comunidade Vila Any, também foi edificada uma capela em homenagem a Santa Maria Goretti. A Paróquia Santa Maria Goretti em Belém, foi erigida pelo então Arcebispo Metropolitano Dom Alberto Gaudêncio Ramos, no dia 15 de maio de 1983, quando foi desmembrada da Paróquia São Pedro e São Paulo.
A Paróquia de Santa Teresinha do Menino Jesus, na cidade de Botucatu/SP, recebeu em 2019 parte dos ossos de Santa Maria Goretti e fez o seu sepultamento lá.
Ver também
Notas
- ↑ Noel Crusz foi um jornalista nascido no Sri Lanka, trabalhou na BBC, Rádio Vaticano e Rádio Voz da América. Morreu em 2006. Fonte: Fremantle press_Noel Crusz Arquivado em 5 de novembro de 2013, no Wayback Machine.
Referências
- ↑ «Maria Goretti - Saint under siege» (em inglês). Sunday times (Sri Lanka)
- ↑ «La Foto di Maria Goretti». Famiglia Cristiana. 10 de julho de 2017. Consultado em 6 de julho de 2019
Ligações externas
- Pontificia Basilica Madonna delle Grazie e Santa Maria Goretti di Nettuno (em italiano)
- Santa Maria Goretti (em italiano) - sítio do Santuario di Santa Maria Goretti, em Corinaldo
- Maria Goretti-Storia di un piccolo fiore di campo, de Giovanni Alberti (em italiano) - sítio oficial de Nettuno
Thomas More
Esta página cita fontes, mas estas não cobrem todo o conteúdo. (Março de 2016) |
São Tomás Moro | |
---|---|
São Thomas More por Hans Holbein, o Jovem (1527). | |
Lorde Chanceler do Selo Real e Mártir | |
Nascimento | Londres 7 de fevereiro de 1478 |
Morte | Londres 6 de julho de 1535 (57 anos) |
Veneração por | Igreja Católica; Comunhão Anglicana |
Beatificação | 29 de dezembro de 1886 Florença por Papa Leão XIII |
Canonização | 19 de maio de 1935 Roma por Papa Pio XI |
Principal templo | Co-catedral de São Thomas More, em Tallahassee, no estado americano da Flórida |
Festa litúrgica | 22 de junho (Igreja Católica); 6 de Julho (Comunhão Anglicana) |
Padroeiro | Políticos |
Portal dos Santos |
Thomas More, Thomas Morus ou Tomás Moro[1] (Londres, 7 de fevereiro de 1478 — Londres, 6 de julho de 1535) foi filósofo, homem de estado, diplomata, escritor, advogado e homem de leis, ocupou vários cargos públicos, e em especial, de 1529 a 1532, o cargo de "Lord Chancellor" (Chanceler do Reino - o primeiro leigo em vários séculos) de Henrique VIII da Inglaterra. É geralmente considerado como um dos grandes humanistas do Renascimento. Sua principal obra literária é Utopia.[2]
Foi canonizado como mártir da Igreja Católica em 19 de maio de 1935 e sua festa litúrgica celebra-se em 22 de junho.[3]
História
De família honesta, mesmo que não célebre
Thomas More chegou a se autodescrever como "de família honrada, sem ser célebre, e um tanto entendido em letras". Era filho do juiz sir John More, investido cavaleiro por Eduardo IV, e de Agnes Graunger. Casou-se com Jane Colt em 1505, em primeiras núpcias, tendo tido como filhos: Margaret, Elizabeth, Cecily e John. Jane morreu em 1511 e Thomas More casou-se em segundas núpcias com lady Alice Middleton. More era homem de muito bom humor, caseiro e dedicado à família, muito próximo e amigo dos filhos. Dele se disse que era amigo de seus amigos, entre os quais se encontravam os mais destacados humanistas de seu tempo, como Erasmo de Rotterdam e Luis Vives.
Deu aos filhos uma educação excepcional e avançada para a época, não discriminando a educação dos filhos e das filhas. A todos indistintamente fez estudar latim, grego, lógica, astronomia, medicina, matemática e teologia. Sobre esta família escreveu Erasmo: "Verdadeiramente, é uma felicidade conviver com eles."
