quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

CARTA AOS GÁLATAS - S. PAULO

Cartas de São Paulo
Carta aos Gálatas
DA ESCRAVIDÃO PARA A LIBERDADE
Introdução
A Galácia não era uma cidade, mas uma região da Ásia Menor. Na segunda viagem missionária, Paulo atravessou «a Frígia e a região da Galácia» (Act 16,6), e ali fundou comunidades, depois visitadas (Act 18,23) durante a terceira viagem (53-57 d.C.). O livro dos Actos mostra que Paulo permaneceu longo tempo em Éfeso (Act 19,1-21,1). Foi ali, provavelmente, que o Apóstolo teve notícias de um ataque contra ele e a sua doutrina nas comunidades da Galácia. Alguns judeo-cristãos, ligados a certos círculos de Jerusalém, queriam impor aos pagãos convertidos a circuncisão e a observância da Lei mosaica. Além disso, ridicularizavam Paulo, negando a sua autoridade de Apóstolo, porque ele não pertencia ao grupo dos Doze. Diziam também que a doutrina sobre a caducidade da Lei era invenção de Paulo e não correspondia ao pensamento da Igreja de Jerusalém.
A carta aos Gálatas foi escrita no fim da estada de Paulo em Éfeso, provavelmente no Inverno de 56- 57. É a única carta de Paulo que não começa com acção de graças e não termina com bênção, facto que testemunha a sua indignação. De facto, em tom agressivo, defende o seu apostolado e doutrina, reafirmando que o Evangelho nada tem a ver com a Lei mosaica nem com qualquer outro tipo de espiritualidade legalista.
A carta aos Gálatas foi definida como o manifesto da liberdade cristã e universalidade da Igreja. Daí a sua importância. Contudo, libertação de quê e para quê? Libertação de uma vida programada externamente por um minucioso código de regras e leis, que conservam o homem numa atitude infantil diante da vida. Libertação para uma vida adulta e consciente, graças ao uso responsável da liberdade. A vida do homem não deve ser determinada por um código de leis, mas por um compromisso pessoal e íntimo com Cristo, que está presente no profundo do ser humano (2,20). A liberdade é conduzida pelo amor a si mesmo e aos outros, amor que é compromisso activo com o crescimento do outro (5,6. 13-14).
Ao ler a carta aos Gálatas, nós, cristãos de hoje, somos convidados a uma séria revisão: onde está a motivação fundamental que dirige a nossa vida cristã? Numa série de observâncias mecânicas de leis e ritos? Ou no compromisso com Jesus Cristo, que se realiza através do amor responsável e criativo?
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Endereço e saudação
[1]Paulo, Apóstolo não da parte dos homens, nem por meio de um homem, mas da parte de Jesus Cristo e de Deus Pai, que O ressuscitou dos mortos. 2Eu e todos os irmãos que estão comigo, às Igrejas da Galácia. 3Que a graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco. 4Cristo entregou-Se pelos nossos pecados para nos arrancar deste mundo mau, segundo a vontade do nosso Deus e Pai. 5A Deus seja dada glória para sempre. Ámen.
Não existe outro Evangelho
— 6Estou admirado por estardes a abandonar tão depressa Aquele que vos chamou por meio da graça de Cristo, para aceitardes outro Evangelho. 7Na realidade, porém, não existe outro Evangelho. Há somente pessoas que semeiam confusão entre vós e querem deturpar o Evangelho de Cristo. 8Maldito aquele que vos anunciar um evangelho diferente daquele que vos anunciámos, ainda que sejamos nós mesmos ou algum anjo do céu. 9Já vos dissemos antes e agora repetimos: Maldito seja quem vos anunciar um evangelho diferente daquele que recebestes. 10Porventura procuro a aprovação dos homens, ou a aprovação de Deus? Ou procuro agradar aos homens? Se procurasse agradar aos homens, não seria servo de Cristo.
