segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

ANO PAULINO - "Um Ano a Caminhar com S. PAULO"

Caros Amigos:
Apesar de continuar limitado devido a ter o meu braço esquerdo engessado (pelo menos, até ao próximo dia 27) não quis deixar de continuar a tentar prosseguir a edição das leituras de "Um ano a caminhar com S. Paulo" e assim, embora escrevendo apenas com um dedo da mão direita, consegui transcrever (em mais duma hora), a
leitura nº 38
do referido livro que, inicia a quarta parte intitulada
"PAULO FALA-NOS DA NOSSA CONDUTA CRISTÃ"
e prossegue com o sub-título
“EXORTO-VOS, IRMÃOS, PELA MISERICÓRDIA DE DEUS”
Em cinco cartas paulinas, a uma parte doutrinal segue-se uma outra de conteúdo moral, o indicativo salvífico é completado pelo imperativo ético (Rm 1, 16-11, 36 e 12,1-15,13; Gl 1,6-4,31 e 5,1-6-10; Ef 1,3-13-21 e 4,1-6,20; Cl 1,3-2,23 e 3,1-4-6; 1 Ts 1,2-3-13 e 4,1-5,24). Nas restantes, mesmo esquema, não determinando a estrutura do conjunto, é frequentemente adoptado no interior de cada parte. Porquê esta sucessão? Que relação existe entre a fé e a prática de vida?
Tomemos como exemplo Rm 12, 1-8, onde Paulo mostra como a transformação operada pelo Evangelho naqueles que o acolhem é determinante para a sua conduta moral, esta está enraizada naquela, e vice-versa: a fé actua pela caridade (Gl 5, 6). Prestemos especial atenção aos vv. 1s, onde nos é oferecido o programa básico para uma vida de acordo com o Evangelho. O que vem a seguir é a sua aplicação a um dos vários sectores da vida cristã.
Rm 12, 1-8
Por isso, exorto-vos, irmãos, pela Misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus. Seja este o vosso verdadeiro culto, o razoável. Não vos conformeis com este mundo. Pelo contrário, deixai-vos transformar pela renovação da mente, para poderdes discernir qual é a vontade de Deus: o que é bom, lhe é agradável e é perfeito.
Assim, em virtude da graça que me foi dada, digo a todos e a cada um de entre vós que não se sinta acima do que deve sentir-se; mas sinta-se preocupado em ser sensato, de acordo com a medida da fé que Deus distribuiu a cada um. É que, como num só corpo, temos muitos membros, mas os membros não têm todos a mesma função, assim acontece connosco: os muitos que somos formamos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros.
Temos dons da graça que, consoante a graça que nos foi dada, são diferentes: se é o da profecia, seja usado em sintonia com a ; se é o da diaconia, seja usado na diaconia; se um tem o de ensinar, use-o no ensino; se outro tem o de exortar, use-o na exortação; quem reparte, faça-o com generosidade; quem preside, faça-o com dedicação; quem pratica a misericórdia, faça-o com alegria.
Antes de expor o conteúdo da instrução moral, Paulo começa pela sua origem e fundamento: a misericórdia de Deus (v. 1ª). É através dela que ele fala. Ou melhor, é através dele que ela fala. Ele só é a boca. Quem exorta é a misericórdia de Deus, porque é dela que Paulo vive, desde que, pela sua graça, Deus o transformou e constituiu Apóstolo (Rm 1, 1; 1 Cor 15, 10). Por isso, no exercício do apostolado, ele não ordena, mas exorta. A misericórdia nada impõe; Apenas se impõe, pelo que é e pelo que faz: no Apóstolo e naqueles a quem ele se dirige. Também eles foram conquistados e transformados pela mesma misericórdia, vívida por Cristo e transmitida no Evangelho. Por isso Paulo os trata como irmãos. Unidos em Cristo e animados pelo Espírito, libertador da escravidão e do medo, são todos filhos do mesmo Deus a quem chamam Abbá, ó Pai (Rm 8, 14s).
