quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

CARTA AOS GÁLATAS - S. PAULO

Cartas de São Paulo
Carta aos Gálatas
DA ESCRAVIDÃO PARA A LIBERDADE
Introdução
A Galácia não era uma cidade, mas uma região da Ásia Menor. Na segunda viagem missionária, Paulo atravessou «a Frígia e a região da Galácia» (Act 16,6), e ali fundou comunidades, depois visitadas (Act 18,23) durante a terceira viagem (53-57 d.C.). O livro dos Actos mostra que Paulo permaneceu longo tempo em Éfeso (Act 19,1-21,1). Foi ali, provavelmente, que o Apóstolo teve notícias de um ataque contra ele e a sua doutrina nas comunidades da Galácia. Alguns judeo-cristãos, ligados a certos círculos de Jerusalém, queriam impor aos pagãos convertidos a circuncisão e a observância da Lei mosaica. Além disso, ridicularizavam Paulo, negando a sua autoridade de Apóstolo, porque ele não pertencia ao grupo dos Doze. Diziam também que a doutrina sobre a caducidade da Lei era invenção de Paulo e não correspondia ao pensamento da Igreja de Jerusalém.
A carta aos Gálatas foi escrita no fim da estada de Paulo em Éfeso, provavelmente no Inverno de 56- 57. É a única carta de Paulo que não começa com acção de graças e não termina com bênção, facto que testemunha a sua indignação. De facto, em tom agressivo, defende o seu apostolado e doutrina, reafirmando que o Evangelho nada tem a ver com a Lei mosaica nem com qualquer outro tipo de espiritualidade legalista.
A carta aos Gálatas foi definida como o manifesto da liberdade cristã e universalidade da Igreja. Daí a sua importância. Contudo, libertação de quê e para quê? Libertação de uma vida programada externamente por um minucioso código de regras e leis, que conservam o homem numa atitude infantil diante da vida. Libertação para uma vida adulta e consciente, graças ao uso responsável da liberdade. A vida do homem não deve ser determinada por um código de leis, mas por um compromisso pessoal e íntimo com Cristo, que está presente no profundo do ser humano (2,20). A liberdade é conduzida pelo amor a si mesmo e aos outros, amor que é compromisso activo com o crescimento do outro (5,6. 13-14).
Ao ler a carta aos Gálatas, nós, cristãos de hoje, somos convidados a uma séria revisão: onde está a motivação fundamental que dirige a nossa vida cristã? Numa série de observâncias mecânicas de leis e ritos? Ou no compromisso com Jesus Cristo, que se realiza através do amor responsável e criativo?
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Endereço e saudação
[1]Paulo, Apóstolo não da parte dos homens, nem por meio de um homem, mas da parte de Jesus Cristo e de Deus Pai, que O ressuscitou dos mortos. 2Eu e todos os irmãos que estão comigo, às Igrejas da Galácia. 3Que a graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco. 4Cristo entregou-Se pelos nossos pecados para nos arrancar deste mundo mau, segundo a vontade do nosso Deus e Pai. 5A Deus seja dada glória para sempre. Ámen.
Não existe outro Evangelho
— 6Estou admirado por estardes a abandonar tão depressa Aquele que vos chamou por meio da graça de Cristo, para aceitardes outro Evangelho. 7Na realidade, porém, não existe outro Evangelho. Há somente pessoas que semeiam confusão entre vós e querem deturpar o Evangelho de Cristo. 8Maldito aquele que vos anunciar um evangelho diferente daquele que vos anunciámos, ainda que sejamos nós mesmos ou algum anjo do céu. 9Já vos dissemos antes e agora repetimos: Maldito seja quem vos anunciar um evangelho diferente daquele que recebestes. 10Porventura procuro a aprovação dos homens, ou a aprovação de Deus? Ou procuro agradar aos homens? Se procurasse agradar aos homens, não seria servo de Cristo.
Paulo ensina o que recebeu de Deus
— 11Irmãos, eu vos declaro: o Evangelho por mim anunciado não é invenção humana. 12E, além disso, não o recebi nem aprendi através de um homem, mas por revelação de Jesus Cristo. 13Certamente ouvistes falar do que eu fazia quando estava no judaísmo. Sabeis como eu perseguia com violência a Igreja de Deus e fazia de tudo para a arrasar. 14Eu superava no judaísmo a maior parte dos compatriotas da minha idade e procurava seguir com todo o zelo as tradições dos meus antepassados. 15Deus, porém, escolheu-me antes de eu nascer e chamou-me por sua graça. Quando Ele resolveu 16revelar em mim o seu Filho, para que eu O anunciasse entre os pagãos, não consultei ninguém, 17nem subi a Jerusalém para me encontrar com aqueles que eram Apóstolos antes de mim. Pelo contrário, fui para a Arábia e depois voltei a Damasco. 18Três anos mais tarde, fui a Jerusalém para conhecer Pedro e fiquei com ele quinze dias. 19Entretanto, não vi nenhum outro Apóstolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor. 20Deus é testemunha: o que vos escrevo não é mentira. 21Depois fui para as regiões da Síria e da Cilícia, 22de modo que as Igrejas de Cristo na Judeia não me conheciam pessoalmente. 23Elas apenas ouviam dizer: «Aquele que nos perseguia, agora anuncia a fé que antes procurava destruir». 24E louvavam a Deus por minha causa.
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Unidade da Igreja e liberdade cristã
— 1Catorze anos depois, voltei a Jerusalém com Barnabé e levei também Tito comigo. 2Fui lá seguindo uma revelação. Expus-lhes o Evangelho que anuncio aos pagãos, mas expu-lo reservadamente às pessoas mais notáveis, para não me arriscar a correr ou ter corrido em vão. 3Nem Tito, meu companheiro, que é grego, foi obrigado a circuncidar-se. 4Nem mesmo por causa dos falsos irmãos, os intrusos que se infiltraram para espiar a liberdade que temos em Jesus Cristo, a fim de nos tornar escravos. 5Mas para que a verdade do Evangelho continuasse firme entre vós, em nenhum momento nos submetemos a essas pessoas. 6No que se refere àqueles mais notáveis — pouco me importa o que eles eram então, porque Deus não faz diferença entre as pessoas — esses mesmos notáveis nada mais me impuseram.
7Pelo contrário, viram que a mim fora confiada a evangelização dos não circuncidados, assim como a Pedro fora confiada a evangelização dos circuncidados. 8De facto, Aquele que tinha agido em Pedro para o apostolado entre os circuncidados, também tinha agido em mim a favor dos pagãos. 9Por isso, Tiago, Pedro e João, considerados como colunas, reconheceram a graça que me fora concedida, estenderam a mão a mim e a Barnabé em sinal de comunhão: nós trabalharíamos com os pagãos e eles com os circuncidados. 10Eles recomendaram-nos apenas que nos lembrássemos dos pobres, o que procurei fazer com grande solicitude.
O perigo da hipocrisia
— 11Quando Pedro foi a Antioquia, enfrentei-o em público, porque ele estava claramente errado. 12De facto, antes de chegarem algumas pessoas da parte de Tiago, ele comia com os pagãos; mas, depois que chegaram, Pedro começou a evitar os pagãos e já não se misturava com eles, pois tinha medo dos circuncidados. 13Os outros judeus também começaram a fingir com ele, de modo que até Barnabé se deixou levar pela hipocrisia dele.
14Quando vi que eles não estavam a agir conforme a verdade do Evangelho, disse a Pedro, na frente de todos: «Tu és judeu, mas vives como os pagãos e não como os judeus. Como podes, então, obrigar os pagãos a viverem como judeus?»
Jesus Cristo é o centro da vida
— 15Nós somos judeus de nascimento, e não pagãos pecadores. 16Sabemos, entretanto, que o homem não se torna justo pelas obras da Lei, mas somente pela fé em Jesus Cristo. Nós também acreditamos em Jesus Cristo, a fim de nos tornarmos justos pela fé em Cristo e não pela observância da Lei, pois com a observância da Lei ninguém se tornará justo. 17Nós procuramos tornar-nos justos em Cristo; mas também somos pecadores como os outros. Então, será que Cristo estaria ao serviço do pecado? Claro que não! 18De facto, se eu reconstruo o que destruí, eu próprio me torno culpável.
19Quanto a mim, foi através da Lei que eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Fui morto na cruz com Cristo. 20Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim. 21Portanto, não torno inútil a graça de Deus, porque, se a justiça vem através da Lei, então Cristo morreu em vão.
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A experiência dos Gálatas
— 1Gálatas insensatos! Quem vos enfeitiçou, vós que tivestes diante dos próprios olhos uma descrição clara de Jesus Cristo crucificado? 2Respondei-me somente uma coisa: foi por causa da observância da Lei que recebestes o Espírito, ou foi porque ouvistes a mensagem da fé? 3Sois tão insensatos, a ponto de ter começado com o Espírito e agora terminar na carne? 4Foi em vão que fizestes tantas experiências? Se é que foi em vão! 5Aquele que vos dá o Espírito e realiza milagres entre vós, será que Ele o faz por causa da observância da Lei, ou é porque ouvistes a mensagem da fé?
Os verdadeiros filhos de Abraão
— 6Foi assim que Abraão teve fé em Deus, e isso foi-lhe creditado como justiça. 7Sabei, portanto, que somente aqueles que têm fé são filhos de Abraão. 8É por isso que a Escritura, prevendo que Deus tornaria justos os pagãos através da fé, predisse a Abraão esta boa notícia: «Em ti todas as nações serão abençoadas». 9Portanto, aqueles que têm fé são os abençoados juntamente com Abraão, que acreditou. 10Os que observam a Lei, porém, estão todos debaixo do peso da maldição, pois a Escritura diz: «Maldito seja todo aquele que não é fiel a todas as coisas que estão escritas no livro da Lei para serem praticadas». 11Além disso, é evidente que ninguém pode tornar-se justo diante de Deus através da Lei, pois o justo viverá pela fé. 12Ora, a Lei não se baseia sobre a fé, pois diz: «Quem praticar os preceitos da Lei, viverá por meio deles». 13Cristo resgatou-nos da maldição da Lei, tornando-Se Ele próprio maldição por nós, como diz a Escritura: «Maldito seja todo aquele que for suspenso no madeiro». 14Isso aconteceu para que, em Jesus Cristo, a bênção de Abraão se estendesse aos pagãos e para que nós recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido.
