quarta-feira, 8 de julho de 2009

CARITAS IN VERITATE - ENCÍCLICA 29-6-2009

Meus amigos:
A partir desta data, vou tentar publicar e traduzir (de espanhol para português) - o mais sofrivelmente possível, já que eu não sou perito, mas sim porque conheço um bocado a língua espanhola (ou castelhana), dado que tenho um filho a viver há uns anos em Gijón e por vezes acontece arranhar um pouco este idioma que aliás, percebo quase totalmente, tanto escrito como falado... - , como ia dizendo, vou tentar traduzir a Encíclica "CARITAS IN VERITATE" mediante a recolha que efectuei através do site www.es.catholic.net, que, no entanto será feita por capítulos. Aliás, conforme podem verificar em postagem anterior já dei início a esta tarefa...



CARTA ENCÍCLICA

CARITAS IN VERITATE
DO SUMO PONTÍFICE BENTO XVI
AOS BISPOS AOS PRESBÍTEROS E DIÁCONOS ÀS PESSOAS CONSAGRADAS A TODOS OS FIÉIS LAICOS E A TODOS OS HOMENS DE BOA VONTADE
SOBRE O DESENVOLVIMENTO HUMANO INTEGRAL NA CARIDADE E NA VERDADE
INTRODUÇÃO
1. A Caridade na Verdade, da que Jesus Cristo se fez testemunha com sua vida terrena e, sobretudo, com sua morte e ressurreição, é a principal força impulsionadora do autêntico desenvolvimento de cada pessoa e de toda a humanidade. O amor -«caritas»- é uma força extraordinária, que move as pessoas a comprometer-se com valentía e generosidade no campo da justiça e da paz. É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta. Cada um encontra seu próprio bem assumindo o projecto que Deus tem sobre ele, para realizá-lo plenamente: com efeito, encontra no dito projecto a sua verdade e, aceitando esta verdade, se faz livre (cf. Jn 8,22). Portanto, defender a verdade, propô-la com humildade e convicção e testemunhá-la na vida são formas exigentes e insubstituíveis de caridade. Esta «goza com a verdade» (1 Co 13,6). Todos os homens percebem o impulso interior de amar de maneira autêntica; amor e verdade nunca os abandonam completamente, porque são a vocação que Deus colocou no coração e na mente de cada ser humano. Jesus Cristo purifica e liberta de nossas limitações humanas a busca do amor e a verdade, e nos desvenda plenamente a iniciativa de amor e o projecto de vida verdadeira que Deus tem preparado para nós.
Em Cristo, a Caridade na Verdade se converte no Rosto de sua Pessoa, numa vocação de amar a nossos irmãos na verdade de seu projecto. Com efeito, Ele mesmo é a Verdade (cf. Jn 14,6).

2. A caridade é a vía mestra da doutrina social da Igreja. Todas as responsabilidades e compromissos traçados por esta doutrina proveem da caridade que, segundo o ensinamento de Jesus, é a síntese de toda a Lei (cf. Mt 22,36-40). Ela dá a verdadeira substância à relação pessoal com Deus e com o próximo; não é só o princípio das micro-relações, como as amizades, a família, o pequeno grupo, mas também das macro-relações, como as relações sociais, económicas e políticas. Para a Igreja - ajudada pelo Evangelho -, a caridade é tudo porque, como ensina São João (cf. 1 Jn 4,8.16) e como recordei na minha primeira Carta Encíclica «Deus é caridade» (Deus caritas est): tudo provém da caridade de Deus, tudo adquire forma por ela, e a ela tende tudo. A caridade é o dom maior que Deus deu aos homens, é a sua promessa e nossaa esperança. Sou consciente dos desvios e a perda de sentido que tem sofrido e sofre a caridad, com o consequente risco de ser mal entendida, ou excluída da ética vivida e, em qualquer caso, de impedir sua correcta valoração. No âmbito social, jurídico, cultural, político e económico, quer dizer, nos contextos mais expostos ao dito perigo, se afirma facilmente sua irrelevância para interpretar e orientar as responsabilidades morais.

