sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Felisberto Vrau e Camilo Féron-Vrau - Modelos Vicentinos

Do livro Modelos Vicentinos editado em 1997 pelo Conselho Nacional de Portugal da Sociedade de S. Vicente de Paulo, transcrevo as biografias resumidas destes Vicentinos, conhecidos como "Os Santos de Lille" e, que por sinal, não vêm descritas nas biografias que foram editadas por Gilberto Custódio, a quem tenho recorrido para a publicação que estou a levar a cabo.
Por este motivo, também não publico as fotos respectivas, porquanto não constam nos resumos já referidos.
FELISBERTO VRAU - (1829 - 1905) e
CAMILO FÉRON-VRAU - (1831 - 1908)
"Os Santos de Lille"
Não é possível separar um do outro, estes dois companheiros de toda a vida: companheiros de estudos desde a infância, unidos por laços de parentesco no casamento de Camilo Féron com a irmã de Felisberto Vrau, associados numa mesma e grande empresa industrial; e sobretudo associados na mais arrojada e persistente obra social e de acção católica - mas que acção! - desenvolvida não só em Lille, como no norte de França, como até em toda a França, durante o espaço de meio século. Obra formidável, absolutamente revolucionária pela largueza de vistas, pelo arrojo com que dois simples particulares assumiram responsabilidades que fariam hesitar um Município ou até mesmo um Estado; formidável ainda pelo intenso fogo de caridade que a ilumina!
São bem os santos do nosso tempo, que viveram a nossa vida, sujeitos às mesmas tentações; que souberam fazer uma fortuna; e que ainda melhor a souberam gastar em obras verdadeiramente extraordinárias de carácter religioso ou social, num dom total de si mesmos pelos seus irmãos, outros Cristos.
Felisberto Vrau era filho dum industrial de fiação, de Lille; rapaz forte e cheio de audácia, ligou-se de amizade no colégio com Camilo Féron, que pertencia a uma família da intimidade da sua. Em contraste com Felisberto, Camilo era um tímido, bondoso e delicado, que ao seu amigo ficou devendo o valor da sua protecção, paga aliás no constante amparo moral e bom exemplo que dispensou a Felisberto, na grave crise religiosa e de costumes que o trouxe transviado durante anos, em procura da verdade, através de correntes filosóficas várias, as quais não foram capazes de entravar o dom natural, que o levava a desejar ganhar muito dinheiro, para aliviar a humanidade dos seus sofrimentos.
Convertido, finalmente, aos 24 anos, dá-se todo a Deus e após um primeiro insucesso na vida comercial, quer tomar sobre si a sua parte no sofrimento. Afervora-se mais na sua devoção à Sagrada Eucaristia e, como fonte inspiradora, tenta a Adoração nocturna.
É então que, ligado à indústria de seu pai, consegue, à custa da sua prodigiosa actividade e inteligência prática, libertá-la da vida sempre periclitante que tem atravessado, entrando em franca prosperidade.
Mas com o declínio do pai, vê-se obrigado a procurar um colaborador com quem reparta o ingente trabalho, sem prejuízo do tempo a consagrar à oração e às obras, para as quais aquele serve de pretexto. Esse colaborador não pode deixar de ser seu cunhado Camilo, que como médico conquistara já uma sólida posição e tem diante de si um futuro brilhante, como indigitado professor de clínica médica e futuro Director da Escola de Medicina, o que tudo sacrifica, para tomar a seu cargo a parte comercial e direcção do pessoal da fábrica. Pela morte do sogro, torna-se associado da organização Vrau, e o nome Vrau passa a ligar-se por um traço de união ao de Féron.
Desde há muito, a casa aplicava um terço dos lucros em boas obras, que revertiam principalmente em favor do pessoal, mas a proporção vai crescendo e depois já não se acha suficiente a acção individual. Sente-se a necessidade de criar instituições.
É o tempo do Conde de Mun e de La Tour du Pin, o momento dos Círculos Católicos.
Intensifica-se então a vida cristã naquela colmeia, onde há o maior rigor na escolha do pessoal, e por tal forma aumenta que, de 1871 a 1972, se contam nada menos de 52 vocações religiosas!