Paulo ensina o que recebeu de Deus
— 11Irmãos, eu vos declaro: o Evangelho por mim anunciado não é invenção humana. 12E, além disso, não o recebi nem aprendi através de um homem, mas por revelação de Jesus Cristo. 13Certamente ouvistes falar do que eu fazia quando estava no judaísmo. Sabeis como eu perseguia com violência a Igreja de Deus e fazia de tudo para a arrasar. 14Eu superava no judaísmo a maior parte dos compatriotas da minha idade e procurava seguir com todo o zelo as tradições dos meus antepassados. 15Deus, porém, escolheu-me antes de eu nascer e chamou-me por sua graça. Quando Ele resolveu 16revelar em mim o seu Filho, para que eu O anunciasse entre os pagãos, não consultei ninguém, 17nem subi a Jerusalém para me encontrar com aqueles que eram Apóstolos antes de mim. Pelo contrário, fui para a Arábia e depois voltei a Damasco. 18Três anos mais tarde, fui a Jerusalém para conhecer Pedro e fiquei com ele quinze dias. 19Entretanto, não vi nenhum outro Apóstolo, a não ser Tiago, o irmão do Senhor. 20Deus é testemunha: o que vos escrevo não é mentira. 21Depois fui para as regiões da Síria e da Cilícia, 22de modo que as Igrejas de Cristo na Judeia não me conheciam pessoalmente. 23Elas apenas ouviam dizer: «Aquele que nos perseguia, agora anuncia a fé que antes procurava destruir». 24E louvavam a Deus por minha causa.
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Unidade da Igreja e liberdade cristã
— 1Catorze anos depois, voltei a Jerusalém com Barnabé e levei também Tito comigo. 2Fui lá seguindo uma revelação. Expus-lhes o Evangelho que anuncio aos pagãos, mas expu-lo reservadamente às pessoas mais notáveis, para não me arriscar a correr ou ter corrido em vão. 3Nem Tito, meu companheiro, que é grego, foi obrigado a circuncidar-se. 4Nem mesmo por causa dos falsos irmãos, os intrusos que se infiltraram para espiar a liberdade que temos em Jesus Cristo, a fim de nos tornar escravos. 5Mas para que a verdade do Evangelho continuasse firme entre vós, em nenhum momento nos submetemos a essas pessoas. 6No que se refere àqueles mais notáveis — pouco me importa o que eles eram então, porque Deus não faz diferença entre as pessoas — esses mesmos notáveis nada mais me impuseram.
7Pelo contrário, viram que a mim fora confiada a evangelização dos não circuncidados, assim como a Pedro fora confiada a evangelização dos circuncidados. 8De facto, Aquele que tinha agido em Pedro para o apostolado entre os circuncidados, também tinha agido em mim a favor dos pagãos. 9Por isso, Tiago, Pedro e João, considerados como colunas, reconheceram a graça que me fora concedida, estenderam a mão a mim e a Barnabé em sinal de comunhão: nós trabalharíamos com os pagãos e eles com os circuncidados. 10Eles recomendaram-nos apenas que nos lembrássemos dos pobres, o que procurei fazer com grande solicitude.
O perigo da hipocrisia
— 11Quando Pedro foi a Antioquia, enfrentei-o em público, porque ele estava claramente errado. 12De facto, antes de chegarem algumas pessoas da parte de Tiago, ele comia com os pagãos; mas, depois que chegaram, Pedro começou a evitar os pagãos e já não se misturava com eles, pois tinha medo dos circuncidados. 13Os outros judeus também começaram a fingir com ele, de modo que até Barnabé se deixou levar pela hipocrisia dele.
14Quando vi que eles não estavam a agir conforme a verdade do Evangelho, disse a Pedro, na frente de todos: «Tu és judeu, mas vives como os pagãos e não como os judeus. Como podes, então, obrigar os pagãos a viverem como judeus?»
Jesus Cristo é o centro da vida
— 15Nós somos judeus de nascimento, e não pagãos pecadores. 16Sabemos, entretanto, que o homem não se torna justo pelas obras da Lei, mas somente pela fé em Jesus Cristo. Nós também acreditamos em Jesus Cristo, a fim de nos tornarmos justos pela fé em Cristo e não pela observância da Lei, pois com a observância da Lei ninguém se tornará justo. 17Nós procuramos tornar-nos justos em Cristo; mas também somos pecadores como os outros. Então, será que Cristo estaria ao serviço do pecado? Claro que não! 18De facto, se eu reconstruo o que destruí, eu próprio me torno culpável.
