quinta-feira, 12 de março de 2009

Leitura 42 - "Um Ano a Caminhar com S. Paulo"

42

“NÃO SABEIS QUE O VOSSO CORPO É TEMPLO DO ESPÍRITO SANTO?”

Segundo a concepção antropológica originária da Grécia antiga e mais comum entre nós, o ser humano é composto de dois princípios que podem existir separadamente: a alma espiritual e imortal e o corpo matéria, em que a alma está encerrada até à morte.

Não admira que, nesta perspectiva, a vida no corpo fosse vista como um mal, com duas reacções extremas: o desregramento de costumes ou a ascese exageradamente rigorosa. A primeira baseava-se na convicção de que a esfera corporal não afecta a espiritual. Com a segunda, procurava-se antecipar a libertação definitiva da matéria, esperada para depois da morte. Num caso como no outro, a vítima é o corpo.

Paulo teve, conforme mostra em 1 Cor, de confrontar-se com as duas atitudes entre os cristãos de Corinto, designadamente em relação à sexualidade. É que a mensagem cristã, ao proclamar a liberdade perante a Lei, em vez de pôr termo aos referidos desequilíbrios, estava a agravá-los, particularmente o primeiro. Tudo me é permitido! – diziam alguns cristãos, convencidos de estar totalmente possuídos pelo Espírito, para justificar a sua conduta moral, nas relações que mantinham com prostitutas.

A isto responde Paulo em 6, 12-20, com o sentido cristão da sexualidade. Insere-o numa teologia do corpo humano, não menos necessária nos nossos dias. E não apenas para os homens, como é o caso presente.

1 COR 6, 12-20

Tudo me é permitido, mas nem tudo é útil. Tudo me é permitido, mas eu por nada me deixo dominar. Os alimentos são para o ventre, e o ventre para os alimentos, mas Deus destruirá tanto aquele como estes. O corpo, porém, não é para a impureza, mas para o Senhor, e o Senhor é para o corpo. E Deus, que ressuscitou o Senhor, há-de ressuscitar-nos também a nós pelo seu poder.

Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? Iria eu então tomar os membros de Cristo, para fazer deles membros de uma prostituta? De maneira alguma. Ou não sabeis que aquele que se liga a uma prostituta, torna-se com ela um só corpo? Pois, como diz a Escritura, «serão os dois uma só carne». Mas quem se liga ao Senhor, forma com Ele um só Espírito.

Fugi da impureza. Todo o pecado que o homem comete é exterior ao seu corpo, Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e que vós já não vos pertenceis? Fostes comprados por um alto preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo.

Não foram cristãos de Corinto os primeiros e únicos a dizer: Tudo me é permitido! Antes deles, já seguidores de correntes filosóficas, como os estóicos e os cínicos, diziam o mesmo. E hoje continua a haver quem assim pense ou deseje. E bem. Quem não aspira a manter-se senhor de si, isento de domínios destruidores da sua pessoa? E se houve alguém que se tenha batido pela liberdade do cristão, foi Paulo.

Por isso, não podia ser sua intenção limitá-la, quando, ao slogan dos Coríntios, acrescenta: Mas nem tudo é útil (...); mas eu por nada me deixo dominar. Isto é, não me deixo dominar por nada que não seja útil. Mas útil a quem? Certamente a mim próprio, à integridade da minha pessoa. É por isso que luto, para me manter livre. Mas, então, por que coisas ou pessoas me não devo deixar dominar, para me conservar íntegro?

É aqui que começavam a divergir as posições entre Paulo e os Coríntios. Para estes, nem os alimentos nem o ventre que os consome são fundamentais, sobrevivem à destruição da morte. Nisto ainda Paulo concorda com eles... mas, desde que se não faça do ventre o corpo. E porquê? Para ele, seguindo a antropologia semítica dominante na tradição bíblica, o corpo não é uma parte do ser humano separável da alma, mas formam uma unidade indissociável. O ser humano não pode existir sem corpo, porque ele não tem um corpo, mas é corpo. Em que sentido?

É pela corporeidade que me relaciono, me comunico, ultrapassando os limites e as limitações da minha individualidade. Sem os outros, nem sequer eu chego a ser eu. O pior que pode acontecer a alguém é o individualismo. E uma liberdade, pretensamente obtida à custa da liberdade dos outros, destrói-se a si própria, porque lhe falta aquilo para o qual existe: a pessoa humana, na totalidade da sua constituição. Por isso, a liberdade dos outros não limita a minha. Pelo contrário, quanto mais eu contribuo para a liberdade alheia, mais livre eu sou. Que é a vida, senão uma harmonia de liberdades?

