Mostrar mensagens com a etiqueta NOVAS CATEQUESES DO PAPA BENTO XVI. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta NOVAS CATEQUESES DO PAPA BENTO XVI. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

UMA BREVE BIOGRAFIA DE SÃO PAULO - Papa Bento XVI

Uma breve biografia de São Paulo

Audiência geral da Quarta-feira 27 de Agosto de 2008 Queridos irmãos e irmãs: Na última catequese antes das férias, há dois meses, no início de Julho, tinha começado uma nova série temática por ocasião do ano paulino, reflectindo sobre o mundo no qual Paulo viveu. Hoje, quero retornar e continuar a reflexão sobre o apóstolo dos povos, propondo uma breve biografia. Dado que dedicaremos a próxima quarta-feira ao acontecimento extraordinário que se verificou no caminho de Damasco, a conversão de Paulo, virada fundamental em sua existência após o encontro com Cristo, hoje nos detemos brevemente a analisar o conjunto de sua vida. Nascido no ano 8 da era cristã Os sinais biográficos de Paulo encontramos respectivamente na carta a Filémon, na qual se declara «ancião» (versículo 9: presbytes), e nos Actos dos Apóstolos, pois no momento da lapidação de Estevão diz que era «jovem» (7, 58). Ambas as designações são evidentemente genéricas, mas segundo os cálculos antigos, «jovem» era o homem que tinha cerca de trinta anos, enquanto que se chamava «ancião» quando este chegava aos sessenta. Em termos absolutos, a data de Paulo depende em grande parte da data em que foi escrita a carta a Filémon. Tradicionalmente, sua redaccão liga-se à prisão de Roma, em meados dos anos 60. Paulo teria nascido no ano 8, portanto, teria vivido mais ou menos sessenta anos, enquanto que no momento da lapidação de Estevão tinha trinta. Esta deveria ser a cronologia adequada. E o ano paulino que estamos a celebrar segue precisamente esta cronologia. Foi escolhido o ano 2008 pensando que Paulo nasceu mais ou menos no ano 8. Nascido em Tarso Em todo caso, nasceu em Tarso de Cilícia (Cf. Actos 22, 3). A cidade era capital administrativa da região e no ano 51 a.C. tinha tido como pró-consul nada menos que a Marco Túlio Cícero, enquanto que dez anos depois, no ano 41, Tarso havia sido o lugar do primeiro encontro entre Marco António e Cleópatra. Judeu da diáspora, falava grego apesar de ter um nome de origem latina, derivado por assonância do original hebreu Saul/Saulos, e gozava da cidadania romana (Cf. Actos 22, 25-28). Três culturas diferentes Paulo apresenta-se, deste modo, na fronteira de três culturas diferentes - romana, grega, judaica - e talvez também por este motivo estava predisposto a fecundas aberturas universais, a uma mediação entre as culturas, a uma verdadeira universalidade. Fabricante de tendas Também aprendeu um trabalho manual, talvez herdado do pai, que consistia no ofício de «fabricar tendas» (Cf. Actos 18, 3), o que provavelmente significa que trabalhava a lã de cabra ou a fibra de linha, para fazer esteiras ou tendas (Cf. Atos 20, 33-35). Na escola de Gamaliel Por volta dos doze ou treze anos, a idade na qual um jovem judeu se converte em bar mitzvà («filho do preceito»), Paulo deixou Tarso e mudou-se para Jerusalém, para ser educado aos pés do rabi Gamaliel, o Velho, neto do grande rabi Hilel, segundo as mais rígidas normas do farisaísmo, adquirindo um grande zelo pela Torá mosaica (Cf. Gálatas 1, 14; Filipenses 3, 5-6; Actos 22, 3; 23, 6; 26, 5). Perseguidor Em virtude desta ortodoxia profunda, que havia aprendido na escola de Hilel, em Jerusalém, viu no novo movimento que se inspirava em Jesus de Nazaré um risco, uma ameaça para a identidade judaica, para a autêntica ortodoxia dos pais. Isto explica o facto de que tenha «perseguido a Igreja de Deus», como o admitirá em três ocasiões nas suas cartas (1 Cor 15, 9; Gal 1, 13; Fili 3, 6). Ainda que não seja fácil imaginar concretamente em que consistiu esta perseguição, a sua atitude foi, de todos os modos, de intolerância. Aqui se marca o acontecimento de Damasco, sobre o qual voltaremos a falar na próxima catequese. O certo é que, a partir de então, a sua vida mudou e ele se converteu num apóstolo incansável do Evangelho. De facto, São Paulo passou à história pelo que fez como cristão, como apóstolo, e não como fariseu. Tradicionalmente, divide-se sua actividade apostólica em virtude das três viagens missionárias, às quais se acrescentou a quarta a Roma, como prisioneiro. Todas são narradas por