19Quanto a mim, foi através da Lei que eu morri para a Lei, a fim de viver para Deus. Fui morto na cruz com Cristo. 20Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim. E esta vida que agora vivo, eu vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entregou por mim. 21Portanto, não torno inútil a graça de Deus, porque, se a justiça vem através da Lei, então Cristo morreu em vão.
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A experiência dos Gálatas
— 1Gálatas insensatos! Quem vos enfeitiçou, vós que tivestes diante dos próprios olhos uma descrição clara de Jesus Cristo crucificado? 2Respondei-me somente uma coisa: foi por causa da observância da Lei que recebestes o Espírito, ou foi porque ouvistes a mensagem da fé? 3Sois tão insensatos, a ponto de ter começado com o Espírito e agora terminar na carne? 4Foi em vão que fizestes tantas experiências? Se é que foi em vão! 5Aquele que vos dá o Espírito e realiza milagres entre vós, será que Ele o faz por causa da observância da Lei, ou é porque ouvistes a mensagem da fé?
Os verdadeiros filhos de Abraão
— 6Foi assim que Abraão teve fé em Deus, e isso foi-lhe creditado como justiça. 7Sabei, portanto, que somente aqueles que têm fé são filhos de Abraão. 8É por isso que a Escritura, prevendo que Deus tornaria justos os pagãos através da fé, predisse a Abraão esta boa notícia: «Em ti todas as nações serão abençoadas». 9Portanto, aqueles que têm fé são os abençoados juntamente com Abraão, que acreditou. 10Os que observam a Lei, porém, estão todos debaixo do peso da maldição, pois a Escritura diz: «Maldito seja todo aquele que não é fiel a todas as coisas que estão escritas no livro da Lei para serem praticadas». 11Além disso, é evidente que ninguém pode tornar-se justo diante de Deus através da Lei, pois o justo viverá pela fé. 12Ora, a Lei não se baseia sobre a fé, pois diz: «Quem praticar os preceitos da Lei, viverá por meio deles». 13Cristo resgatou-nos da maldição da Lei, tornando-Se Ele próprio maldição por nós, como diz a Escritura: «Maldito seja todo aquele que for suspenso no madeiro». 14Isso aconteceu para que, em Jesus Cristo, a bênção de Abraão se estendesse aos pagãos e para que nós recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido.
A promessa e a Lei
— 15Irmãos, vou fazer uma comparação: ninguém pode invalidar ou modificar um testamento legitimamente feito. 16Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. A Escritura não diz no plural: «e aos descendentes»; mas no singular: «e ao seu descendente », isto é, a Cristo. 17O que eu quero dizer é o seguinte: Deus firmou um testamento de modo legítimo. A Lei, que veio quatrocentos e trinta anos mais tarde, não pode invalidar esse testamento, anulando assim a promessa. 18De facto, se é através da Lei que se recebe a herança, já não é mediante a promessa. Ora, foi por meio de uma promessa que Deus concedeu a sua graça a Abraão.
O papel da Lei
— 19Então, porque é que foi dada a Lei? Ela foi acrescentada para mostrar as transgressões, até à chegada do descendente, em vista do qual foi feita a promessa. A Lei foi promulgada pelos anjos, e um homem serviu de intermediário. 20Ora, esse intermediário não representa uma pessoa só, e Deus é um só. 21Então, a Lei estará contra as promessas de Deus? Claro que não! Se tivesse sido dada uma lei capaz de comunicar a vida, então sim, realmente a justiça viria da Lei.
22A Escritura, porém, colocou tudo sob o domínio do pecado, a fim de que a promessa fosse concedida aos que acreditam, mediante a fé em Jesus Cristo. 23Antes que chegasse a fé, a Lei tomava conta de nós, à espera da fé que devia ser revelada. 24A Lei, portanto, é para nós como um pedagogo que nos conduziu a Cristo, para que nos tornássemos justos mediante a fé.