Daquí a necessidade de unir não só a Caridade com a Verdade, no sentido assinalado por São Paulo da «veritas in caritate» (Ef 4,15), mas também no sentido, inverso e complementário, de «caritas in veritate». Se há-de procurar, encontrar e expressar a verdade na «economía» da caridade, mas, por sua vez, se há-de entender, valorar e praticar a caridade à luz da verdade. Deste modo, não só prestaremos um serviço à caridade, iluminada pela verdade, mas que contribuiremos para dar força à verdade, mostrando sua capacidade de autentificar e persuadir na concretização da vida social. E isto não é algo de pouca importância hoje, num contexto social e cultural, que com frequência relativiza a verdade, desentendendo-se dela, ou recusando-a.

3. Por esta estreita relação com a verdade, se pode reconhecer a caridade como expressão autêntica de humanidade e como elemento de importância fundamental nas relações humanas, também as de carácter público. Só na verdade resplandece a caridade e pode ser vivida autênticamente. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade. Esta luz é simultáneamente a da razão e a da fé, por meio da qual a inteligência chega à verdade natural e sobrenatural da caridade, percebendo seu significado de entrega, acolhida e comunhão. Sem verdade, a caridade cai em mero sentimentalismo. O amor se converte num envoltório vazio que se enche arbitrariamente. Este é o risco fatal do amor numa cultura sem verdade. É presa fácil das emoções e as opiniões contingentes dos sujeitos, uma palavra de que se abusa e que se distorce, terminando por significar o contrário. A verdade liberta a caridade da estreiteza de uma emotividade que a priva de conteúdos relacionais e sociais, assim como de um fidelismo que mutila seu horizonte humano e universal. Na verdade, a caridade reflecte a dimensão pessoal e ao mesmo tempo pública da fé no Deus bíblico, que á às vezes «Agapé» e «Lógos»: Caridade e Verdade, Amor e Palavra.

4. Posto que está cheia de verdade, a caridade pode ser compreendida pelo homem em toda a sua riqueza de valores, compartilhada e comunicada. Com efeito, a verdade é «lógos» que cria «diá-logos» e, portanto, comunicação e comunhão. A verdade, resgatando os homens das opiniões e das sensações subjectivas, lhes permite chegar mais além das determinações culturais e históricas e apreciar o valor e a substância das coisas. A verdade abre e une o intelecto dos seres humanos no "lógos" do amor: este é o anúncio e o testemunho cristão da caridade. No contexto social e cultural actual, em que está difundida a tendência a relativizar o verdadeoro, viver a caridade na verdade leva a compreender que a adesão aos valores do cristianismo não é só um elemento útil, mas indispensável para a construção de uma boa sociedade e um verdadeiro desenvolvimento humano integral. Um cristianismo de caridade sem verdade se pode confundir facilmente com uma reserva de bons sentimentos, proveitosos para a convivência social, mas marginais. Deste modo, no mundo não haveria um verdadeiro e próprio lugar para Deus. Sem a verdade, a caridade é relegada a um âmbito de relações reduzido e privado. Fica excluída dos projectos e processos para construir um desenvolvimento humano de alcance universal, no diálogo entre saberes e operatividade.

5. A caridade é amor recebido e oferecido. É «gracia» (cháris). Sua origem é o amor que brota do Pai pelo Filho, no Espírito Santo. É amor que desde o Filho desce sobre nós. O amor criador, pelo que nós somos; é amor redentor, pelo qual somos recroados. É o Amor revelado, posto em prática por Cristo (cf. Jn 13,1) e «derramado em nossos corações pelo Espírito Santo» (Rm 5,5). Os homens, destinatários do amor de Deus, se convertem em sujeitos de caridade, chamados a fazerem-se eles mesmos instrumentos da graça para difundir a caridade de Deus e para tecer redes de caridade. A doutrina social da Igreja responde a esta dinâmica de caridade recebida e oferecida. É «caritas in veritate in re sociali», anúncio da verdade do amor de Cristo na sociedade. Dita doutrina é serviço da caridade, mas na verdade. A verdade preserva e expressa a força libertadora da caridade nos acontecimentos sempre novos da história. É ao mesmo tempo verdade da fé e da razão, na distinção e a sinergia em vez dos dos âmbitos cognitivos. O desenvolvimento, o bem estar social, uma solução adequada dos graves problemas sócio-económicos que afligem a humanidade, necessitam esta verdade. E necessitam ainda mais que se estime e dê testimunho desta verdade. Sem verdade, sem confiança e amor pelo verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a actuação social se deixa à mercê de interesses privados e de lógicas de poder, com efeitos desagregadores sobre a sociedade, tanto mais numa sociedade em vias de globalização, em momentos difíceis como os actuais.
6. «Caritas in veritate» é o princípio sobre o que gira a doutrina social da Igreja, um princípio que adquire forma operativa em critérios orientadores da acção moral. Desejo voltar a recordar particularmente dois deles, requeridos de maneira especial pelo compromisso para eo desenvolvimento numa sociedade em vias de globalização: a justiça e eo bem comum. Antes de tudo, a justiça. Ubi societas, ibi ius: toda a sociedade elabora um sistema próprio de justiça. A caridade vai mais além da justiça, porque amar é dar, oferecer do «meu» ao outro; mas nunca carece de justiça, a qual leva a dar ao outro o que é «seu», o que lhe corresponde em virtude de seu ser e de seu obrar. Não posso «dar» ao outro do meu sem lhe haver dado em primeiro lugar o que em justiça lhe corresponde.

