Nº 1585 - (3)
BOM ANO DE 2013
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Caros Amigos:
Desde o passado dia 11-12-12 que venho a transcrever as Vidas do Papas (e Antipapas)
segundo textos do Livro O PAPADO – 2000 Anos de História.
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PAULO IV
Paulo IV
(1555-1559)
O cardeal Garaffa, já com 79 anos de idade, foi eleito em 23 de Maio de 1555, tomando o nome de Paulo IV.
Por haver luta entre a tendência do rei francês e do imperador alemão, o conclave decidiu-se por um papa de transição, um italiano, a contento de ambas as partes.
A sua primeira bula diz: «Prometemos e juramos trabalhar com verdadeiro empenho na reforma da igreja universal e da Cúria romana».
Logo no dia da eleição determinou a expulsão de Roma de todos os chamados «vagabundos», que, vivendo fora dos conventos, andavam de terra em terra, numa vida nómada e de pedincha.
Instituiu para a reforma da Santa Sé uma congregação especial, dividida em três secções, com oito cardeais, 15 prelados e diversos eruditos em cada uma.
Determinou que de via haver maior rigor na admissão à vida clerical e, quanto aos bispos, chamou a si o exame dos que eram propostos, o que, dada a morosidade, originou a existência de várias situações de sede vacante.
Teve exagerado rigor no combate à heresia protestante, transformando a Inquisição num tribunal de terror e ordenou a publicação do Index, demasiado rigoroso, de livros proibidos. Publicou, também uma norma que criava o gueto romano e obrigava os judeus a viver dentro deste. Mais tarde, estes guetos começaram a existir em outras cidades, tanto dentro como fora de Itália. Mostrou também, desde o início do pontificado, demasiado nepotismo, nomeando cardeal seu sobrinho, Carlos Garaffa, que colocou à frente da Secretaria de Estado e entregando a outros sobrinhos cargos importantes para a condução da política externa. Mais tarde sofreria a decepção de ver que estes parentes lançaram Roma e a França numa guerra desastrosa contra Filipe II e depois se puseram as serviço de Espanha.
Sentindo-se morrer, abriu-se com o Geral dos Jesuítas, Diogo Lainez, a quem disse: «Quão miseravelmente me enganaram a carne e o sangue! Os meus parentes precipitaram-me naquela infausta guerra de que nasceu tão grande número de pecados na Igreja de Deus. Desde os tempos de São Pedro não houve pontificado tão infeliz como o meu! Muito me arrependo. Rogai por mim!»
Ao morrer e porque o povo estava revoltado com ele, o seu corpo foi escondido num subterrâneo, onde esteve até que Pio V o mandou trasladar para Santa Maria sobre Minerva.
No seu pontificado morreram a rainha católica Maria I, de Inglaterra, e Inácio de Loiola, fundador da Companhia de Jesus, deixando a Ordem organizada em 12 províncias e os seus missionários espalhados desde a Índia ao Brasil.
Quanto a Portugal, Paulo IV, pela bula de 15 de Abril de 1559, confirmou a Universidade de Évora, entregue à Companhia de Jesus.
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PIO IV
Pio IV
(1559-1565)
O conclave esteve reunido durante quatro meses, desde 5 de Setembro, até que em 26 de Dezembro de 1559 foi eleito o Cardeal Giovanni Ângelo de Médicis, que tomou o nome de Pio IV.
Para encerrar o Concilio de Trento, tratou da reabertura, ajudado pelo sobrinho Carlos Borromeu, que fez cardeal e secretário de Estado, apenas com 21 anos.
Era um jovem possuidor de dotes naturais, com grande piedade, amor à Igreja e zelo apostólico, sobretudo, mais tarde, como arcebispo de Milão, vindo a conhecer a honra dos altares, pois o papa Paulo V canonizou-o em 1610.
Vencida a oposição da França, o concílio reabriu em Abril de 1562 e começou pela nomeação de uma comissão para redigir um novo Index dos Livros Proibidos, pois o publicado por Paulo IV era excessivamente rigoroso.