A esta misericórdia divina corresponde o conteúdo da conduta moral dos que dela vivem. Na prática, a sua conduta não é mais do que a vivência comportamental do Evangelho, a começar pela radicalidade e totalidade que a caracteriza. Nela, o cristão compromete o corpo e a mente, indo desde o culto prestado a Deus ao bem feito aos outros. Exactamente como Cristo que por todos se entregou como o sacrifício mais agradável a Deus. Agradável, porque ao serviço da caridade, identificativa de Deus.
E como a caridade de Cristo, manifestada durante a sua vida e coroada na morte redentora, se tornou o centro do culto cristão, especialmente na Eucaristia, o mesmo se passa com os cristãos, só que em sentido inverso. É no memorial eucarístico que eles recebem do corpo de Cristo, por todos oferecido a energia necessária para oferecerem os seus corpos, isto é, as suas vidas, no altar do mundo, em que vivem o seu dia-a-dia. Isto significa, por um lado, que nenhum cristão se pode dispensar da Eucaristia. Por outro, esta só atinge o seu objectivo, quando os que nela participam vivem de acordo com a oferta sacramentalmente celebrada, movidos pela graça nela recebida. Só então o seu culto é razoável, corresponde à total entrega a Deus, tanto a de Cristo, como a dos que nele crêem.
E só assim, vivendo embora no mundo, eles não vivem de modo mundano. Não se conformam com os critérios de vida aí dominantes, em que tantos, em vez de se oferecerem em sacrifício pelo bem dos outros, sacrificam os outros ao próprio bem. Porque o perigo é constante, há que revitalizar continuamente a transformação baptismal pela renovação da mente, sujeitando-a aos critérios da fé. Não que haja oposição entre fé e razão. Pelo contrário: pela razão pode-se, por exemplo, chegar ao conhecimento de Deus, através das obras por Ele criadas (Rm 1, 20), ou ao reconhecimento da verdade da Lei por Ele estabelecida (7, 23). Só que, sem Deus, ela perde, num caso como noutro, a capacidade de discernimento (1, 28). Daí a necessidade da fé.
No caso presente da conduta moral, trata-se da prática: aquela que, para cada situação da vida, permite discernir qual é a vontade de Deus: o que é bom, lhe é agradável e é perfeito. É uma tarefa pessoal de cada um, como responsável que é pelos seus actos. Mas não está só, não deve estar só. Tem a Palavra de Deus (2 Cor 10, 3-5), o dom do seu Espírito (1 Ts 4,8s), a comunidade cristã, com os múltiplos serviços que nela lhe são oferecidos.
Não é por acaso que Paulo, na concretização destas orientações, comece pela nossa inserção na Igreja (vv. 3-8). É verdade que havia razões circunstanciais: os cristãos de Roma, porque divididos por várias comunidades e divergentes interpretações da mensagem cristã (14,1-15,13), estavam longe de viver na unidade de um só corpo em Cristo (v. 5). Mas, mesmo fora disso, é na Igreja, como corpo de Cristo, que mais se experimenta e pratica a misericórdia de Deus. Por isso Paulo introduz as suas orientações, apoiando-se mais uma vez na graça do apostolado que lhe foi dada (v. 3), e fala dos carismas próprios de cada membro, apelando igualmente para a graça dada a cada um (v. 6).
É desta graça, acolhida pela fé, que nos vem a sensatez ou prudência, uma das quatro virtudes da ética grega (com a justiça, a fortaleza e a temperança), considerada como atitude de que dependem os modos concretos de agir e de se relacionar, numa sociedade organizada.
Alimentada pela fé, é ela que leva a cada um de nós a contribuir para a vida da comunidade, não indo além nem ficando aquém do que pode e fazendo bem o que lhe compete... na liberdade e responsabilidade próprias de quem ama, em Cristo. Damos assim à Igreja o que dela recebemos: a misericórdia de Deus.
D. Anacleto de Oliveira - Bispo Auxiliar de Lisboa 16-02-2009
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO E
SUA MÃE MARIA SANTÍSSIMA POR TODOS OS SÉCULOS DOS SÉCULOS. AMÉM.
António Fonseca

