SEXTA-FEIRA SANTA
Relato da Paixão e Morte do Senhor Jesus, transcrito do livro a Religião de Jesus, de José Maria Castillo, e traduzido de espanhol para português (por mim próprio).
Naquele tempo, Jesus saiu com os seus discípulos para o outro lado da torrente do Cedrón, onde havia um horto, e entraram ali com os seus discípulos. Judas, o traidor, conhecia também o sítio, porque Jesus se reunia amiúde ali com seus discípulos. Judas então, tomando a patrulha e outros guardas dos sumos sacerdotes e dos fariseus, entrá lá com tochas e armas. Jesus, sabendo tudo o que vinha sobre ele, adiantou-se e disse-lhes: "A quem buscais?". Lhe responderam: "A Jesus o Nazareno". Disse-lhes Jesus: "Sou eu". Estava também com eles Judas, o traidor. Ao dizer-lhes "Eu sou" retrocederam e caíram ao chão. Perguntou-lhes outra vez: "A quem buscais?" Eles disseram: "a Jesus o Nazareno". Jesus respondeu. «Já vos disse que sou eu. Se me buscais a mim, deixar ir embora estes que me acompanham". E assim se cumpriu o que havia dito: "Não perdi a nenhum dos que me deste". Então Simão Pedro, que levava uma espada, sacou-a e feriu o criado do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. Este criado chamava-se Malco. Disse então Jesus a Pedro: «Mete a espada na bainha. O cálice que me deu meu Pai, não o irei beber?». A patrulha, o tribuno e os guardas dos judeus prenderam a Jesus, ataram-no e levaram-no primeiro a Anás, porque era sogro de Caifás, Sumo Sacerdote naquele ano, e que havia dado aos judeus este conselho: "Convém que morra um só homem pelo povo". Simão Pedro e outro discípulo seguiram Jesus. Esse discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote, e entrou com Jesus no palácio do Sumo Sacerdote, enquanto Pedro esperava fora da porta. Saiu o outro discípulo, conhecido do Sumo Sacerdote, falou à porteira e fez entrar Pedro. A porteira disse então a Pedro: "Não és tu também um dos discípulos deste homem?» Ele disse: «Não sou». Os criados e os guardas haviam acendido um braseiro, porque fazia frio e ali se aqueciam. O Sumo Sacerdote interrogou Jesus acerca de seus discípulos e da doutrina. Jesus lhe respondeu: "Eu falei abertamente ao mundo: Ensinei continuamente na sinagoga e no templo, onde se reúnem todos os judeus e não disse nada ás escondidas. Porque me interrogas a mim? Interroga os que me ouviram, sobre o que lhes falei. Eles sabem o que Eu disse».
Apenas disse isto e um dos guardas que ali estava deu uma bofetada a Jesus, dizendo: «Assim respondes ao Sumo sacerdote?» Jesus respondeu: "Se disse algo de mal, mostra que mal fiz; mas se falei como devia, porque me bates?» Então Anás enviou-o atado a Caifás Sumo Sacerdote. Simão Pedro estava de pé, aquecendo-se e disseram-lhe: «Não és também um dos seus discípulos?» Ele negou dizendo «Não sou». Um dos criados do Sumo Sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortou a orelha, disse-lhe: «Não te vi no horto?» Pedro voltou a negar e logo de seguida o galo cantou. Pedro ouvindo-o, chorou amargamente e saiu. Levaram Jesus de casa de Caifás ao Pretório. estava a amanhecer e eles não entraram no Pretório para não incorrer em impureza e poderem comer assim a Páscoa. Saiu Pilatos fora, aonde estavam eles e disse: «Que acusação apresentais contra este homem?» Responderam-lhe: «Se este não fosse um malfeitor, não to entregaríamos».Pilatos disse-lhes: «Levai o convosco e julgai-o segundo a vossa lei». Os judeus responderam: «Não estamos autorizados para dar a morte a alguém». E assim se cumpriu o que havia dito Jesus, indicando de que morte ia morrer. Entrou novamente Pilatos no Pretório, chamou Jesus e disse: «És tu o rei dos Judeus ?» Jesus lhe respondeu: «Dizes isso por tua conta ou foram os outros que to disseram?» Pilatos replicou: «Acaso sou eu judeu? Tua gente e os Sumos Sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste tu?» Jesus lhe respondeu: «Meu reino não é deste mundo . Se meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que não caísse na mão dos judeus. Mas o meu reino não é daqui.?» Pilatos disse: «Com que então tu és rei?» Jesus respondeu: «Tu o dizes. Eu sou rei. E para isso nasci e para isso vim ao mundo, para ser testemunha da verdade. Todo o que é da verdade escuta a minha voz». Pilatos disse: «E, o que é a verdade?» Dito isto, saiu outra vez aonde estavam os judeus «Não encontro nele nenhuma culpa. É costume entre vós que pela Páscoa ponha alguém em liberdade. Quereis que vos solte o rei dos Judeus ?». O povo gritou: "A esse não. Soltai Barrabás» (O tal Barrabás era bandido ) Então Pilatos tomou Jesus e mandou-o açoitar. E os soldados teceram uma coroa de espinhos, puseram-na na cabeça de Jesus e vestiram-lhe uma túnica de cor