Forma-se a Corporação Cristã de S. Nicolau, que agrupa 1 300 operários, com as suas numerosas caixas, que provêm a todas as necessidades: caixa económica de empréstimos, socorros mútuos, assistência a doentes, assistência maternal, socorros à invalidez e à velhice, obra dos funerais, etc., etc. Todas estas obras se alimentam de quotização mínima dos beneficiários, decuplicada pela inesgotável contribuição patronal.
Léon Harmel preconiza então a associação dos patrões cristãos; em Lille e mais cidades industriais do norte, respondem 42 industriais, que entram decididamente no estudo dos problemas do trabalho: trabalho de menores e de mulheres, limitação do horário de trabalho, interdição do trabalho nocturno, descanso dominical, etc.. São bem os precursores da actual legislação do trabalho!
O movimento cristão é de tal ordem que, quando em 1899 se organizou uma peregrinação a Roma, nela se incorporaram 600 operários do norte, acompanhados pelos seus patrões.
É depois atacado o problema das habitações operárias, construindo casas económicas modelares, e vem a seguir o problema da formação de bom pessoal cristão de oficinas, para o que falta uma escola de artes e ofícios. Aparece um terreno de 13 000 metro quadrados à venda, e aparece também um anónimo (...) que o compra. Forma-se uma sociedade. As paredes da escola levantam-se; em breve se abrem as portas e cresce o número de alunos, apesar da concorrência da escola oficial, logo a seguir criada.
A participação de Féron-Vrau na fundação pode ser avaliada por esta sua palavra, que data da mesma época: "Aos meus olhos, o dinheiro tem um único valor, o de poder ser dado".
Mas não ficam por aqui: vem, mais a ideia da fundação da Universidade Católica de Lille. Na previsão da publicação da lei da liberdade de ensino, adquirem o palácio da prefeitura, recrutam professores, conseguem subscrições de verbas colossais e dão sempre o exemplo, de tal maneira que num escrito de Camilo se lê: " Os sacrifícios foram largos", e quando lhos agradeciam, Felisberto dizia: "Nós é que deveríamos agradecer", o que se pode ainda confrontar com a pergunta de Camilo: "Porventura este dinheiro é meu?"
Em 1877 inaugura-se solenemente a Universidade, com cinco Faculdades: Teologia, Direito, Letras, Medicina e Ciências. Toda esta obra é impulsionada pelos nossos extraordinários gigantes e em grande parte por eles custeada. Mas vejamos ainda a extensão das obras anexas à Faculdade de Medicina, especialmente trabalhada por Camilo, que dela foi o verdadeiro Mecenas: começa por ser preciso um hospital; depois vem uma casa de saúde, maternidade, asilo para incuráveis, hospital de crianças, etc., fundações estas destinadas, todas elas, a entronizar a Religião na Medicina.
Há ainda a registar, e isto especialmente da parte de Felisberto Vrau, a iniciativa da santificação de Lille, que começou pela formação duma Associação de Orações com intenção fixada, interessando mais de 20 000 fogos. Mas fazia-se sentir a falta de igrejas na cidade, cuja área e população tinham aumentado consideravelmente. Vrau toma um mapa, marca os pontos, dobra-o e inscreve nas costas: "Lille em vinte paróquias".
Funda uma sociedade civil, reúne fundos e começam a erguer-se igrejas: do Sagrado Coração de Jesus, de S. José, de Santo Euberto (patrono da cidade), de S. Luís, do Coração de Maria, de S. Bento Labre, etc.. Havia sempre um anónimo (?) que oferecia o terreno. O Tesoureiro da sociedade deixou um apontamento que diz: "Parece certo que a parte substancial da enorme despesa vinha do Sr. Vrau, mas não existem documentos a tal respeito".
Não houve terreno em os Santos de Lille nâo aceitassem valorosamente a luta, para defesa dos interesses da Igreja e difusão da verdade. Como poderiam eles então deixar de se servir das duas grandes armas modernas: a imprensa e a escola?
Espalharam largamente a boa imprensa, pela qual tanto se interessam. Quando em 1900 os assuncionistas foram obrigados a abandonar "La Croix", o jornal não morreu e continuou sob a direcção de Paul Féron-Vrau.