Quem ama com caridade aos demais, é antes de tudo justamente com eles. Não basta dizer que a justiça não é estranha a caridade, que não é uma vía alternativa ou paralela à caridade: a justiça é «inseparável da caridade» [1], intrínseca a ela. A justiça á a primeira vía da caridade ou, como disse Paulo VI, sua «medida mínima» [2], parte integrante desse amor «com obras e segundo a verdade» (1 Jn 3,18), ao que nos exorta o apóstolo João. Por um lado, a caridade exige a justiça, o reconhecimento e o respeito dos legítimos direitos das pessoas e os povos. Se ocupa da construção da «cidade do homem» segundo o direito e a justiça. Por outro, a caridade supera a justiça e a completa seguindo a lógica da entrega e o perdão [3]. A «cidade do homem» não se promove só com relações de direitos e deveres, mas antes e mais ainda, com relações de gratuidade, de misericórdia e de comunhão. A caridade manifesta sempre o amor de Deus também nas relações humanas, outorgando valor teologal e salvífico a todo o compromisso pela justiça no mundo.
7. Há que ter também em grande consideração o bem comum. Amar a alguém é querer seu bem e trabalhar eficazmente por ela. Junto ao bem individual, há um bem relacionado com o viver social das pessoas: o bem comum. É o bem desse «todos nós», formado por individuos, familias e grupos intermédios que se unem em comunidade social [4]. Não é um bem que se busca por si mesmo, mas para as pessoas que formam parte da comunidade social, e que só nela podem conseguir seu bem realmente e de modo mais eficaz. Desejar o bem comum e esforçar-se por ele é exigência de justiça e caridade. Trabalhar pelo bem comum é cuidar, por um lado, e utilizar, por outro, esse conjunto de instituções que estruturam jurídica, civil, política e culturalmente a vida social, que se configura assim como pólis, como cidade. Se ama ao próximo tanto mais eficazmente, quanto mais se trabalha por um bem comum que responda também a suas necessidades reais. Todo o cristão está chamado a esta caridade, segundo sua vocação e suas possibilidades de incidir na pólis. Esta é a vía institucional -também política, poderíamos dizer - da caridade, não menos qualificada e incisiva do que possa ser a caridade que encontra directamente ao próximo fora das mediações institucionais da pólis. O compromisso pelo bem comum, quando está inspirado pela caridade, tem uma valência superior ao compromisso meramente secular e político. Como todo o compromisso em favor da justiça, forma parte desse testemunho da caridade divina que, actuando no tempo, prepara o eterno. A acção do homem sobre a terra, quando está inspirada e sustentada pela caridade, contribui à edificação dessa cidade de Deus universal para a qual avança a história da família humana. Numa sociedade em vías de globalização, o bem comum e o esforço por ele, hão-de abarcar necessariamente a toda a família humana, quer dizer, a comunidade dos povos e nações [5], dando assim forma de unidade e de paz à cidade do homem, e fazendo-a em certa medida uma antecipção que prefigura a cidade de Deus sem barreiras.
8. Ao publicar em 1967 a Encíclica Populorum progressio, meu venerado predecessor Paulo VI iluminou o grande tema de desenvolvimento dos povos com o esplendor da verdade e a luz suave da caridade de Cristo. Afirmou que o anúncio de Cristo é o primeiro e principal factor de desenvolvimento [6] e nos há deixado o depósito de caminhar pela vía do desenvolvimento com todo nosso coração e com toda nossa inteligência [7], quer dizer, com o ardor da caridade e a sabedoria da verdade. A verdade originária do amor de Deus, que se nos há dado gratuitamente, é o que abre nossa vida ao dom e faz possível esperar num «desenvolvimento de todo o homem e de todos os homens»[8], no trânsito «de condições menos humanas a condições mais humanas»[9], que se obtém