A promessa e a Lei
— 15Irmãos, vou fazer uma comparação: ninguém pode invalidar ou modificar um testamento legitimamente feito. 16Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. A Escritura não diz no plural: «e aos descendentes»; mas no singular: «e ao seu descendente », isto é, a Cristo. 17O que eu quero dizer é o seguinte: Deus firmou um testamento de modo legítimo. A Lei, que veio quatrocentos e trinta anos mais tarde, não pode invalidar esse testamento, anulando assim a promessa. 18De facto, se é através da Lei que se recebe a herança, já não é mediante a promessa. Ora, foi por meio de uma promessa que Deus concedeu a sua graça a Abraão.
O papel da Lei
— 19Então, porque é que foi dada a Lei? Ela foi acrescentada para mostrar as transgressões, até à chegada do descendente, em vista do qual foi feita a promessa. A Lei foi promulgada pelos anjos, e um homem serviu de intermediário. 20Ora, esse intermediário não representa uma pessoa só, e Deus é um só. 21Então, a Lei estará contra as promessas de Deus? Claro que não! Se tivesse sido dada uma lei capaz de comunicar a vida, então sim, realmente a justiça viria da Lei.
22A Escritura, porém, colocou tudo sob o domínio do pecado, a fim de que a promessa fosse concedida aos que acreditam, mediante a fé em Jesus Cristo. 23Antes que chegasse a fé, a Lei tomava conta de nós, à espera da fé que devia ser revelada. 24A Lei, portanto, é para nós como um pedagogo que nos conduziu a Cristo, para que nos tornássemos justos mediante a fé.
A chegada da fé
— 25Chegada a fé, já não estamos sob os cuidados de um pedagogo. 26De facto, todos vós sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, 27pois todos vós, que fostes baptizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. 28Já não há diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vós sois um só em Jesus Cristo. 29E se pertenceis a Cristo, então sois de facto a descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa.
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Adultos em Cristo
— 1Vou dar-vos outro exemplo: durante todo o tempo em que o herdeiro é criança, embora seja dono de tudo, é como se fosse um escravo. 2Até chegar à data fixada pelo pai, ele fica sob tutores e pessoas que administram os seus negócios. 3O mesmo aconteceu connosco: éramos como crianças e andávamos como escravos, submetidos aos elementos do mundo.
4Quando, porém, chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher, submetido à Lei 5para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adoptados como filhos. 6A prova de que sois filhos é o facto de que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho que clama: Abba, Pai! 7Portanto, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro por vontade de Deus. 8No passado, quando não conhecíeis a Deus, éreis escravos de deuses, que na realidade não são deuses. 9Agora, porém, conheceis a Deus, ou melhor, agora Deus conhece-vos. Então, como é que quereis voltar de novo àqueles elementos fracos e sem valor? Porque quereis novamente ficar escravos deles? 10Vós observais cuidadosamente os dias, os meses, as estações e os anos! 11Receio ter-me cansado inutilmente por vós.
Apelo pessoal de Paulo
— 12Irmãos, peço-vos que sejais como eu, porque eu também me tornei como vós. Não me ofendestes em nada. 13E sabei que foi por causa de uma doença física que eu vos evangelizei na primeira vez. 14E vós não me desprezastes nem me rejeitastes, apesar do meu físico ser para vós uma provação. Pelo contrário, acolhestes-me como a um anjo de Deus ou até como a Jesus Cristo.
15Onde está a alegria que experimentastes então? Pois eu dou testemunho de que, se fosse possível, teríeis arrancado os próprios olhos para mos dar. 16E agora, será que me tornei inimigo, só porque vos disse a verdade? 17Esses homens mostram grande interesse por vós, mas a intenção deles não é boa; o que eles querem é separar-vos de mim, para que vos interesseis por eles. 18Seria bom que vos interessásseis sempre pelo bem, e não só quando estou presente entre vós. 19Meus filhos, sofro novamente como que dores de parto, até que Cristo esteja formado em vós. 20Gostaria de estar junto de vós neste momento, e de mudar o tom da minha voz, porque já não sei que atitude tomar convosco.
Escravidão e liberdade
— 21Vós que quereis ficar submetidos à Lei, dizei-me uma coisa: será que não ouvis o que diz a Lei? 22De facto, nela está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava e outro da mulher livre. 23O filho da escrava nasceu de modo natural, enquanto o filho da mulher livre nasceu por causa da promessa. Simbolicamente 24isso quer dizer o seguinte: as duas mulheres representam as duas alianças. Uma, a do monte Sinai, gera para a escravidão e é representada por Agar 25(pois o monte Sinai está na Arábia, que é o país de Agar). E Agar corresponde à Jerusalém actual, que é escrava juntamente com os seus filhos. 26Mas a Jerusalém do alto é livre, e é a nossa mãe. 27Porque está na Escritura: «Alegra-te, estéril, tu que não davas à luz! Grita de alegria, tu que não conheceste as dores do parto, porque os filhos da abandonada são mais numerosos do que os filhos daquela que tem marido».
28Vós, irmãos, sois filhos da promessa, como Isaac.
29Acontece agora como acontecia naquele tempo: o que nasceu de modo natural persegue aquele que nasceu segundo o Espírito. 30Mas o que é que diz a Escritura? «Expulsa a escrava e o filho dela, porque o filho da escrava não receberá a herança juntamente com o filho da mulher livre». 31Portanto, irmãos, nós não somos filhos da escrava, mas da mulher livre.
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A liberdade cristã
— 1Cristo libertou-nos para que sejamos verdadeiramente livres. Portanto, permanecei firmes e não vos submetais de novo ao jugo da escravidão.
2Eu, Paulo, declaro-vos: se vos fazeis circuncidar, Cristo de nada adiantará para vós. 3E a todo o homem que se faz circuncidar, eu declaro: agora está obrigado a observar toda a Lei. 4Vós que procurais a justiça na Lei desligastes-vos de Cristo e separastes-vos da graça. 5Nós, de facto, aguardamos no Espírito a esperança de nos tornarmos justos através da fé, 6porque, em Jesus Cristo, o que conta não é a circuncisão ou a não circuncisão, mas a fé que age por meio do amor. 7Vós corríeis bem. Quem vos impediu de obedecer à verdade? 8Tal influência não vem d’Aquele que vos chama. 9Um pouco de fermento basta para levedar toda a massa! 10Confio no Senhor que vós estais de acordo com isto. Aquele, porém, que vos perturba, seja ele quem for, sofrerá a condenação. 11Quanto a mim, irmãos, se é verdade que ainda prego a circuncisão, porque sou então perseguido? Nesse caso, o escândalo da cruz estaria anulado! 12Oxalá aqueles que vos perturbam se mutilem de uma vez por todas!
A vida segundo o Espírito
— 13Irmãos, fostes chamados para serdes livres. Que essa liberdade, porém, não se torne desculpa para viverdes satisfazendo os instintos egoístas. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros através do amor. 14Pois toda a Lei encontra a sua plenitude num só mandamento: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». 15Mas, se vos mordeis e vos devorais uns aos outros, tomai cuidado! Podereis acabar por vos destruirdes uns aos outros.
16Por isso é que vos digo: vivei segundo o Espírito, e já não fareis o que os instintos egoístas desejam. 17Porque os instintos egoístas têm desejos que estão contra o Espírito, e o Espírito contra os instintos egoístas; os dois estão em conflito, de modo que não fazeis o que quereis. 18Mas, se fordes conduzidos pelo Espírito, já não estareis submetidos à Lei. 19Além disso, as obras dos instintos egoístas são bem conhecidas: fornicação, impureza, libertinagem, 20idolatria, feitiçaria, ódio, discórdia, ciúme, ira, rivalidade, divisão, sectarismo, 21inveja, bebedeira, orgias e outras coisas semelhantes. Repito o que já disse: os que fazem tais coisas não herdarão o Reino de Deus. 22Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, 23mansidão e domínio de si. Contra essas coisas não existe lei. 24Os que pertencem a Cristo crucificaram os instintos egoístas juntamente com as suas paixões e desejos. 25Se vivemos pelo Espírito, caminhemos também sob o impulso do Espírito. 26Não sejamos ambiciosos de glória, provocando-nos mutuamente e tendo inveja uns dos outros.
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A lei de Cristo
— 1Irmãos, se alguém for apanhado em alguma falta, vós que sois espirituais, admoestai com mansidão essa pessoa. E cada um cuide de si mesmo, para não ser também tentado.
2Levai os fardos uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo. 3Se alguém pensa que é importante, quando de facto não o é, está-se enganando a si mesmo. 4Cada um examine a sua conduta, e então achará motivo de satisfação na sua própria pessoa, e não por comparação com os outros, 5porque cada um deve levar a sua própria carga.
6Aquele que recebe o ensinamento da Palavra deve repartir todos os bens com o catequista. 7Não vos iludais, pois com Deus não se brinca: cada um colherá aquilo que tiver semeado. 8Quem semeia nos instintos egoístas, dos instintos egoístas colherá corrupção; quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. 9Não nos cansemos de fazer o bem; se não desanimarmos, quando chegar o tempo, colheremos. 10Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, especialmente aos que pertencem à nossa família na fé.
Gloriar-se na cruz de Cristo
— 11Vede com que letras grandes vos escrevo de meu próprio punho. 12Os que querem impor-vos a circuncisão, são aqueles que estão preocupados em fazer boa figura. Fazem isso para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. 13De facto, nem mesmo os próprios circuncidados observam a Lei. Eles querem que vos circuncideis, apenas para eles se gloriarem de terem marcado o vosso corpo. 14Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para mim e eu para o mundo. 15O que importa não é a circuncisão ou a não circuncisão, mas sim a nova criação. 16Que a paz e a misericórdia estejam sobre todos os que seguirem esta norma, assim como sobre todo o Israel de Deus.
17De agora em diante ninguém mais me moleste, pois trago no meu corpo as marcas de Jesus.
