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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Santiago Masarnau Fernandez - Modelos Vicentinos

Santiago Masarnau Fernandez
(1805 - 1882)
1805 - Nasce a 10 de Dezembro, em Madrid, filho de Santiago Masarnau Torres e de Beatriz Fernandez Carredano. Deste casamento tiveram três filhos. 1806 - O pai é nomeado Secretário das Reais Cavalariças de Córdova onde passa a viver toda a família. 1808 - Morre D. Beatriz, em Córdova. Face às invasões francesas fixa residência em Granada. Desde muito novo, Santiago mostra precoce inclinação para a música passando muito cedo a receber lições. 1814 - Com o regresso do Rei Fernando VII, a família passa a viver em Madrid. Santiago segue os seus estudos no Colégio de D. Maria de Aragão que é dirigido pelos Padres Agostinhos. De 1820 a 1822, estuda matemáticas nos Estudos Reais de Santo Isidoro. 1819 - Em reconhecimento dos seus dotes musicais, Santiago recebe o título de Cavaleiro Honorário com a idade de 14 anos. 1823 - O pai perde os favores do rei e Santiago é deposto do título de Cavaleiro. 1825 - Santiago regressa a Madrid assistindo à morte de seu pai, ficando num estado de profunda tristeza e desorientação. 1833 - Regressa a França no ano em que se funda a Sociedade de São Vicente de Paulo. 1834 - Santiago regressa a Madrid, escreve "O Artista" e dá diversos concertos. 1838 - Durante a Quaresma, Santiago experimenta uma profunda mudança na vivência da sua fé. O seu primeiro biógrafo chama-lhe "Conversão". a Confissão Geral e uma comunhão em 19 de Maio, na Paróquia de Nossa Senhora do Loreto, marcam definitivamente o rumo da sua vida. 1839 - Santiago ingressa na Conferência de S. Luís d'Atin de Paris, onde ocupa o cargo de Tesoureiro. Desta forma une a sua intensa vida espiritual a uma acção caritativa junto dos mais necessitados que não abandonará nunca. 1841 - Conhece, em Paris, Juan Donoso Cortês, célebre político de então, em quem o exemplo e vida de Santiago provoca a sua conversão. 1843 - Santiago regressa definitivamente a Madrid chamado por seu irmão Vicente que o convida para Vice-Director e professor de música para o Colégio estabelecido na Rua Alcalá, 27. Seguindo sempre uma vida espiritual exemplar, entrega-se a um intenso trabalho caritativo em diversos estabelecimentos de Madrid, recebendo indicações dos seus antigos confrades franceses para que funde a Sociedade de S. Vicente de Paulo, em Espanha. 1849 - Em 11 de Novembro, Santiago funda a Sociedade de S. Vicente de Paulo, em Espanha. 1850 - A Sociedade de São Vicente de Paulo obteve a aprovação eclesiástica na Arquidiocese de Toledo a que Madrid pertence. Posteriormente, seria reconhecida por todas as outras dioceses de Espanha. 1851 - Obtém do Ministério da Justiça a aprovação civil, a qual seria novamente reconhecida pelo Ministério em 1856. Em 8 de Dezembro, teve lugar a primeira Assembleia Regulamentar. Em 1856, começa a publicaçao do Boletim da Sociedade. 1866 - Recebe de Isabel II um lugar de Cavaleiro da Casa Real com um soldo anual de 1 000 escudos. Escreve à Raínha a agradecer a honra recebida mas renunciando à mesma pois "consagra todo o seu tempo e actividade do cargo que tem à Sociedade de S. Vicente de Paulo, do qual crê não poder prescindir". 1868 - Por Decreto de 19 de Outubro é dissolvida a Sociedade de S. Vicente de Paulo. Os Governadores Civis guardarão todos os seus documentos e Fundos. Este Decreto é assinado pelo Ministro da Justiça Romero Ortiz. Durante este período, Santiago e os seus mais fiéis colaboradores, continuam o seu trabalho caritativo de uma forma discreta. 1875 - Com a restauração da Monarquia Constitucional na pessoa do rei Afonso XII são restabelecidas legalmente "as sociedades piedosas de S. Vicente de Paulo, sendo seu fim benéfico e inspirado em puros sentimentos religiosos". 1892 - A falta de saúde de Santiago Masarnau levou-o a pedir a sua demissão de Presidente da Sociedade em Espanha. Sucede-lhe Luís de Tapia y Parrella. Em 14 de Dezembro, rodeado de amigos e pobres, morre com 77 anos de idade. Tinham-se passado 33 anos desde a fundação da Sociedade em Espanha. Foram publicados numerosos testemunhos sobre a sua virtude e vida exemplar por parte de algumas pessoas que privaram com ele durante muitos anos. 1905 - No seu centenário é publicada a biografia mais completa por José Maria Quadrado. 1906 - Os restos de Santiago Masarnau são trasladados do cemitério de La Sacramental de San Justo para o Templo da Sociedade (hoje Paróquia de São Roberto Belarmino). 1909 - Carta do Cardeal Arcebispo de Madrid, D. António Maria Rouco Varela, enviada ao Prefeito da Congregação para a Causa dos Santos a pedir a abertura do processo de Canonização de Santiago Masarnau. http://ssvp-portugal.pt Escrito por Gilberto Custódio Transcrito por António Fonseca