Ora, se há um campo na nossa existência no qual a sua comunicabilidade mais se realiza, é o da sexualidade. Esta é por natureza comunicação e como tal fonte de uma vida que se não reduza à materialidade individualista. E foi para uma vida assim que Deus nos criou e redimiu. A própria ressurreição de Cristo consistiu na sua elevação definitiva do seu corpo à dimensão ilimitada da comunicabilidade do amor de Deus. Por isso o cristão que o reconhece como Senhor, é transformado por este amor, torna-se propriedade dele, para amar como Ele. Ou, se preferirmos, para Ele amar em nós, e um dia obtermos definitivamente de Deus a mesma graça de ressurreição.

Daí na conclusão de Paulo: O corpo não é para a impureza, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo (v. 13b). Ou então, dito em forma de pergunta retórica (v. 15); Não sabeis que os vossos corpos são membros de Cristo? Iria eu então tomar os membros de Cristo, para fazer deles membros de uma prostituta? É que uma relação sexual desse género, seja pelo egoísmo, inerente à exclusiva satisfação do próprio prazer, seja pela sua redução ao tempo e à materialidade do acto, está desprovida do amor que me proíbe tratar o outro como um objecto de que me sirvo quando dele preciso. E note-se que isso pode não acontecer somente na prostituição. A palavra grega porneia, traduzida por impureza, aplica-se a todas as uniões sexuais ilícitas, porque contrárias à caridade.

São impuras, porque corrosivas da vida obtida pela caridade, No caso dos cristãos, são corrosivas da união com Cristo, pela qual cada um forma com ele um só Espírito (v. 17), ou a qual faz do nosso corpo templo do Espírito Santo (v. 19), Como a Igreja (3, 16), assim cada um dos seus membros é lugar sagrado de encontro com Deus, naquilo que mais o caracteriza: a castidade que, nos que estão por Ele possuídos, se manifesta de um modo privilegiado no seu corpo, o meio por excelência da comunicação e da comunhão. Por isso é que o pecado de uma relação sexual impura é o que mais afecta o corpo (v. 18). Ou ao contrario: é pelo corpo dos que, resgatados do pecado pela morte redentora de Cristo, melhor se pode glorificar a Deus, nomeadamente pela vivência da sexualidade marcada pelo seu amor.

12-03-2009

Imagem de S. Paulo da Igreja da Comunidade de S. Paulo do Viso (inaugurada em 24 de Janeiro de 2009)

Beato Dom Luís Orione

Quem foi o Beato Dom Luís Orione ?
Ver comunicação do Cardeal Angelo Sodano, efectuada em 12 de Março de 2002 (data da sua Beatificação) na Comunidade do Ofício dos Correios, na Cidade do VATICANO, que transcrevo (em italiano - pois neste momento não tenho possibilidade de traduzir para Português, pelo que solicito a vossa compreensão). Resta informar que colhi esta informação do site oficial www.vaticano.it, depois de ter visto num calendário o nome de S. Luís Orione a celebrar no disa de hoje, e tive curiosidade em procurar saber quem era, partilhando aqui nesta página, as informações obtidas.
FESTA DEL BEATO LUIGI ORIONE

INCONTRO DEL CARDINALE ANGELO SODANO CON LA COMUNITÀ DELL'UFFICIO DELLE POSTE DELLA CITTÀ DEL VATICANO

Martedì, 12 marzo 2002

Cari Religiosi di Don Orione, fratelli nel Signore!

Fra gli scritti del Beato Luigi Orione è stata scelta la bella pagina che abbiamo ascoltato poco fa.

Egli ci dice testualmente:

"La perfetta letizia non può essere che nella perfetta dedizione di sé a Dio ed agli uomini, a tutti gli uomini... La nostra vita deve essere un cantico ed un olocausto di fraternità universale in Cristo Gesù".

In questo giorno, nel quale facciamo memoria di Don Orione, ci sembra di vedere fra noi il suo volto sorridente e fraterno, ci pare di sentire la sua voce che, come un giorno Francesco d'Assisi, ci indica dov'è la perfetta letizia. La perfetta letizia sta nell'amore, sta nel servizio, sta nella generosità. Ci pare sentire riecheggiare fra noi quella sua frase famosa: "Fratelli, a far del bene non si sbaglia mai".