Saudação final
— 18Irmãos, que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso espírito. Ámen.
«««««««««««««««««««««««««««««««««««REFLEXÃO»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»
[1]1,1-5: Dizendo-se Apóstolo, Paulo reivindica para si a mesma autoridade que os Doze. O Evangelho que ele prega é o Evangelho da salvação, obtida pela fé em Jesus Cristo e não pela observância da Lei.
6-10: Os Gálatas convertidos à fé cristã eram de origem pagã e nunca haviam praticado a religião judaica. Paulo anunciara-lhes que o Evangelho é, antes de tudo, a própria pessoa de Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou para nos libertar do pecado e nos trazer a salvação através da fé. Todavia, alguns judeus convertidos anunciavam «outro evangelho». Segundo eles, para a salvação era também necessário ser circuncidado e observar a Lei judaica.
11-24: Os judeo-cristãos criticam a autoridade de Paulo, dizendo que ele não é Apóstolo como aqueles que Jesus tinha escolhido. E Paulo defende-se, contando a história da sua vocação (cf. Act 9), nascida de uma experiência directa de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Tal experiência transformou-o profundamente: de perseguidor, tornou-se Apóstolo. Na origem da sua missão, portanto, não há nenhuma interferência humana. Quando Paulo vai a Jerusalém, é simplesmente para conhecer Pedro e Tiago (cf. Act 9,23-30).
2,1-10: Na segunda vez que vai a Jerusalém (cf. Act 15), Paulo tem duas preocupações: fazer um acordo com Pedro, Tiago e João, para manter a unidade das Igrejas; e, ao mesmo tempo, assegurar que os pagãos convertidos não precisem de observar a religião judaica. A viagem tem dois resultados importantes: as autoridades da Igreja de Jerusalém reconhecem o Evangelho, tal como Paulo e Barnabé o pregam aos pagãos; é feito um acordo prático, delimitando os campos de apostolado de Pedro e de Paulo. O sinal visível desse acordo é a preocupação e o auxílio aos pobres (cf. 2Cor 8-9).
11-14: Um judeu não podia comer ao lado de um pagão, pois ficaria impuro, violando a Lei. Contudo, no encontro em Jerusalém, ficara resolvido que os pagãos convertidos ao cristianismo não precisavam de observar a Lei judaica. A atitude de Pedro é hipócrita: por medo de ser criticado pelos judeo-cristãos, evita comer com os pagãos convertidos. O facto é grave, pois o comportamento hipócrita de um chefe da Igreja causa divisões, esvazia o trabalho da evangelização, chegando até mesmo a desviar a comunidade do verdadeiro Evangelho.
15-21: Para Paulo, nenhuma força humana, nem mesmo a Lei dos judeus tem o poder de arrancar o homem da situação de pecado em que vive. Só um acto de Deus pode realizá-lo, concedendo gratuitamente uma amnistia. E Deus concedeu-a através de Jesus Cristo, que morreu pelos nossos pecados. Essa amnistia proclamada na cruz chega até mim no momento em que eu acredito que, em Jesus Cristo, Deus realizou esse dom. Acreditar em Jesus Cristo é colocá-l’O no centro da vida, a ponto de poder dizer: «Já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim».
3,1-5: Os Gálatas ouviram a pregação do Evangelho, converteram-se a Jesus Cristo e foram baptizados. A partir da fé, puderam experimentar na sua vida o dom do Espírito, que reúne os homens e os faz colaborar entre si para o crescimento de todos. Até esse momento, os Gálatas não conheciam a Lei judaica. Para que serve agora circuncidar-se e observar tal Lei? O que poderiam dela receber a mais? A sua atitude mostra apenas que estão a voltar para trás.
6-14: Os pregadores judeo-cristãos certamente diziam aos Gálatas que Jesus era judeu e filho de Abraão; por isso os Gálatas deviam ser circuncidados e observar a Lei judaica, para serem filhos de Abraão e fiéis a Jesus. Contudo, Paulo salienta que, desde Abraão, a fé nas promessas é que dá a vida. Quem tem fé torna-se filho e herdeiro de Abraão. Quanto à Lei, em vez de tornar justo o homem, traz a maldição para os que não a cumprem. A promessa dirigia-se a Cristo (v. 16): submetendo-Se à maldição da Lei pela morte de cruz, Ele resgatou-nos pela fé e estendeu a todos os povos a bênção prometida a Abraão.
15-18: O testamento ou aliança de Deus, no qual estão contidas as promessas feitas a Abraão e ao seu descendente, não pode ser anulado pela Lei, pois esta veio depois das promessas. O «descendente» de que fala a Escritura é uma só pessoa e, para Paulo, essa pessoa só pode ser Cristo. Em Cristo, portanto, nós somos herdeiros de uma promessa que foi feita directamente a Abraão, e não através da Lei.
19-24: No mundo greco-romano, o pedagogo era um escravo severo, que tinha como tarefa vigiar, admoestar e castigar o comportamento das crianças de uma família. Esse foi o papel da Lei: mostrar a incapacidade de o homem se salvar, dar-lhe consciência dos seus pecados e mantê-lo na expectativa da realização da promessa, a fim de ser liberto da própria Lei.
25-29: O papel da Lei terminou com a chegada de Cristo. Pela fé n’Ele e pelo baptismo, os homens revestem-se de Cristo, isto é, são transformados para se tornarem imagem d’Ele (cf. Cl 3,11). Em Cristo, portanto, os homens ficam libertos de qualquer lei e de qualquer diferença que possa privilegiar uns e marginalizar outros.
4,1-11: Paulo coloca no mesmo plano os ritos religiosos pagãos e os ritos judaicos. Se os Gálatas se submeterem aos costumes judaicos, estarão a viver a mesma vida pagã de outrora, submissos e escravos de outras criaturas. O homem de fé deve depender unicamente do seu Criador, de quem se tornou filho, graças a Cristo. Cf. nota em Rm 8,14-17.
12-20: Paulo interrompe o raciocínio e, emocionado, relembra o entusiasmo inicial dos Gálatas, que o trataram com carinho e como enviado de Deus, apesar da sua enfermidade. Fala com ironia dos intrusos que os querem escravizar com as suas concepções. Por fim, mostra que está gerando os Gálatas em novo parto. O primeiro foi quando os gerou para a fé; agora, sofre até que Cristo esteja de tal forma presente nas suas vidas, a ponto de não precisarem de recorrer a qualquer outra coisa.
21-31: Paulo serve-se das histórias de Agar e Sara (cf. Gn 16,1-16; 21,8-21) para fazer a comparação entre a antiga e a nova Aliança. O filho que Abraão teve de Agar, «de modo natural», é escravo e simboliza os que estão sob a Lei. O filho que Abraão teve de Sara, «por causa da promessa», é livre como aqueles que nasceram do Espírito através da fé em Jesus.
5,1-12: Cristo libertou-nos, mas podemos tornar-nos escravos outra vez. Precisamos de permanecer vigilantes, a fim de mantermos a liberdade e nela crescer. Os vv. 5-6 apresentam a estrutura da vida cristã: o cristão é aquele que, pela fé, acolhe a acção do Espírito e a comunica através do amor; e é do Espírito que ele espera a ressurreição, a vida no Reino de Deus. A fé, o amor e a esperança são, portanto, as atitudes características do cristão, a estrutura da vida nova.
13-15: A vida cristã é um chamamento à liberdade. Esta, porém, não deve ser confundida com libertinagem, que é buscar e colocar tudo ao serviço de si mesmo. A verdadeira liberdade leva o homem a crescer no amor e no dom de si, para se pôr ao serviço dos outros. Como os sinópticos (cf. Mc 12,31), Paulo resume a Lei no mandamento de Lv 19,18: quem ama o próximo, realiza a vontade de Deus.
16-18: As expressões «segundo o Espírito» e «segundo os instintos egoístas» (lit.: carne) não designam duas partes do homem, mas duas orientações diferentes de comportamento: «segundo o Espírito» é a orientação do amor, que leva o homem a servir o outro; «segundo os instintos egoístas» é a orientação do egoísmo, que leva o homem a servir-se a si mesmo.
19-21: Paulo certamente não pretende fazer uma lista completa dos vícios do homem egoísta. Os que são enumerados aqui podem ser divididos em quatro categorias; a impureza, que perverte o amor humano; a idolatria e a feitiçaria, que pervertem a relação com Deus, único absoluto; as divisões, que pervertem as relações sociais; os excessos da mesa, que revelam a perda da dignidade humana. que leva o homem a servir o outro; «segundo os instintos egoístas» é a orientação do egoísmo, que leva o homem a servir-se a si mesmo.
19-21: Paulo certamente não pretende fazer uma lista completa dos vícios do homem egoísta. Os que são enumerados aqui podem ser divididos em quatro categorias; a impureza, que perverte o amor humano; a idolatria e a feitiçaria, que pervertem a relação com Deus, único absoluto; as divisões, que pervertem as relações sociais; os excessos da mesa, que revelam a perda da dignidade humana.
22-26: Os cristãos são chamados a viver de acordo com Jesus Cristo, isto é, deixando-se guiar pelo Espírito de Cristo, vivendo o amor. Como no caso dos vícios, aqui também não há a pretensão de fazer uma lista completa das virtudes. O que Paulo enumera são as condições em que nasce e se desenvolve o amor (fé, mansidão, domínio de si), os sinais da presença do amor (alegria e paz) e as manifestações activas do amor (paciência, bondade, benevolência).
6,1-6: A lei de Cristo não é um legalismo cristão que substitui o judaico. Equivale à «lei do Espírito, que dá a vida em Jesus Cristo» (Rm 8,2). A única lei que Jesus Cristo deixou aos cristãos, e que Ele próprio viveu, é a lei do amor (5,14). Obedecer à lei de Cristo é viver o amor como Jesus o viveu. O amor activo nasce da liberdade e empenha a totalidade do homem em tarefas concretas frente às situações da vida, levando-o a realizar muito mais do que qualquer lei poderia exigir.
7-10: O juízo final nada mais é do que a conclusão natural de uma escolha de vida. Porque, viver segundo os instintos egoístas leva à corrupção, à morte; e viver segundo o Espírito ou segundo o amor conduz à vida eterna.