Renato Masini - Modelos Vicentinos

RENATO MASINI
(1901 - 1931)
Ao zelo comovido e saudoso do Presidente do Conselho Particular de Lucca devemos os apontamentos desta vida bem curta, mas em constante elevação para Deus, o que em grande parte se fez no quadro vicentino.
Nascido em Spezia, veio, criança ainda, com a família para Lucca, onde estudou e desenvolveu a sua benfazeja actividade.
A piedosa educação recebida de sua mãe de tal maneira o convenceu da importância fundamental da religião, que nela colocou inteiramente o objectivo da sua vida.
Muito inteligente e culto, doutorou-se em Medicina na Universidade de Pisa em 1925; não chegou porém a exercer a profissão, fosse por ter sido nessa ocasião atingido por uma doença nervosa, que muito o fez sofrer, fosse por começar a sentir em si a vocação sacerdotal, para a qual se preparou cm o estudo sério da filosofia escolástica; mas no momento em que ia a apresentar-se ao exame que decidiria da sua admissão ao Seminário, sentiu os primeiros sintomas da tuberculose, que em poucos anos o vitimaria e que o obrigou a renunciar ao seu ideal.
Sob a direcção do seu confessor, esforçou-se por atingir a perfeição cristã, pela oração, meditação,comunhão diária e também pela luta de cada instante contra os defeitozinhos do seu génio.
A SUA PUREZA ANGÉLICA LEVOU-O A PEDIR E A OBTER DO SEU CONFESSOR LICENÇA PARA FAZER VOTO DE CASTIDADE, PRIMEIRAMENTE TEMPORÁRIO, E DEPOIS PERPÉTUO.
TRABALHOU ENQUANTO A SAÚDE LHO PERMITIU, NAS FILEIRAS DA ACÇÃO CATÓLICA, AO SERVIÇO DA QUAL DESENVOLVEU FERVOROSO APOSTOLADO ENTRE A GENTE MOÇA. MAS A FORMA DE ACTIVIDADE QUE MAIS ATRACÇÃO SOBRE ELE EXERCIA ERA A DAS CONFERÊNCIAS DE S. VICENTE DE PAULO, QUE TÃO BEM SE QUADRAVA COM O SEU IDEAL DE CARIDADE. COM VERDADEIRO ENTUSIASMO COLABOROU NO RENASCIMENTO DESSA ACTIVIDADE EM LUCCA, ONDE HÁ MUITO SE ARRASTAVA ADORMECIDA.
FOI SECRETÁRIO DO CONSELHO PARTICULAR,
ANIMADOR DE VÁRIAS CONFERÊNCIAS,
FUNDADOR E PRESIDENTE DA SUA PARÓQUIA,
POSTA SOB A INVOCAÇÃO DE S. MARTINHO, QUE DIRIGIU COM PRUDÊNCIA E TACTO, DISTINGUINDO-SE PELA ADMIRÁVEL CARIDADE PARA COM POBRES E IRMÃOS VICENTINOS.
PODE-SE SEGURAMENTE AFIRMAR QUE SE CONTAGIOU DA DOENÇA QUE VEIO A DAR-LHE A MORTE AO VISITAR E TRATAR UM RAPAZ DOENTE QUE, APESAR DE CONSCIENTE DO RISCO QUE CORRIA, TOMOU À SUA CONTA, NO INTUITO DE O RECONCILIAR COM NOSSO SENHOR, O QUE CONSEGUIU, MAS À CUSTA DA PRÓPRIA VIDA QUE, COM TAL FIM, QUIS OFERECER A DEUS.
APESAR DOS MÚLTIPLOS CUIDADOS, AOS QUAIS SE SUBMETEU DOCILMENTE POR AMOR DOS SEUS, MAS CUJA INANIDADE PREVIA, MORREU, INTEIRAMENTE SUBMISSO À VONTADE DE DEUS, AOS 5 DE MAIO DE 1931, CONTANDO APENAS TRINTA ANOS.
OS ÚLTIMOS TRINTA MESES DA SUA VIDA, PASSOU-OS EM DOLOROSA AGONIA, AFASTADO DE TODOS, VOLUNTARIAMENTE ALHEADO DO MUNDO, EM SUA CASA, PARA MELHOR PODER PENSAR EM DEUS E NA SUA ALMA, APARENTEMENTE CALMO E ALEGRE, MAS CUSTOSAMENTE EXPERIMENTADO, NÃO SÓ POR SOFRIMENTOS FÍSICOS, MAS AINDA POR TENTAÇÕES E TRIBULAÇÕES DE ORDEM ESPIRITUAL. APESAR DISSO , DESEJAVA SEMPRE MAIS SOFRIMENTOS, A FIM DE PODER OFERECÊ-LOS A DEUS, PELA CONVERSÃO DOS PECADORES, E SOBRETUDO PELO RETORNO À FÉ DO POVO RUSSO, DO QUAL AMBICIONAVA SER O SALVADOR, SE TAL FOSSE A VONTADE DE DEUS.
MUITAS GRAÇAS OBTIDAS APÓS A SUA MORTE, FORAM ATRIBUÍDAS À SUA INTERCESSÃO, DE TAL MANEIRA QUE O ARCEBISPO DE LUCCA, ATENDENDO AO PEDIDO DAS CONFERÊNCIAS, ORDENOU A INTRODUÇÃO DO PROCESSO CANÓNICO DE INFORMAÇÃO SOBRE AS VIRTUDES E MILAGRES DESTE PIEDOSO SERVO DE DEUS.

HTTP://SSVP-PORTUGAL.PT

Escrito por Gilberto Custódio

Transcrito por António Fonseca

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Pedro Jorge Frassati - Modelos Vicentinos

Mais uma vida bem curta, mas em linha recta para Deus, e incomparável como apaixonante modelo para rapazes, aos quais aconselhamos vivamente a leitura da sua bela biografia (1), da qual vamos dar aqui ligeiríssimo apontamento. Nascido em Turim, em 1901, filho do Director do jornal "La Stampa", que também foi embaixador de Roma em Berlim, e duma mãe admirável, que nele soube incutir o incondicional culto da verdade e formar-lhe a vontade numa educação viril, de montanhês de Bielle - nem doces, nem mimos; vinho só em dias de festas - realizou o mais completo tipo de autêntica virilidade, aquela que o mundo é incapaz de conceber: a virilidade que domina as paixões da adolescência e sabe sujeitar a vida de uma vontade forte. Não se deixou viver; venceu a vida. Não havia nela sombra de respeito humano, assim como era incapaz de trair a palavra dada, ou de faltar à verdade no mais insignificante ponto. Duma alegria "que nunca foi vista ofuscar-se", cheio de bom humor e de exuberância, gozou da máxima popularidade entre os companheiros, aos quais arrastava com o seu vozeirão estentórico. Quantos deles não foram influenciados pela lição do seu comportamento de cristão íntegro! Era dotado, diz um seu íntimo, duma "caridade tão vivida e sentida, que o tornava o elemento de união, a pessoa por todos amada, sem excepção. E valendo-se deste privilégio para aliciar todos ao bem, tinha a mais rara habilidade de não o fazer notar". Conseguia assim fazer notáveis conquistas, precisamente porque dele e apesar do seu desassombro, se pode dizer que o seu grande mérito consistiu em realizar todo o oposto do tipo clássico do beato. Outra razão do seu prestigio entre rapazes residiu na superioridade da sua adaptação a todos os desportos, nos quais facilmente triunfou, fosse a bola, a natação, o remo, a bicicleta, a equitação, o automobilismo e, mais que tudo, o alpinismo, que foi a sua grande paixão e no qual quis iniciar tantos companheiros de estudos, aos quais solicitamente amparava nas suas primeiras excursões às montanhas. Que alegria e que encanto não sabia ele imprimir-lhes! Como auxiliava e animava os seus colegas fatigados! E também como vigiava que não deixassem de cumprir os seus deveres religiosos! Foi também sempre dedicadissimo e atencioso ao máximo com os humildes, aos quais igualmente cativava. Enquanto os outros rapazes discutiam, complicados sistemas filosóficos, Pedro Jorge, seguro na simplicidade do seu pensar, não inventava crises nem dores; sabia donde vinha e para onde ia. Mas é preciso que percorramos, embora de fugida, a actividade vicentina, que tanto o absorveu, porque conforme afirmava, ela fazia mais bem aos seus amigos vicentinos do que aos pobres. A um tipógrafo amigo, que se lhe queixava do desânimo de certos operários modernos, angustiados por grandes misérias morais, observava-lhe: "Olha, para se curarem, seria bom que fizessem a visita aos pobres. Se esses que assim se degradam tanto, vissem com os próprios olhos a miséria material, como nós a vemos todas as semanas, experimentariam desgosto da sua miséria moral, fruto da baixeza e vulgaridade que não raro fazem descer o seu procedimento". Foi aos 17 anos que Pedro Jorge entrou para a Conferência dos Padres Jesuítas no Instituto Social e dali passou, aos 21, para a do Círculo Universitário. Generoso nas dádivas, não regateava tão pouco o seu tempo, prestando-se a substituir os vicentinos impedidos: assim, visitava correntemente quatro e cinco famílias e assim também era dos mais assíduos à sessão da Conferência, de que foi Vice-Presidente e onde muitas vezes substituía o Secretário. Era não só benfeitor, mas o amigo e irmão dos pobres que visitava, os quais acompanharam o seu funeral com verdadeira veneração, tocando o esquife e fazendo o sinal da cruz. Fez entre os seus companheiros da Universidade a mais intensa campanha para propaganda da obra das Conferências; à qual deveu muito da sua formação e que não sacrificava , mesmo nas épocas de mais violento trabalho escolar: "morrer a tudo, excepto à Conferência de S. Vicente de Paulo", dizia ele! E era tão grande a sua dedicação pelos pobres, que evitava sair de Turim para a aldeia no Verão, a fim de não faltarem de todo os visitadores! Era também ele o único vicentino que não se preocupava com o estado da caixa: queria sempre atender a todas as misérias. São inúmeros e edificantes os traços que até nós chegaram da sua zelozíssima vida vicentina, apesar do recato e modéstia da sua actuação. Lembremos apenas a narrativa simples, por ele feita, sobre a mudança de casa de um pobre: fora preciso procurar outra casa, esta apareceu e a mudança fez-se ... Simplesmente faltou dizer como se fez: foi ele próprio, empurrando um carro de mão através das ruas de Turim, onde tão conhecido era. No carrinho, os desmantelados trastes, e pela mão, os cinco andrajosos filhinhos do pobre! Já agonizante, na véspera da morte, a sessão da Conferência decorria sob o peso de tristeza; o Presidente perguntou pelos pobres de Pedro Jorge. Um vicentino apresentou então um bilhete do próprio punho deste, em que eram dadas as indicações precisas. A letra era quase ilegível, pois o corpo já estava invadido pela paralisia que iria acabar de o vitimar dentro de horas; mas atestava bem, como o seu pensamento acompanhava a Conferência e os pobres até à morte. Esse bilhete, conservado como relíquia, ficou servindo de marcador no livros das actas da Conferência. A doença atacara subitamente aquele organismo de ferro: fora em 30 de Junho de 1925, ao regressar do rio, onde fora remar, que sentira uma dor nos rins. Pedro Jorge gracejou, dizendo estar a precisar de se retemperar com o ar das montanhas; tinha, de facto, marcada uma ascensão a dois picos dos Alpes, para o dia 4 de Julho (2). Nesse mesmo dia fazia a maior ascensão : subia ao Céu, onde piedosamente cremos que está a tomar parte na Conferência de que fala Ozanam, após tão bela vida e tão resignada agonia, com aceitação plenamente consciente do sofrimento e sacrifício da vida. "Pedro Jorge, como a tua alma está bela"! "Jesus quer-te tanto!" - dizia o sacerdote que acabava de lhe ministrar os últimos sacramentos, e acrescentava: "Tinha um ar celeste". Se foi grande o bem que dele irradiou em vida, maior se tornou ainda a sua influência nos meios juvenis para além da morte: foi preciso que o grão morresse para germinar. "Pedro Jorge teria feito assim", pensam ainda hoje os rapazes, contagiados pelo seu luminoso exemplo. E assim, como diz o seu biógrafo, "eterno no Céu, imortal também na terra, com a graça do seu auxílio e da sua intercessão". http://ssvp-portugal.pt/ Escrito por Gilberto Custódio

"LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO E SUA MÃE MARIA SANTISSIMA"

António Fonseca

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Zeferino Gimenez Malla - Modelos Vicentinos

"Primeiro cigano a subir aos altares"
Filho de pais ciganos espanhois, Zeferino Giménez Malla, conhecido familiarmente pelo "El Pele" nasceu em Fraga (província de Huesca), provavelmente em 26 de Agosto de 1861, festa de S. Zeferino - Papa, de quem tomou o nome, e foi baptizado no mesmo dia.
Como toda a sua família, ele também foi um cigano que viveu sempre como tal, seguindo a lei cigana, tanto na sua formação como nas suas actividades.
Em pequeno percorria os caminhos montanhosos da região fazendo a venda ambulante de cestos, que ele mesmo fabricava com as suas mãos.
Ainda muito jovem casou-e à moda cigana com Teresa Giménez Castro, uma cigana de Lérida, de forte personalidade e estabeleceu-se em Barbastro.
Em 1912 regularizou a sua união com a "Sua Teresa" celebrando o matrimónio na Igreja Católica. Começou desde então frequentar a Igreja até se converter a um cristianismo modelar.
Não teve filhos, no entanto adoptou de berço, uma sobrinha de sua mulher, chamada Pepita,
cujos filhos ainda são vivos.
"El Pele" dedicou os melhores anos da sua vida à profissão de compra e venda de cavalos, pelas feiras da região. Chegou a ter uma boa posição social e económica que esteve sempre ao serviço dos mais necessitados.
Acusado injustamente uma vez de roubo, foi preso, tendo sido declarado inocente.
O advogado que o defendia disse:
"El Pepe" não é um ladrão, é o São Zeferino, padroeiro dos ciganos".
Muito honrado, nunca nos seus negócios enganou alguém. Pela sua reconhecida prudência e sabedoria, era solicitado pelos camponeses e pelos ciganos para solucionar os conflitos que por vezes surgiam entre eles.
Piedoso e caritativo, socorria a todos com as suas esmolas. Foi um exemplo a sua religiosidade: missa diária, comunhão frequente, reza quotidiana do Santo Rosário.
Embora não tivesse sabido ler e escrever, era amigo de pessoas cultas e foi admitido como membro de diversas associações religiosas: Juventude Eucaristica, Adoração Nocturna, Conferências de S. Vicente de Paulo (onde de alma e coração sempre se dedicou a socorrer de forma muito caritativa todos os carenciados que podia) e Ordem Terceira de S. Francisco. Gostava muito de se dedicar à catequese dos meninos, aos quais contava passagens da Bíblia e ainda ensinava orações e o respeito que se deve ter pela natureza.
No início da guerra civil espanhola, nos últimos dias de Junho de 1936, foi preso por ter saído em defesa de um Sacerdote que arrastavam pelas ruas de Barbastro para o levarem para o cárcere e por levar um Rosário no bolso. Ofereceram-lhe a liberdade se deixasse de rezar o Rosário. Preferiu permanecer na prisão e afrontar o martírio. Na madrugada de 8 de Agosto de 1936 fuzilaram-no junto ao cemitério de Barbastro. Morreu com o Rosário na mâo e gritando a sua : "Viva Cristo Rei".
Zeferino Giménez Malla, o 1º Mártir da guerra civil espanhola (1936/39)
foi Beatificado por Sua Santidade o Papa João Paulo II
no dia 4 de Maio de 1997.
É o primeiro cigano a subir aos altares.
Homem de vida cristã exemplar, dentro e fora da sua raça, numa entrega aos outros na prática da Caridade, usando de uma grande generosidade muito próxima da prodigalidade.
Sua mulher chegava muitas vezes a queixar-se da sua generosidade e repreendia-o; assim, quando dava algo, olhava em volta a ver se sua mulher não via e dizia: "é para evitar problemas com a minha mulher, se posso, evito".
De um seu biógrafo pode ler-se a seguinte passagem.
" -Também pelos camponeses "o Pele" alcançou uma notável importância. As vilas da região nunca conheceram um homem mais honesto, mais cavalheiro, mais leal e mais cristão. Em público e em privado mostrava-se respeitador, humilde, alegre, pacífico, serviçal e generoso. Para todos tinha uma saudação, um sorriso, disponibilidade para uma conversa amena, para diferentes ouvintes. Nas indagações efectuadas para compor este pequeno esboço histórico, nada ouvi de deplorável. Ele tratava os outros ciganos com muita cordialidade (dirigindo-se a eles). Habitualmente, se não eram superiores a ele, tratava-os com o apelido de "tato", palavra de afecto com a qual se tratam os ciganos".
E num escrito de José Cortês Gabarre:
"Vi em várias ocasiões que na casa dele acolhia mendigos, dava-lhes roupa sempre em bom estado e dinheiro, e tudo isto fazia-o tratando-os com muito carinho".
Referindo-se a Zeferino Giménez Malla, João Paulo II defendeu que:
"A sua vida mostra como Cristo está presente nos diversos povos e raças e que todos são chamados à santidade que se alcança observando os seus mandamentos e permanecendo no seu amor. O Pele foi generoso e acolhedor para com os pobres, embora fosse também ele pobre; honesto na sua actividade; fiel ao seu povo e à sua raça cigana; dotado de uma inteligência natural extraordinária e do dom do conselho, foi, sobretudo, um homem de profundas crenças religiosas".
"Nos dias de hoje, "Pele" intercede por todos junto do Pai com e a Igreja propõe-no como modelo a seguir e testemunha significativa da vocação universal à santidade, especialmente para os ciganos que com ele têm estreitos vínculos culturais e étnicos".
Pensamentos de Zeferino Malla
"Senhor de imensa bondade, se me tirares o cabelo será para mim um bem. Faça-se a Sua vontade".
"Não vos esqueceis nunca, queridos meninos, que vós sois os preferidos de Deus".
"O que é que Deus te deu?" - dizia um blasfemo. "Deu-me a vida. Diante de mim nâo quero ouvir falar mal de Deus nem dos seus Sacerdotes".
"Dorme e descansa que se algo se passar que te faça dano, o Anjo da Guarda te protegerá".
"No momento da tribulação basta dizer com voz calma "Deus o quis assim. Bendito seja o Senhor".
"Tudo tem de ser feito com Amor. Há que derramar Amor por todo o lado".
www.ssvp-portugal.pt Escrito por Gilberto Custódio Transcrito por António Fonseca