Lucas nos Actos dos Apóstolos. Ao falar das três viagens missionárias, há que distinguir a primeira das outras duas. 1ª Viagem Missionária e o concílio de Jerusalém Pelo que se refere à primeira, de facto (Cf. Actos 13-14), Paulo não teve responsabilidade directa, pois esta foi encomendada ao cipriota Barnabé. Juntos, partiram de Antioquia de Orontes, enviados por essa Igreja (Cf. Actos 13, 1-3), e, depois de sair do porto de Selêucia, na costa síria, atravessaram a ilha de Chipre de Salamina a Pafos; daqui chegaram à costa do sul de Anatólia, hoje Turquia, passando por Atalia, Perga de Panfilia, Antioquia de Psídia, Icónio, Listra e Derbe, donde regressaram ao ponto de partida. Havia nascido assim a Igreja dos povos, a Igreja dos pagãos. Enquanto isso, sobretudo em Jerusalém, havia surgido uma dura discussão sobre se estes cristãos precedentes do paganismo estavam obrigados a entrar também na vida e na lei de Israel (várias prescrições separavam Israel do resto do mundo) para participar realmente das promessas dos profetas e para entrar efectivamente na herança de Israel. Para resolver este problema fundamental para o nascimento da Igreja futura reuniu-se em Jerusalém o assim chamado Concílio dos Apóstolos, para tomar uma decisão sobre este problema, do qual dependia o nascimento efectivo de uma Igreja universal. Decidiu-se que não havia que impor aos pagãos convertidos as prescrições da lei mosaica (Cf. Actos 15, 6-30): ou seja, não estavam obrigados a respeitar as normas do judaísmo; a única necessidade era ser de Cristo, viver com Cristo e segundo suas palavras. Deste modo, sendo de Cristo, eram também de Abraão, de Deus, e participavam de todas as promessas. Segunda Viagem Missionária e a entrada na Europa Após este acontecimento decisivo, Paulo separou-se de Barnabé, escolheu Silas, e começou a segunda viagem missionária (Cf. Actos 15, 36-18,22). Depois de percorrer a Síria e a Cilícia, voltou a ver a cidade de Listra, onde tomou consigo Timóteo (figura muito importante da Igreja nascente, filho de uma judia e de um pagão), e fez com que se circuncidasse. Atravessou a Anatólia central e chegou à cidade de Tróade, na costa norte do Mar Egeu. Aqui aconteceu um novo acontecimento importante: em sonhos viu um macedónio na outra parte do mar, ou seja, na Europa, que lhe dizia: «Vem para ajudar-nos!». Era a Europa futura que lhe pedia ajuda e a luz do Evangelho. Movido por esta visão, entrou na Europa. Partiu para Macedónia, entrando assim na Europa. Após desembarcar em Neápolis, chegou a Filipos, onde fundou uma maravilhosa comunidade, logo passou a Tessalónica e, deixando esta cidade por causa de dificuldades com os judeus, passou por Berea até chegar a Atenas. Nesta capital da antiga cultura grega pregou, primeiro no Ágora e depois no Areópago, aos pagãos e aos gregos. E o discurso do Areópago, narrado nos Actos dos Apóstolos, é um modelo sobre como traduzir o Evangelho em cultura grega, como dar a entender aos gregos que este Deus dos cristãos, dos judeus, não era um Deus estranho à sua cultura, mas o Deus desconhecido que esperavam, a verdadeira resposta às perguntas mais profundas de sua cultura. Estadia em Corinto De Atenas chegou a Corinto, onde permaneceu um ano e meio. E aqui temos um acontecimento cronologicamente muito seguro de toda sua biografia, pois durante essa primeira estadia em Corinto, teve de comparecer perante o governador da província senatorial de Acácia, o pró-cônsul Galião, acusado de um culto ilegítimo. Sobre este Galião e o tempo que passou em Corinto existe uma antiga inscrição, encontrada em Delfos, onde se diz que era pró-cônsul de Corinto entre os anos 51 e 53. Portanto, aqui temos uma data totalmente segura. A estadia de Paulo em Corinto aconteceu nesses anos. Portanto, podemos supor que chegou mais ou menos no ano 50 e que permaneceu até o ano 52. De Corinto, depois, passando por Cêncreas, porto oriental da cidade, dirigiu-se para a Palestina, chegando a Cesareia Marítima, desde onde subiu a Jerusalém para regressar depois a Antioquia de Orontes. A terceira viagem missionária A terceira viagem missionária (CF. Actos 18, 23-21, 16) começou, como sempre, em Antioquia, que se havia convertido no ponto de origem da Igreja dos pagãos, da missão aos pagãos, e era o lugar no qual nasceu o termo «cristãos». Aqui, pela primeira vez, diz-nos São Lucas, os seguidores de Jesus foram chamados de «cristãos». Daí, Paulo