Con quest'atteggiamento interiore dobbiamo lavorare anche noi in Vaticano al servizio della Santa Sede e, quindi, per il bene della Chiesa intera.

Dobbiamo lavorare con la serenità che ci insegnano i Santi. Dobbiamo lavorare con grande amore verso la Chiesa tutta, incominciando dal Papa, Pastore della Chiesa universale e riversando poi la nostra carità verso tutti i nostri fratelli e sorelle in Cristo.

Son passati 62 anni dalla santa morte di Don Orione. È noto che due mesi prima di spirare, in quel lontano 12 marzo del 1940, egli aveva già destinato qui in Vaticano i primi cinque fratelli. In una "buona notte" data ai suoi figli nella cappella di Tortona il 31 gennaio 1940, egli diceva: "Oggi Don Sterpi è andato a Roma a presentare in Vaticano i vostri 5 fratelli che domani prenderanno possesso del loro ufficio... Quando l'ho saputo, ho detto tra me: ecco ora posso dire il "Nunc dimittis" perché è venuto il giorno in cui i Figli della Divina Provvidenza sono chiamati a prestare un atto di immensa fedeltà, di servizio, di attaccamento al Vicario di Cristo".

Da parte mia, ho sempre notato che con tale spunto di gioioso servizio hanno sempre lavorato in Vaticano i Figli spirituali di Don Orione. Fra questi siamo oggi lieti di salutare il nostro caro Fratel Francesco Giai Baudissard, venuto qui nel 1942 e che festeggia, quindi, il 60° anno di servizio in Vaticano. A lui in particolare vogliamo oggi presentare i nostri fraterni saluti, ringraziandolo per l'esempio che ci ha dato di servizio generoso e fedele alla Santa Sede e per la testimonianza di vita religiosa, pienamente ispirata alla spiritualità di Don Orione, la spiritualità di un servizio amorevole al prossimo, la spiritualità di una fedeltà totale alla Santa Chiesa di Cristo ed al suo Vicario visibile in terra, il Successore di Pietro.

Cari amici,

il messaggio di Don Orione risuona sempre attuale, per tutti noi che siamo stati chiamati a lavorare accanto al Papa.

È noto l'invito che il nostro Beato ci ha lasciato: "Dobbiamo avere a singolarissima grazia del cielo di logorare, di consumare e dare la vita umilmente e fedelissimamente, ai piedi della Chiesa e per la Santa Chiesa, per i Vescovi e per il Papa" (cfr Don Orione, Nel nome della Divina Provvidenza, Ed. Piemme, Casale Monferrato, 1995, p. 60).

Così leggiamo pure nelle Costituzioni dei Figli della Divina Provvidenza: "Fine speciale della Congregazione è diffondere la conoscenza e l'amore di Gesù Cristo, della Chiesa e del Papa, specialmente nel popolo; trarre ed unire con un vincolo dolcissimo e strettissimo di tutta la mente e del cuore, i figli del popolo e le classi lavoratrici alla Sede Apostolica" (cfr Cap. I delle Costituzioni, 22 luglio 1936).

Con questo spirito, noi tutti ci proponiamo di lavorare, nei differenti settori della nostra attività quotidiana. E lo faremo con quella gioia interiore che ci ispira la dolce figura di Don Orione. Dal cielo egli interceda per noi e per tutta la Santa Chiesa!

A seguir transcrevo palavras e oração de de Dom Luís Orione
Trabalhar procurando somente Deus

"Ontem, encontrando-me no quarto de um bom padre, o olhar caíu-me nestas palavras: somente Deus !

O meu olhar, naquele momento, estava cheio de cansaço e de dor, e a mente repensava em tantos dias cheios de afã, como aquele de ontem, e, sobre o turbilhão de tantas angústias, e, sobre o som confuso de tantos suspiros, parecia-me que fosse a voz afável e boa do meu anjo: somente Deus!,alma desconsolada, somente Deus!

Sobre uma janela estava uma planta de cíclames, mais adiante um corredor e alguns padres que meditavam piamente e, mais adiante, um crocifixo, um querido e venerado crocifixo que me recordava bons e inesquecíveis anos, e o olhar cheio de pranto acabou là, aos pés do Senhor. E parecía-me que a alma se reerguesse, e que uma voz de paz e de conforto descesse daquele coração apunhalado, e me convidasse a subir là, ao alto, a confiar a Deus as minhas dores e a rezar.