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Contardo Ferrini - Modelos Vicentinos

Em 13 de Abril de 1947 assistia Roma, interessada, à cerimónia da beatificação dum leigo da nossa época, que viveu a mesma vida que nós; e com pasmo via passar a imagem daquele cuja santidade era reconhecida pela Igreja, vestido com o trajo de cerimónia de há uns 50 anos: sobrecasaca, calça cinzenta, colarinho e gravata.
Este homem, cuja virtude soube triunfar das ciladas que, no século, de todos os lados nos espreitam, foi Contardo Ferrini, vicentino dedicadíssimo, o primeiro vicentino a conquistar a honra dos altares. Como Ozanam, professor notável, serviu-lhe a ciência admiravelmente como meio para abraçar a verdade, que em constante apostolado soube comunicar aos outros dando-lhes, com o esplendor da sua inteligência e sabedoria, a bondade inesgotável do seu grande coração, que a fé dilatava e iluminava.
Formado em Direito, na Universidade de Pavia aos 22 anos, foi sucessivamente assistente de História do Direito Romano naquele mesmo estabelecimento e professor efectivo nas Universidades de Messina e de Modena; e desde 1894 até à sua morte, ocorrida em 1902, titular da cadeira de Direito Romano novamente em Paris.
Adquiriu como professor a maior autoridade e conquistou, pelos trabalhos publicados, a admiração do mundo sábio. O grande Mommsen rendeu-lhe homenagem, afirmando que, assim como o século XIX tinha sido o século de Savigny, o século XX seria o de Ferrini: infelizmente foi arrebatado por uma morte prematura logo no limniar do século. O académico Denis Cochin, que o conheceu em Paris, escrevia a S. S. Pio X: "Ferrini, admirável crente, espalhou por toda a parte o perfume das suas virtudes; era outro Ozanam e fazia recordar tudo quanto a história refere dos servos dos séculos idos".
Ele foi efectivamente heróico nas suas virtudes, principalmente na humildade; serviu os pobres toda a vida e a Sociedade de S. Vicente de Paulo contou-o entre os seus mais valiosos irmãos vicentinos.
O Breve Apostólico lido na beatificação exalta a personalidade de Contardo Ferrini e refere com as respectivas provas os dois famosos milagres operados por seu intermédio em dois jovens curados, um do mal de Pott e outro de gravissima fractura do crânio.
Como o vicentino Pedro Jorge Frassati, como S. S. Pio XI, que considerava esse exercicio, quando não temerário, como o mais benéfico para a alma e para o corpo, foi Contardo Ferrini, apaixonado alpinista. Ao entrar no curso superior, já fizera a ascensão do Monte Rosa e durante toda a vida cultivou com paixão este desporto, que o transportava ao alto das montanhas, terrestres, donde, suspensos por uns dias os seus profundos estudos, mais facilmente se elevava até ao alto cume de Deus; e sustentava, com tantos outros, dos quais o Santo de Assis (Francisco) é exemplo máximo, que o sentimento da natureza, dom precioso das almas privilegiadas, deveria tomar uma parte importante na nossa educação, porquanto nesses contactos com a natureza, sentimos a vizinhança de Deus e contemplamos as Suas maravilhas.
E, afirmando modestamente que, se tivesse sido poeta, a inspiração teria surgido nessa hora, descreve-nos ele com encantadora poesia o espectáculo dos cumes nevados, terminando assim: "Eram precisamente esses panoramas, esses pinheiros dos Alpes, esses cumes brancos avermelhados ao sol nascente, era o brando raio da lua a brincar na noite silenciosa e a reflectir-se na superficie frisada do lago, era tudo isso que em mim acordava fortemente o sentimento religioso, a atracção para o ideal, o ódio e o desprezo por todas as fealdades".
Fica assim explicada a paixão de Ferrini pela montanha, a qual longe de contrariar, como se poderia supor, as restantes manifestações da sua vida, antes confirma inteiramente a constante ascensão daquela alma para Deus.
Milhares de vezes tomou o comando de grupos que se confiavam à sua futura experiência; mostrava-se então o mais jovial e entusiasta dos companheiros, revelando as belezas da montanha e dando explicações sobre a geologia, a fauna e a flora, à mistura com citações poéticas, em grego, em latim, em alemão ou italiano. Aconselhava também os camaradas e punha-os em guarda contra o perigo de comer certos frutos ou de beber certas águas; e dava-lhes constante bom exemplo no inflexivel cumprimento dos deveres religiosos: nunca faltou á Missa por causa duma ascensão, nem tão pouco quebrou o jejum ou a abstinência, por cansado ou fraco que se sentisse, com o que sempre edificava a todos.
Nem sempre foi, porém, tão escrupuloso na observância pessoal de cuidados de outra ordem, que aos companheiros solicitamente recomendava; e assim foi que a sua prematura morte, ocorrida em 17 de Outubro de 1902, quando tanto havia a esperar das suas virtudes e do seu talento, foi devida a uma febre tifóide, adquirida em água inquinada, que bebeu numa dessas excursões.
Nele perdeu a ciência do Direito Romano um dos fervorosos cultores e a Sociedade de S. Vicente de Paulo um dos mais ilustres ornamentos; regozija-se esta porém com a valiosa contribuiçao dada pela prática da Caridade, através da Conferência, para a conquista da posição eminente a que soube elevar-se e que lhe valeu a glória de ser proclamado pela Igreja heróico na virtude.
Foi Vice-Presidente duma Conferência de Pavia na qual introduziu o hábito da troca do beijo da paz no começo das sessões e edificou os irmãos vicentinos pela humildade de trato com os pobres aos quais visitava modestamente vestido e sobre cujas dores e virtudes meditava profundamente, para daí tirar ensinamentos para si.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO E SUA MÃE MARIA SANTÍSSIMA
António Fonseca

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Ludovico Coccapani - Modelos Vicentinos