foi directamente a Éfeso, capital da província da Ásia, onde permaneceu durante dois anos, desempenhando um ministério que teve fecundos resultados na região. De Éfeso, Paulo escreveu as Cartas aos Tessalonicenses e aos Coríntios. A população da cidade foi instigada contra ele pelos vendedores locais, que experimentaram uma diminuição de sua renda por causa da redução do culto a Artemísia (o templo que a ela dedicado em Éfeso, o Artemisião, foi uma das sete maravilhas do mundo antigo); por este motivo, teve de fugir para o norte. Depois de voltar a atravessar a Macedónia, desceu de novo à Grécia, provavelmente a Corinto, permanecendo ali três meses e escrevendo a famosa Carta aos Romanos. Daí voltou sobre seus passos: voltou a passar pela Macedónia, chegou de barco a Tróade e, depois, passando pelas ilhas de Mitilene, Quíos, Samos, chegou a Mileto, onde pronunciou um importante discurso aos anciãos da Igreja de Éfeso, oferecendo um retrato do autêntico pastor da Igreja (Cf. Actos 20). Daqui, voltou a partir em vela para Tiro, e logo chegou a Cesareia Marítima para subir uma vez mais a Jerusalém. Ali foi preso por causa de um mal-entendido: alguns judeus haviam confundido com pagãos outros judeus de origem grega, introduzidos por Paulo na área do templo reservada aos israelitas. A condenação à morte, prevista nestes casos, foi suspensa graças à intervenção do tribuno romano de guarda na área do templo (Cf. Atos 21, 27-36); isto aconteceu enquanto na Judeia era procurador imperial António Félix. Após um período na prisão (cuja duração é debatida), dado que Paulo, por ser cidadão romano, havia apelado a César (que então era Nero), o procurador sucessivo, Porcio Festo, enviou-o a Roma custodiado militarmente. Viagem a Roma A viagem a Roma passou pelas ilhas mediterrâneas de Creta e de Malta, e depois pelas cidades de Siracusa, Regio de Calábria e Pozzuoli. Os cristãos de Roma saíram para recebê-lo na Via Apia até o Fórum de Appius (cerca de 70 quilómetros ao sul da capital) e outros até as Três Tabernas (a 40 quilómetros). Em Roma teve um encontro com os delegados da comunidade judaica, a quem lhes confiou que estava preso pela «esperança de Israel» (Cf. Actos 28, 20). Mas a narração de Lucas conclui mencionando os dois anos passados em Roma sob custódia militar, sem mencionar nenhuma sentença de César (Nero) nem sequer a morte do acusado. Viagem missionária à Espanha e nova prisão: uma hipótese Tradições sucessivas falam de uma libertação, de que teria empreendido uma viagem missionária à Espanha, assim como um sucessivo périplo em particular por Creta, Éfeso, Nicópolis em Epiro. Entre as hipóteses, conjectura-se uma nova prisão e um segundo período de encarceramento em Roma (onde teria escrito as três cartas chamadas pastorais, ou seja, as duas a Timóteo e a de Tito) com um segundo processo desfavorável. Contudo, uma série de motivos leva muitos estudiosos de São Paulo a concluirem a biografia do apóstolo com a narração de Lucas nos Actos dos Apóstolos. Sobre seu martírio voltaremos a falar mais adiante, no ciclo de nossas catequeses. Tudo pelo Evangelho Por agora, neste breve elenco das viagens de São Paulo, é suficiente tomar conhecimento de como se dedicou ao anúncio do Evangelho sem economizar energias, enfrentando uma série de duras provas, das quais nos deixou a lista na segunda carta aos Coríntios (Cf. 11, 21-28). Portanto, ele mesmo escreve: «Tudo isto faço pelo Evangelho» (1 Coríntios 9, 23), exercendo com total generosidade o que ele chama de «a preocupação por todas as Igrejas» (2 Coríntios 11, 28). Vemos que seu compromisso só se explica com uma alma verdadeiramente fascinada pela luz do Evangelho, enamorada de Cristo, uma alma baseada em uma convicção profunda: é necessário levar ao mundo a luz de Cristo, anunciar o Evangelho a todos. Parece-me que esta é a conclusão desta breve resenha das viagens de São Paulo: ver sua paixão pelo Evangelho, intuir assim a grandeza, a maravilha, a necessidade profunda do Evangelho para todos nós. Rezemos para que o Senhor, que fez Paulo ver sua luz, que fez Paulo escutar sua Palavra, que tocou seu coração intimamente, nos faça ver também sua luz, para que também nosso coração fique tocado por sua Palavra e também nós possamos dar ao mundo de hoje, que tem sede, a luz do Evangelho e a verdade de Cristo. [Traduzido por Zenit © Copyright 2008 - Libreria Editrice Vaticana]

