Nº 1574 - (3)
BOM ANO DE 2013
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Caros Amigos:
Desde o passado dia 11-12-12 que venho a transcrever as Vidas do Papas (e Antipapas)
segundo textos do Livro O PAPADO – 2000 Anos de História.
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CLEMENTE V
Clemente V
(1305-1314)
Quase um ano depois da morte de Bento XI, o conclave continuava reunido em Perúsia, sem eleger um sucessor do papa. Finalmente, depois de os Perusianos terem retirado o tecto da sala de reuniões e racionado os alimentos dos cardeais eleitores, elegeram em 5 de Junho de 1305, e por maioria de dois terços, Beltrão de Goth, bispo de Lommiges (1295) e arcebispo de Bordéus (1299), tendo sido depois coroado em Lyon, em 14 de Novembro de 1305, com o nome de Clemente V, na presença do rei de França, Filipe, o Belo.
O papa decidiu então residir em França por dois motivos; pelos problemas em Itália e porque, ao que se dizia, procurava a reconciliação dos reis de França e de Inglaterra.
Percorreu várias localidades, voltou a Bordéus, onde tinha sido arcebispo, mas em 1309 passa a residir em Avinhão, onde se fixou até à morte, dando início ao «Cativeiro da Babilónia», que perdurou até 1376.
Dominado por Filipe, o Belo, nomeou num ano dez cardeais, sendo nove franceses, mas, mesmo assim, com um carácter que pouco se impunha ao rei, conseguiu a revogação da bula Clericis laicos, de Bonifácio VIII, e uma interpretação mais benigna da bula Unam sanctam, em que o rei e o reino de França não ficariam mais sujeitos à santa Sé.
Filipe, o Belo, em crítica situação financeira, pretende acabar com a Ordem dos Templários, confiscando-lhe todos os bens, que eram muito valiosos. Por maquinações do rei começaram a surgir acusações graves à Ordem. Clemente V resistiu, nomeou bispos e inquiridores para uma justa avaliação das acusações, mas em 13 de Outubro de 1307, uma sexta-feira negra, os esbirros de Filipe, o Belo, que não queria esperar mais, apanharam os Templários nos seus conventos e prenderem-nos todos, ao mesmo tempo que opunham a correr a seu respeito as mais terríveis acusações, nas quais o povo acreditou.
O papa ainda reagiu. Escreveu uma carta de protesto ao rei, mas o monarca usou contra ele o mesmo processo utilizado contra os Templários. Acusou-o de simonia, de opressor do clero e de favorecer os Templários por suborno.
Clemente V, desorientado, mal esclarecido e perplexo, não reage e decreta a extinção da Ordem dos Templários no Concilio de Vienne, em Abril de 1312, um concílio onde predominavam os cardeais franceses e que contou até com a presença de Filipe, o Belo.
Contudo, em 2 de Maio de 1312, num assomo de coragem, Clemente V, pela bula Ad providam, contrariando as ordens de Filipe, o Belo, determina que os bens da Ordem dos Templários passem para a Ordem dos Hospitalários de São João, também conhecida como Ordem de Malta.
Refira-se que, em Portugal, a pedido do rei D. Dinis, os bens passaram para a Ordem de Cristo, no qual ficaram incorporados, sem qualquer julgamento dos templários portugueses.
Filipe o Belo, ainda enganou o papa com a ideia duma cruzada para libertação da Terra Santa, que ele chefiaria. Isso permitiu-lhe cobrar um dizimo de todos os benefícios do seu reino, mas a cruzada não se realizou, embolsando ele o dinheiro.
Papa demasiado fraco perante o rei, acusado até de nepotismo, conta a seu favor o ter fundado as universidades de Perúsia e Orleães e ter acrescentado, como jurista, o sétimo livro ao Corpus iuris canonici.
Faleceu em Roquemaure, nas margens do Reno, aquando pretendia ingressar à sua terra natal, para aí morrer. Morreu depois de ter comido um prato de esmeraldas moídas, destinadas a curá-lo de um cancro do estômago, ou dos intestinos, de que sofria há longos anos.