Meus amigos: Na página anterior publiquei duas biografias resumidas de Felisberto Vrau e Camilo Féron-Vrau - que não têm disponíveis quaisquer fotos. Como o mesmo se passa com a biografia de Ludovico Coccapani, aproveito a oportunidade para inserir hoje também esta biografia.
LUDOVICO COCCAPANI
(1849 - 1931)
A 14 de Novembro de 1949, 17º Aniversário da sua morte, e ano do centenário do seu nascimento, foi introduzida a causa da beatificação de Ludovico Coccapani, vicentino cem por cento, que foi presidente do Conselho Particular de Pisa.
Nascido em Calcinaia, província de Pisa, e oriundo de nobre família que lhe deu educação profundamente cristã, foi por algum tempo professor primário; mas muito cedo, aos 25 anos, deixou o exercício do cargo para se consagrar inteiramente à causa dos pobres, dos doentes e dos presos, entre os quais, pela sua extrema bondade, afabilidade e extraordinário poder persuasivo, conseguia as mais inesperadas conversões.
Tornou-se assim farol de amor e de luz cristã para quantos, vivendo nas trevas do erro e do vício e maldizendo de tudo e de todos, por influência de Coccapani, vieram, a amar a Deus e a achar bela a vida no trabalho e na pura alegria da família, abençoada pelo próprio Deus.
Só ele pode penetrar no cárcere de S. Mateus, e nessa piedosa obra de misericórdia foi verdadeiramente o consolador espiritual e moral dos condenados. Falando e actuando em nome de Jesus, com palavra fascinante e comovedora, Coccapani acabava por ouvir os infelizes confessar, com infantil ingenuidade, as suas culpas e via-os cair a seus pés beijando o Crucifixo que lhes apresentava, ao mesmo tempo que, com a voz embargada pelas lágrimas, pediam a Deus perdão dos seus crimes.
Admirável espírito de oração, tinha especial devoção pela Sagrada Eucaristia, que diariamente recebia com piedade angélica, motivo de edificação para todos. Terníssima era também a sua devoção a Nossa Senhora, especialmente sob o título de Maria Imaculada, ao qual dedicou um Asilo que, inspirando-se à letra no Evangelho, construiu em Calcinaia com o produto da venda dos bens do seu património. Desta maneira, e ainda segundo o Evangelho, constituiu no Céu um tesouro definitivo, que não está sujeito nem ao roubo dos ladrões nem à destruição da traça.
Toda a sua actividade caritativa se moveu no quadro da Conferência de Pisa, à qual se entregou apaixonadamente em 1874, passando em 1914 a desempenhar o cargo de Presidente do Conselho Particular, no qual permaneceu até à morte, e que levou a cabo por forma a dar admirável surto à obra das Conferências na velha cidade universitária.
E foi tal a popularidade de que gozou que, menos de vinte anos depois da morte, foi possível consagrar-se-lhe um livro, que é uma verdadeira colecção de "fioretti", sob o título: "Um cavaleiro de Deus e dos Pobres, Ludovico Coccapania".
A sua causa de beatificação interessa bem de perto à Sociedade de S. Vicente de Paulo: não se trata, efectivamente, dum vicentino qualquer, mas de alguma coisa mais, pois todas as virtudes cristãs de Ludovico Coccapani floresceram no amor dos pobres, e este amor exerceu-se no quadro da nossa Sociedade. Se a Igreja julgar oportuno colocá-lo sobre os altares, os nossos Presidentes de Conselhos terão nele um modelo, ao mesmo tempo que um protector.
Falecido em 14 de Novembro de 1931, foi sepultado, segundo vontade expressa, no meio dos pobrezinhos, aos quais tanto tinha amado.
"LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO E SUA MÃE MARIA SANTÍSSIMA"
Ver: www.ssvp-portugal.org Escrito por Gilberto Custódio António Fonseca