A chegada da fé
— 25Chegada a fé, já não estamos sob os cuidados de um pedagogo. 26De facto, todos vós sois filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, 27pois todos vós, que fostes baptizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. 28Já não há diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vós sois um só em Jesus Cristo. 29E se pertenceis a Cristo, então sois de facto a descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa.
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Adultos em Cristo
— 1Vou dar-vos outro exemplo: durante todo o tempo em que o herdeiro é criança, embora seja dono de tudo, é como se fosse um escravo. 2Até chegar à data fixada pelo pai, ele fica sob tutores e pessoas que administram os seus negócios. 3O mesmo aconteceu connosco: éramos como crianças e andávamos como escravos, submetidos aos elementos do mundo.
4Quando, porém, chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher, submetido à Lei 5para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adoptados como filhos. 6A prova de que sois filhos é o facto de que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho que clama: Abba, Pai! 7Portanto, já não és escravo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro por vontade de Deus. 8No passado, quando não conhecíeis a Deus, éreis escravos de deuses, que na realidade não são deuses. 9Agora, porém, conheceis a Deus, ou melhor, agora Deus conhece-vos. Então, como é que quereis voltar de novo àqueles elementos fracos e sem valor? Porque quereis novamente ficar escravos deles? 10Vós observais cuidadosamente os dias, os meses, as estações e os anos! 11Receio ter-me cansado inutilmente por vós.
Apelo pessoal de Paulo
— 12Irmãos, peço-vos que sejais como eu, porque eu também me tornei como vós. Não me ofendestes em nada. 13E sabei que foi por causa de uma doença física que eu vos evangelizei na primeira vez. 14E vós não me desprezastes nem me rejeitastes, apesar do meu físico ser para vós uma provação. Pelo contrário, acolhestes-me como a um anjo de Deus ou até como a Jesus Cristo.
15Onde está a alegria que experimentastes então? Pois eu dou testemunho de que, se fosse possível, teríeis arrancado os próprios olhos para mos dar. 16E agora, será que me tornei inimigo, só porque vos disse a verdade? 17Esses homens mostram grande interesse por vós, mas a intenção deles não é boa; o que eles querem é separar-vos de mim, para que vos interesseis por eles. 18Seria bom que vos interessásseis sempre pelo bem, e não só quando estou presente entre vós. 19Meus filhos, sofro novamente como que dores de parto, até que Cristo esteja formado em vós. 20Gostaria de estar junto de vós neste momento, e de mudar o tom da minha voz, porque já não sei que atitude tomar convosco.
Escravidão e liberdade
— 21Vós que quereis ficar submetidos à Lei, dizei-me uma coisa: será que não ouvis o que diz a Lei? 22De facto, nela está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava e outro da mulher livre. 23O filho da escrava nasceu de modo natural, enquanto o filho da mulher livre nasceu por causa da promessa. Simbolicamente 24isso quer dizer o seguinte: as duas mulheres representam as duas alianças. Uma, a do monte Sinai, gera para a escravidão e é representada por Agar 25(pois o monte Sinai está na Arábia, que é o país de Agar). E Agar corresponde à Jerusalém actual, que é escrava juntamente com os seus filhos. 26Mas a Jerusalém do alto é livre, e é a nossa mãe. 27Porque está na Escritura: «Alegra-te, estéril, tu que não davas à luz! Grita de alegria, tu que não conheceste as dores do parto, porque os filhos da abandonada são mais numerosos do que os filhos daquela que tem marido».
28Vós, irmãos, sois filhos da promessa, como Isaac.
29Acontece agora como acontecia naquele tempo: o que nasceu de modo natural persegue aquele que nasceu segundo o Espírito. 30Mas o que é que diz a Escritura? «Expulsa a escrava e o filho dela, porque o filho da escrava não receberá a herança juntamente com o filho da mulher livre». 31Portanto, irmãos, nós não somos filhos da escrava, mas da mulher livre.
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A liberdade cristã
— 1Cristo libertou-nos para que sejamos verdadeiramente livres. Portanto, permanecei firmes e não vos submetais de novo ao jugo da escravidão.