11-18: Paulo acusa os pregadores judaizantes de orgulho, covardia e falsidade. De facto, eles visam a glória pessoal, fogem da perseguição e, embora preguem a Lei, eles próprios não a praticam. Paulo, porém, mesmo perseguido, gloria-se apenas na cruz de Cristo, porque é dela que nasceu a nova Criação, diante da qual ser ou não ser circuncidado é algo que já não tem importância.
LOUVADO SEJA DEUS,
NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
E SUA MÃE MARIA SANTÍSSIMA
POR TODOS OS SÉCULOS DOS SÉCULOS.
AMÉN.
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Caros amigos e Irmãos em Cristo;
Com a publicação da Carta aos Gálatas, termino hoje a transcrição que decidi levar a cabo, das Cartas de S. Paulo (não exactamente pela ordem em que estão editadas no site da http://ecclesia.pt) - mas creio que não é por isso que virá mal ao Mundo .... o que interessa de facto, quanto a mim - é que as consegui transcrever todas, apesar das dificuldades que tive por apenas estar a utilizar um dedo da mão direita, por ter o braço esquerdo engessado.
Estou satisfeito por ter completado esta tarefa e agora vou tentar transcrever mais coisas sobre S. Paulo, do mesmo modo que fiz até hoje, através do mesmo site acima referenciado, isto pelo menos até ao próximo dia 27, altura em que julgo ser possível retirar o gesso, queira Deus.
Desculpem-me qualquer coisinha ... obrigado e bem hajam.
António Fonseca

CARTA AOS FILIPENSES - S. PAULO

Cartas de São Paulo
Carta aos Filipenses
O VERDADEIRO EVANGELHO
Introdução
Filipos foi a primeira cidade europeia a receber a mensagem cristã (Act 16,6-40). Paulo chegou lá na Primavera do ano 50, durante a segunda viagem missionária.
O primeiro núcleo da comunidade por ele fundada formou-se através de reuniões em casa de Lídia, uma negociante de púrpura, que acolhera Paulo por ocasião da sua visita. O Apóstolo voltou a Filipos outras vezes, durante as suas várias passagens pela Macedónia.
Os cristãos de Filipos foram sempre os mais ligados ao Apóstolo e diversas vezes o socorreram com auxílio material (Fl 4,16; 2Cor 11,9).
A carta aos Filipenses foi escrita na prisão, provavelmente em Éfeso, entre os anos 55-57 (Act 19). Paulo está incerto sobre o rumo que a sua situação vai tomar: poderá ser morto ou posto em liberdade. Mas espera ser libertado e poder visitar de novo, pessoalmente, a comunidade de Filipos.
Vários motivos levam Paulo a escrever esta carta:
— deseja agradecer o auxílio enviado pela comunidade (2,25; 4,10-20); — anuncia a visita de Timóteo a Filipos e explica a razão do regresso imprevisto de Epafrodito (2,19- 30); — adverte a comunidade sobre a divisão causada pelo espírito de competição e egoísmo de alguns (2,1-4); — previne a comunidade contra os pregadores judaizantes, que colocam a salvação na circuncisão e na observância da Lei (3,2-11); — relembra aos cristãos de Filipos que a autenticidade do Evangelho, anunciado e vivido, está na cruz de Cristo (2,5-11).
Paulo demonstra afecto e gratidão pela comunidade de Filipos e, por isso, quer vê-la sempre fiel ao Evangelho. Alguns pregadores insistem em que a salvação depende da Lei. O Apóstolo mostra com vigor que a salvação só depende de Jesus Cristo. É Jesus que, feito homem e morto numa cruz, recebeu do Pai o poder de dar aos homens a salvação. E todo aquele que não transmite isto pelo testemunho de vida e pela palavra, será sempre falso transmissor do Evangelho. Esta carta, portanto, fornece o critério para que uma comunidade cristã saiba reconhecer o verdadeiro Evangelho e quais são os pregadores autênticos.
1
Endereço e saudação
[1]Eu, Paulo, e Timóteo, servos de Jesus Cristo, enviamos esta carta a todos os cristãos que moram na cidade de Filipos, assim como aos seus dirigentes e diáconos. 2Que a graça e a paz de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco.
Agradecimento e pedido
— 3Agradeço ao meu Deus todas as vezes que me lembro de vós. 4E sempre, nas minhas orações, rezo por todos com alegria, 5porque cooperastes no anúncio do Evangelho, desde o primeiro dia até agora. 6Tenho a certeza de que Deus, que em vós começou esse bom trabalho, vai continuá-lo até que seja concluído no dia de Jesus Cristo. 7É justo que eu pense assim de todos vós, porque estais no meu coração. De facto participais comigo da graça que recebi, seja nas prisões, seja na defesa e confirmação do Evangelho. 8Deus é testemunha de que eu vos quero bem a todos com a ternura de Jesus Cristo.
9Este é o meu pedido: que o vosso amor cresça cada vez mais em perspicácia e sensibilidade em todas as coisas. 10Deste modo, podereis distinguir o que é melhor, e assim chegar íntegros e inocentes ao dia de Cristo. 11Estareis repletos então dos frutos de justiça obtidos por meio de Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus.
Prisão e anúncio do Evangelho
— 12Irmãos, quero que saibais: o que me aconteceu ajudou o Evangelho a progredir. 13Tanto no pretório como em outros lugares, todos ficaram a saber que estou na prisão por causa de Cristo. 14E a maioria dos irmãos, vendo que estou na prisão, têm mais confiança no Senhor, e mais ousadia para anunciar sem medo a Palavra. 15É verdade que alguns proclamam Cristo por inveja e espírito de competição; outros, porém, anunciam com boa intenção. 16Estes proclamam a Cristo por amor, sabendo que a minha missão é defender o Evangelho. 17Os outros não anunciam com sinceridade, mas por competição, pensando que vão aumentar os meus sofrimentos enquanto estou na prisão. 18Mas, que importância anunciado, e eu fico contente com isso e continuarei a alegrar-me.
Viver para Cristo
— 19De facto, sei que tudo isto há-de servir para a minha salvação, através das vossas orações e do Espírito de Jesus Cristo, que me socorre. 20O que desejo e espero é não fracassar, mas, agora como sempre, manifestar com toda a coragem a glória de Cristo no meu corpo, tanto na vida como na morte. 21Pois, para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro. 22Mas, se eu ainda continuar a viver, poderei fazer algum trabalho útil. Por isso é que não sei bem o que escolher. 23Fico na indecisão: o meu desejo é partir desta vida e estar com Cristo, o que é muito melhor. 24No entanto, por vossa causa, é mais necessário que eu continue a viver. 25Convencido disso, sei que vou ficar convosco. Sim, vou ficar com todos vós, para vos ajudar a progredir e a ter alegria na fé. 26Assim, quando eu voltar para junto de vós, o vosso orgulho em Jesus Cristo irá aumentar por causa de mim.
Lutar pela fé
— 27Uma só coisa: comportai-vos como pessoas dignas do Evangelho de Cristo. Deste modo, indo ver-vos ou estando longe, que eu oiça dizer que estais firmes num só espírito, lutando juntos numa só alma pela fé do Evangelho, 28e que não temeis os vossos adversários. Para eles, isso é sinal de perdição, mas para vós é sinal de salvação, e isso vem de Deus. 29Pois Deus concedeu-vos não só a graça de acreditar em Cristo, mas também de sofrer por Ele, 30empenhados na mesma luta em que me vistes empenhado, e na qual, como sabeis, ainda agora me empenho.
2
O Evangelho autêntico
— 1Portanto, se há um conforto em Cristo, uma consolação no amor, se existe uma comunhão de espírito, se existe ternura e compaixão, 2completai a minha alegria: tende uma só aspiração, um só amor, uma só alma e um só pensamento. 3Não façais nada por competição e por desejo de receber elogios, mas por humildade, cada um considerando os outros superiores a si mesmo. 4Que cada um procure, não o próprio interesse, mas o interesse dos outros. 5Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo:
6Ele tinha a condição divina, mas não Se apegou à sua igualdade com Deus. 7Pelo contrário, esvaziou-Se a Si mesmo, assumindo a condição de servo e tornando-Se semelhante aos homens. Assim, apresentando-Se como simples homem, 8humilhou-Se a Si mesmo, tornando-Se obediente até à morte, e morte de cruz! 9Por isso, Deus O exaltou grandemente e Lhe deu o Nome que está acima de qualquer outro nome; 10para que, ao Nome de Jesus, se dobre todo o joelho no Céu, na Terra e sob a Terra; 11e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
A tarefa da comunidade cristã
— 12Portanto, meus amados, obedecendo como sempre, não só como no tempo em que eu estava aí presente, mas muito mais agora que estou longe, continuai a trabalhar com temor e tremor, para a vossa salvação. 13De facto, é Deus que desperta em vós a vontade e a acção, conforme a sua benevolência.
14Fazei tudo sem murmurações e sem críticas, 15para serdes inocentes e íntegros, como perfeitos filhos de Deus que vivem no meio de gente pecadora e corrompida, onde brilhais como astros no mundo, 16apegando-vos firmemente à Palavra da vida. Deste modo, no Dia de Cristo, orgulhar-me-ei de não ter corrido nem trabalhado em vão. 17E mesmo que o meu sangue seja derramado sobre o sacrifício e sobre a oferta da vossa fé, fico contente e alegro-me com todos vós. 18Assim, também vós alegrai-vos e congratulai-vos comigo.