Felisberto Vrau e Camilo Féron-Vrau - Modelos Vicentinos

Do livro Modelos Vicentinos editado em 1997 pelo Conselho Nacional de Portugal da Sociedade de S. Vicente de Paulo, transcrevo as biografias resumidas destes Vicentinos, conhecidos como "Os Santos de Lille" e, que por sinal, não vêm descritas nas biografias que foram editadas por Gilberto Custódio, a quem tenho recorrido para a publicação que estou a levar a cabo.
Por este motivo, também não publico as fotos respectivas, porquanto não constam nos resumos já referidos.
FELISBERTO VRAU - (1829 - 1905) e
CAMILO FÉRON-VRAU - (1831 - 1908)
"Os Santos de Lille"
Não é possível separar um do outro, estes dois companheiros de toda a vida: companheiros de estudos desde a infância, unidos por laços de parentesco no casamento de Camilo Féron com a irmã de Felisberto Vrau, associados numa mesma e grande empresa industrial; e sobretudo associados na mais arrojada e persistente obra social e de acção católica - mas que acção! - desenvolvida não só em Lille, como no norte de França, como até em toda a França, durante o espaço de meio século. Obra formidável, absolutamente revolucionária pela largueza de vistas, pelo arrojo com que dois simples particulares assumiram responsabilidades que fariam hesitar um Município ou até mesmo um Estado; formidável ainda pelo intenso fogo de caridade que a ilumina!
São bem os santos do nosso tempo, que viveram a nossa vida, sujeitos às mesmas tentações; que souberam fazer uma fortuna; e que ainda melhor a souberam gastar em obras verdadeiramente extraordinárias de carácter religioso ou social, num dom total de si mesmos pelos seus irmãos, outros Cristos.
Felisberto Vrau era filho dum industrial de fiação, de Lille; rapaz forte e cheio de audácia, ligou-se de amizade no colégio com Camilo Féron, que pertencia a uma família da intimidade da sua. Em contraste com Felisberto, Camilo era um tímido, bondoso e delicado, que ao seu amigo ficou devendo o valor da sua protecção, paga aliás no constante amparo moral e bom exemplo que dispensou a Felisberto, na grave crise religiosa e de costumes que o trouxe transviado durante anos, em procura da verdade, através de correntes filosóficas várias, as quais não foram capazes de entravar o dom natural, que o levava a desejar ganhar muito dinheiro, para aliviar a humanidade dos seus sofrimentos.
Convertido, finalmente, aos 24 anos, dá-se todo a Deus e após um primeiro insucesso na vida comercial, quer tomar sobre si a sua parte no sofrimento. Afervora-se mais na sua devoção à Sagrada Eucaristia e, como fonte inspiradora, tenta a Adoração nocturna.
É então que, ligado à indústria de seu pai, consegue, à custa da sua prodigiosa actividade e inteligência prática, libertá-la da vida sempre periclitante que tem atravessado, entrando em franca prosperidade.
Mas com o declínio do pai, vê-se obrigado a procurar um colaborador com quem reparta o ingente trabalho, sem prejuízo do tempo a consagrar à oração e às obras, para as quais aquele serve de pretexto. Esse colaborador não pode deixar de ser seu cunhado Camilo, que como médico conquistara já uma sólida posição e tem diante de si um futuro brilhante, como indigitado professor de clínica médica e futuro Director da Escola de Medicina, o que tudo sacrifica, para tomar a seu cargo a parte comercial e direcção do pessoal da fábrica. Pela morte do sogro, torna-se associado da organização Vrau, e o nome Vrau passa a ligar-se por um traço de união ao de Féron.
Desde há muito, a casa aplicava um terço dos lucros em boas obras, que revertiam principalmente em favor do pessoal, mas a proporção vai crescendo e depois já não se acha suficiente a acção individual. Sente-se a necessidade de criar instituições.
É o tempo do Conde de Mun e de La Tour du Pin, o momento dos Círculos Católicos.
Intensifica-se então a vida cristã naquela colmeia, onde há o maior rigor na escolha do pessoal, e por tal forma aumenta que, de 1871 a 1972, se contam nada menos de 52 vocações religiosas!
Forma-se a Corporação Cristã de S. Nicolau, que agrupa 1 300 operários, com as suas numerosas caixas, que provêm a todas as necessidades: caixa económica de empréstimos, socorros mútuos, assistência a doentes, assistência maternal, socorros à invalidez e à velhice, obra dos funerais, etc., etc. Todas estas obras se alimentam de quotização mínima dos beneficiários, decuplicada pela inesgotável contribuição patronal.
Léon Harmel preconiza então a associação dos patrões cristãos; em Lille e mais cidades industriais do norte, respondem 42 industriais, que entram decididamente no estudo dos problemas do trabalho: trabalho de menores e de mulheres, limitação do horário de trabalho, interdição do trabalho nocturno, descanso dominical, etc.. São bem os precursores da actual legislação do trabalho!
O movimento cristão é de tal ordem que, quando em 1899 se organizou uma peregrinação a Roma, nela se incorporaram 600 operários do norte, acompanhados pelos seus patrões.
É depois atacado o problema das habitações operárias, construindo casas económicas modelares, e vem a seguir o problema da formação de bom pessoal cristão de oficinas, para o que falta uma escola de artes e ofícios. Aparece um terreno de 13 000 metro quadrados à venda, e aparece também um anónimo (...) que o compra. Forma-se uma sociedade. As paredes da escola levantam-se; em breve se abrem as portas e cresce o número de alunos, apesar da concorrência da escola oficial, logo a seguir criada.
A participação de Féron-Vrau na fundação pode ser avaliada por esta sua palavra, que data da mesma época: "Aos meus olhos, o dinheiro tem um único valor, o de poder ser dado".
Mas não ficam por aqui: vem, mais a ideia da fundação da Universidade Católica de Lille. Na previsão da publicação da lei da liberdade de ensino, adquirem o palácio da prefeitura, recrutam professores, conseguem subscrições de verbas colossais e dão sempre o exemplo, de tal maneira que num escrito de Camilo se lê: " Os sacrifícios foram largos", e quando lhos agradeciam, Felisberto dizia: "Nós é que deveríamos agradecer", o que se pode ainda confrontar com a pergunta de Camilo: "Porventura este dinheiro é meu?"
Em 1877 inaugura-se solenemente a Universidade, com cinco Faculdades: Teologia, Direito, Letras, Medicina e Ciências. Toda esta obra é impulsionada pelos nossos extraordinários gigantes e em grande parte por eles custeada. Mas vejamos ainda a extensão das obras anexas à Faculdade de Medicina, especialmente trabalhada por Camilo, que dela foi o verdadeiro Mecenas: começa por ser preciso um hospital; depois vem uma casa de saúde, maternidade, asilo para incuráveis, hospital de crianças, etc., fundações estas destinadas, todas elas, a entronizar a Religião na Medicina.
Há ainda a registar, e isto especialmente da parte de Felisberto Vrau, a iniciativa da santificação de Lille, que começou pela formação duma Associação de Orações com intenção fixada, interessando mais de 20 000 fogos. Mas fazia-se sentir a falta de igrejas na cidade, cuja área e população tinham aumentado consideravelmente. Vrau toma um mapa, marca os pontos, dobra-o e inscreve nas costas: "Lille em vinte paróquias".
Funda uma sociedade civil, reúne fundos e começam a erguer-se igrejas: do Sagrado Coração de Jesus, de S. José, de Santo Euberto (patrono da cidade), de S. Luís, do Coração de Maria, de S. Bento Labre, etc.. Havia sempre um anónimo (?) que oferecia o terreno. O Tesoureiro da sociedade deixou um apontamento que diz: "Parece certo que a parte substancial da enorme despesa vinha do Sr. Vrau, mas não existem documentos a tal respeito".
Não houve terreno em os Santos de Lille nâo aceitassem valorosamente a luta, para defesa dos interesses da Igreja e difusão da verdade. Como poderiam eles então deixar de se servir das duas grandes armas modernas: a imprensa e a escola?
Espalharam largamente a boa imprensa, pela qual tanto se interessam. Quando em 1900 os assuncionistas foram obrigados a abandonar "La Croix", o jornal não morreu e continuou sob a direcção de Paul Féron-Vrau.
Grande foi também o esforço a favor das escolas católicas: desde 1880 havia escolas de Irmãos em todas as paróquias de Lille, e o Presidente do Comité podia declarar que, no momento em que a Universidade Católica custava à província oito milhões, os católicos de Lille tinham sabido achar mais dois milhões para o ensino primário religioso.
À pressão desleal da Municipalidade, sectária em favor das escolas oficiais, responde a comissão Vrau com a criação dum vestiário, comissão de higiene, serviço médico escolar, catequese, adopção fraterna, patronatos, etc.,; de tal maneira que em 1888, contra uma população escolar de 12 000 crianças nas escolas oficiais, contam-se 21 000 nas escolas católicas.
Foi ainda em Lille que se celebrou por esta altura o primeiro Congresso Eucarístico Internacional no ano de 1881, com a presença dum Legado do Papa.
Restam umas palavras sobre a acção vicentina dos nossos santos: Vrau foi presidente do Conselho Central de Lille e Féron do Conselho Particular. O trabalho esmagador que recaía sobre o primeiro levou Féron a demitir-se do seu cargo para ir em auxílio do cunhado. Os meses de Julho a Outubro de cada ano eram empregados em viagens de visita às Conferências existentes, assim como às paróquias onde ainda não as havia, nas dioceses de Cambrai e Arras, meio pelo qual se fundaram 22 Conselhos Particulares e 161 Conferências.
Chegamos ao fim deste pálido esboço sobre a espantosa actividade destas duas vidas e perguntamos a nós mesmos se tudo isto se teria dado na realidade. É inacreditável, mas Deus permitiu que estas duas almas, devoradas de amor do próximo, por amor de Jesus Cristo, vissem cobertos de frutos o seu desmedido esforço, dando assim a mais categórica resposta ao desafio lançado em rosto dos estudantes católicos de Paris, nas Conferências da História: "Por que actos, por que instituições se assinala na actualidade a actividade dos católicos?" - Basta ir a Lille para se ter a resposta.
E chegamos ao final, a santa morte que um e outro tiveram, após uma longa vida de preparação. Vrau foi-se afastando das suas obras, desde uns anos antes: queria habituá-las a passarem sem ele e aproveitava para percorrer a França inteira, como missionário - missão de estabelecer a união das obras - durante uns 9 ou 10 meses por ano. Entretanto toda a sua parte nos benefícios da empresa ia integralmente para as obras e para os pobres. Desde a sua conversão, comungava diariamente, alegrava-se com as humilhações que sofria e aplicava a si mesmo as disciplinas.
No ano de 1905 falecia santamente no fim da recitação do terço. Era o dia 16 de Maio, vigilia da festa de S. Pascoal Bailão, o santo da devoção à Eucaristia que sempre foi também a sua grande devoção.
Camilo Féron quis igualmente preparar-se com tempo, para o que foi renunciando sucessivamente a todo o papel activo nas obras, excepto nas habitações operárias. Recolhe-se, faz um retiro e a última liberalidade é a cedência dum terreno para a construção duma igreja, a qual dota, e que o Arcebispo coloca sob o patrocínio de S. Camilo.
Não passa um minuto sem rezar. A Monsenhor Baunard, ilustre biógrafo dos dois e reitor da Universidade Católica, que dele se despede "Até à vista", responde "até à vista no Céu" e extingue-se suavemente em 30 de Março de 1908, ouvindo recitar "Parte alma cristã".
Os corações dos dois amigos, encerrados numa urna na parede do oratório da Universidade Católica, que os quis possuir, mesmo ao pé do Divino Sacramento, realizam à letra a palavra do Mestre: "Onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração".
No túmulo estão também reunidos os dois irmãos, enquanto o povo de Lille espera confiadamente a sua elevação aos Altares, pela beatificação, cuja causa, com parecer favorável de Roma, foi solenemente introduzida em 11 de Março de 1912.
"Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo e sua Mãe Maria Santíssima"
António Fonseca