Sobre sua vida privada disse João Paulo II: "A sua sensibilidade religiosa levou-o a procurar a virtude através duma assídua prática ascética: cultivou relações de amizade com os franciscanos conventuais de Greenwich e demorou-se algum tempo na cartuxa de Londres, que são dois dos focos principais de fervor religioso do Reino. Sentindo a vocação para o matrimônio, a vida familiar e o empenho laical, casou-se em 1505 com Joana Colt, da qual teve quatro filhos. Tendo esta falecido em 1511, Tomás desposou em segundas núpcias Alice Middleton, já viúva com uma filha. Ao longo de toda a sua vida, foi um marido e pai afetuoso e fiel, cooperando intimamente na educação religiosa, moral e intelectual dos filhos. A sua casa acolhia genros, noras e netos, e permanecia aberta a muitos jovens amigos que andavam à procura da verdade ou da própria vocação. Além disso, na vida de família dava-se largo espaço à oração comum e à lectio divina, e também a sadias formas de recreação doméstica. Diariamente, Thomas participava na Missa na igreja paroquial, mas as austeras penitências que abraçava eram conhecidas apenas dos seus familiares mais íntimos.".[4]
Fez carreira como advogado respeitado, honrado e competente e exerceu por algum tempo a cátedra universitária. Em 1504, fazia parte da Câmara dos Comuns da qual foi eleito Speaker (ou presidente), tendo ganho fama de parlamentar combativo. Em 1510, foi nomeado Under-Sheriff de Londres, no ano seguinte juiz membro da Commission of Peace. Entrou para a corte de Henrique em 1520; foi várias vezes embaixador do rei e tornou-se cavaleiro (Knight) em 1521. Foi nomeado vice-tesoureiro e depois Chanceler do Ducado de Lancaster e, a seguir, Chanceler da Inglaterra.
A sua obra mais famosa é "Utopia" (1516) (em grego, utopos = "em lugar nenhum"). Neste livro criou uma ilha-reino imaginária que alguns autores modernos viram como uma proposta idealizada de Estado e outros como sátira da Europa do século XVI. Um dos aspectos desta obra de More é que ela recorreu à alegoria (como no Diálogo do conforto, ostensivamente uma conversa entre tio e sobrinho) ou está altamente estilizada, ou ambos, o que lhe abre um largo campo interpretativo.
Como intelectual, ele foi inicialmente um humanista no sentido consensual do termo. Latinista, escreveu uma "História de Ricardo III" em texto bilíngüe latim-inglês, em que Shakespeare, mais tarde se basearia para escrever a peça de igual nome. Foi um grande amigo de Erasmo de Roterdão que lhe dedicou o seu "In Praise of Folly" (a palavra "folly" equivale à "moria" em grego).
Era um leitor das obras de Santo Agostinho e traduziu para o vernáculo "A Vida de Pico della Mirandolla", obras que exerceram sobre ele grande influência. Escolheu John Colet, sacerdote, como diretor espiritual, que lhe estabeleceu um plano intenso de práticas pietistas.
De Morus teria dito Erasmo: "É um homem que vive com esmero a verdadeira piedade, sem a menor ponta de superstição. Tem horas fixas em que dirige a Deus suas orações, não com frases feitas, mas nascidas do mais profundo do coração. Quando conversa com os amigos sobre a vida futura, vê-se que fala com sinceridade e com as melhores esperanças. E assim é More também na Corte. Isto, para os que pensam que só há cristãos nos mosteiros."
O divórcio de Henrique VIII
Thomas Wolsey, Arcebispo de York, não foi bem sucedido na sua tentativa de conseguir nem o divórcio, nem a anulação do casamento do rei com Catarina de Aragão como pretendia Henrique VIII de Inglaterra e foi forçado a demitir-se em 1529. More foi nomeado chanceler em sua substituição, sendo evidente que Henrique ainda não se tinha apercebido da rectidão de caráter de More nesta matéria.