Timóteo e Epafrodito: companheiros na luta
— 19Espero no Senhor Jesus enviar-vos brevemente Timóteo, para que também eu me anime com as vossas notícias. 20De facto, ele é o único que sente como eu e se preocupa sinceramente com os vossos problemas. 21Porque todos os outros buscam os próprios interesses, e não os de Jesus Cristo. 22Vós mesmos sabeis como Timóteo deu provas do eu valor: como filho junto do pai, ele colocou-se ao meu lado ao serviço do Evangelho. 23Espero, portanto, enviar-vo-lo logo que eu veja claro como vai ficar a minha situação. 24Além disso, tenho fé no Senhor de que também eu irei ver-vos brevemente. 25Entretanto, achei necessário enviar-vos Epafrodito, este nosso irmão que é também meu companheiro de trabalho e de luta, que me enviastes para me socorrer nas minhas necessidades. 26Ele estava com muita saudade de todos vós, e ficou muito preocupado, porque soubestes que ele estava doente. 27De facto, ele esteve muito doente, e quase morreu. Deus, porém, teve pena dele, e não só dele, mas também de mim, para que eu não ficasse numa tristeza ainda maior. 28Por isso, apressei-me a mandá-lo: assim podereis vê-lo de novo, ficareis contentes, e eu já não ficarei preocupado. 29Recebei Epafrodito no Senhor, com grande alegria. Tende grande estima por pessoas como ele, 30pois quase morreu pela causa de Cristo, arriscando a sua vida para atender às minhas necessidades, em vosso nome.
3
O caminho da salvação
— 1Quanto ao resto, meus irmãos, alegrai-vos no Senhor. Escrever-vos sempre as mesmas coisas não é penoso para mim, e é útil para vós. 2Cuidado com os cães, cuidado com os maus operários, cuidado com os falsos circuncidados. 3Os verdadeiros circuncidados somos nós, que prestamos culto, movidos pelo Espírito de Deus. Nós colocamos a nossa glória em Jesus Cristo e não confiamos na carne. 4Eu, aliás, até poderia confiar na carne. Se alguém acha que pode confiar na carne, eu mais ainda: 5fui circuncidado ao oitavo dia, sou israelita de nascimento, da tribo de Benjamim, hebreu filho de hebreus. Quanto à Lei judaica, fariseu; 6quanto ao zelo, perseguidor da Igreja; quanto à justiça que se alcança pela observância da Lei, sem reprovação. 7Por causa de Cristo, porém, tudo o que eu considerava como lucro, agora considero-o como perda. 8E mais ainda: considero tudo uma perda, diante do bem superior que é o conhecimento do meu Senhor Jesus Cristo. Por causa d’Ele perdi tudo, e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo, 9e estar com Ele. E isso, não mediante uma justiça minha, vinda da Lei, mas com a justiça que vem através da fé em Cristo, aquela justiça que vem de Deus e se apoia sobre a fé. 10Quero, assim, conhecer a Cristo, o poder da sua ressurreição e a comunhão nos seus sofrimentos, para me tornar semelhante a Ele na sua morte, 11a fim de alcançar, se possível, a ressurreição dos mortos. 12Não que eu já tenha conquistado o prémio ou que já tenha chegado à perfeição; apenas continuo a correr para o conquistar, porque eu também fui conquistado por Jesus Cristo. 13Irmãos, não acho já ter alcançado o prémio, mas uma coisa faço: esqueço-me do que fica para trás e avanço para o que está adiante. 14Lanço-me em direcção à meta, em vista do prémio do alto, que Deus nos chama a receber em Jesus Cristo.
A maturidade cristã
— 15Portanto, todos nós que somos perfeitos, devemos ter este sentimento. E, se em alguma coisa pensais de maneira diferente, Deus vos esclarecerá. 16Entretanto, qualquer que seja o ponto a que chegámos, caminhemos na mesma direcção.
17Irmãos, sede meus imitadores e observai os que vivem de acordo com o modelo que tendes em nós. 18Já vos disse muitas vezes, e agora repito-o com lágrimas: há muitos que são inimigos da cruz de Cristo. 19O seu fim é a perdição; o seu Deus é o ventre, a sua glória está no que é vergonhoso, e os seus pensamentos em coisas da terra.
20A nossa cidadania, porém, está no Céu, de onde esperamos ansiosamente o Senhor Jesus Cristo como Salvador. 21Ele vai transformar o nosso corpo miserável, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, graças ao poder que Ele possui de submeter a Si todas as coisas.
4
Recomendações
— 1Assim, meus queridos e saudosos irmãos, minha alegria e minha coroa, continuai firmes no Senhor, ó amados. 2Peço a Evódia e a Síntique que façam as pazes no Senhor. 3E a ti, Sízigo, meu fiel companheiro, peço que as ajudes, porque elas me ajudaram na luta pelo Evangelho, com Clemente e os meus outros colaboradores. Os seus nomes estão no livro da vida. 4Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos! 5Que a vossa bondade seja notada por todos. O Senhor está próximo. 6Não vos inquieteis com nada. Apresentai a Deus todas as vossas necessidades através da oração e da súplica, em acção de graças. 7Então a paz de Deus, que ultrapassa toda a compreensão, guardará em Jesus Cristo os vossos corações e os vossos pensamentos.
8Finalmente, irmãos, ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso, ou que de algum modo mereça louvor. 9Praticai tudo o que aprendestes e recebestes como herança, o que ouvistes e observastes em mim. Então o Deus da paz estará convosco.
Gratidão pela oferta da comunidade
— 10Foi grande a minha alegria no Senhor, porque finalmente vi florescer de novo o vosso interesse por mim. Na verdade, já tínheis esse interesse antes, mas faltava oportunidade para o demonstrar. 11Não digo isto por estar a passar privações, pois aprendi a arranjar-me em qualquer situação. 12Aprendi a viver na necessidade e na abundância; estou acostumado a toda e qualquer situação: viver saciado e passar fome, ter abundância e passar necessidade. 13Tudo posso n’Aquele que me fortalece. 14Entretanto, fizestes bem, tomando parte na minha aflição. 15Vós bem sabeis, filipenses, que no início da pregação do Evangelho, quando parti da Macedónia, nenhuma outra Igreja, senão vós, teve contacto comigo em questão de dar e receber. 16Já em Tessalónica me enviastes ajuda por mais de uma vez, para aliviar as minhas necessidades. 17Não que eu espere presentes. Pelo contrário, quero ver mais lucro na vossa conta. 18De momento, tenho tudo em a bundância; tenho até de sobra, especialmente agora que Epafrodito me trouxe aquilo que me enviastes. É como um perfume de suave odor, sacrifício agradável que Deus aceita. 19O meu Deus, por sua vez, atenderá com grandeza a todas as vossas necessidades, conforme a sua riqueza em Jesus Cristo. 20Ao nosso Deus e Pai seja dada a glória para sempre. Ámen.
Saudações finais
— 21Saudai a todos os cristãos. Os irmãos que estão comigo vos saúdam. 22Todos os cristãos vos saúdam, especialmente os da casa de César.
=============================reflexão ««««««««««««««««««««««««««««
[1]1,1-2: A carta é dirigida a toda a comunidade. Os dirigentes (em grego: epíscopos) não são exactamente os bispos; trata-se de um grupo, cuja função é zelar pelo bom andamento da comunidade. Os diáconos são os encarregados de atender às necessidades materiais da comunidade e, talvez, também de pregar.
3-11: A oração de Paulo mostra o seu afecto particular pela comunidade de Filipos. De facto, esta comunidade desde o início coopera e participa activamente no trabalho da evangelização, seja colaborando no anúncio, defesa e confirmação do Evangelho, seja pela ajuda material oferecida ao Apóstolo. Paulo só pede uma coisa: o crescimento no amor. Vivendo o amor, a comunidade será sempre capaz de distinguir o que mais favorece a prática da justiça.
12-18: Paulo está no pretório ou caserna dos guardas do governador da província. A sua prisão foi vantajosa para o Evangelho, pois todos ficaram a saber que ele está preso por causa de Cristo. Com isto, muitos cristãos sentem-se fortalecidos para anunciar o Evangelho com amor e espírito de colaboração. Outros aproveitam-se da prisão de Paulo e, com espírito de competição e inveja, querem assumir a chefia.
19-26: Paulo provavelmente tem meios para ser solto da prisão e escapar à morte. Mas encontra-se num dilema: viver ou morrer? No contexto da sua fé, as duas coisas equivalem-se: viver é estar em função de Cristo, ou seja, da evangelização; e morrer é lucro, pois leva a estar com Cristo. Paulo resolve o dilema, não levando em conta o seu próprio interesse, mas o que é melhor para a comunidade: continuar vivo, para ajudar os Filipenses a crescer e a realizar--se plenamente na fé.
27-30: Os adversários são talvez os pregadores judaizantes, que anunciam um evangelho sem cruz e sem necessidade da graça de Deus. Paulo espera que a comunidade se mantenha firme e unida, testemunhando o Evangelho autêntico. Não se trata apenas de acreditar em Cristo, mas de empenhar-se de facto com Cristo numa luta que pode trazer perseguição e sofrimento, assim como levou Paulo à prisão.
2,1-4: Paulo convida a comunidade a evitar as divisões causadas pelo espírito de competição, pelo desejo de receber elogios e pela busca dos próprios interesses. Tais vícios denotam o fechamento egoísta e a autopromoção à custa dos outros. A comunidade deve zelar pela harmonia interna e, para isso, é necessário que haja humildade, cada um considerando os outros superiores a si, e que o empenho tenha sempre em vista o bem comum.
5-11: Citando um hino conhecido, Paulo mostra qual é o Evangelho da cruz, o Evangelho autêntico, e apresenta em Cristo o modelo da humildade. Embora tivesse a mesma condição de Deus, Jesus apresentou-Se entre os homens como simples homem. E mais: abriu mão de qualquer privilégio, tornando-Se apenas homem que obedece a Deus e serve os homens. Como se isso não bastasse, Jesus serviu até ao fim, perdendo a honra ao morrer na cruz, como se fosse criminoso. Por isso Deus O ressuscitou e O colocou no posto mais elevado que possa existir, como Senhor do Universo e da História. Os cristãos são convidados a fazer o mesmo: abrir mão de todo e qualquer privilégio, até mesmo da boa fama, para se colocarem ao serviço dos outros, até ao fim.
12-18: A vida da comunidade não deve depender da presença dos seus dirigentes e chefes, mas da obediência a Deus, a exemplo de Cristo (2,8). Inserida na sociedade, a tarefa da comunidade cristã é ser a família de Deus que se torna luz do mundo, através do testemunho do Evangelho, «Palavra de vida».