Grande foi também o esforço a favor das escolas católicas: desde 1880 havia escolas de Irmãos em todas as paróquias de Lille, e o Presidente do Comité podia declarar que, no momento em que a Universidade Católica custava à província oito milhões, os católicos de Lille tinham sabido achar mais dois milhões para o ensino primário religioso.
À pressão desleal da Municipalidade, sectária em favor das escolas oficiais, responde a comissão Vrau com a criação dum vestiário, comissão de higiene, serviço médico escolar, catequese, adopção fraterna, patronatos, etc.,; de tal maneira que em 1888, contra uma população escolar de 12 000 crianças nas escolas oficiais, contam-se 21 000 nas escolas católicas.
Foi ainda em Lille que se celebrou por esta altura o primeiro Congresso Eucarístico Internacional no ano de 1881, com a presença dum Legado do Papa.
Restam umas palavras sobre a acção vicentina dos nossos santos: Vrau foi presidente do Conselho Central de Lille e Féron do Conselho Particular. O trabalho esmagador que recaía sobre o primeiro levou Féron a demitir-se do seu cargo para ir em auxílio do cunhado. Os meses de Julho a Outubro de cada ano eram empregados em viagens de visita às Conferências existentes, assim como às paróquias onde ainda não as havia, nas dioceses de Cambrai e Arras, meio pelo qual se fundaram 22 Conselhos Particulares e 161 Conferências.
Chegamos ao fim deste pálido esboço sobre a espantosa actividade destas duas vidas e perguntamos a nós mesmos se tudo isto se teria dado na realidade. É inacreditável, mas Deus permitiu que estas duas almas, devoradas de amor do próximo, por amor de Jesus Cristo, vissem cobertos de frutos o seu desmedido esforço, dando assim a mais categórica resposta ao desafio lançado em rosto dos estudantes católicos de Paris, nas Conferências da História: "Por que actos, por que instituições se assinala na actualidade a actividade dos católicos?" - Basta ir a Lille para se ter a resposta.
E chegamos ao final, a santa morte que um e outro tiveram, após uma longa vida de preparação. Vrau foi-se afastando das suas obras, desde uns anos antes: queria habituá-las a passarem sem ele e aproveitava para percorrer a França inteira, como missionário - missão de estabelecer a união das obras - durante uns 9 ou 10 meses por ano. Entretanto toda a sua parte nos benefícios da empresa ia integralmente para as obras e para os pobres. Desde a sua conversão, comungava diariamente, alegrava-se com as humilhações que sofria e aplicava a si mesmo as disciplinas.
No ano de 1905 falecia santamente no fim da recitação do terço. Era o dia 16 de Maio, vigilia da festa de S. Pascoal Bailão, o santo da devoção à Eucaristia que sempre foi também a sua grande devoção.
Camilo Féron quis igualmente preparar-se com tempo, para o que foi renunciando sucessivamente a todo o papel activo nas obras, excepto nas habitações operárias. Recolhe-se, faz um retiro e a última liberalidade é a cedência dum terreno para a construção duma igreja, a qual dota, e que o Arcebispo coloca sob o patrocínio de S. Camilo.
Não passa um minuto sem rezar. A Monsenhor Baunard, ilustre biógrafo dos dois e reitor da Universidade Católica, que dele se despede "Até à vista", responde "até à vista no Céu" e extingue-se suavemente em 30 de Março de 1908, ouvindo recitar "Parte alma cristã".
Os corações dos dois amigos, encerrados numa urna na parede do oratório da Universidade Católica, que os quis possuir, mesmo ao pé do Divino Sacramento, realizam à letra a palavra do Mestre: "Onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração".
No túmulo estão também reunidos os dois irmãos, enquanto o povo de Lille espera confiadamente a sua elevação aos Altares, pela beatificação, cuja causa, com parecer favorável de Roma, foi solenemente introduzida em 11 de Março de 1912.
"Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Mãe Maria Santíssima"
António Fonseca