Sendo profundo conhecedor de teologia e do direito canónico e homem piedoso - More via na anulação do sacramento do casamento uma matéria da jurisdição do papado, e a posição do Papa Clemente VII era claramente contra o divórcio em razão da doutrina sobre a indissolubilidade do matrimônio. Contrário às Reformas Protestantes então já efetuadas e percebendo que na Inglaterra poderia acontecer o mesmo (devido às questões pessoais do soberano que conduziram à crise político-diplomática com Roma), More - apoiante das decisões da Santa Sé e arraigadamente católico - deixa seu cargo de Lord Chancellor do rei em 16 de maio de 1532, provocando desconfiança na Corte e em Henrique VIII particularmente.
A reacção de Henrique VIII foi atribuir-se a si mesmo a liderança da Igreja em Inglaterra sendo o sacerdócio obrigado a um juramento ao abrigo do Acto de Supremacia que consagrava o soberano como chefe supremo da Igreja.
More escapara, entretanto, a uma tentativa de o implicar uma conspiração. Em 1534, o parlamento promulgou o "Decreto da Sucessão" (Succession Act), que incluía um juramento (1) reconhecendo a legitimidade de qualquer criança nascida do casamento de Henrique VIII com Ana Bolena, sua segunda esposa, e (2) repudiando "qualquer autoridade estrangeira, príncipe ou potentado". Tal como no juramento de supremacia, este apenas foi exigido àqueles especificamente chamados a fazê-lo, por outras palavras, a todos os funcionários públicos e àqueles suspeitos de não apoiarem Henrique.
Martírio
More foi convocado, excepcionalmente, para fazer o juramento em 17 de abril de 1534, e, perante sua recusa, foi preso na Torre de Londres, juntamente com o Cardeal e Bispo de Rochester John Fisher, tendo ali escrito o "Dialogue of Comfort against Tribulation". A sua decisão foi manter o silêncio sobre o assunto. Pressionado pelo rei e por amigos da corte, More decidiu não enumerar as razões pelas quais não prestaria o juramento.
Inconformado com o silêncio de More, o rei determinou o seu julgamento, sendo condenado à morte, e posteriormente executado em Tower Hill a 6 de julho. Nem no cárcere nem na hora da execução perdeu a serenidade e o bom humor e, diante das próprias dificuldades reagia com ironia. Mesmo nos últimos quatro dias de vida não abandonou os rigores da penitência, com desejos de purificação.[5] Na segunda-feira, 5 de julho, enviou à sua filha Meg a camisa-cilício e uma pequena carta escrita com a ponta de um graveto. São as últimas palavras que escreveu.[6]
Pela sentença o réu era condenado "a ser suspenso pelo pescoço" e cair em terra ainda vivo. Depois seria esquartejado e decapitado. Em atenção à importância do condenado o rei, "por clemência", reduziu a pena a "simples decapitação". Ao tomar conhecimento disto, Tomás comentou: "Não permita Deus que o rei tenha semelhantes clemências com os meus amigos." No momento da execução suplicou aos presentes que orassem pelo monarca e disse que "morria como bom servidor do rei, mas de Deus primeiro.".
A sua cabeça foi exposta na ponte de Londres durante um mês, foi posteriormente recolhida por sua filha, Margaret Roper. A execução de Thomas More na Torre de Londres, no dia 6 de julho de 1535 "antes das nove horas", ordenada por Henrique VIII, foi considerada uma das mais graves e injustas sentenças aplicadas pelo Estado contra um homem de honra, consequência de uma atitude despótica e de vingança pessoal do rei. Ele está sepultado na Capela Real de São Pedro ad Vincula.[7]
Canonização
Sua trágica morte — condenado a pena capital por se negar a reconhecer Henrique VIII de Inglaterra como cabeça da Igreja da Inglaterra, é considerada pela Igreja Católica como modelo de fidelidade à Igreja.
Devido à sua retidão e exemplo de vida cristã, foi reconhecido como mártir, declarado beato em 29 de dezembro de 1886 por decreto do Papa Leão XIII e canonizado, conjuntamente com São João Fisher em 19 de maio de 1935 pelo Papa Pio XI. O seu dia festivo é 22 de junho.