2Eu, Paulo, declaro-vos: se vos fazeis circuncidar, Cristo de nada adiantará para vós. 3E a todo o homem que se faz circuncidar, eu declaro: agora está obrigado a observar toda a Lei. 4Vós que procurais a justiça na Lei desligastes-vos de Cristo e separastes-vos da graça. 5Nós, de facto, aguardamos no Espírito a esperança de nos tornarmos justos através da fé, 6porque, em Jesus Cristo, o que conta não é a circuncisão ou a não circuncisão, mas a fé que age por meio do amor. 7Vós corríeis bem. Quem vos impediu de obedecer à verdade? 8Tal influência não vem d’Aquele que vos chama. 9Um pouco de fermento basta para levedar toda a massa! 10Confio no Senhor que vós estais de acordo com isto. Aquele, porém, que vos perturba, seja ele quem for, sofrerá a condenação. 11Quanto a mim, irmãos, se é verdade que ainda prego a circuncisão, porque sou então perseguido? Nesse caso, o escândalo da cruz estaria anulado! 12Oxalá aqueles que vos perturbam se mutilem de uma vez por todas!
A vida segundo o Espírito
— 13Irmãos, fostes chamados para serdes livres. Que essa liberdade, porém, não se torne desculpa para viverdes satisfazendo os instintos egoístas. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros através do amor. 14Pois toda a Lei encontra a sua plenitude num só mandamento: «Amarás o teu próximo como a ti mesmo». 15Mas, se vos mordeis e vos devorais uns aos outros, tomai cuidado! Podereis acabar por vos destruirdes uns aos outros.
16Por isso é que vos digo: vivei segundo o Espírito, e já não fareis o que os instintos egoístas desejam. 17Porque os instintos egoístas têm desejos que estão contra o Espírito, e o Espírito contra os instintos egoístas; os dois estão em conflito, de modo que não fazeis o que quereis. 18Mas, se fordes conduzidos pelo Espírito, já não estareis submetidos à Lei. 19Além disso, as obras dos instintos egoístas são bem conhecidas: fornicação, impureza, libertinagem, 20idolatria, feitiçaria, ódio, discórdia, ciúme, ira, rivalidade, divisão, sectarismo, 21inveja, bebedeira, orgias e outras coisas semelhantes. Repito o que já disse: os que fazem tais coisas não herdarão o Reino de Deus. 22Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, bondade, benevolência, fé, 23mansidão e domínio de si. Contra essas coisas não existe lei. 24Os que pertencem a Cristo crucificaram os instintos egoístas juntamente com as suas paixões e desejos. 25Se vivemos pelo Espírito, caminhemos também sob o impulso do Espírito. 26Não sejamos ambiciosos de glória, provocando-nos mutuamente e tendo inveja uns dos outros.
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A lei de Cristo
— 1Irmãos, se alguém for apanhado em alguma falta, vós que sois espirituais, admoestai com mansidão essa pessoa. E cada um cuide de si mesmo, para não ser também tentado.
2Levai os fardos uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo. 3Se alguém pensa que é importante, quando de facto não o é, está-se enganando a si mesmo. 4Cada um examine a sua conduta, e então achará motivo de satisfação na sua própria pessoa, e não por comparação com os outros, 5porque cada um deve levar a sua própria carga.
6Aquele que recebe o ensinamento da Palavra deve repartir todos os bens com o catequista. 7Não vos iludais, pois com Deus não se brinca: cada um colherá aquilo que tiver semeado. 8Quem semeia nos instintos egoístas, dos instintos egoístas colherá corrupção; quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. 9Não nos cansemos de fazer o bem; se não desanimarmos, quando chegar o tempo, colheremos. 10Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, especialmente aos que pertencem à nossa família na fé.
Gloriar-se na cruz de Cristo
— 11Vede com que letras grandes vos escrevo de meu próprio punho. 12Os que querem impor-vos a circuncisão, são aqueles que estão preocupados em fazer boa figura. Fazem isso para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo. 13De facto, nem mesmo os próprios circuncidados observam a Lei. Eles querem que vos circuncideis, apenas para eles se gloriarem de terem marcado o vosso corpo. 14Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para mim e eu para o mundo. 15O que importa não é a circuncisão ou a não circuncisão, mas sim a nova criação. 16Que a paz e a misericórdia estejam sobre todos os que seguirem esta norma, assim como sobre todo o Israel de Deus.