Que doce silêncio cheio de paz...! e no silêncio somente Deus! continuava a repetir a mim mesmo somente Deus!

E, parecia-me que sentia uma atmosfera benéfica e calma em torno à minha alma!…E então, vi atrás de mim a razão das penas presentes: vi que, invés de procurar agradar somente a Deussomente Deus! com o meu trabalho, há anos que eu mendigava o louvor dos homens, e estava numa contínua procura, numa contínua ânsia de que alguém me visse, me apreciasse, me aplaudisse, e, dentro de mim, concluí: também aqui, é preciso que eu comece uma nova vida: trabalhar procurando

O olhar de Deus é como o orvalho que fortifica, é como um raio luminoso que fecunda e dilata: trabalhamos, portanto, sem tumulto e sem trégua, trabalhamos sob o olhar de Deus, somente de Deus!

O olhar humano é um raio ardente que, faz empalidecer até mesmo as cores mais resistentes: seria, no nosso caso, como um sopro de vento gelado que dobra, que curva, que corrompe a haste ainda ténere desta pobre plantinha.

Cada acção feita para se fazer notar, perde a sua frescura aos olhos do Senhor: é como uma flôr já passada por várias mãos e que quase já não é apresentável.(...)

Somente Deus!Oh, como é útil e consolador o querer somente Deus como testemunha! Somente Deus, é a santidade no seu grau mais elevado! Somente Deus, é a segurança, com melhor o fundamento, de, um dia, entrar no céu.

Somente Deus,meus filhos, Somente Deus!"

De ”L’Opera della Divina Provvidenza” de Beato Luis Orione (1872-1940)

(3 de Setembro de 1899).

Oração

Faz, Oh meu Deus, com que toda esta minha pobre vida seja somente um cântico de caridade divina na terra, porque quero que seja - por tua graça, Oh Senhor - somente um cântico de caridade divina no céu! (de Beato Luis Orione)