texto retirado do site http://diocese-porto.pt/

LOUVADO SEJA DEUS, NOSSO SENHOR JESUS CRISTO E SUA MÃE MARIA SANTISSIMA

utilizei o mesmo estratagema de copiar o texto e transcrever para aqui, pelo que peço as minhas desculpas

António Fonseca

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

NOVAS CATEQUESES DO PAPA BENTO XVI

Solicitando nova vénia a http://diocese-porto.pt e utilizando novamente o estratagema possibilitado pela informática, de copiar os textos, que experimentei anteriormente, faço agora a transferência para esta página das
Novas Catequeses do Papa Bento XVI sobre o Apóstolo São Paulo
1
O ambiente e contexto global do tempo de São Paulo
Caros irmãos e irmãs:
Hoje gostaria de começar um novo ciclo de Catequeses, dedicado ao grande Apóstolo São Paulo. A ele, como sabeis, é consagrado este ano, que iniciou na festa litúrgica dos Santos Pedro e Paulo de 29 de Junho de 2008 e terminará com a mesma festa em 2009.
O Apóstolo Paulo, figura excelsa e quase inimitável, mas de qualquer maneira estimulante, está diante de nós como exemplo de total dedicação ao Senhor e à sua Igreja, bem como de grande abertura à humanidade e às suas culturas. Portanto, é justo que lhe reservemos um lugar especial, não só na nossa veneração, mas também no esforço de compreender aquilo que ele tem para nos dizer, a nós cristãos de hoje.
Neste nosso primeiro encontro, queremos deter-nos para considerar o ambiente em que se encontrou a viver e a agir. Um tema deste género pareceria levar-nos para longe do nosso tempo, visto que devemos inserir-nos no mundo de há dois mil anos. E todavia isto só é verdade aparentemente e, de qualquer forma apenas de modo parcial, porque poderemos constatar que, sob vários aspectos, o contexto sóciocultural de hoje não se diferencia muito do de então.
Um factor primário e fundamental que se deve ter presente é constituído pela relação entre o ambiente em que Paulo nasce e se desenvolve, e o contexto global em que sucessivamente se insere.
Cultura judaica
Ele vem de uma cultura bem específica a circunscrita, certamente minoritária, que é a do povo de Israel e da sua tradição.
No mundo antigo e nomeadamente no âmbito do Império Romano, como nos ensinam os estudiosos da matéria, os judeus deviam representar cerca de 10% da população total; depois em Roma, por volta dos meados do século I o seu número era ainda menor, alcançando ao máximo 3% dos habitantes da cidade. Os seus credos e o seu estilo de vida, como acontece também hoje, distinguiam-nos claramente do ambiente circunstante; e isto podia ter dois resultados: ou a ridicularização, que podia levar à intolerância, ou então a admiração, que se exprimia de várias formas de simpatia, como no caso dos "tementes a Deus" ou dos "prosélitos", pagãos que se associavam à sinagoga e partilhavam a fé no Deus de Israel.
Como exemplos concretos desta dupla atitude podemos citar, por um lado, o juízo pungente de um orador como Cícero, que desprezava a sua religião e até a cidade de Jerusalém (cf. Pro Flacco, 66-69) e, por outro, a atitude da esposa de Nero, Popeia, que é recordada por Flávio Josefo como "simpatizante" dos judeus (cf. Antiguidades judaicas 20, 195.252; Vita 16), sem mencionar que já Júlio César lhes tinha oficialmente reconhecido alguns direitos particulares que nos foram legados pelo mencionado historiador judeu Flávio Josefo (cf. ibid., 14, 200-216). Sem dúvida, o número de judeus, como de resto acontece ainda hoje, era muito maior fora da terra de Israel, ou seja na diáspora, do que no território que os outros chamavam Palestina.