17De agora em diante ninguém mais me moleste, pois trago no meu corpo as marcas de Jesus.
Saudação final
— 18Irmãos, que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo esteja com o vosso espírito. Ámen.
«««««««««««««««««««««««««««««««««««REFLEXÃO»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»
[1]1,1-5: Dizendo-se Apóstolo, Paulo reivindica para si a mesma autoridade que os Doze. O Evangelho que ele prega é o Evangelho da salvação, obtida pela fé em Jesus Cristo e não pela observância da Lei.
6-10: Os Gálatas convertidos à fé cristã eram de origem pagã e nunca haviam praticado a religião judaica. Paulo anunciara-lhes que o Evangelho é, antes de tudo, a própria pessoa de Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou para nos libertar do pecado e nos trazer a salvação através da fé. Todavia, alguns judeus convertidos anunciavam «outro evangelho». Segundo eles, para a salvação era também necessário ser circuncidado e observar a Lei judaica.
11-24: Os judeo-cristãos criticam a autoridade de Paulo, dizendo que ele não é Apóstolo como aqueles que Jesus tinha escolhido. E Paulo defende-se, contando a história da sua vocação (cf. Act 9), nascida de uma experiência directa de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Tal experiência transformou-o profundamente: de perseguidor, tornou-se Apóstolo. Na origem da sua missão, portanto, não há nenhuma interferência humana. Quando Paulo vai a Jerusalém, é simplesmente para conhecer Pedro e Tiago (cf. Act 9,23-30).
2,1-10: Na segunda vez que vai a Jerusalém (cf. Act 15), Paulo tem duas preocupações: fazer um acordo com Pedro, Tiago e João, para manter a unidade das Igrejas; e, ao mesmo tempo, assegurar que os pagãos convertidos não precisem de observar a religião judaica. A viagem tem dois resultados importantes: as autoridades da Igreja de Jerusalém reconhecem o Evangelho, tal como Paulo e Barnabé o pregam aos pagãos; é feito um acordo prático, delimitando os campos de apostolado de Pedro e de Paulo. O sinal visível desse acordo é a preocupação e o auxílio aos pobres (cf. 2Cor 8-9).
11-14: Um judeu não podia comer ao lado de um pagão, pois ficaria impuro, violando a Lei. Contudo, no encontro em Jerusalém, ficara resolvido que os pagãos convertidos ao cristianismo não precisavam de observar a Lei judaica. A atitude de Pedro é hipócrita: por medo de ser criticado pelos judeo-cristãos, evita comer com os pagãos convertidos. O facto é grave, pois o comportamento hipócrita de um chefe da Igreja causa divisões, esvazia o trabalho da evangelização, chegando até mesmo a desviar a comunidade do verdadeiro Evangelho.
15-21: Para Paulo, nenhuma força humana, nem mesmo a Lei dos judeus tem o poder de arrancar o homem da situação de pecado em que vive. Só um acto de Deus pode realizá-lo, concedendo gratuitamente uma amnistia. E Deus concedeu-a através de Jesus Cristo, que morreu pelos nossos pecados. Essa amnistia proclamada na cruz chega até mim no momento em que eu acredito que, em Jesus Cristo, Deus realizou esse dom. Acreditar em Jesus Cristo é colocá-l’O no centro da vida, a ponto de poder dizer: «Já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim».
3,1-5: Os Gálatas ouviram a pregação do Evangelho, converteram-se a Jesus Cristo e foram baptizados. A partir da fé, puderam experimentar na sua vida o dom do Espírito, que reúne os homens e os faz colaborar entre si para o crescimento de todos. Até esse momento, os Gálatas não conheciam a Lei judaica. Para que serve agora circuncidar-se e observar tal Lei? O que poderiam dela receber a mais? A sua atitude mostra apenas que estão a voltar para trás.