19-30: Paulo não se preocupa apenas em doutrinar a comunidade. Ele também é sensível às necessidades humanas: amizade, afecto, gratidão, auxílio mútuo, problemas pessoais, bom acolhimento. Timóteo, cujo nome aparece vinte e quatro vezes no NT, é o maior colaborador do Apóstolo. Epafrodito, talvez jovem, fora enviado pela comunidade para atender às necessidades de Paulo na prisão. 3,1-14: Paulo adverte a comunidade contra os pregadores judaizantes, chamando-lhes «cães», apelido que os judeus davam aos pagãos. Para os judaizantes, a salvação e a justiça dependem da circuncisão (carne) e da observância da Lei: a circuncisão permite entrar para o povo de Deus; a Lei leva o homem a ser justo. Paulo frisa que nenhum ritual ou lei pode salvar ou justificar o homem. Pois a salvação e a justiça são dons de Deus e dependem da fé em Jesus e de uma vida movida pelo Espírito. A fé leva o cristão a participar na morte e ressurreição de Jesus. Essa participação, porém, não é automática; supõe que o cristão se deixe guiar pelo Espírito, dando o testemunho que provoca perseguições, sofrimentos, e até mesmo a morte.
15-21: A perfeição é a maturidade cristã que coloca a cruz e a ressurreição como centro da vida.
Paulo, que deixou tudo em troca da fé em Cristo, apresenta-se como modelo para a comunidade, alertando-a de novo quanto aos «inimigos da cruz de Cristo», isto é, aos judaizantes do v. 2. Em vez de colocar a salvação em ritos, através da vinda de Jesus, como Salvador e Senhor que renova todas as coisas.
4,1-9: Nada sabemos sobre as pessoas nomeadas nos vv. 2-3, a não ser que devem estar profundamente comprometidas com o trabalho de evangelização. Paulo parece jogar com o significado dos nomes (Evódia = «caminho fácil»; Síntique = «encontro»; Sízigo = «companheiro de canga»). A alegria cristã baseia-se na salvação obtida por Cristo, e é testemunhada sobretudo pela bondade que se irradia para todos e pela tranquila confiança em Deus. Os cristãos devem ser fiéis ao que aprenderam com os seus evangelizadores, mas também precisam de estar abertos a todas as coisas sadias que encontram na sociedade.
10-20: Paulo agradece o auxílio que os filipenses lhe enviaram através de Epafrodito. Alegra-se não tanto pelo auxílio material recebido, mas pelo afecto e crescimento espiritual que a comunidade demonstra através da oferta.
21-23: «Os da casa de César» são todos aqueles que trabalham para o imperador e se encontram nas diversas cidades. A saudação final tem forma litúrgica, pois Paulo sabe que a carta vai ser lida numa reunião da comunidade.
LOUVADO SEJA DEUS, NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
E SUA MÃE MARIA SANTISSIMA, PARA TODO O SEMPRE.
AMÉN
António Fonseca

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

CARTA AOS EFÉSIOS - S. PAULO

Cartas de São Paulo
Carta aos Efésios
VIDA PLENA EM CRISTO
Introdução
As quatro cartas aos Filipenses, a Filémon, aos Colossenses e aos Efésios formam o grupo das cartas do cativeiro. As três primeiras foram muito provavelmente escritas em Éfeso, entre os anos 55-57. As cartas aos Efésios e Colossenses talvez tenham sido escritas na mesma ocasião; é o que se deduz da semelhança entre elas e pelo facto de mencionarem Tíquico como portador de ambas (Ef 6,21; Cl 4,7). O Apóstolo parece não conhecer pessoalmente os destinatários dessas duas cartas. Isto leva-nos a pensar que a carta aos Efésios, na origem, não teve destinatário preciso; talvez fosse uma circular destinada às comunidades da região vizinha de Éfeso; e alguns chegam a pensar que seria a mesma carta dirigida à Igreja de Laodiceia, citada em Cl 4,16. Note-se que a expressão «em Éfeso» (Ef 1,1) falta em diversos manuscritos antigos.
A carta aos Efésios é fruto de longa e amadurecida meditação teológica. Contemplando o projecto de Deus para a salvação da Humanidade, o olhar de Paulo concentra-se em Jesus Cristo no Céu. É a ideia central da carta. Cristo, porém, não está longe do mundo nem dos homens. De facto, a sua soberania engloba toda a Criação e com ela toda a Humanidade, que assim constituem o seu Corpo, a Igreja, na qual se manifesta o grande mistério agora revelado, ou seja: em Cristo, Deus reúne todos os homens na paz e na unidade, excluindo quaisquer separações de raça ou de origem religiosa. Cristo é o centro e ápice do eterno projecto de Deus, é o caminho da reconciliação e reunião de todos os homens no único povo de Deus. A Igreja abarca a Humanidade inteira, e Paulo contempla-a nas dimensões do Universo. Ela é descrita sob três imagens: esposa (5,22-23), corpo (1,23; 4,16) e edifício (2,19-22). Deste modo, o Apóstolo relembra os laços íntimos e orgânicos que unem os homens a Cristo e entre si na comunidade, para a levar ao pleno desenvolvimento. A carta aos Efésios é a carta do mistério da Igreja.
1
Endereço e saudação
[1]Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, aos cristãos que estão em Éfeso e fiéis em Jesus Cristo. 2Que a graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco.
A graça não tem limites
3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso SenhorJesus Cristo: Ele nos abençoou com todas as bênçãos espirituais, no Céu,em Cristo. 4 Ele nos escolheu em Cristo antes de criar o mundo para que sejamos santos e sem defeito diante d’Ele, no amor. 5 Ele nos predestinou para sermos seus filhos adoptivos por meio de Jesus Cristo,conforme a benevolência da sua vontade, 6 para o louvor da sua glória e da graça que Ele derramou abundantemente sobre nós por meio do seu Filho querido. 7 Por meio do sangue de Cristo é que fomos libertos, e n’Ele as nossas faltas foram perdoadas, conforme a riqueza da sua graça. 8 Deus derramou sobre nós essa graça, abrindo-nos para toda a sabedoria e inteligência. 9 Ele fez-nos conhecer o mistério da sua vontade,a livre decisão que havia tomado outrora 10de levar a História à sua plenitude, reunindo o Universo inteiro, tanto as coisas celestes como as terrestres, sob uma só Cabeça, Cristo. 11Em Cristo recebemos a nossa parte na herança, conforme o projecto d’Aquele que tudo conduz segundo a sua vontade: fomos predestinados 12a ser o louvor da sua glória, nós, que já antes esperávamos em Cristo. 13Em Cristo, também vós ouvistes a Palavra da verdade, o Evangelho que vos salva. Em Cristo, ainda, acreditastes, e fostes marcados com o selo do Espírito prometido, o Espírito Santo, 14que é a garantia da nossa herança, enquanto esperamos a completa libertação do povo que Deus adquiriu para o louvor da sua glória.
Agradecimento e pedido
15Tenho ouvido falar da fé que tendes no Senhor Jesus e do vosso amor para com todos os cristãos. 16Por isso, não cesso de dar graças a vosso respeito, quando vos menciono nas minhas orações. 17Que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vos revele Deus e faça que O conheçais profundamente. 18Que vos ilumine os olhos da mente, para que compreendais a esperança para a qual Ele vos chamou; para que entendais como é rica e gloriosa a herança destinada ao seu povo; 19e compreendais o grandioso poder com que Ele age em favor de nós que acreditamos, conforme a sua força poderosa e eficaz. 20Ele manifestou-a em Cristo, quando O ressuscitou dos mortos e O fez sentar-Se à sua direita no Céu, 21muito acima de qualquer principado, autoridade, poder e soberania, e de qualquer outro nome que se possa nomear, não só no presente, mas também no futuro. 22De facto, Deus colocou tudo debaixo dos pés de Cristo e colocou-O acima de todas as coisas, como Cabeça da Igreja, 23a qual é o seu corpo, a plenitude d’Aquele que plenifica tudo em todas as coisas.
2
Salvos pela graça
1Vós estáveis mortos por causa das faltas e pecados que cometíeis. 2Outrora vivíeis nessas faltas e pecados, seguindo o modo de pensar deste mundo, seguindo o príncipe do poder do ar, o espírito que agora age nos homens desobedientes. 3Antigamente também nós andávamos como eles, submetidos aos desejos da carne, obedecendo aos caprichos do instinto e da imaginação; como os outros, éramos, por natureza, merecedores da ira de Deus. 4Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, 5deu-nos a vida juntamente com Cristo, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas. Fostes salvos pela graça! 6Na pessoa de Jesus Cristo, Deus ressuscitou-nos e fez-nos sentar no Céu. 7Assim, com a sua bondade para connosco em Jesus Cristo, Ele quis mostrar para os tempos futuros a incomparável riqueza da sua graça.
8De facto, fostes salvos pela graça, por meio da fé; e isto não vem de vós, mas é dom de Deus. 9Isto não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho. 10Porque foi Deus quem nos fez, e em Jesus Cristo fomos criados para as boas obras que Deus já havia preparado, a fim de que nos ocupássemos com elas.
Todos reunidos em Cristo
11Lembrai-vos de que vós, pagãos de nascimento, éreis chamados incircuncisos por aqueles que se dizem circuncidados, devido à circuncisão que se faz na carne com mão humana. 12Lembrai-vos de que nesse tempo estáveis sem Cristo, afastados da cidadania de Israel, estranhos para as alianças da promessa, sem esperança e sem Deus neste mundo. 13Mas agora, em Jesus Cristo, vós que estáveis longe fostes trazidos para perto, graças ao sangue de Cristo. 14Cristo é a nossa paz. De dois povos, Ele fez um só. Na sua carne derrubou o muro da separação: o ódio. 15Aboliu a Lei dos mandamentos e preceitos. Ele quis, a partir do judeu e do pagão, criar em Si mesmo um homem novo, estabelecendo a paz. 16Quis reconciliá-los com Deus num só corpo, por meio da cruz; foi nela que Cristo matou o ódio. 17Ele veio anunciar a paz a vós, que estáveis longe, e a paz àqueles que estavam perto. 18Por meio de Cristo, podemos, uns e outros, apresentar-nos diante do Pai, num só Espírito.