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

32ª leitura "UM ANO A CAMINHAR COM SÃO PAULO"

TERCEIRA PARTE PAULO FALA-NOS DA IGREJA DE DEUS 32 “TODA A ESCRITURA E INSPIRADA POR DEUS” Não deve haver celebração alguma na Igreja, sem uma ou mais leituras da Bíblia. Se a isso juntarmos tantos cristãos que, em particular e em grupos, a ela recorrem, por vezes diariamente, pode concluir-se que nem eles nem a Igreja podem viver sem ela. Porquê?
Que tem este livro de especial? Procuremos a resposta em, onde Paulo exorta Timóteo e, na pessoa dele, cada dirigente de comunidades cristãs, a permanecer fiel às tradições recebidas, das quais faz parte a Sagrada Escritura. A recomendação devia-se a heresias que ameaçavam a identidade da Igreja, na ligação existencial às suas origens. Um perigo que se repetiu ao longa da história. Mas, quer nessas situações, quer noutras mais pacíficas, a Igreja sempre procurou na escritura a vida que Deus nela e por ela lhe oferece.
Vejamos como ... através da própria Bíblia, onde – não o esqueçamos – é Deus quem nos fala. 2 Tm 3, 10-17 Tu, porém, seguiste-me de perto no ensinamento, no modo de vida, nos planos, na fé, na paciência, na caridade, na firmeza, nas perseguições e nos sofrimentos que me infligiram em Antioquia, Icónio e Listra. Que +perseguições tive de suportar! E de todas elas me libertou o Senhor. E todos os que quiserem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos. Mas os homens perversos e enganadores irão de mal a pior, extraviando os outros e extraviando-se a si próprios. Tu, porém, permanece firme naquilo que aprendeste e em que confiaste, sabendo de quem o aprendeste e que desde a infância conheces os Escritos Sagrados, que têm poder para te instruir, em ordem à salvação pela fé. Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça, a fim de que o homem de Deus esteja preparado, bem equipado para toda a boa obra. Os Escritos Sagrados a que Paulo se refere (v. 15), são o AT. Na altura ainda não existiam alguns dos livros do NT, e os que havia não estavam ordenados em cânon, pelo menos na forma definitiva actual. Mas, como veremos, o que Paulo diz sobre o Antigo, pode aplicar-se ao Novo. Aliás, nem este se compreende sem aquele, nem vice-versa. Como o AT é comum aos judeus, iremos usar, em vez da Igreja, a expressão comunidade crente.
No que se refere mais directamente à Bíblia,
podemos agrupar as suas palavras por três temas:
1. A Bíblia nasceu da vida da comunidade crente. Repare-se como Paulo relaciona os Escritos Sagrados com o que Timóteo aprendeu dele e de outras pessoas, entre elas a avó e a mãe (1, 5). É verdade que uns e outros se inspiravam na Escritura para aquilo que faziam e ensinavam. Mas, mesmo nesse caso, a palavras bíblicas eram adaptadas a circunstâncias concretas da vida, diferentes de geração para geração. E elas próprias por sua vez, eram parte de uma transmissão anterior.
Transmissão de quê? Primariamente daquilo a que se chama o acontecimento fundador do povo de Deus; para os israelitas, o êxodo do Egipto; para os cristãos, a morte e ressurreição de Cristo. Um e outro se realizaram por intervenção divina. E, se foi assim que Deus criou o seu povo, era fundamental para este que as intervenções divinas fossem comunicadas às gerações seguintes. Mas de um modo em que se respeitasse tanto a originalidade do acontecimento fundador como as diferentes situações das sucessivas gerações. E foi assim que, aos poucos, se foram formando novas tradições. Inicialmente eram comunicadas de um modo predominantemente oral. Depois, foram sendo escritas, para se não perderem nem serem mal interpretadas.