domingo, 15 de fevereiro de 2009

VI DOMINGO DO TEMPO COMUM

Leitura do Livro do Levítico
Lev 13, 1-2.44-46 O Senhor falou a Moisés e a Aarão, dizendo:
«Quando um homem tiver na sua pele algum tumor, impigem ou mancha esbranquiçada, que possa transformar-se em chaga de lepra, devem levá-lo ao sacerdote Aarão ou a algum dos sacerdotes, seus filhos. O leproso com a doença declarada usará vestuário andrajoso e o cabelo em desalinho, cobrirá o rosto até ao bigode e gritará: ‘Impuro, impuro!’ Todo o tempo que lhe durar a lepra, deve considerar-se impuro e, sendo impuro, deverá morar à parte, fora do acampamento».
Salmo Responsorial
Salmo 31 (32)
Sois o meu refúgio, Senhor; dai-me a alegria da vossa salvação.
Feliz daquele a quem foi perdoada a culpa
e absolvido o pecado.
Feliz o homem a quem o Senhor não acusa de iniquidade
e em cujo espírito não há engano.
Confessei-vos o meu pecado
e não escondi a minha culpa.
Disse: Vou confessar ao Senhor a minha falta
e logo me perdoastes a culpa do pecado.
Vós sois o meu refúgio,
defendei-me dos perigos,
fazei que à minha volta
só haja hinos de vitória.
Alegrai-vos, justos, e regozijai-vos no Senhor,
exultai, vós todos os que sois rectos de coração.
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
1 Cor 10, 31 11, 1 Irmãos: Quer comais, quer bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à Igreja de Deus. Fazei como eu, que em tudo procuro agradar a toda a gente, não buscando o próprio interesse, mas o de todos, para que possam salvar-se. Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo.
Aleluia.
Apareceu entre nós um grande profeta: Deus visitou o seu povo.
Aleluia.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos
Mc 1. 40-4.7 Naquele tempo, veio ter com Jesus um leproso. Prostrou-se de joelhos e suplicou-Lhe: «Se quiseres, podes curar-me». Jesus, compadecido, estendeu a mão, tocou-lhe e disse: «Quero: fica limpo». No mesmo instante o deixou a lepra e ele ficou limpo. Advertindo-o severamente, despediu-o com esta ordem: «Não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e oferece pela tua cura o que Moisés ordenou, para lhes servir de testemunho». Ele, porém, logo que partiu, começou a apregoar e a divulgar o que acontecera, e assim, Jesus já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade. Ficava fora, em lugares desertos, e vinham ter com Ele de toda a parte.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO E SUA MÃE MARIA SANTISSIMA