Portanto, não admira que o próprio Paulo tenha sido objecto da dupla e contrastante avaliação de que falei. Uma coisa é segura: o particularismo da cultura e da religião judaica encontra tranquilamente lugar no interior de uma instituição tão omnipresente como era o império romano.
Cultura helenista
Mais difícil e sofrida foi a posição do grupo daqueles, judeus ou gentios, que aderiram com fé à pessoa de Jesus de Nazaré, na medida em que se distinguiram quer do judaísmo quer do paganismo imperante. De qualquer forma, dois factores favoreceram o compromisso de Paulo. O primeiro foi a cultura grega, ou melhor helenista, que depois de Alexandre Magno se tinha tornado património comum pelo menos do Mediterrâneo oriental e do Médio Oriente, mesmo que tenha integrado em si muitos elementos das culturas de povos tradicionalmente considerados bárbaros. Um escritor dessa época afirma, a este propósito, que Alexandre "ordenou que todos considerassem como pátria toda a ecumene... e que o Grego e o Bárbaro já não se distinguissem" (Plutarco, De Alexandri Magni fortuna aut virtute 6.8).
Cultura Romana
O segundo factor foi a estrutura político-administrativa do império romano, que garantia paz e estabilidade desde a Britânia até ao Egipto meridional, unificando um território de dimensões nunca vistas. Neste espaço podia-se mover com suficiente liberdade e segurança, usufruindo entre outras coisas de um sistema rodoviário extraordinário, e encontrando em cada ponto de chegada características culturais de base que, sem prejudicar os valores locais, representavam contudo um tecido comum de unificação super partes, a tal ponto que o filósofo judeu Filone Alexandrino, contemporâneo do próprio Paulo, elogia o imperador Augusto, porque "compôs em harmonia todos os povos selvagens... tornando-se guardião da paz" (Legatio ad Caium 146-147).
Homem de três culturas
A visão universalista típica da personalidade de São Paulo, pelo menos do Paulo cristão sucessivo ao acontecimento do caminho de Damasco, deve certamente o seu impulso básico à fé em Jesus Cristo, enquanto a figura do Ressuscitado se situa além de qualquer limite particularista; com efeito, para o Apóstolo "já não há judeu nem grego; não há servo nem livre, não há homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Cristo" (Gl 3, 28). Todavia, também a situação histórico-cultural do seu tempo e do seu ambiente não deixou de influenciar as escolhas e o seu compromisso. Alguém definiu Paulo "homem de três culturas", tendo em consideração a sua matriz judaica, a sua língua grega e a sua prerrogativa de "civis romanus", como atesta também o nome de origem latina.
Filosofia estóica
Há que recordar de modo especial a filosofia estóica, que na época de Paulo era predominante e que influiu, embora em medida marginal, também sobre o cristianismo. A este propósito, não podemos deixar de mencionar alguns nomes de filósofos estóicos, como os iniciadores Zenão e Cleante, e depois os que cronologicamente estão mais próximos de Paulo, como Séneca, Musónio e Epicteto: neles encontram-se elevadíssimos valores de humanidade e de sabedoria, que naturalmente serão recebidos no cristianismo. Como escreve de modo excelente um estudioso da matéria, "a Stoa... anunciou um novo ideal, que impunha ao homem deveres em relação ao seu próximo, mas ao mesmo tempo libertava-o de todos os vínculos físicos e nacionais, e dele fazia um ser