Do Boletim da SSVP, de Outubro de 2008, retirei (com a devida vénia) este texto:
S. PAULO, O GRANDE COMUNICADOR
UM ANO COM O APÓSTOLO DOS GENTIOS
Vai ser um ano repleto de acontecimentos litúrgicos, culturais e ecuménicos, com iniciativas pastorais e sociais inspiradas na espiritualidade paulina.
As celebrações para o segundo milénio do nascimento de São Paulo (situado pelos historiadores entre os anos 7 e10 d.c.) vão encher o calendário dos próximos meses. O programa das celebrações, que já se iniciaram em Roma e em toda a Igreja no passado dia 28 de Junho e se estenderão até 29 de Junho de 2009, pode ser seguido no site www.annopaolino.org
O anúncio destas iniciativas foi feito pelo Papa Bento XVI, que enfatizou a realização de "congressos de estudo, publicações especiais dos textos paulinos, para dar a conhecer cada vez mais a imensa riqueza dos ensinamentos que os seus escritos contêm, verdadeiro património da humanidade redimida por Cristo" e sublinhou a importância da dimensão ecuménica da mensagem do Apóstolo dos Gentios.
Ontem evangelizava na "agora", hoje provavelmente não resistiria a criar um blog.
Descubramos a mensagem do Apóstolo através das palavras do Mons. Giovanni Giavini, teólogo e entusiasta estudioso do Apóstolo São Paulo.
Grande viajante e comunicador, uma pessoa culta que viveu num clima cultural rico e cosmopolita. Uma grande figura, um combativo ardente, impetuoso. Dele a imagem mais famosa que guardamos é aquela de um homem caído do seu cavalo, prostrado por terra, de braços abertos como que a receber a mais bela de todas as notícias.
"Saulo, Saulo porque me persegues?" – pergunta-lhe uma voz.
É assim que Paulo, aquele que antes combatia a Igreja
e, se encontrasse homens e mulheres que fossem desta via, os trazia algemados para a prisão' (conf. Act 9,2), se transforma agora no mais apaixonado apóstolo de Jesus, incansável defensor do cristianismo em toda a bacia do Mar Mediterrâneo. Falámos dele com Mons. Giovanni Giavini, responsável pelo departamento de ensino da religião católica na
Diocese de Milão.
A mensagem de S. Paulo, ainda hoje é actual?
Sim, por três motivos.
O primeiro é que vivemos num contexto niilista, como disse o Papa Bento XVI, onde não há valores concretos em que acreditar. Neste ponto de vista, São Paulo tinha convicções muito fortes. Encontrou algo de muito estável na sua vida: Jesus Ressuscitado.
Em segundo lugar, ele apresenta-nos um forte motivo ecuménico. Se até há poucos anos São Paulo era lido sobretudo pelos protestantes, particularmentepelos Luteranos, hoje ele é continuamente redescoberto pela Igreja Católica. Nas Declarações comuns de Augsburgo de 1999, católicos e protestantes convergem num ponto essencial que se refere à justificação pela fé e não pelas obras proposta por São Paulo.
Um terceiro motivo é a ajuda que nos dá na redescoberta da pessoa de Jesus Cristo face à sua contestação em relação ao que nos é apresentado nos evangelhos.
Porque motivo São Paulo é o autor preferido pelos protestantes?
São Paulo insiste na importância da fé no Deus que ressuscitou o Crucificado da morte. Este é o fundamento da fé proposta a todos: livres e escravos, judeus e gregos, homens e mulheres. É uma fé concreta que conduz a uma vida de amor como a vida de Jesus. Paulo fala mal da lei, e a Igreja católica estava muito ligada à lei e às obras. É por isso que Lutero faz de São Paulo a sua bandeira.
Que tipo de viajante e comunicador era São Paulo?
Ele viajava muito para levar a todos a fé em Cristo. Preferia as grandes cidades portuárias, porque intuía que, se aí nascesse uma comunidade cristã, uma Igreja local, ela tornar-se-ia, evangelizadora e missionária, como depois veio a acontecer em Tessalônica ou em Filipos. O seu método era o de tomar contacto com a realidade envolvente e partir daí para anunciar Cristo Ressuscitado.
As sinagogas eram um dos pontos preferidos de anúncio para São Paulo, que procurava estabelecer contactos com os judeus a partir das suas tradições e cultura. Um outro ponto de partida era a cultura grega: os seus poetas e historiadores e os filósofos epicuristas eram os pontos de partida dos quais Paulo se servia para divulgar a sua mensagem.
Hoje, São Paulo como comunicador utilizaria a televisão e a Internet?
De certeza que utilizaria todos os meios à sua disposição, hoje como no passado. Frequentava as sinagogas e os forums, as ágoras e os areópagos, percorria as estradas romanas e usava os barcos que atravessavam o mar Mediterrâneo, mesmo que esses barcos transportassem estátuas de ídolos pagãos.
Como é recebida hoje a mensagem de São Paulo?
Falo muito de São Paulo e dou conta que muita gente, sobretudo as mulheres, erguem contra ele uma espécie de muro de vidro, porque elas sabem que Paulo tem a seu respeito expressões não muito "feministas". Mas, depois que entramos no mundo de Paulo, a sua fé fortíssima encanta e envolve-nos. Não é fácil, porque o seu discurso não é sempre linear, mas basta apreender o essencial da sua mensagem para superar as dificuldades que encontramos.
São Paulo: "Não adoreis os ídolos, falo-vos como a pessoas inteligentes, acreditai no que vos digo". Falando de fé, apela para a inteligência.
É exactamente o que fazia Jesus, que apelava ao bom senso das pessoas. Por exemplo, quando O criticavam por fazer milagres ao sábado.
Mas o apelo mais forte de Paulo é o de olhar para Cristo Crucificado e Ressuscitado, daqui é que parte tudo. Paulo pede-nos para não adorarmos os ídolos porque nós estamos em comunhão com o Corpo e o Sangue de Cristo, o Pão e o Vinho da Eucaristia, com Jesus! A nossa comunhão é com o Deus Vivo e verdadeiro, não motivos para procurarmos os ídolos.
Hoje o que serão os ídolos?
Que realidade é que os antigos queriam representar com os ídolos?
Representavam sempre os ídolos com uma característica humana. Temos que ver também o significado que os gregos e os romanos colocavam nas estátuas das divindades.
Vejamos por exemplo que, para transmitir a ideia de força e de poder,
representam Zeus com o fogo na mão;
ou Afrodite, a deusa do prazer e do sexo;
ou Artemise, a deusa da caça e do domínio do homem sobre os animais;
Mammona, o deus do dinheiro que ainda não desapareceu.
Texto de Missioni Francescane
Tradução de Frei Álvaro Silva
In “Missões Franciscanas”
REFLEXÃO
“Procura-se Deus na imensidão da Natureza,
no entanto ele se acha no íntimo de cada ser”.
10 Boletim Português - Outubro de 2008
LOUVADO SEJA DEUS PARA SEMPRE E SUA MÃE MARIA SANTÍSSIMA
António Fonseca