19Vós, portanto, já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos do povo de Deus e membros da família de Deus. 20Pertenceis ao edifício que tem como alicerce os Apóstolos e os profetas; e o próprio Jesus Cristo é a pedra principal dessa construção. 21Em Cristo, toda a construção se ergue, bem ajustada, para formar um templo santo no Senhor. 22Em Cristo, também vós sois integrados nessa construção, para vos tornardes morada de Deus, por meio do Espírito.
3
Paulo e o mistério de Cristo
1Por isso, é que eu, Paulo, estou prisioneiro de Cristo em favor de vós, os pagãos... 2Certamente ouvistes falar do modo como a graça de Deus me foi confiada em vosso benefício. 3Foi por revelação que Deus me fez conhecer o mistério que acabo de expor brevemente. 4Lendo esta carta, podereis entender a percepção que eu tenho do mistério de Cristo. 5Deus não manifestou esse mistério às gerações passadas da mesma forma com que o revelou agora, pelo Espírito, aos seus santos Apóstolos e profetas: 6em Jesus Cristo, por meio do Evangelho, os pagãos são chamados a participar da mesma herança, a formar o mesmo corpo e a participar da mesma promessa. 7Eu fui feito ministro desse Evangelho pelo dom da graça que Deus me concedeu através do seu poder eficaz. 8A mim, o menor de todos os cristãos, foi dada a graça de anunciar aos pagãos a incalculável riqueza de Cristo, 9e de esclarecer a todos como se realiza o mistério que esteve sempre escondido em Deus, o Criador do Universo. 10Deste modo, os principados e as autoridades no Céu doravante conhecem, graças à Igreja, a multiforme sabedoria de Deus, 11conforme o projecto eterno que Ele executou em Jesus Cristo nosso Senhor. 12N’Ele ousamos aproximar-nos de Deus com aquela confiança que a fé em Cristo nos dá. 13Peço-vos: não fiqueis abatidos com as tribulações que eu enfrento por vossa causa, pois elas são motivo de glória para vós.
Enraizados e alicerçados no amor
14É por isso que eu dobro os joelhos diante do Pai, 15de quem recebe o nome toda a família, no Céu e na Terra. 16Que Ele Se digne, segundo a riqueza da sua glória, fortalecer-vos a todos no seu Espírito, para que o homem interior de cada um se fortifique. 17Que Ele faça habitar Cristo no vosso coração pela fé. Enraizados e alicerçados no amor, 18tornar-vos-ei capazes de compreender, com todos os cristãos, qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade, 19de conhecer o amor de Cristo, que supera qualquer conhecimento, para que fiqueis repletos de toda a plenitude de Deus. 20Deus, por meio do seu poder que age em nós, pode realizar muito mais do que pedimos ou imaginamos; 21a Ele seja dada a glória na Igreja e em Jesus Cristo por todas as gerações, para sempre. Ámen!
4
Unidade na diversidade
1Por isso, eu, prisioneiro no Senhor, peço que vos comporteis de modo digno da vocação que recebestes. 2Sede humildes, amáveis, pacientes e suportai-vos uns aos outros no amor. 3Mantende entre vós laços de paz, para conservar a unidade do Espírito.
4Há um só corpo e um só Espírito, assim como fostes chamados a uma só esperança:
5há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo.
6Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, que age por meio de todos e está presente em todos.
7Cada um de nós, entretanto, recebeu a graça na medida que Cristo a concedeu. 8Por isso diz a Escritura: «Subiu às alturas levando prisioneiros; distribuiu dons aos homens». 9Que quer dizer «subiu»? Quer dizer que primeiro desceu aos lugares mais baixos da Terra. 10Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, para plenificar o Universo. 11Foi Ele quem estabeleceu alguns como Apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas e outros como pastores e mestres. 12Assim, Ele preparou os cristãos para o trabalho do ministério que constrói o Corpo de Cristo.
13A meta é que todos juntos nos encontremos unidos na mesma fé e no conhecimento do Filho de Deus, para chegarmos a ser o homem perfeito que, na maturidade do seu desenvolvimento, é a plenitude de Cristo. 14Então, já não seremos crianças, arrastados pelas ondas e levados para cá e para lá por qualquer vento de doutrina, presos pela artimanha dos homens e pela astúcia com que eles nos induzem ao erro. 15Pelo contrário, vivendo um amor autêntico, cresceremos sob todos os aspectos em direcção a Cristo, que é a Cabeça. 16Ele organiza e dá coesão ao corpo inteiro, através de uma rede de articulações, que são os membros, cada um com a sua actividade própria, para que o corpo cresça e se construa a si próprio no amor.
Do homem velho para o homem novo
17Portanto, em nome do Senhor, vos digo e recomendo: não vivais como os pagãos, cuja mente é vazia. 18A sua inteligência tornou-se cega e vivem muito longe da vida de Deus, porque o endurecimento do seu coração é que os mantém na ignorância. 19Perderam a sensibilidade e deixaram-se levar pela libertinagem, entregando-se com avidez a todo o tipo de imoralidade. 20Não foi assim que aprendestes a conhecer Cristo, 21se é que de facto Lhe destes ouvidos e fostes mesmo instruídos segundo a verdade que há em Jesus. 22Deveis deixar de viver como vivíeis antes, como homem velho que se corrompe com paixões enganadoras. 23É preciso que vos renoveis pela transformação espiritual da inteligência 24e vos revistais do homem novo, criado segundo Deus na justiça e na santidade que vem da verdade.
25Por isso, abandonai a mentira: cada um diga a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. 26Se vos irardes, não pequeis; o Sol não se ponha sobre a vossa ira. 27Não deis ocasião ao diabo. 28Quem roubava, não roube mais; antes, ocupe-se trabalhando com as próprias mãos em algo útil e tenha assim que repartir com os pobres. 29Que nenhuma palavra inconveniente saia da vossa boca; ao contrário, se for necessário, dizei uma boa palavra, que seja capaz de edificar e fazer bem aos que ouvem.
30Não entristeçais o Espírito Santo, com que Deus vos marcou para o dia da libertação. 31Afastai de vós qualquer aspereza, desdém, raiva, gritaria, insulto, e toda a espécie de maldade. 32Sede bons e compreensivos uns com os outros, perdoando-vos mutuamente, assim como Deus vos perdoou em Cristo.
5
Imitar a Deus
1Sede imitadores de Deus, como filhos queridos. 2Vivei no amor, assim como Cristo nos amou e Se entregou a Deus por nós, como oferta e vítima, como perfume agradável. 3Fornicação, impureza e avareza não sejam nem assunto de conversa entre vós, pois isso não convém a cristãos. 4O mesmo se diga a respeito de piadas indecentes, picantes ou maliciosas. São coisas inconvenientes. Em vez disso, dai graças a Deus.
5Podeis estar certos de uma coisa: nenhuma pessoa imoral, impura ou avarenta — pois a avareza é uma idolatria — jamais terá herança no reino de Cristo e de Deus. 6Ninguém vos engane com argumentos vazios, porque essas coisas atraem a ira de Deus sobre os desobedientes. 7Não sejais seus cúmplices! 8Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Por isso, comportai-vos como filhos da luz. 9O fruto da luz consiste em toda a bondade, justiça e verdade. 10Procurai discernir o que é agradável ao Senhor. 11Não participeis das obras infrutuosas das trevas; pelo contrário, denunciai tais obras. 12Dá até vergonha dizer o que eles fazem às escondidas. 13Porém, tudo o que é denunciado torna-se manifesto pela luz, 14pois tudo o que se torna manifesto é luz. É por isso que se diz: «Desperta, tu que dormes. Levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará».
15Estai atentos à maneira como viveis: não vivais como tolos, mas como homens sensatos, 16aproveitando o tempo presente, porque os dias são maus. 17Não sejais insensatos; antes, procurai compreender a vontade do Senhor. 18Não vos embriagueis com vinho, que leva à libertinagem, mas procurai a plenitude do Espírito. 19Juntos recitai salmos, hinos e cânticos inspirados, cantando e louvando ao Senhor de todo o coração. 20Agradecei sempre a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
Submissos uns aos outros
21Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo. 22As mulheres sejam submissas aos seus maridos, como ao Senhor. 23De facto, o marido é a cabeça da sua esposa, assim como Cristo, salvador do Corpo, é a cabeça da Igreja. 24E assim como a Igreja está submissa a Cristo, assim também as mulheres sejam submissas em tudo aos seus maridos.
25Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela; 26assim, Ele a purificou com o banho de água e a santificou pela Palavra, 27para apresentar a Si mesmo uma Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou qualquer outro defeito, mas santa e imaculada.
28Portanto, os maridos devem amar as suas mulheres como aos seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, está amando a si mesmo. 29Ninguém odeia a sua própria carne; pelo contrário, nutre-a e cuida dela, como Cristo faz com a Igreja, 30porque somos membros do seu corpo. 31Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e unir-se-á à sua mulher, e os dois serão uma só carne. 32Este mistério é grande: eu refiro-me a Cristo e à Igreja. 33Portanto, cada um de vós ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido.
6
1Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isso é justo. 2«Honra teu pai e tua mãe» é o primeiro mandamento, e vem acompanhado de uma promessa: 3«para que sejas feliz e tenhas vida longa sobre a Terra». 4Pais, não deis aos filhos motivo de revolta contra vós; criai os filhos, educando-os e corrigindo-os como quer o Senhor. 5Escravos, obedecei aos vossos senhores nesta vida, com temor e tremor, com simplicidade de coração, como a Cristo. 6Não sirvais somente quando vigiados ou para que os homens vos elogiem, mas sede como servos de Cristo, que cumprem de todo o coração a vontade de Deus. 7Servi de bom grado, como se servísseis ao Senhor e não a homens. 8Vós sabeis que cada um, escravo ou livre, receberá do Senhor o bem que tiver feito.
9Senhores, tratai os vossos servos do mesmo modo. Deixai de lado as ameaças: bem sabeis que tanto eles como vós tendes o mesmo Senhor, que está no Céu e não faz distinção de pessoas.
A vida cristã é luta
10Quanto ao mais, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder.