Organizado pelo "Movimento dos Focolares António Fonseca

segunda-feira, 9 de março de 2009

III DOMINGO DA QUARESMA - 14/15 Março

III DOMINGO DA QUARESMA Leitura do Livro do Êxodo Ex 20, 1-17
Naqueles dias, Deus pronunciou todas estas palavras. «Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, dessa casas da escravidão. Não terás outros deuses perante Mim. Não farás para ti qualquer imagem esculpida, nem figura do que existe lá no alto dos céus ou cá em baixo na terra ou nas águas debaixo da terra. Não adorarás outros deuses nem lhes prestarás culto. Eu, o Senhor teu Deus, sou um Deus cioso: castigo a ofensa dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que Me ofendem; mas uso de misericórdia até à milésima geração para com aqueles que Me amam e guardam os meus mandamentos. Não invocarás em vão o nome do Senhor teu Deus, porque o Senhor não deixa sem castigo aquele que invoca o seu nome em vão. Lembrar-te-ás do dia de sábado, para o santificares. Durante seis dias trabalharás e levarás a cabo todas as tuas tarefas. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem os teus animais domésticos, nem o estrangeiro que vive na tua cidade. Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo o que eles contêm; mas no sétimo dia descansou. Por isso, o Senhor abençoou e consagrou o dia de sábado. Honra pai e mãe, a fim, de prolongares os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te vai dar. Não matarás. Não cometerás adultério. Não furtarás. Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não desejarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo nem a sua serva, o seu boi ou o seu jumento nem coisa alguma que lhe pertença».
Palavra do Senhor. Salmo Responsorial Salmo 18 (19) Senhor, Vós tendes palavras de vida eterna.
A Lei do Senhor é perfeita, Ela reconforta a minha alma; As ordens do Senhor são firmes, Dão sabedoria aos simples. Os preceitos do Senhor são rectos E alegram o coração Os mandamentos do Senhor são claros E iluminam os olhos. O temor do Senhor é puro E permanece para sempre; Os juízos do Senhor são verdadeiros, Todos eles são rectos. São mais preciosos que o ouro, O ouro mais fino; São mais doces que o mel, O puro mel dos favos.
Leitura da 1ª Epístola do Apóstolo São Paulo aos Coríntios 1 Cor 1, 22-25
Irmãos: Os judeus pedem milagres e os gregos procuram sabedoria. Quanto a nós, pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios; mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens.
Palavra do Senhor. Glória a Vós, Jesus Cristo, sabedoria do Pai.
Deus amou tanto o mundo que lhe deu o Seu Filho Unigénito: quem acredita n’Ele tem a vida eterna.
Glória a Vós, Jesus Cristo, sabedoria do Pai. (cf. Lec. P’ 429)
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo São João Jo 3, 13-25
Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois: deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?» Jesus respondeu-lhes: «destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?» Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e nas palavras que Jesus dissera. Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porquê os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem.
Palavra de salvação. DEVORA-ME O ZELO PELA TUA CASA 1ª Leitura (Êxodo 20, 1-17): “A Lei foi dada por meio de Moisés”
“E falou Deus todas estas palavras dizendo” (Ex 20, 1). Estas palavras constituem o Decálogo, um conjunto de leis que cobrem todo o âmbito da acção moral. Saídas directamente da boca de Deus, estas palavras constituem o alimento de que deve nutrir-se o Povo santo de Deus do Antigo Testamento (Dt 8, 3), mas também o Povo santo dos baptizados (Mt 4, 4) que, à luz da Ressurreição, faz anamnese da vida histórica de Jesus e acredita na Palavra da Escritura (= Antigo Testamento) e do Evangelho. Palavra que há que guardar sábia e amorosamente, pois ela é a nossa vida (Dt 32, 47).
Evangelho (Jo 2, 13-15): “Falava do Templo do seu Corpo”
Este texto mergulha-nos no clima da Quaresma, tempo de preparação para a memória da paixão do Senhor. Embora São João enquadre o episódio da “purificação do templo” no início do ministério onde Jesus, é mais plausível a cronologia dos Sinópticos que o situa no seu final, precisamente após a entrada messiânica em Jerusalém (cf Domingo de Ramos). De todas as versões evangélicas, a de São João é a mais violenta (só ele fala do “chicote de cordas”...), sendo acompanhada de uma controvérsia com os “judeus”. Estes exigem a Jesus que apresente as credenciais de autêntico profeta que legitimem uma conduta tão “subversiva” que fazia lembrar os sinais proféticos de Jeremias. O Evangelista quer sobretudo dizer-nos “Quem é Jesus?”, pelo que a interpretação “moralista” do episódio (como se o que mais importasse fosse denunciar a “negociata” instalada nas imediações do Santuário) é decididamente secundária. Devemos ter em conta que o culto do templo de Jerusalém não seria possível sem o mercado dos animais destinados aos sacrifícios; e que também era indispensável a presença dos cambistas que proporcionassem aos oferentes a troca das moedas com a efígie de César (os Euros da época) por moedas “lícitas” para o culto segundo o Decálogo (sem efígie humana). Portanto, ao expulsar os vendedores e os cambistas, Jesus estava, pura e simplesmente, a tornar impraticável