6-14: Os pregadores judeo-cristãos certamente diziam aos Gálatas que Jesus era judeu e filho de Abraão; por isso os Gálatas deviam ser circuncidados e observar a Lei judaica, para serem filhos de Abraão e fiéis a Jesus. Contudo, Paulo salienta que, desde Abraão, a fé nas promessas é que dá a vida. Quem tem fé torna-se filho e herdeiro de Abraão. Quanto à Lei, em vez de tornar justo o homem, traz a maldição para os que não a cumprem. A promessa dirigia-se a Cristo (v. 16): submetendo-Se à maldição da Lei pela morte de cruz, Ele resgatou-nos pela fé e estendeu a todos os povos a bênção prometida a Abraão.
15-18: O testamento ou aliança de Deus, no qual estão contidas as promessas feitas a Abraão e ao seu descendente, não pode ser anulado pela Lei, pois esta veio depois das promessas. O «descendente» de que fala a Escritura é uma só pessoa e, para Paulo, essa pessoa só pode ser Cristo. Em Cristo, portanto, nós somos herdeiros de uma promessa que foi feita directamente a Abraão, e não através da Lei.
19-24: No mundo greco-romano, o pedagogo era um escravo severo, que tinha como tarefa vigiar, admoestar e castigar o comportamento das crianças de uma família. Esse foi o papel da Lei: mostrar a incapacidade de o homem se salvar, dar-lhe consciência dos seus pecados e mantê-lo na expectativa da realização da promessa, a fim de ser liberto da própria Lei.
25-29: O papel da Lei terminou com a chegada de Cristo. Pela fé n’Ele e pelo baptismo, os homens revestem-se de Cristo, isto é, são transformados para se tornarem imagem d’Ele (cf. Cl 3,11). Em Cristo, portanto, os homens ficam libertos de qualquer lei e de qualquer diferença que possa privilegiar uns e marginalizar outros.
4,1-11: Paulo coloca no mesmo plano os ritos religiosos pagãos e os ritos judaicos. Se os Gálatas se submeterem aos costumes judaicos, estarão a viver a mesma vida pagã de outrora, submissos e escravos de outras criaturas. O homem de fé deve depender unicamente do seu Criador, de quem se tornou filho, graças a Cristo. Cf. nota em Rm 8,14-17.
12-20: Paulo interrompe o raciocínio e, emocionado, relembra o entusiasmo inicial dos Gálatas, que o trataram com carinho e como enviado de Deus, apesar da sua enfermidade. Fala com ironia dos intrusos que os querem escravizar com as suas concepções. Por fim, mostra que está gerando os Gálatas em novo parto. O primeiro foi quando os gerou para a fé; agora, sofre até que Cristo esteja de tal forma presente nas suas vidas, a ponto de não precisarem de recorrer a qualquer outra coisa.
21-31: Paulo serve-se das histórias de Agar e Sara (cf. Gn 16,1-16; 21,8-21) para fazer a comparação entre a antiga e a nova Aliança. O filho que Abraão teve de Agar, «de modo natural», é escravo e simboliza os que estão sob a Lei. O filho que Abraão teve de Sara, «por causa da promessa», é livre como aqueles que nasceram do Espírito através da fé em Jesus.
5,1-12: Cristo libertou-nos, mas podemos tornar-nos escravos outra vez. Precisamos de permanecer vigilantes, a fim de mantermos a liberdade e nela crescer. Os vv. 5-6 apresentam a estrutura da vida cristã: o cristão é aquele que, pela fé, acolhe a acção do Espírito e a comunica através do amor; e é do Espírito que ele espera a ressurreição, a vida no Reino de Deus. A fé, o amor e a esperança são, portanto, as atitudes características do cristão, a estrutura da vida nova.
13-15: A vida cristã é um chamamento à liberdade. Esta, porém, não deve ser confundida com libertinagem, que é buscar e colocar tudo ao serviço de si mesmo. A verdadeira liberdade leva o homem a crescer no amor e no dom de si, para se pôr ao serviço dos outros. Como os sinópticos (cf. Mc 12,31), Paulo resume a Lei no mandamento de Lv 19,18: quem ama o próximo, realiza a vontade de Deus.
