Em Sebaste, na antiga Arménia, hoje Sivas, na Turquia, a paixão dos santos quarenta soldados da Capadócia que, unidos não pelo sangue mas pela fé e obediência à vontade do Pai celeste, no tempo do imperador Licínio, depois de sofrerem os cárceres e outros cruéis tormentos, foram expostos nuns ao ar livre durante um inverno extremamente frio e obrigados a passar a noite num lago gelado; finalmente, foram-lhes quebradas as pernas e assim consumaram o seu glorioso martírio. (320)
Texto do livro SANTOS DE CADA DIA da Editorial A. O. de Braga:
Os
40 MÁRTIRES DE SEBASTE, na Arménia, dão-nos importantíssima lição: a importância sem par da perseverança final. Não basta lutar; é preciso chegar até ao fim, pois não será coroado senão quem termine como bom soldado de Cristo. Eram
40 soldados: todos tinham confessado várias vezes a fé; todos tinham sido presos; todos tinham sofrido vários tormentos; todos, segundo parecia, estavam a tocar com a mão na palma da vitória. Mas, quando faltavam poucos minutos -
talvez segundos - para chegar à meta, um fraquejou e perdeu a coroa gloriosa do martírio. "
Quem, depois de deitar a mão ao arado, olha para trás, não é apto para o Reino de Deus" (
Lc 9, 62).
Estamos no
ano de 320, em Sebaste, durante a perseguição de Licínio, que tinha ficado com a parte oriental do Império Romano. Unido a Constantino, tinha promulgado, em
313, o edicto de Milão, que dava liberdade à Igreja, Mas Licínio continuava na alma a ser pagão, e não se passou muito tempo sem que revelasse por fora o que era interiormente: inimigo acérrimo dos cristãos. Começou proibindo-lhes as reuniões nas igrejas e aos bispos que saíssem dos seus territórios para evangelizar ou celebrar concílios. Confiscou os bens às comunidades cristãs e até aos particulares, e expulsou da corte e do exército todos os que se recusassem a sacrificar aos ídolos.
Enchiam-se as cadeias de confessores decididos da fé, as montanhas e solidões de fugitivos; aos mais insólitos e refinados suplícios foram sujeitos eclesiásticos, simples cidadãos e militares.
Em Sebaste, expulsaram do exército e prenderam
40, entre oficiais e soldados, cujas glórias nos contaram excelsos oradores, como
São BASILIO e São GREGÓRIO NISSENO. E os próprios militares escreveram da cadeia uma carta colectiva, que se conserva e foi assinada em nome de todos por
MELÉCIO. Com fé viva e serena, falam-nos do desprezo a que votam o mundo e a existência cá na terra, da ressurreição e da vida eterna, considerando-as como facto tangível e quase já conseguido. Como agora sofrem e morrem juntos, escrevem eles, desejam e pedem aos "
santos bispos,. sacerdotes, diáconos, confessores e todos os cristãos" que os seus corpos descansem, também juntos. Exortam à paz e à união fraterna; despedem-se dos pais, das esposas, dos filhos, das noivas e de todos e cada um dos irmãos das Igrejas a que pertencem.
Tinham recebido a Sagrada Comunhão na cadeia e sentiam-se bem preparados para o último combate, que devia ser terrível, duma crueldade refinada. Antes de serem lançados às chamas, tiveram de passar a noite, imóveis e nus, num tanque gelado, conforme diz
Santo EFRÉM. Soprava um vento frio do norte, o gelo pegava-se à carne tiritante; a pele arroxeava e gretava, com horrendo espanto. Os calafrios marcavam a passagem da vida, que se ia, para a entrada lenta na morte.
Naquela angústia e agonia suprema, um infeliz desfaleceu. Correu para as pias de água temperada , que estavam perto, talvez nas termas do ginásio, para reavivarem os que á última hora, saindo do tanque gelado, corressem para elas manifestando apostatar e renunciar à fé em Cristo. Mas o traidor chegou tarde; não conseguiu reagir com a água quente e morreu com perda da vida terrena e, sabe Deus, talvez da salvação eterna.
O guarda do palácio, nessa altura, conversava com o piquete da guarda. De repente levantou os olhos e viu descer do alto uma fila de anjos com coroas nas mãos, os quais paravam acima dos mártires cristãos. As coroas eram
somente 39.
Porquê? Pensou então no desertor e, querendo substitui-lo, tirou o vestuário e foi-se lançar no tanque gelado, entre os heróis, exclamando:
"Sou cristão, também, eu sou cristão!"
O sol do novo dia encontrou-os todos mortos, excepto um que mais resistira e respirava ainda um pouco. Em cima de carros, foram levados a queimar perto do rio, onde ardia fogueira imensa. A água arrastar-lhes-ia depois os restos e as cinzas. Iam os carros devagar, transportando
39 cadáveres. O soldado que não morrera ficou abandonado, havendo ainda a esperança de que viesse a renegar. mas estava presente a mãe, muito pobre, diz
Santo EFRÉM. Ao ver que ao filho abandonado ia faltar o triunfo definitivo da morte por Cristo, cheia de santo entusiasmo, esquecendo-se da sua fraqueza tornou.se forte, abraçou e levantou o filho e, ajudada por outra mulher, pegou nele às costas e correu atrás dos carros, até o colocar já morto no meio dos companheiros.
Não há nada mais invejável : expirar conduzido pela própria mãe, santa e heroica, e voar ao céu com a palma do martírio.
Chamavam-se os mártires:
VIVIANO, MILITÃO, CÂNDIDO, LEÔNCIO, CLÁUDIO, NICOLAU, LISINÍACO, TEÓFILO, QUIRÃO, DÓNULO, DOMINICANO, EUNÓICO, SISÍNIO, HERÁCLIO, ALEXANDRE, JOÃO, ATANÁSIO, VALENTE, HELIANO, ECDÍCIO, ACÁCIO, HÉLIO, TEÓDULO, CIRILO, FLÁVIO, SEVERIANO, VALÉRIO, CUDIÃO, SACERDÃO, PRISCO, EUTÍQUIO, ÊUTIQUES, ESMARAGDO, FILOTIMAN, AÉCIO, XANTETE, ANGIAS, HESÍQUIO, CAIO e GORGÓNIO.