púrpura. E aproximando-se dele diziam: «Salve, rei dos judeus» E davam-lhe bofetadas . Pilatos saiu outra vez para fora e disse-lhes: «Olhai , eu mando-o embora para que saibais que não lhe encontro nenhuma culpa».E Jesus saiu para fora, levando a coroa de espinhos e o manto cor púrpura. Pilatos disse-lhes: "Aqui o tendes". Quando o viram os sacerdotes e os guardas, gritaram: "Crucifica-o! Crucifica-o! " Pilatos disse-lhes: "Levai-o e crucificai-o, porque eu não lhe encontro culpa alguma». Os judeus contestaram: "nós temos uma lei e segundo essa lei tem que morrer, porque se declarou filho de Deus". Quando Pilatos ouviu estas palavras assustou-se ainda mais e entrando outra vez no Pretório, disse a Jesus : "De onde és tu?». Mas Jesus não lhe dá resposta. E Pilatos disse-lhe: «A mim não me falas? não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar?" . Jesus respondeu-lhe: "Não terias nenhuma autoridade sobre mim se não te fosse dada do Alto. Por isso quem me entregou a ti tem um pecado maior», Desde esse momento Pilatos tratava de o soltar, mas os judeus gritavam: «Se o soltares , não és amigo de César. Todo o que se declara rei está contra César». Pilatos então, ao ouvir estas palavras tirou Jesus e sentou-o no tribunal no sítio que chama "o ensolado" (em hebreu «gábbata»). Era o dia da Preparação da Páscoa, era meio-dia. E disse Pilatos aos judeus «Aqui tendes o vosso rei». Eles gritaram: "Fora, fora ! Crucifica-o" - Pilatos disse-lhes: «Vou crucificar o vosso rei?» Contestaram os Sumos Sacerdotes: "Não temos mais nenhum rei, senão César". Então entregaram-no para o crucificarem. Tomaram Jesus, e ele, carregando com a cruz, saiu para o sítio chamado "Caveira" (que em hebreu se diz Gólgota) onde o crucificaram; e com ele mais outros dois, um de cada lado, e no meio Jesus. E Pilatos escreveu um letreiro e o mandou colocar em cima da cruz: nele estava escrito "JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS". Leram o letreiro muitos judeus, porque o lugar onde crucificaram Jesus estava perto e estava escrito em hebreu, latim e grego. Então os Sumos Sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: «Não escrevas "O rei dos judeus", mas sim que "Este disse que era o rei dos judeus". Pilatos lhes respondeu: "O que está escrito, está escrito». Os soldados, quando crucificaram Jesus, colheram sua roupa, cortando em quatro partes, uma para cada soldado e dividiram a túnica. Era uma túnica sem costura, tecida toda de uma peça de cima abaixo. E disseram entre si: «Não a rasguemos, vamos deitar sortes para ver quem fica com ela". Aqui se cumpriu a Escritura : "Repartiram entre si a minha roupa e deitaram sortes sobre a túnica». Isto fizeram os soldados, Junto da cruz de Jesus estava sua mãe, a irmã de sua mãe MARIA DE CLÉOFA e Maria a Madalena. Jesus, ao ver a sua mãe e perto o discípulo que tanto amava, disse a sua mãe: "Mulher, eis o teu filho" Logo disse ao discípulo "Aí tens a sua mãe". E desde aquela hora o discípulo recebeu-a em sua casa. Depois disto, sabendo Jesus que tudo havia chegado ao fim, para que se cumprisse a Escritura, disse: «Tenho sede». Havia ali um jarro cheio de vinagre. E ajustando uma esponja em vinagre a uma cana , aproximaram-na da boca de Jesus que quando lhe pôs os lábios disse: «Tudo está consumado» E, inclinando a cabeça, entregou o espírito a Deus. Então os judeus, como era dia da preparação da Páscoa, para que não ficassem os corpos na cruz ao sábado, porque aquele sábado era dia solene, pediram a Pilatos que lhes quebrasse as pernas e que os tirassem. Foram os soldados, quebraram as pernas aos dois crucificados ao lado de Jesus. Como Jesus já tinha morrido , não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados com uma lança trespassou-lhe o peito de onde saiu sangue e água.
E quem viu dá testemunho e o seu testemunho é verdadeiro e sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis.
Isto ocorreu para que se cumprisse a escritura. «Não lhe quebraram nenhum dos ossos» e em outro lugar da Escritura diz-se: «Viram bem quem atravessaram». Depois disto, José de Arimateia que era discípulo clandestino de Jesus por medo aos judeus, pediu a Pilatos que o deixasse levar o corpo de Jesus. E Pilatos o autorizou. Ele então foi e levou o corpo. Chegou também Nicodemos, o que tinha ido vê-lo de noite e trouxe umas cem libras de uma mistura de mirra e aloé. Tomaram o corpo de Jesus e cobriram-no todo com os aromas, segundo o costumavam fazer os judeus. Havia num horto no sítio donde o crucificaram e no horto um sepulcro novo em que ninguém havia sido enterrado. E como para os judeus era o dia da Preparação, e o sepulcro estava perto, puseram ali Jesus.
LEÃO IX, Santo