Deixou vários escritos de profunda espiritualidade e de defesa do magistério da Igreja. Em 1557, seu genro, William Roper, escreveu sua primeira biografia. Desde a sua beatificação e posterior canonização publicaram-se muitas outras.
Patrono dos políticos e dos governantes
Em 2000, São Thomas More foi declarado [8] "Patrono dos Estadistas e Políticos" pelo Papa João Paulo II:
“ | Esta harmonia do natural com o sobrenatural é talvez o elemento que melhor define a personalidade do grande estadista inglês: viveu a sua intensa vida pública com humildade simples, caracterizada pelo proverbial «bom humor» que sempre manteve, mesmo na iminência da morte. Esta foi a meta a que o levou a sua paixão pela verdade. O homem não pode separar-se de Deus, nem a política da moral: eis a luz que iluminou a sua consciência. Como disse uma vez, "o homem é criatura de Deus, e por isso os direitos humanos têm a sua origem n'Ele, baseiam-se no desígnio da criação e entram no plano da Redenção. Poder-se-ia dizer, com uma expressão audaz, que os direitos do homem são também direitos de Deus" (Discurso, 7 de abril de 1998). É precisamente na defesa dos direitos da consciência que brilha com luz mais intensa o exemplo de Tomás Moro. Pode-se dizer que viveu de modo singular o valor de uma consciência moral que é "testemunho do próprio Deus, cuja voz e juízo penetram no íntimo do homem até às raízes da sua alma" (Carta enc. Veritatis splendor, 58), embora, no âmbito da acção contra os hereges, tenha sofrido dos limites da cultura de então.[8] | ” |
Obras de More (editadas em várias línguas)
- The Workes of Sir Thomas More Knyght, sometyme Lorde Chauncellour of England, written by him in the Englysh tongue ("Trabalhos de sir Thomas More" escrito em inglês). Ed. William Rastell, London, 1557.
- Thomae Mori Opera Omnia Latina. Lovaina, 1565. Reimpresso em Frankfurt, 1963.
- Um homem para todas as horas (Correspondência de Tomás Moro). The Correspondence of Sir Thomas More. Princeton: Elizabeth F. Rogers Edit., 1947.
- Thomas More's Prayer Book. Louis L. Martz & Richard S. Sylvester. New Haven, Connecticut, 1969.
- Diálogo da fortaleza contra a tribulação.
- A Agonia de Cristo.
- A Apologia.
- Um homem só (Cartas da torre).
- Os Novíssimos.
- Réplica a Martinho Lutero.
- Diálogo contra as heresias.
- Súplica das Almas.
- Refutação da Resposta de Tyndale.
- Debelação de Salem e Bizancio.
- Tratado sobre a Paixão de Cristo.
- Expositio Passionis.
- Tratado para receber o Corpo de Nosso Senhor.
- Piedosa Instrução.
- Orações.
- Epitáfio.
- Vida de Pico della Mirandola.
- História de Ricardo III.[9]
- Utopia.
Relíquias
Os padres jesuítas em Stonyhurst possuem uma notável colecção de relíquias secundárias, a maioria das quais lhes chegou vindas do padre Thomas More, S.J., falecido em 1795, o último herdeiro masculino do mártir. Estas incluem o seu chapéu, boné, crucifixo de ouro, um selo de prata, "George", e outros artigos.
A camisa de cilício usada por ele durante muitos anos e enviada a sua filha Margaret Roper na véspera do seu martírio, é preservada pelos agostinianos canoneses de Abbots Leigh, Devonshire, onde foi levada por Margaret Clements, filha adotiva de sir Thomas. Uma série de autógrafos e cartas estão no Museu Britânico.
Filme
Em 1966, foi feito o filme A Man for All Seasons, que no Brasil recebeu o título de O Homem que Não Vendeu sua Alma. O filme, de Fred Zinnemann; o filme foi indicado ao Oscar em diversas categorias, tendo vencido seis dentre as oito categorias nas quais concorreu. O filme conta a história de Thomas Morus, desde o divórcio de Henrique VIII até a perseguição feita pelo rei a Thomas Morus que culminou no seu martírio em 6 de julho de 1535. Thomas foi interpretado por Paul Scofield.