A sua junção em livros e a destes num só livro foram feitos em momentos críticos da vida das comunidades crentes, nos quais era necessária a sua união com Deus;
no AT, sobretudo nos tempos a seguir ao exílio na Babilónia;
no NT, depois do desaparecimento da geração apostólica e quando os cristãos, por diversos motivos, corriam perigo de dela se afastarem No mesmo dinamismo da tradição insere-se a ligação do Antigo Testamento ao Novo. Em Jesus Cristo cumpriram-se as expectativas de um a intervenção definitiva de Deus que foram crescendo ao longo da história de Israel. Daí o frequente recurso a passagens do AT nos escritos do NT, indicativas do lugar central de Cristo na história da salvação e no conjunto dos livros que a documentam. Mas, se a Bíblia, por um lado, é assim um elo na cadeira da tradição que a antecede e a segue, por outro lado, ela ocupa nessa tradição um lugar privilegiado e incontornável.
Porquê?
De onde lhe vem o poder que lhe é atribuído por Paulo no v. 15:
o de instruir, em ordem à salvação da fé? 2. A Bíblia foi escrita sob a acção do Espírito de que vive a comunidade crente. (vv. 14-18).Dito por Paulo: Toda a Escritura é inspirada por Deus. Do termo inspirada faz parte o Espírito; o hálito divino que fez dos profetas boca de Deus (Jr 15, 19) e que, após a sua acção única em Cristo, foi por Ele transmitido aos discípulos (Jo 20, 22) e por estes à Igreja (Act 2, Iss). Nela se cumpre a profecia de J1 3, 1:
Nos últimos dias (...) derramarei o meu Espírito sobre toda a criatura. Os vossos filhos e as vossas filhas hão-de profetizar (Act 2, 25).
Nos cristãos era o Espírito que falava.
De que modo? Na expressão dos seus actos de fé.
Ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor”, senão pelo Espírito Santo (1 Cor 12, 3), Trata-se da resposta de fé ao anúncio de que a Jesus, Deus o ressuscitou de entre os mortos (Rm 10, 9). Um anúncio feito, também ele, pela acção do Espírito Santo (1 Ts 1, 5). Portanto, quer as palavras do Evangelho quer as da fé eram inspiradas. Uma inspiração que se estendeu a todas as tradições formadas a partir delas. Tanto mais que as comunidades crentes em que se formaram, também elas viviam do Espírito. Tanto as do NT como as do AT. Esta tradição inspirada foi depois completada pela redacção dos livros, também ela sob a acção do Espírito. Por duas razões: porque o seu conteúdo tinha directa ou indirectamente a ver com a fé e porque os autores recebiam um especial dom do Espírito, como membros da comunidade crente que deles precisava para viver. Isto é: 3. A Bíblia é um especial dom do Espírito para a vida da comunidade crente. Ou então, dito por quem escreveu inspirado por Deus: Toda a Escritura é (...) útil para ensinar, refutar, corrigir e educar na justiça (v. 16). São tarefas específicas de qualquer responsável por comunidades crentes, para que seja um homem de Deus. Mas não são exaustivas nem dele exclusivas. De resto, ele cumpri-las-á, quanto mais encontrar uma comunidade que, com ele crie todo um ambiente de fé que leve a ler a Escritura como o livro que não apenas contém, mas, por ser inspirado, é verdadeiramente a palavra de Deus (DV, n.º 24).
Por isso, ele é o único a que chamamos Sagrado.

Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo

António Fonseca

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

José Toniolo - Modelos Vicentinos

Mais um vicentino italiano, professor de grande mérito do ensino superior, que tem a sua causa de beatificação introduzida e a quem esperamos ver brevemente nos altares.
Nascido em Treviso, cursou a Universidade de Pádua e foi professor de Economia Política e Social e também da Estatística, na Universidade de Pisa, durante perto de quarenta anos, até à morte, ocorrida em 1918. Do seu extraordinário valor, dizem bastante as seguintes passagens do Decreto da Santa Congregação Romana para a indtrodução da causa de beatificação. "Quando Leão XIII em 1891 quis tratar na Encíclica Rerum Novarum, da condição dos operários, com vista à resolução da questão social, consultou homens doutíssimos, entre os quais o servo de Deus, José Toniolo que, com a palavra e com numerosíssimos escritos, ilustrou a sua cátedra na Universidade de Pisa, tratando questões sociais dentro da doutrina católica. A qual doutrina deriva nele da elevação do seu génio, mas também e principalmente do próprio Mestre Divino, invocando com assídua oração e ainda com a recepção quase quotidiana da Comunhão Eucarística, como resulta da sua vida". "... Nas questões sociais distinguem-se, fora de Itália, homens eminentes como Ketteler, Kolping, La Tour du Pin, De Mun, De Curtins, De Cepeda, Pottier, os Cardeais Manning, Mermillod, Gibbons; e em Itália, em primeiro plano, o nosso servo de Deus". Numerosos escritos seus versam problemas económicos e sociais, e em todos eles há a preocupação de interrogar a história sobre a acção do Cristianismo em tal matéria, resultando desse estudo que o Cristianismo suscitou e gerou do próprio seio todo um mundo novo de ideias, com a subordinação de todas as relações económicas à justiça e à caridade e à coordenação entre o bem privado e o bem comum. Jubilosamente foi festejada a sua presença na Uniâo de Friburgo, que reunia os mais célebres cultores das ciências sociais da Europa, quando se comemorou o falecimento do seu presidente, Cardeal Mermillod, bispo de Lausanne e de Genebra. O professor E. Duthoit, presidente das Semanas Sociais de França, saudou então o Professor Toniolo como aquele "a quem a posteridade chamará o novo Ozanam". Constituiu traço seu caracteristico o grande afecto dedicado à juventude, especialmente a quantos rapazes se interessavam pelos problemas sociais, muito embora nâo fossem seus discipulos, todo os quais lhe ficavam para sempre ligados, frequentando a sua casa ou mantendo com ele correspondência. Inscrito na Acção católica desdee 1884, foi encarregado pelo Bem-Aventurado Pio X, que muito o apreciava, de colaborar na reforma dessa organização e foi então o fundador da União Popular dos Católicos Italianos. Do seu espírito de caridade verdadeiramente evangélico e não dum simples propósito especulativo, derivava o seu interesse pela condição dos humildes, cuja miséria se esforçou por socorrer praticamente através das Conferências de S. Vicente de Paulo, dos quais foi vicentino exemplar. De documentos existentes no Arquivo do Conselho Superior Toscano, consta que fez parte da Conferência de Maria Santíssima do Carmo, em Pisa e que, tendo o respectivo Conselho Particular instituido em 1893 a obra especial da Escolas Nocturnas, nomeou Toniolo presidente das mesmas, pelo que passou a fazer parte do Conselho Particular, no qual se manteve, na qualidade de Vice- Presidente da Conferência do Carmo, mesmo após a passagem das Escolas Nocturnas para os Padres Salesianos. Vagando o cargo de Presidente do Conselho, foi a Toniolo que se ficou devendo a aceitação de Ludovico Coccapani, cuja relutância, fruto duma admirável humildade, conseguiu vencer; e com isto proporcionou à Sociedade de S. Vicente de Paulo o mais admirável modelo dos seus Presidentes de Conselhos Particulares. Começando pelos seus familiares, foi grande propagandista da obra das Conferências de S. Vicente de Paulo, na qual fez ingressar seu filho António, que foi académico pontifício, assistente de Geografia na Universidade de Bolonha e membro do Conselho Superior Vicentino desta cidade. Sua mulher entrou também para as Damas de Caridade, de que foi Tesoureira, mais tarde Presidente e sempre activa visitadora. Presta-se a lição da vida deste homem eminente a interessantes reflexões, sobretudo se o aproximarmos de tantos outros, como ele apaixonados pelo problema social: Ferrini, De Mun, Léon Harmel, Felisberto Vrau , Camilo Féron-Vrau, etc. . O anseio que todos eles sentiam pela solução do problema dos humildes, o qual tanto os afligia, encontrou satisfação na discreta e recatada actuação vicentina, sonhada por um moço de ciência, dominado também, por idêntica preocupação. Pratiquemos nós com igual amor e com vagar a visita domiciliária, vendo Cristo na pessoa do visitado e não deixaremos de sentir igual satisfação. Mas não deixe de se admirar também a humildade posta à prova pelo eminente professor de ensino superior, ao tentar teimosamente vencer a resistência do professor primário Coccapani que, também por humildade, sentia a maior relutância em aceitar o cargo de Presidente do Conselho Particular. Transcrito com a devida vénia de Modelos Vicentinos http://www.ssvp-portugal.org/ Gilberto Custódio Saudações Vicentinas de António Fonseca NOTA:
Desculpem o facto de aparecer no blogue, o texto todo empastelado, sem parágrafos, mas em todas as mensagens que eu tenho feito até agora, eu coloco parágrafos, mas infelizmente até ao momento ainda não consegui descobrir a técnica para os manter com essa formatação. Se alguém me puder informar, como é que se faz isso, ficava muito agradecido.

Igreja da Comunidade de São Paulo do Viso

Nº 5 801 - SÉRIE DE 2024 - Nº (277) - SANTOS DE CADA DIA - 2 DE OUTUBRO DE 2024

   Caros Amigos 17º ano com início na edição  Nº 5 469  OBSERVAÇÃO: Hoje inicia-se nova numeração anual Este é, portanto, o 277º  Número da ...