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

José Toniolo - Modelos Vicentinos

Mais um vicentino italiano, professor de grande mérito do ensino superior, que tem a sua causa de beatificação introduzida e a quem esperamos ver brevemente nos altares.
Nascido em Treviso, cursou a Universidade de Pádua e foi professor de Economia Política e Social e também da Estatística, na Universidade de Pisa, durante perto de quarenta anos, até à morte, ocorrida em 1918. Do seu extraordinário valor, dizem bastante as seguintes passagens do Decreto da Santa Congregação Romana para a indtrodução da causa de beatificação. "Quando Leão XIII em 1891 quis tratar na Encíclica Rerum Novarum, da condição dos operários, com vista à resolução da questão social, consultou homens doutíssimos, entre os quais o servo de Deus, José Toniolo que, com a palavra e com numerosíssimos escritos, ilustrou a sua cátedra na Universidade de Pisa, tratando questões sociais dentro da doutrina católica. A qual doutrina deriva nele da elevação do seu génio, mas também e principalmente do próprio Mestre Divino, invocando com assídua oração e ainda com a recepção quase quotidiana da Comunhão Eucarística, como resulta da sua vida". "... Nas questões sociais distinguem-se, fora de Itália, homens eminentes como Ketteler, Kolping, La Tour du Pin, De Mun, De Curtins, De Cepeda, Pottier, os Cardeais Manning, Mermillod, Gibbons; e em Itália, em primeiro plano, o nosso servo de Deus". Numerosos escritos seus versam problemas económicos e sociais, e em todos eles há a preocupação de interrogar a história sobre a acção do Cristianismo em tal matéria, resultando desse estudo que o Cristianismo suscitou e gerou do próprio seio todo um mundo novo de ideias, com a subordinação de todas as relações económicas à justiça e à caridade e à coordenação entre o bem privado e o bem comum. Jubilosamente foi festejada a sua presença na Uniâo de Friburgo, que reunia os mais célebres cultores das ciências sociais da Europa, quando se comemorou o falecimento do seu presidente, Cardeal Mermillod, bispo de Lausanne e de Genebra. O professor E. Duthoit, presidente das Semanas Sociais de França, saudou então o Professor Toniolo como aquele "a quem a posteridade chamará o novo Ozanam". Constituiu traço seu caracteristico o grande afecto dedicado à juventude, especialmente a quantos rapazes se interessavam pelos problemas sociais, muito embora nâo fossem seus discipulos, todo os quais lhe ficavam para sempre ligados, frequentando a sua casa ou mantendo com ele correspondência. Inscrito na Acção católica desdee 1884, foi encarregado pelo Bem-Aventurado Pio X, que muito o apreciava, de colaborar na reforma dessa organização e foi então o fundador da União Popular dos Católicos Italianos. Do seu espírito de caridade verdadeiramente evangélico e não dum simples propósito especulativo, derivava o seu interesse pela condição dos humildes, cuja miséria se esforçou por socorrer praticamente através das Conferências de S. Vicente de Paulo, dos quais foi vicentino exemplar. De documentos existentes no Arquivo do Conselho Superior Toscano, consta que fez parte da Conferência de Maria Santíssima do Carmo, em Pisa e que, tendo o respectivo Conselho Particular instituido em 1893 a obra especial da Escolas Nocturnas, nomeou Toniolo presidente das mesmas, pelo que passou a fazer parte do Conselho Particular, no qual se manteve, na qualidade de Vice- Presidente da Conferência do Carmo, mesmo após a passagem das Escolas Nocturnas para os Padres Salesianos. Vagando o cargo de Presidente do Conselho, foi a Toniolo que se ficou devendo a aceitação de Ludovico Coccapani, cuja relutância, fruto duma admirável humildade, conseguiu vencer; e com isto proporcionou à Sociedade de S. Vicente de Paulo o mais admirável modelo dos seus Presidentes de Conselhos Particulares. Começando pelos seus familiares, foi grande propagandista da obra das Conferências de S. Vicente de Paulo, na qual fez ingressar seu filho António, que foi académico pontifício, assistente de Geografia na Universidade de Bolonha e membro do Conselho Superior Vicentino desta cidade. Sua mulher entrou também para as Damas de Caridade, de que foi Tesoureira, mais tarde Presidente e sempre activa visitadora. Presta-se a lição da vida deste homem eminente a interessantes reflexões, sobretudo se o aproximarmos de tantos outros, como ele apaixonados pelo problema social: Ferrini, De Mun, Léon Harmel, Felisberto Vrau , Camilo Féron-Vrau, etc. . O anseio que todos eles sentiam pela solução do problema dos humildes, o qual tanto os afligia, encontrou satisfação na discreta e recatada actuação vicentina, sonhada por um moço de ciência, dominado também, por idêntica preocupação. Pratiquemos nós com igual amor e com vagar a visita domiciliária, vendo Cristo na pessoa do visitado e não deixaremos de sentir igual satisfação. Mas não deixe de se admirar também a humildade posta à prova pelo eminente professor de ensino superior, ao tentar teimosamente vencer a resistência do professor primário Coccapani que, também por humildade, sentia a maior relutância em aceitar o cargo de Presidente do Conselho Particular. Transcrito com a devida vénia de Modelos Vicentinos http://www.ssvp-portugal.org/ Gilberto Custódio Saudações Vicentinas de António Fonseca NOTA:
Desculpem o facto de aparecer no blogue, o texto todo empastelado, sem parágrafos, mas em todas as mensagens que eu tenho feito até agora, eu coloco parágrafos, mas infelizmente até ao momento ainda não consegui descobrir a técnica para os manter com essa formatação. Se alguém me puder informar, como é que se faz isso, ficava muito agradecido.