Ver também
- A Man for All Seasons (O homem que não vendeu sua alma), filme.
- Lista de todos os santos
- Reforma Católica
- Utopia (livro)
Referências
- ↑ Gonçalves, Rebelo (1947). Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa. Coimbra: Atlântida - Livraria Editora. p. 348
- ↑ Utopia: Obra de Thomas More propõe sociedade alternativa e perfeita, acesso em 17 de janeiro de 2016.
- ↑ «Thomas More - Utopia, Henry VIII & Facts - Biography». www.biography.com. Consultado em 5 de outubro de 2020
- ↑ | Proclamação como Patrono dos Governantes e Políticos Sítio da Santa Sé
- ↑ C. Nieto, José Lino. Thomas More, um homem para a eternidade. Quadrante. São Paulo, 1987, p.45
- ↑ C. Nieto, José Lino. Thomas More, um homem para a eternidade. Quadrante. São Paulo, 1987, p.45
- ↑ Thomas More (em inglês) no Find a Grave
- ↑ ab Motu proprio que declara Tomás Moro patrono dos governantes. Visitado em 17.out.2007
- ↑ The History of King Richard the Third by Master Thomas More, 1513, PDF (em inglês)
Bibliografia
- ACKROYD, Peter. The Life of Thomas More. Doubleday. Reino Unido, 1998.
- BARTSCHMID-KLAPPROTH, Marguerete. A Consciência do rei, Tomás Moro e o seu tempo. (Tradução de Tarcísio Nascimento Teixeira). São Paulo: Paulinas, 1968.
- BERGLAR, Peter. La hora de Tomás Moro.Madrid: Palabra, 1993.
- GIBSON, R. W., J. M. Patrick. St. Thomas More: A Preliminary Bibliography, New Haven, Connecticut, 1961. (USA)
- LEMONNIER, Léon. Tomás More, Chanceler de Henrique VIII. Tradução de Nuno Santos. Lisboa: Editorial Aster, s/d (Título original: "Un resistant catholique". Editions de la Colombe, Paris).
- MORUS, Thomas. Obras Completas. Yale University Press (The Complete Works of St. Thomas More), New Haven, Connecticut. (USA)
- NIETO, José Lino C. Thomas More. São Paulo: Quadrante, 1987.
- PRADA, Andres Vasquez de. Sir Tomas Moro, Lord Canciller de Inglaterra. Madrid: RIALP, 1989. ISBN 84-321-2490-7
- ROPER, William. La vida de Sir Tomás Moro. Tradução e edição de Álvaro de Silva. Pamplona: EUNSA, 2000.
- ROTTERDAM, Erasmus of, Desiderius. Enchiridion Militis Christiani. Oxford, 1981.
- SARDARO, Anna. La correspondencia de Tomás Moro. Pamplona: EUNSA, 2007.
- SILVA, Álvaro de. Un hombre para todas las horas. La correspondencia de Tomás Moro (1499-1534). Rialp. Madrid, 1998.
- SILVA, Álvaro de. Tomás Moro, un hombre para todas las horas. Madrid: Marcial Pons, 2007.
- STAPLETON, Thomas. Tres Thomae. Vita Tomae Mori. Londres, 1588. The Life and Illustrious Martyrdom of Sir Thomas More. E. E. Reynolds Edit. London, 1966.
- Paloma Castillo Martinez, Tommaso Moro il primato della coscienza, Paoline, Milano, 2010. C. 9788831536752 CONTROLLA SPAGNOLO.
Ligações externas
- Nascidos em 1478
- Mortos em 1535
- Advogados da Inglaterra
- Católicos do Reino Unido
- Católicos romanos do período Tudor
- Diplomatas da Inglaterra
- Escritores renascentistas
- Filósofos executados
- Humanistas da Inglaterra
- Mártires católicos
- Naturais de Londres
- Pessoas executadas por decapitação
- Políticos do Reino Unido
- Prisioneiros da Torre de Londres
- Santos da Inglaterra
- Filósofos cristãos
- Sepultados na Capela Real de São Pedro ad Vincula
- Utopistas
- Santos da Reforma Católica
ANTÓNIO FONSECA