o culto do Templo de Jerusalém. No diálogo com os “Judeus” sobre o “sinal” vislumbra-se o porquê: para Jesus, o Templo de Jerusalém, que andava em obras de reconstrução desde o ano 19 a C. – e o culto que nele se praticava – tinham, esgotado o seu “prazo de validade”. Doravante, o verdadeiro Templo onde adorar o Pai em Espírito e Verdade era o seu próprio Corpo que, destruído pelos Judeus (= alusão à Paixão e Morte), se reergueria definitivamente ao 3º dia (Ressurreição). Na ocasião todos se equivocaram com as palavras paradoxais e aparentemente absurdas de Jesus (há quarenta e seis anos que o templo de Jerusalém andava em obras!). Para os discípulos, será necessário esperar pelo seu cumprimento – a Ressurreição – para, numa leitura retrospectiva, descobrirem o seu sentido profundo e a sua verdade insuperável. Nós, hoje, ao escutar este relato, já beneficiámos desta luz pascal.
2ª Leitura (1 Coríntios 1, 22-25): “Cristo crucificado, poder e sabedoria de Deus”
Enquanto os “judeus” pedem sinais (Jo 2, 18; 1 Cor 1 22) e os “gregos” procuram a sabedoria deste mundo (1 Cor 1, 22), os baptizados/confirmados/chamados continuam de olhos postos no único sinal da Cruz Gloriosa, sem dúvida a mais bela página que Deus escreveu na história dos homens, embora a letra seja ainda ilegível para muita gente!
HOMILIÁRIO PATRÍSTICO Aquele templo era uma sombra
Adoremos a Deus, de quem somos templos. Só a Deus podemos fazer um templo, seja de madeira ou de pedra. Se fôssemos pagãos, levantaríamos templos aos deuses; mas a deuses falsos, como os que são erigidos pelos povos infiéis, afastados de Deus. Salomão, pelo contrário, sendo profeta de Deus, construiu um templo de madeira e de pedra, mas a Deus. A Deus, não a um ídolo, nem a um anjo, nem ao solo, nem à lua. Ao Deus que fez o céu e a terra e permanece no céu. Salomão fez um templo na terra. E Deus, não só não se desagradou por isso, mas antes mandou que se fizesse. Porque razão mandou Deus que se Lhe erigisse um templo? Acaso não tinha onde residir? Escutai o que disse o bem-aventurado Estêvão no momento da sua paixão: “Salomão edificou-Lhe uma casa, mas o Altíssimo não habita em templos feitos por mão de homem” (Act 7, 47-48). Porquê, então, quis fazer um templo ou que um templo fosse edificado? Para que prefigurasse o Corpo de Cristo. Aquele templo era uma sombra: chegou a luz e afugentou a sombra. Procura agora o templo que Salomão edificou, e encontrarás uma ruína. Por que motivo o templo se converteu em ruínas? Porque se cumpriu o que ele simbolizava. Até o próprio templo que é o Corpo do Senhor ruiu, mas Ressuscitou; e de tal modo ressuscitou que de modo algum poderá jamais voltar a ruir.
(S. Agostinho, Sermão 217, 4) SUGESTÕES LITÚRGICAS
1. Depois do dilúvio e da provação de Abraão, a 1ª Leitura coloca-nos perante a etapa crucial do êxodo, propondo-nos o texto central do Decálogo (Êx 20). No Evangelho, que interrompe a leitura de São Marcos para privilegiar a de São João, vemos Jesus projectado para a sua paixão desde o início do seu ministério público no “sinal” que preanuncia a substituição do templo pelo seu corpo sacrificado. Nesta fraqueza da cruz manifesta-se o poder de Deus (2ª Leitura). 2. Depois dos dois primeiros Domingos da Quaresma em que se antecipam as duas dimensões do mistério pascal, segue-se o “templo”: no Ano B, os 3º., 4º e 5º Domingos centram-se precisamente na revelação da profundidade deste mistério nas suas vertentes crística e eclesial. Continua a ser à volta do Evangelho que se aglutinam todos os temas: hoje sublinha-se que na Páscoa – morte e ressurreição – se manifesta o verdadeiro Templo, o Corpo de Cristo. Como é sabido – e o Leccionário recorda – podem proclamar-se sempre as leituras próprias do Ano A. Se na comunidade houver catecúmenos “eleitos” para a celebração dos Sacramentos da Iniciação na próxima Páscoa, é essa a opção indicada. Pode justificar-se a mesma opção nas comunidades em que se queira privilegiar a dimensão baptismal da Quaresma. 3. Leitores: 1ª Leitura – O texto apresenta-nos o decálogo (ou as “dez Palavras”). Temos, pois, uma divisão natural do texto que deve aparecer com clareza na leitura. Assim, após a frase introdutória, o primeiro intervalo faz-se depois de “nem lhes prestarás culto”; o segundo, depois de “o seu nome em vão”; o terceiro, depois de “consagrou o dia de Sábado”; os outros (mais sete), são evidentes. 2ª Leitura – Note-se o paralelismo antitético e ressalte-se na proclamação e esta resultará fácil.
SUGESTÃO DE CÂNTICOS Entrada: Os meus olhos estão sempre fixos no Senhor M. Faria, BML 50, 12; Deus, vinde em meu auxílio, F. Silva, NCT 80; Salmo responsorial Senhor, Vós tendes palavras, F. Santos, BML 45, 13; NCT 154; M. Luís, SRAE 194 Aclamação ao Evangelho Deus amou de tal modo o mundo, F. Santos, BML 45, 11 ou 115, 45; Comunhão: Ditosos que Te louvam, F. Santos, BML 21, 10; 75, 53; NCT 109; O Filho do homem, F. Santos, BML 45, 16; Somos o novo Israel, F. Santos, BML 22; NCT 112. http://voz-portucalense.pt Cadernos litúrgicos-2009 António Fonseca

Igreja da Comunidade de São Paulo do Viso

Nº 5 801 - SÉRIE DE 2024 - Nº (277) - SANTOS DE CADA DIA - 2 DE OUTUBRO DE 2024

   Caros Amigos 17º ano com início na edição  Nº 5 469  OBSERVAÇÃO: Hoje inicia-se nova numeração anual Este é, portanto, o 277º  Número da ...