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

TRÊS DATAS HISTÓRICAS - 1810 - 1910 - 2010

Da rúbrica "Tema vivo" publicada no jornal da Diocese do Porto "Voz Portucalense" de 4/2/2009, retirei este texto escrito pelo Bispo do Porto D. Manuel Clemente e resolvi transcrevê-lo para aqui, com a devida vénia e o meu pedido de desculpas. António Fonseca
Três datas históricas:
1810 – 1910 – 2010
Manuel Clemente *
A projecção do passado no presente e no futuro.
As duas primeiras datas referidas sinalizam grandes desafios, feitos ao catolicismo português no passado. A última aparece como desafio actual, igualmente grande e iniludível. A invasão francesa no século XIX.
Em 1810 foi a 3ª “Invasão Francesa”, derradeiro episódio duma guerra que pôs fim a muito do que Portugal fora até aí, na política, na economia, na sociedade, na cultura e até religiosamente. Ficou o país devastado, com a corte ausente e a organização eclesiástica abalada. Se quisermos, foi a chegada da Revolução Francesa a Portugal, no modo menos pacífico dela. Mas vieram também os “princípios de 1789”, que, pouco a pouco, expandiram o ideário e o sentimento liberal, como vieram a ser formulados: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. A implantação do nosso liberalismo, a partir de 1820, também não foi linear, significando, por exemplo, a extinção das congregações religiosas e a reconstituição da Igreja no quadro do constitucionalismo. Sabendo nós como mosteiros e conventos tinham sido importantes centros de produção cultural, podemos calcular a consequência negativa da sua extinção, debilitando a “resposta” católica à sociedade nova. Os próprios seminários diocesanos estiveram geralmente encerrados até meados do século XIX e nunca foram muito longe nesse aspecto cultural, até ao fim da Monarquia. Saliente-se, porém, que o “movimento católico”, entre 1840 e 1910, contou em Portugal com algumas personalidades, laicais ou eclesiásticas, que conseguiram dialogar com a sociedade liberal em cujo espírito em parte participavam (aceitação do regime constitucional, apreciação positiva das liberdades modernas, desenvolvimento do associativismo religioso e social, criação literária e artística, acompanhamento dos progressos científicos, etc).
Um testemunho
Marechal Duque de Saldanha, Necessidade de Associação Católica, 1871, p. 8: “Duas expressões ou máximas levaram a revolução francesa em volta do mundo: ‘os direitos do homem’, e as palavras ‘liberdade, igualdade e fraternidade’. Delas saíram bens e males, progressos e ruínas dos nossos tempos e de um futuro desconhecido. Tudo quanto há de bom e verdadeiro nestas máximas é cristão e foi proclamado pelo cristianismo. Ele repele e condena tudo quanto nelas há de funesto e falso”.
A República
Em 1910, a República, enquanto mudança de regime, não trazia grande problema ao catolicismo português, que soubera encontrar algum “espaço” próprio, fora das conotações políticas. Aliás, a dependência da vida eclesiástica em relação ao governo monárquico constitucional já fora sentida como excessiva por muitos católicos. No entanto, para grande número de republicanos, o novo regime também deveria trazer ao país a laicização geral da vida pública e a restrição da presença institucional e cultural da Igreja Católica, negativamente apreciada esta, face à sua influência passada e face à consideração “positivista” das coisas, agora propugnada. Muitos católicos apreciariam a República como regime e até como ultrapassagem da incapacidade política e administrativa do constitucionalismo monárquico, na sua fase final. Mas foi-lhes impossível aceitar o enquadramento religioso previsto pela Lei de Separação de 20 de Abril de 1911, que não respeitava a identidade própria do Catolicismo, enquanto Igreja hierárquica e transnacional. Refira-se, no entanto, que o “movimento católico” soube relançar-se em Portugal, sobretudo depois de 1913, respeitando o regime e tentando, mesmo através da intervenção política, modificar a legislação que coibia a acção da Igreja. Assim como os “católicos liberais” do constitucionalismo monárquico tinham lutado para que o regime fosse autenticamente liberal, respeitando os “princípios de 1789” no tocante à “liberdade da Igreja em Portugal”, assim os católicos da República procuraram que esta respeitasse a Igreja e contasse com ela para a “regeneração” do país, ideal que igualmente compartilhavam e passaria pela generalização da educação e da participação cívica e política, pelo desenvolvimento económico e pela reafirmação de Portugal no mundo.
Um testemunho
Abúndio da Silva, Cartas a um abade, 1913, p. 415: “Católicos, seremos nós a grande reserva de que o país dispõe para o colossal trabalho da sua regeneração; é essa a obra que nos está destinada… se dela nos tornarmos merecedores. […] Não é um regresso ao antigo estado [monárquico], à antiga ordem de coisas, que fará reflorir a Igreja e restaurar o país: a nossa época condiciona uma situação nova, na qual a grande obreira será a liberdade civil e religiosa”.
Desafios do presente
Em 2010, confrontamo-nos, enquanto católicos, com outros desafios, podendo resumi-los assim: individualismo “pós-moderno” na cultura, retraindo as expectativas à compensação imediata de cada qual; e grande frustração social e económica, na presente crise global. O pós-modernismo “compreende-se”, porque a frustração verificou-se primeiro em relação aos grandes desígnios ideológicos que se arrastaram até há trinta anos. Repetiu-se de algum modo a reacção romântica da primeira metade de Oitocentos em relação aos “excessos” da Revolução Francesa… Aliás, o “sentimento de si” em que hoje geralmente nos detemos, pode representar uma nova densidade pessoal. Mas o “pós-modernismo” é pouco propenso a levar a sério a ligação de cada um aos outros e à sua própria extensão, enquanto projecto e sentido. Como se tem dito, é “efémero”. A projecção sócio-económica deste sentimento é problemática. No entanto, a sua consideração religiosa e cultural é necessária.
* Bispo do Porto. Intervenção no 5º Encontro Nacional de Referentes da Pastoral da Cultura, Fátima, 31 de Janeiro de 2009 http://voz-portucalense.pt António Fonseca

Igreja da Comunidade de São Paulo do Viso

Nº 5 801 - SÉRIE DE 2024 - Nº (277) - SANTOS DE CADA DIA - 2 DE OUTUBRO DE 2024

   Caros Amigos 17º ano com início na edição  Nº 5 469  OBSERVAÇÃO: Hoje inicia-se nova numeração anual Este é, portanto, o 277º  Número da ...