(Post para publicação em 22 de Setembro de 2012 – 10,30 h).
(Pde Mário Salgueirinho Barbosa)
Padre Mário Salgueirinho foi para todos nós um ser humano exemplar, uma pessoa marcante e ficam definitivamente as nossas vidas mais pobres sem o seu carácter, bondade e sabedoria.
Que descanse em paz com as honras do Senhor.
18\06\1927 - 29\10\2011
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Do livro “Caminhos da Felicidade”
CHÁ AMARGO
Encontramos na literatura oriental esta parábola interessante.
Um Mestre tomava todos os dias o chá preparado por um dos seus alunos.
Mas a certa altura começou a notar que o chá não lhe sabia bem, como antes. E disse-o ao discípulo.
O jovem respondeu que o chá era preparado da mesma maneira, com as mesmas ervas, com água da mesma fonte, com açúcar igual, no mesmo fogão. E serviu novamente o chá…
O Mestre provou e disse-lhe: «É verdade que o fazes com água igual, com ervas iguais, com açúcar igual, com tempo igual. Mas continua mal gostoso e a fazer-me mal. É feito com tudo igual, menos uma coisa: já não o fazes com o mesmo gosto e carinho com que o fazias. Tu não estás satisfeito aqui na escola. Andas contrariado. Eu mesmo farei o meu chá».
Esta parábola do chá amargo surge aí, muitas vezes, em qualquer campo da vida humana; na família, no mundo do trabalho e da amizade.
No mundo conjugal, enquanto a rotina e o desencanto não chegaram, todas as palavras e atitudes eram impregnadas de carinho. Mas o amargor, se não houver cuidado, pode começar a aparecer…
No mundo do trabalho, enquanto pomos o nosso entusiasmo e dedicação nos nossos serviços, tudo é encantador e eficaz. Quando arrefecemos na generosidade e no gosto, o nosso trabalho começa a ser desagradável, tanto para nós como para os outros.
A história do chá que começou a não ser gostoso sugere-nos que, para as coisas serem bem feitas e agradáveis , têm de ser emolduradas em verdadeira dedicação e até carinho…
Porto, Dezembro de 1998
Mário Salgueirinho
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Do livro “Dar é receber”
O TELEMOVEL DE UMA CRIANÇA
No meio das tragédias surgem muitas vezes relâmpagos de beleza moral singular.
Os incêndios trágicos que flagelaram, grande parte do nosso país, destruindo animais, vidas humanas, casas, florestas e culturas, não espalharam aos ventos apenas faúlhas de fogo, de destruição e de sofrimento. Vimos na televisão uma pequena aldeia em que o fogo destruiu as linhas telefónicas, deixando-a incomunicável.
Aquela gente tocada pela desgraça ficou sem poder comunicar com as autoridades, com os familiares distantes, com ninguém.
Mas valeu um rapazinho que com o seu telemóvel simples foi o intermediário de todos os seus conterrâneos, para comunicar as necessidades urgentes, o seu estado de saúde física e moral, sobretudo dos idosos.
Achei encantador este serviço prestado por uma criança, tão inédito e importante que uma empresa de telecomunicações lhe ofereceu um telemóvel que permite fotografar.
E agora, imensamente feliz pela acção benéfica que realizou, vai fotografando pelas ruelas da aldeia os rostos ainda doloridos – mas sorridentes de gratidão – da gente que vai encontrando.
Quanto pode de construtivo uma criança em qualquer dimensão!
Quantos filhos são intermediários entre pai e mãe quando a desgraça do desentendimento ou da separação os toca dolorosamente! Quantos são intermediários, pela sua oração inocente, entre seus pais e Deus, de quem tantas vezes andam afastados!
Recordo-me do pequeno que à segunda-feira saía mais cedo para a escola, para entrar numa igreja próxima e participar numa Eucaristia em vez do pai que faltava aos Domingos…
As crianças crescem aprendendo as lições do seu ambiente – sobretudo familiar.
Deparei com este interessante escrito:
A criança que vive com a generosidade aprende a repartir.
A criança que vive com a paciência aprende a tolerância.
A criança que vive com a afeição aprende a amar!
Sem dúvida que o garoto do telemóvel aprendeu a amar, porque o seu gesto insólito é um belíssimo gesto de amor ao próximo.
Porto, Dezembro/2003
Mário Salgueirinho
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