sábado, 29 de novembro de 2008

Conde Alberto de Mun

Caros Amigos, depois de um breve intervalo em que tive necessidade de interromper a minha escrita nesta página, por motivo de trabalhos urgentes que estava a efectuar no computador, volto a descrever alguns Modelos Vicentinos, cabendo hoje a vez ao Conde Alberto de Mun. Mais uma vida direita como uma espada, a vida dum militar; modelo para vicentinos, pela inteira submissão à Igreja à qual, dentro das directrizes que Roma lhe apontava no campo social, sacrificou a sua brilhantíssima carreira, assim como a defesa de arreigadas convicções políticas. Dele se pôde dizer que era um cruzado. Foi-o de facto pela fé religiosa e patriótica e até mesmo pela ascendência, que seguida até ao século XII, nos apresenta um Austor de Mun que tomou parte na Sétima Cruzada e acompanhou S. Luís, a Damieta, mas a que não faltou também um Conde de Mun, bisavô do nosso biografado, filósofo materialista do século XVIII, um dos precursores da revolução, que serviu no Regimento dos Cadets de Gascogne e veio a ser marechal de campo e tenente-general do Exército Real. Nascido em 1841 num velho castelo de Lumigny, frequentou a Escola de Saint-Cyr e serviu no 3º Regimento de Caçadores de África, na Argélia onde, com seu irmão e o seu amigo La Tour du Pin, tomou parte em cinco campanhas nas quais expôs a vida vezes sem conta. Regressado a França em 1867, casa com sua prima, M.lle d'Andlau e entra na sua nova guarnição de Clermond-Ferrand. É aí que, inscrito na Conferência de S. Vicente de Paulo, faz o tirocínio da sua futura e intensissima acção social, pelo contacto que toma com as famílias pobres e com os patronatos. Pratica a caridade heroicamente em plena epidemia de varíola, durante a qual prossegue as suas visitas. Promovido a tenente, declara-se a guerra de 70. É inscrito no exército de Metz e entra nas batalhas de Borny e Gravelotte, onde recebe a Legião de Honra. Na carga de Rezonville, encontra o seu amigo La Tour du Pin. "Ainda veremos belos dias para a França", lhe diz este. Mas vem a inexplicável ordem de retirada para Metz e a notícia da vergonhosa capitulação chega até eles. De Mun chora lágrimas amargas e confessa nunca ter sentido tamanha tristeza. Conduzido para Aix-la-Chapelle, é aí, no exílio, que toma contacto com o movimento popular católico, do qual Monsenhor Ketteler era o grande animador. De novo em França encontra aí a Comuna; à sua cólera indignada junta-se também a compaixão que o leva a reprovar os excessos na repressão, sem apuramento de responsabilidades. Foi a indiferença religiosa e moral que deu lugar à revolução, donde conclui ser preciso fazer a educação do povo, tarefa a que promete dedicar-se. Convidado a visitar o Círculo Operário de Montparnasse, ali se apresenta e tem ocasião de admirar a Conferência de S. Vicente de Paulo, onde pobres operários fazem a caridade a outros ainda mais pobres do que eles; preside a uma sessão em que discursa e só então toma consciência de que é orador. Depois, ajudado por seu irmão e por La Tour du Pin, pretende fundar círculos semelhantes em todos os bairros de Paris, em toda a França. É preciso opor às doutrinas subversivas da revolução as santas lições do Evangelho; ao materialismo, as noções do sacrifício; ao espírito cosmopolita, a ideia da pátria; à negação, a afirmação católica. Pretende, com os círculos, montar o instrumento da contra-revolução, em nome do "Syllabus". Inaugura-se o primeiro círculo em Belleville, com a indispensável Conferência de S. Vicente de Paulo; logo a seguir vem o de Montmartre, dentro dos vinte projectados em Paris. Fundam-se logo também dois em Lyon e de tal maneira crescem em número, que em 1875 se contam em França, 150, com 18 000 membros. Tornam-se porém suspeitos às esquerdas que os tomam como Confrarias Religiosas e também às direitas, como focos de utopias revolucionárias. Mas a juventude militar está com ele; dum cadete de Saint- Cyr recebe uma carta, em que se lêem estas passagens: "Deste-nos a todos a ambição de servir a nação pela palavra e com a espada ... o nosso voto mais querido é ver-vos um dia à nossa frente no campo de batalha, como igualmente estareis nas lutas pacíficas da regeneração nacional". Assina esta carta:"Hubert Liautey". Mas na Assembleia Nacional é acusado de provocar a guerra civil e os seus superiores acham escandaloso que um oficial pregue a fraternidade cristã. Apertado nesta luta de consciência, entre o seu dever de cristão e o amor à farda, não hesita; quebra a espada aos trinta e quatro anos. A vitória é de Deus, mas nela deixou boa parte do coração! Aprovada entretanto, por um voto de maioria, a constituição da República, no ano de 1875, fazem-se eleições e De Mun, certo de que na tribuna da Câmara melhor servirá as ideias católicas e sociais, apresenta-se como candidato católico, acima de tudo, mas também da extrema-direita. Eleito deputado em 1876, continuará a sê-lo por trinta e oito anos, até à morte. E que soma de serviços prestou ele à França e à Igreja, a cuja disposição pôs todo o seu formidável talento de orador, que não conheceu um desaire! A sua presença, de elevada estatura, porte cheio de dignidade, olhar nobre, logo o impõe, antes mesmo de abrir a boca, Fala e a voz segue o pensamento; este vai tomando força, desenvolve tal actividade, que levanta aplausos e triunfa do silêncio. Em 1898 todos os partidos lhe prestam homenagem quando é recebido na Academia Francesa. Sempre na oposição, De Mun experimenta dificuldade em tomar partido entre metade da alma ligada ao passado e a outra metade arrastada para a frente. Compreende que o mais importante é defender a sua fé, que sente ameaçada, e sonha então realizar o agrupamento de todas as forças católicas num grande partido, sem distinção de afinidades políticas, para o que - sempre o mesmo cruzado - quer levantar o estandarte da cruz sob as directrizes de Roma. Erguem-se então também contra ele os antigos amigos da extrema direita, receosos da desunião; ele porém só ouve a voz do Papa. Quem poderia calá-lo? Mas Leâo XIII fala e, aprovando, em princípio, a ideia, julga inoportuna a ligação com um partido político; De Mun sujeita-se, mas a renúncia a tão querida ideia constitui mais um sacrifício bem duro! Resta-lhe a glória de ser o maior orador parlamentar de França, mas, por brilhantes que sejam, as suas intervenções não conseguem deslocar as votações das maiorias. Ingrato papel o seu! No campo social, porém, é notável e fecunda a sua acção à qual. juntamente com o objectivo religioso, tende a fundação dos círculos, "o seu grande negócio", como ele lhe chamava . É bem o precursor que compreende a gravidade e a urgência da situação. O insuspeito ministro Barthou conveio em que não havia, se pode dizer, uma lei de carácter social da 3ª República, na qual De Mun não tivesse colaborado. Incompreendido muitas vezes pelos seus, tem ao menos a consolação de receber a melhor das consagrações com a publicação da Encíclica "Rerum Novarum". Em Setembro de 1891 preside a uma peregrinação de 15 000 operários a Roma, onde é carinhosamente recebido por Leão XIII, que á da mesma maneira o acolhera e estimulara em 1878. Vêmo-lo depois nas lutas religiosas, que atormentavam a França no começo do século XIX, tomar a nobre posição de combate que dele seria de esperar. À reflexão de Barthou, de que "os religiosos não são homens livres", opõe esta admirável resposta: ...
"estes homens e estas mulheres que renunciaram a pedir ao mundo as suas alegrias, para lhe darem exemplos de pobreza voluntária, de castidade heróica, de obediência reflectida, de dedicação sem recompensa humana, por vezes pagos com ultrajes e com o desprezo, fazem assim, no sacrifício da sua liberdade, o último, o mais magnifico, o mais decisivo uso da mesma liberdade".
Com que firmeza soube combater as iníquas leis que expulsaram Congregações e fecharam escolas! Na imprensa, aconselha uma resistência digna da qual ele próprio dá exemplo na sua querida Bretanha. E na Câmara acusa violentamente o Governo da violação da lei e do encerramento de 2 800 escolas. - "Ainda não é o bastante", interrompe cinicamente um membro da maioria, interrupção que De Mun magistralmente aproveita para exclamar:
"Meus senhores, como vos agradeço as vossas interrupções. Só lamento que as não façais em tom mais elevado ainda, pois é preciso que toda a Nação vos oiça; é preciso que nesta terra, onde há tantos surdos e tantos cegos, toda a gente saiba e veja claramente, duma vez para sempre, que quereis a destruição total e completa do ensino cristão". E voltando-se para o Presidente do Conselho, em indignado brado: "Com que direito pusestes a mão sobre a liberdade?"
E ao ser votada a lei da separação, exclama: "Desde Metz para cá, nunca experimentei tão amargamente a vergonha duma derrota sem glória!"
Afastado, por doença, da tribuna, escreve, sempre com igual energia, e chegamos assim ao ano de 1914: doente e cansado - tem já setenta e três anos - assiste à declaração de guerra; não pode combater, mas tem três filhos nas fileiras e, pela sua parte, durante dois meses, os seus artigos quotidianos são, no dizer de Paulo Bourget, a pulsação do coração da própria França, e outorgando-lhe o título de "ministro da confiança nacional". E é quase moribundo que ajuda a levantar o moral dum povo inteiro. Reclama a criação dum corpo de capelães, que é encarregado de organizar.
Já próximo do fim, acompanha com o maior sacrifício o Governo na sua retirada para Bordéus, até que, num belo dia de Outubro, ao acabar de escrever o seu artigo, sente uma sufocação, prenúncio da crise fatal. Recebe os Sacramentos e entra na agonia.
A morte deste herói, que teve por lema "servir a Igreja e a Pátria", foi um luto nacional a que se associou todo o Governo, o Presidente da República, amigos e adversários políticos, em verdadeira e apoteótica manifestação da União Sagrada.
Ver www.ssvp-portugal.org texto de Gilberto Custódio António Fonseca

Igreja da Comunidade de São Paulo do Viso

Nº 5 659 - SÉRIE DE 2024 - Nº (136) - SANTOS DE CADA DIA - 15 DE MAIO DE 2024 - NÚMERO ( 1 9 1 )

  Caros Amigos 17º ano com início na edição  Nº 5 469  OBSERVAÇÃO: Hoje inicia-se nova numeração anual Este é, portanto, o 136º  Número da S...