puramente espiritual" (M. Pohlenz, La Stoa, I, Florença 2 1978, págs. 565 s.). Pensemos, por exemplo, na doutrina do universo entendido como um único grande corpo harmonioso e, consequentemente, na doutrina da igualdade entre todos os homens sem distinções sociais, na equiparação pelo menos de princípio entre o homem e a mulher, e depois no ideal da frugalidade, da justa medida e do domínio de si para evitar qualquer excesso. Quando Paulo escreve aos Filipenses: "Tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso ou que de algum modo mereça louvor, é o que deveis ter em mente" (Fl 4, 8), não faz senão retomar uma concepção claramente humanista própria daquela sabedoria filosófica.
Crise da religião tradicional
Na época de São Paulo havia também uma crise da religião tradicional, pelo menos nos seus aspectos mitológicos e também cívicos. Depois que Lucrécio já um século antes, tinha polemicamente asseverado que "a religião conduziu a muitas injustiças" (De rerum natura, 1, 101), um filósofo como Séneca, indo muito além de todo o ritualismo exteriorista, ensinava que "Deus está próximo de ti, está contigo, está dentro de ti" (Cartas a Lucílio, 41, 1). Analogamente, quando Paulo se dirige a um auditório de filósofos epicureus e estóicos no Areópago de Atenas, diz textualmente que "Deus não habita em santuários feitos por mãos humanas... mas nele vivemos, nos movemos e existimos" (Act 17, 24.28). Com isto, ele certamente faz ressoar a fé judaica num Deus não representável em termos antropomórficos, mas põe-se também numa sintonia religiosa que os seus ouvintes conheciam bem. Além disso, temos que ter em conta o facto de que muitos cultos pagãos prescindiam dos templos oficiais da cidade e se realizavam em lugares particulares que favoreciam a iniciação dos adeptos. Por isso, não constituía motivo de admiração, o facto de que também as reuniões cristãs (as Ekklesíai), como nos atestam sobretudo as Cartas paulinas, se realizassem em casas particulares. De resto, nessa época ainda não existia qualquer edifício público. Portanto, as reuniões dos cristãos deviam parecer aos contemporâneos como uma simples variante desta sua prática religiosa mais íntima. De qualquer forma, as diferenças entre os cultos pagãos e o culto cristão não são de pouca monta e dizem respeito tanto à consciência identitária dos participantes como a participação comum de homens e mulheres, a celebração da "ceia do Senhor" e a leitura das Escrituras.
Em conclusão, desta rápida série sobre o ambiente cultural do século I da era cristã parece claro que não é possível compreender adequadamente São Paulo sem o inserir no contexto, tanto judaico como pagão, do seu tempo. Deste modo, a sua figura adquire valor histórico e ideal, revelando partilha e ao mesmo tempo originalidade em relação ao ambiente. Mas isto vale analogamente também para o cristianismo em geral, do qual precisamente o Apóstolo Paulo constitui um paradigma de primeira ordem, do qual todos nós temos sempre muito a aprender. Esta é a finalidade do Ano Paulino: aprender de São Paulo, aprender a fé, aprender Cristo e, enfim, aprender o caminho da vida recta.
LOUVADO SEJA PARA SEMPRE JESUS CRISTO E SUA MÃE MARIA SANTISSIMA
António Fonseca

Igreja da Comunidade de São Paulo do Viso

Nº 5 801 - SÉRIE DE 2024 - Nº (277) - SANTOS DE CADA DIA - 2 DE OUTUBRO DE 2024

   Caros Amigos 17º ano com início na edição  Nº 5 469  OBSERVAÇÃO: Hoje inicia-se nova numeração anual Este é, portanto, o 277º  Número da ...