16-18: As expressões «segundo o Espírito» e «segundo os instintos egoístas» (lit.: carne) não designam duas partes do homem, mas duas orientações diferentes de comportamento: «segundo o Espírito» é a orientação do amor, que leva o homem a servir o outro; «segundo os instintos egoístas» é a orientação do egoísmo, que leva o homem a servir-se a si mesmo.
19-21: Paulo certamente não pretende fazer uma lista completa dos vícios do homem egoísta. Os que são enumerados aqui podem ser divididos em quatro categorias; a impureza, que perverte o amor humano; a idolatria e a feitiçaria, que pervertem a relação com Deus, único absoluto; as divisões, que pervertem as relações sociais; os excessos da mesa, que revelam a perda da dignidade humana. que leva o homem a servir o outro; «segundo os instintos egoístas» é a orientação do egoísmo, que leva o homem a servir-se a si mesmo.
19-21: Paulo certamente não pretende fazer uma lista completa dos vícios do homem egoísta. Os que são enumerados aqui podem ser divididos em quatro categorias; a impureza, que perverte o amor humano; a idolatria e a feitiçaria, que pervertem a relação com Deus, único absoluto; as divisões, que pervertem as relações sociais; os excessos da mesa, que revelam a perda da dignidade humana.
22-26: Os cristãos são chamados a viver de acordo com Jesus Cristo, isto é, deixando-se guiar pelo Espírito de Cristo, vivendo o amor. Como no caso dos vícios, aqui também não há a pretensão de fazer uma lista completa das virtudes. O que Paulo enumera são as condições em que nasce e se desenvolve o amor (fé, mansidão, domínio de si), os sinais da presença do amor (alegria e paz) e as manifestações activas do amor (paciência, bondade, benevolência).
6,1-6: A lei de Cristo não é um legalismo cristão que substitui o judaico. Equivale à «lei do Espírito, que dá a vida em Jesus Cristo» (Rm 8,2). A única lei que Jesus Cristo deixou aos cristãos, e que Ele próprio viveu, é a lei do amor (5,14). Obedecer à lei de Cristo é viver o amor como Jesus o viveu. O amor activo nasce da liberdade e empenha a totalidade do homem em tarefas concretas frente às situações da vida, levando-o a realizar muito mais do que qualquer lei poderia exigir.
7-10: O juízo final nada mais é do que a conclusão natural de uma escolha de vida. Porque, viver segundo os instintos egoístas leva à corrupção, à morte; e viver segundo o Espírito ou segundo o amor conduz à vida eterna.
11-18: Paulo acusa os pregadores judaizantes de orgulho, covardia e falsidade. De facto, eles visam a glória pessoal, fogem da perseguição e, embora preguem a Lei, eles próprios não a praticam. Paulo, porém, mesmo perseguido, gloria-se apenas na cruz de Cristo, porque é dela que nasceu a nova Criação, diante da qual ser ou não ser circuncidado é algo que já não tem importância.
LOUVADO SEJA DEUS,
NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
E SUA MÃE MARIA SANTÍSSIMA
POR TODOS OS SÉCULOS DOS SÉCULOS.
AMÉN.
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Caros amigos e Irmãos em Cristo;
Com a publicação da Carta aos Gálatas, termino hoje a transcrição que decidi levar a cabo, das Cartas de S. Paulo (não exactamente pela ordem em que estão editadas no site da http://ecclesia.pt) - mas creio que não é por isso que virá mal ao Mundo .... o que interessa de facto, quanto a mim - é que as consegui transcrever todas, apesar das dificuldades que tive por apenas estar a utilizar um dedo da mão direita, por ter o braço esquerdo engessado.
Estou satisfeito por ter completado esta tarefa e agora vou tentar transcrever mais coisas sobre S. Paulo, do mesmo modo que fiz até hoje, através do mesmo site acima referenciado, isto pelo menos até ao próximo dia 27, altura em que julgo ser possível retirar o gesso, queira Deus.
Desculpem-me qualquer coisinha ... obrigado e bem hajam.
António Fonseca

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