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JOÃO XXII
João XXII
(1316-1334)
O Colégio eleitoral, composto por 17 cardeais franceses e gascões e sete italianos, encontrava-se dividido, pois os italianos opunham-se à eleição de um papa francês, até que os sobrinhos de Clemente V assaltaram o local do conclave, aos gritos de «Morte aos cardeais italianos» e estes foram obrigados a fugir, e só se reunindo dois anos depois, em Lyon, onde elegeram, em, 7 de Agosto de 1316, Jacques Duèse, homem de 72 anos, que tomou o nome de João XXII, realizando-se a investidura um mês depois, na mesma cidade, indo o papa residir em Avinhão.
Dotado de grande capacidade de trabalho e com sólidos conhecimentos de teologia e de direito canónico, deixou milhares de documentos por ele redigidos.
Procurou estabelecer a paz entre os reinos da Europa e foi um hábil financeiro, decretando um fisco papal para adquirir fundos para uma nova cruzada, construir um palácio em Avinhão e apoiar as obras culturais do apostolado e beneficência, ação que lhe valeu grande impopularidade. Com uma boa administração destes fundos, deixou na altura da sua morte, uma grande fortuna à Santa Sé.
Para organizar de modo estável e seguro a administração da Igreja, constituiu a chancelaria romana, um tribunal de doze jurisconsultos, com atividade permanente e por turnos (em latim, rotatim), daí que este tribunal se viesse a chamara a “Sagrada Rota”.
No campo político, teve grandes problemas com Luís da Baviera, que disputava, em eleições, o trono real, com o duque Frederico, o Belo, da Áustria. Luís derrotou amplamente o seu adversário, mas João XXII não quis reconhecê-lo como rei e isso determinou o desentendimento entre o papado e o Império, a tal ponto que Luís da Baviera declarou o papa deposto e fez eleger o franciscano Pietro Rainalducci, como Nicolau V, um antipapa.
Poucos meses depois, o rei de Nápoles obriga Luís da Baviera a retirar-se e João XXII fica, de novo, senhor da situação. Chama a Avinhão, o antipapa e este apresenta-se de corda ao pescoço, mostrando o seu arrependimento, pondo fim à aventura.
João XXII canonizou São Tomás de Aquino, em 1323, e teve grande zelo apostólico, intervindo na Ordem de São Domingos, para que os Dominicanos evangelizassem o Oriente, especialmente a Arménia, Pérsia, Arabia e Etiópia, escrevendo, ele próprio, cartas aos povos tártaros, exortando-os a abraçar a fé católica. Os Franciscanos dedicar-se-iam à evangelização da Geórgia e do Extremo Oriente.
No campo da cultura, incrementou os estudos universitários, criando as cátedras de Hebreu, Árabe e Caldeu, nas universidades de Paris, Bolonha, e Oxford. e interveio em assuntos de música sacra, tendo deixado, assinadas por ele, mais de 60 000 cartas.
É também mérito seu, como defensor da Conceição Imaculada de Maria, o ter estendido a toda a Igreja a devoção do Angelus.
No que se refere a Portugal, criou a Ordem Militar de Cristo, em 1319, pala bula Ad ea ex quibus, na qual seriam incorporados os templários existentes no reino, por extinção da Ordem do Templo, e concedeu, em 1320, a D. Dinis, a décima de todas as rendas eclesiásticas.
Morreu com quase 90 anos, sem nunca ter conseguido transferir a sede do papa para Roma.
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NICOLAU V - ANTIPAPA
Nicolau V - Antipapa
(1328-1330)
Luís IV de Baviera, príncipe alemão, vencedor de Frederico de Áustria, pretendia o título de «rei eleito dos Romanos», ao que o papa João XXII se opôs, alegando violências e injustiças por ele cometidas.
O imperador reagiu com um manifesto denunciando o papa como herético. O papa excomungou o imperador e este marcha sobre Roma para se fazer coroar. Não consegue e por isso nomeia 13 eleitores eclesiásticos para elegerem um novo papa, o que fizeram em 12 de maio de 1328, escolhendo um pobre padre franciscano, que tomou o nome de Nicolau V, mas apenas os mais fervorosos partidários do imperador lhe prestaram obediência.
Depois da retirada de Luís de Baviera, João XXII chamou o antipapa a Avinhão, onde este se apresentou em 25 de Agosto de 1330, arrependido e de corda ao pescoço. João XXII aceitou a abjuração, mas obrigou-o a viver no palácio papal sob sua vigilância, onde faleceu.
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Este Post era para ser colocado em 28-2-2013 – 10H30
ANTÓNIO FONSECA