11Vesti a armadura de Deus para poderdes resistir às manobras do diabo. 12A nossa luta, de facto, não é contra homens de carne e osso, mas contra os principados e as autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do mal, que habitam as regiões celestes. 13Por isso vesti a armadura de Deus para que, no dia mau, possais resistir e permanecer firmes, superando todas as provas. 14Ficai, portanto, bem firmes: cingidos com o cinturão da verdade, vestidos com a couraça da justiça, 15os pés calçados com o zelo para propagar o evangelho da paz; 16tende sempre na mão o escudo da fé, e assim podereis apagar as flechas inflamadas do Maligno. 17Ponde o capacete da salvação e empunhai a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus.
18Rezai incessantemente no Espírito, com toda a espécie de orações e súplicas, vigílias, intercedendo, sem cansaço, por todos os cristãos.
19Rezai também por mim: que a Palavra seja colocada na minha boca, para anunciar ousadamente o mistério do Evangelho, 20do qual sou embaixador aprisionado. Que eu possa anunciá-lo com ousadia, como é meu dever.
Saudações finais
21Desejo que também vós saibais qual é a minha situação e o que estou fazendo. Tíquico, o irmão querido e fiel ministro no Senhor, dar-vos-á todas as notícias. 22Eu o envio, para que recebais notícias nossas e sejais reconfortados. 23Aos irmãos, a paz, o amor e a fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. 24A graça esteja com todos aqueles que amam nosso Senhor Jesus Cristo com amor perene.
»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»» reflexão «««««««««««««««««««««««««««««
[1]1,1-2: Quanto à indicação «em Éfeso», cf. Introdução.
3-14: Paulo desenvolve um hino de louvor em forma de «bênção», frequente no Antigo Testamento. O louvor é uma resposta do homem ao Deus que se manifesta através de um acto de salvação ou mediante a revelação de um mistério.
Deus Pai é o sujeito e a fonte de toda a acção criadora e salvadora. E tudo o que Deus Pai realiza no homem e no Mundo, fá-lo através de seu Filho Jesus Cristo: escolhe (vv. 4-5), liberta (vv. 6-7), reúne tudo em Cristo (vv. 8-10), entrega a herança prometida (vv. 11-12) e concede o dom do Espírito Santo (vv. 13-14).
6: A expressão «para o louvor da sua glória» (cf. vv. 12 e 14) mostra que o sentido último da vida humana é louvar a Deus. O louvor é, portanto, acto de consciência: declarando Deus como o único absoluto, o homem reconhece que as criaturas são relativas. O louvor é devido somente a Deus.
9-10: O mistério é o projecto com que Deus se propõe levar a História à sua plena realização, reunindo em Cristo tudo o que existe.
15-23: Pela fé, os cristãos possuem uma sabedoria que supera qualquer outro conhecimento: sabem que Deus manifestou em Jesus Cristo a sua força, destronizando todos os poderes que até agora aprisionam a vida, e libertando os homens para uma esperança nova diante do futuro. Nesta carta, a Igreja ideal identifica-se praticamente com o Reino e, portanto, ultrapassa meras concretizações históricas. Como corpo e plenitude de Cristo, ela torna-se a meta para a qual caminhamos. Paulo refere-se a uma Igreja santa, a um modelo ideal que exige conversão contínua da Igreja real que vive na História.
2,1-10: Paulo opõe duas épocas e dois modos de viver: sem Cristo e com Cristo. Sem Cristo é o mundo pagão, cuja mentalidade, modo de pensar e de agir manifestam a presença activa do mal, que é o egoísmo que assume formas individuais e colectivas, dividindo os homens. Com Cristo surge a nova forma de viver: o amor que gera doação e comunhão, através das obras que continuam a acção de Jesus Cristo, realizando o projecto de Deus. A nova forma de viver, porém, é graça de Deus que já foi dada aos homens através do testemunho de Jesus Cristo. A vida cristã é a passagem contínua de um modo de viver para o outro.
11-22: A participação de judeus e pagãos no único povo de Deus é sinal concreto do homem novo. A morte de Cristo derrubou o muro de separação que a Lei colocava entre judeus e pagãos; surgiu assim o novo Israel, a Igreja, que se abre para todos os homens e os coloca sob uma cabeça única, Cristo. O Evangelho fará cair todas as diferenças. Por mais que surjam sociedades classistas, as suas leis e instituições injustas cairão, ou derrubadas pela violência, ou desprestigiadas por sacrificarem os seus povos, em lugar de os ajudarem.
3,1-13: O mistério é o centro do anúncio de Paulo, e está inseparavelmente ligado à sua vocação de missionário entre os pagãos. Esse mistério é o projecto de Deus, que se realizou em Jesus Cristo e que manifesta toda a sua grandeza na Igreja, através do ministério de Paulo: os pagãos são chamados a pertencer ao povo de Deus.
14-21: O Apóstolo quer que os cristãos conheçam profundamente a Deus e experimentem todas as dimensões do amor de Cristo por nós, para que o próprio Cristo possa habitar no coração de cada um. E isso acontecerá se os cristãos viverem uma autêntica vida comunitária que tenha o amor como raiz e alicerce. A realidade nova trazida por Cristo vai além de todo o conhecimento e só pode ser experimentada na vivência do amor.
4,1-16: O alicerce e raiz do amor tem como finalidade conservar a unidade do Corpo de Cristo (4,1-6). Mas unidade não significa uniformização, pois Deus concede dons diferentes a cada pessoa (4,7-13). Essa unidade na diversidade dá coesão à comunidade para que ela não seja dominada por doutrinas que a despedacem (4,14-16).
1-6: O aspecto central da vida cristã é a unidade. Com efeito, a acção de Deus em Jesus Cristo unifica toda a realidade. Os cristãos devem ser exemplo vivo dessa unidade, que supera as divisões humanas.
7-13: A diversidade dos dons que cada um recebeu de Cristo não pode ser fonte de divisão, inveja e competição na comunidade. Paulo relembra que a variedade de dons é desejada por Cristo, para que cada um se coloque ao serviço de todos. Os dons relembrados no v. 11 são os carismas de governo e ensino, importantes para a comunidade permanecer unida no conhecimento e no compromisso da fé.
14-16: Vivendo o amor autêntico que preserva a unidade e respeita a diversidade, a comunidade torna-se capaz de discernir as falsas doutrinas e manter sempre vivo o esforço e a tensão que a leva a crescer sempre mais, tornando-se a verdadeira Igreja de Cristo.
17-32: Paulo convida os cristãos à conversão contínua. Essa conversão começa no baptismo, onde o cristão deixa o homem velho (modo de vida pagão) para se revestir do homem novo (a justiça que vem pela vida segundo o Espírito). Nos vv. 25-32, Paulo dá exemplos concretos do que significa essa passagem: da mentira para a verdade; do roubo para o trabalho honesto, que leve a partilhar com os que nada têm; da palavra inconveniente para a palavra construtiva; do comportamento egoísta para a generosidade recíproca.
5,1-20: Paulo traz uma série de exortações e conselhos para que os cristãos vivam autenticamente a sua fé. Os vv. 1-2 apresentam o princípio que rege a vida nova: imitar a Deus, vivendo o amor, como viveu Jesus Cristo. Por outras palavras, os cristãos são e devem viver como filhos de Deus, tendo como modelo supremo o acto de amor de Cristo na cruz, onde entregou a sua vida por todos. A vida nova compreende a renovação de todas as atitudes do homem: esta é a resposta livre ao dom de Deus.
5,21-6,9: Paulo analisa as três relações fundamentais da família antiga: mulher-marido, filhos-pais, escravos-patrões. Não busca modificar o aspecto externo e jurídico dessas relações, mas quer que elas se renovem a partir de dentro, para serem vividas com mentalidade nova, em coerência com tudo aquilo que se aprendeu e se recebeu de Cristo. Para o sentido geral das exortações, cf. nota em Cl 3,18-4,1.
5,21: Este versículo apresenta uma espécie de princípio fundamental que terá três diferentes aplicações nos versículos seguintes. A submissão de que fala pode ser compreendida como forma de amor, caracterizado pela humildade e doação. O temor de Cristo apresenta a motivação: assim como Cristo é o Salvador de todos, também será o juiz de todos. Este princípio fundamental atinge a todos indistintamente.
22-33: Paulo compara a relação entre Jesus Cristo e a Igreja com a visão do matrimónio na sociedade antiga, onde a mulher devia submeter-se inteiramente ao marido. De facto, Cristo é chefe e salvador da Igreja, e esta deve submeter-se a Ele como seu Senhor. Numa concepção actual de relação marido-mulher, onde existe igualdade de direitos e deveres, Paulo certamente faria outro tipo de aplicação.
6,1-9: A vida é uma renovação total das relações, onde o respeito é devido a todos: os pais também devem respeitar os filhos. Quanto ao relacionamento entre senhores e escravos, Paulo não faz uma crítica à estrutura social do seu tempo; porém, salientando que todos são iguais perante Deus, anuncia uma transformação radical das relações, sejam quais forem os papéis e os deveres sociais (cf. carta a Filémon e notas correspondentes).
10-20: A vida cristã é uma luta contínua contra o mal, e as armas para o combate são: verdade, justiça, testemunho do Evangelho, fé, Palavra de Deus. Para os antigos, o mal era personificado por demónios e forças invisíveis que dominam os homens (Principados, Autoridades, Poderes, Soberanias). Traduzindo o mítico para o histórico, poderíamos falar de estruturas que geram egoísmo, injustiça, ódio, opressão e morte.
21-24: Sobre Tíquico, cf. Introdução e a nota a Cl 4,7-9.
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LOUVADO SEJA DEUS,
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO,
LOUVADA SEJA SUA MÃE MARIA SANTISSIMA,
POR TODOS OS SÉCULOS DOS SÉCULOS. ´
AMÉN.
António Fonseca

Igreja da Comunidade de São Paulo do Viso

Nº 5 801 - SÉRIE DE 2024 - Nº (277) - SANTOS DE CADA DIA - 2 DE OUTUBRO DE 2024

   Caros Amigos 17º ano com início na edição  Nº 5 469  OBSERVAÇÃO: Hoje inicia-se nova numeração anual Este é, portanto, o 277º  Número da ...