A seguir, tratou da obrigação de os bispos residirem nas respectivas dioceses. Tudo muito discutido, até que se determinou a obrigação de residência com o meio indispensável de os pastores conhecerem a poderem pastorear com fruto as suas ovelhas.
Nesta discussão salientou-se, pela coragem, clarividência e amor à Igreja, um dos grandes luminares do concílio, o nosso Frei Bartolomeu dos Mártires.
Na 21ª sessão concluiu-se pela não obrigação da comunhão sob as duas espécies, que alguns pretendiam que fosse de instituição divina, uma vez que sob cada uma das espécies se recebe o Cristo total.
Na sessão seguinte, discutiu-se um ponto culminante , definindo o carácter sacrificial da missa;: sacrifício visível e propiciatório pelos vivos e defuntos.
Outro ponto nevrálgico provocou acaloradas discussões: a origem divina do episcopado, sendo o geral da Companhia de Jesus, Diogo Lainez, um dos maiores teólogos do concílio, quem distinguiu entre instituição e jurisdição: ambas eram de origem divina, mas aquela totalmente e esta apenas de modo genérico, uma vez que o poder particular de cada bispo lhe vem por meio do romano, o pontífice, o único que tem mandato, dado por Cristo, de apascentar não só os cordeiros (o povo de Deus) mas também as ovelhas (os pastores).
Na 23ª sessão tratou-se do sacramento da ordem e exigências na formação do clero.
Entretanto, dada a saúde precária de Pio IV, a última sessão, em 3 e 4 de Dezembro de 1563, foi encerrada à pressa.
D. João III e D. Sebastião enviaram a este concílio várias delegações, em que se distinguiram: Frei Jerónimo de Azambuja, Dr. Diogo de Gouveia, Frei Bartolomeu dos Mártires e Frei Francisco Foreiro. Os decretos do concílio foram aceites como Lei do Reino de Portugal por alvará de 12 de Novembro de 1564.
Na esteira de São Carlos Borromeu e de Frei Bartolomeu dos Mártires, com o apoio da Companhia de Jesus, a Contra-Reforma ia ter altos expoentes de pastoral e santidade: São Francisco Xavier, frente ao calvinismo; São Francisco de Paulo, nas obras sociais, e São Filipe de Néri, São João de Ávila e outros, entre os quais São Pedro Canísio, vieram a ser os impulsionadores e mestres da ortodoxia tridentina.
Pela bula Benedictus Deus et Pater, Pio IV confirmou e comunicou à cristandade as decisões do Concilio de Trento e marcou uma nova era na história do catolicismo.
Pio IV também apoiou a cultura. Por sua iniciativa fundou-se em Roma uma tipografia particular, opara publicar as obras dos Padres da Igreja e dos escritores eclesiásticos. Tratou da reforma da Universidade de Bolonha e da criação de uma nova em Ancona.
Miguel Ângelo foi por ele apoiado na ultimação da Basílica de São Pedro e na construção da Igreja de Santa Maria dos Anjos.
Miguel Ângelo morreu em 18 de Fevereiro de 1564 e Pio IV, devido à peste, em 9 de Dezembro de 1565, depois de um pontificado exemplar e fecundo, sendo sepultado em São Pedro e, posteriormente, trasladado para a Igreja de Santa Maria dos Anjos.
Pio IV, em 1563, ofereceu a Rosa de Ouro à rainha de Portugal, D. Catarina.
SÃO PIO V
São Pio V
(1566-1572)
Cinquenta e dois cardeais reuniram-se no principio de Janeiro de 1566 para eleger o papa. São Carlos Borromeu, cardeal de Milão, e o cardeal Pacheco tiveram grande influência na escolha, chegando este a escrever a Filipe II pedindo-lhe que trabalhasse quanto pudesse «para fazer um papa muito para serviço de Deus e útil à Igreja, porque nisto me parece que mereceria mais do que em jejuar e em açoitar-se toda a vida».
O cardeal Miguel Ghislieri foi eleito em 7 de Janeiro de 1566 e tomou o nome de Pio V, mas não foi fácil convencê-lo a aceitar, porque era um homem modesto, vivia com um frade da sua ordem que lhe fazia companhia e ele próprio varria a habitação e preparava a vassoura que usava, com ramos de palmeira.
Como era conhecido o seu rigor e austeridade, alguns sentiram a sua eleição e ele disse: «Não me importa que se não alegrem no principio do meu pontificado; o que desejo é que sintam pena quando eu morrer».
Logo que foi eleito mostrou que a escolha tinha sido acertada, pois mandou distribuir pelos pobres tudo o que tencionava gastar na coroação.
Conservando o hábito branco de dominicano, foi sempre mais pastor do que senhor temporal e os descontentes, por vê-lo frugal e mais dado à oração do que às vaidades, tiveram de se calar e submeter.
Os que viviam à custa da Cúria foram mandados embora e a própria Cúria adoptou um regime sóbrio e austero.
Roma também sofre mudanças. Acabaram as liberdades das cortesãs, puniram-se com medidas rigorosa a profanação do domingo, a blasfémia, o adultério e toda a imoralidade pública, proibindo-se as manifestações pagãs, como eram as corridas de touros e, pouco a pouco, Roma voltou a merecer o nome de Cidade Santa.
Instituiu a Confraria da Doutrina Cristã que, por bula dirigida a todos os bispos, obrigava a ensinar o Catecismo às crianças todos os domingos e em todas as dioceses.
Para a concretização da reforma no campo da instrução religiosa, aparece o Catecismo Romano, inestimável auxilio dos párocos para uma catequese mais esclarecida e eficaz. Dois anos depois, publica-se o Breviário Romano, para uso do clero e ordens conventuais, mas a grande reforma foi a publicação do Missal Romano, em 1570, que vigorou até à Reforma operada pelo Concilio Vaticano II.
Neste pontificado iniciou-se o trabalho para uma edição correta e definitiva da Vulgata, elaborada por São Jerónimo nos fins do século IV e adoptada como versão oficial.
Pio V iniciou grandes obras públicas para melhorar as condições da vida da população de Roma, entre as quais a abertura de estradas e reparação de aquedutos de Trevi.
Este papa teve de enfrentar problemas internacionais. Na Inglaterra, a rainha Isabel I, excomungada em 1570 por ter mandando matar a rainha Maria Stuart, da Escócia, lança o país num protestantismo claramente anti-episcopal.
Na Alemanha, que pela Dieta de Augsburgo, de 1566, tinha aceitado oficialmente os decretos tridentinos nos estados católicos, sobretudo na região da Baviera, o imperador Maximiliano II, não vendo aceites as suas exigências de comunhão sob as duas espécies e abolição do celibato para o clero, não aceita os Decretos da reforma.
Na França ainda agitada pela guerra dos huguenotes (calvinistas), embora aceitando-se as decisões doutrinárias do concílio, promulgar-se-iam decretos gradualmente, por meio de sínodos provinciais.
Um facto positivo se deu, a vitória da armada cristã, com as frotas de Espanha, Veneza e dos Estados Pontifícios, sob o comando de D. João de Áustria, na vitória contra os Turcos na Batalha de Lepanto, em 7 de Outujbro de 1571. Um dos participantes nesta batalha foi Miguel de Cervantes, o imortal autor de D. Quixote.
Pio V faleceu em Roma, com estas palavras que eram invocação do Breviário: Quaesumus, Auctor omnium, In hoc Paschali gaudio. Ab omni mortis impetu Tuum defende populum. (Pedimos-te, Senhor de todos, que nesta alegria pascal salves o teu povo de todo o perigo mortal»).
Sisto V colocou-lhe o corpo numa magnifica urna, na Capela do Santíssimo Sacramento, da Basílica de Santa Maria Maior.
Pio V publicou duas bulas que foram muito discutidas: uma proibindo as corridas de touros e a outra mandando Daniel Volterra cobrir os corpos nus que, anos antes, Miguel Ângelo havia pintado na Capela Sistina.
No que respeita a Portugal aprovou a Ordem dos Irmãos de São João de Deus e ofereceu ao rei D. Sebastião, em 1567, uma espada e um capacete por ele benzidos na noite de Natal.
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Continua:… Este Post era para ser colocado em 11-3-2013 – 10H30
ANTÓNIO FONSECA