vencendo as dificuldades que inevitavelmente se encontram ao longo do caminho. A mais de quarenta anos da publicação da Encíclica, desejo render homenagem e honrar a memória do grande Pontífice Paulo VI, retomando seus ensinos sobre o desenvolvimento humano integral e seguindo a rota que traçaram, para actualizá-las em nossos días. Este processo de actualização começou com a Encíclica Sollicitudo rei socialis, com a que o Servo de Deus João Paulo II quis comemorar a publicação da Populorum progressio por ocasião de seu vigéssimo aniversário. Até então, uma comemoração similar foi dedicada só a Rerum novarum. Passados outros vinte anos mais, manifesto minha convicção de que a Populorum progressio merece ser considerada como «a Rerum novarum da época contemporânea», que ilumina o caminho da humanidade em vias de unificação.
9. O amor na verdade - caritas in veritate - é um grande desafío para a Igreja num mundo em progressiva e expansiva globalização. O risco de nosso tempo é que a interdependência de facto entre os homens e os povos não se corresponda com a interacção ética da consciência e o intelecto, da que poss resultar um desenvolvimento realmente humano. Só com a caridade, iluminada pela luz da razão e da fé, é possível conseguir objectivos de desenvolvimento com um carácter mais humano e humanizador. O compartilhar os bens e recursos, do que provém o autêntico desenvolvimento, não se assegura só com o progresso técnico e com meras relações de conveniência, mas com a força do amor que vence ao mal com o bem (cf. Rm 12,21) e abre a consciência do ser humano a relações recíprocas de liberdade e de responsabilidade. A Igreja não tem soluções técnicas que oferecer [10] e não pretende «de nenhuma maneira misturar-se na política dos Estados»[11]. Não obstante, tem uma missão de verdade que cumprir em todo tempo e circunstância em favor de uma sociedade a medida do homem, de sua dignidade e de sua vocação a praxis, porque não está interessada em tomar emconsideração os valores - às vezes nem sequer o significado - com os quais julgá-la e orientá-la. A fidelidade ao homem exige a fidelidade à verdade, que é a única garantía de liberdade (cf. Jn 8,32) e da possibilidade de um desenvolvimento humano integral. Por isso a Igreja a busca, a anuncia incansavelmente e a reconhece ali onde se manifeste. Para a Igreja, esta missão de verdade é irrenunciável. Sua doutrina social é uma dimensão singular deste anúncio: está o serviço da verdad que liberta. Aberta à verdade, de qualquer saber que provenha, a doutrina social da Igreja a acolhe, recompõe em unidade os fragmentos em que a miúdo a encontra, e se faz sua portadora na vida concreta sempre nova da sociedade dos homens e os povos [12).
Recolha, transcrição e tradução
(de espanhol para português - o melhor possível -)
de António Fonseca

ADRIANO III, (Papa) - Santo (e outros)-8 JULHO

Adriano III, SantoCIX Papa, Julio 8 Procopio de Cesarea, SantoMártir, Julio 8 Eugenio III, BeatoCLXVII Papa, Julio 8 Aquila y Priscila (Prisca), SantosEsposos Mártires, Julio 8 Quiliano, SantoObispo y Mártir, Julio 8

terça-feira, 7 de julho de 2009

CARITAS IN VERITATE

Foi publicada a terceira Carta encíclica escrita por Bento XVI "CARITAS IN VERITATE" (Caridade na verdade) sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade, firmada em 29 de Junho do ano 2009, festa de São Pedro e São Paulo.
Descarregar o texto completo em PDF, dando click em:
síntese e descarga em PDF Fonte: Vatican Information System Autor: Bento XVI
Síntese da nova encíclica de Bento XVI, "Caritas in veritate":
A Caridade na verdade, sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade.
A Encíclica, publicada hoje, 7 de Julho de 2009, consta de uma introdução, seis capítulos e uma conclusão e está datada de 29 de Junho de 2009, solenidade de São Pedro e São Paulo.
"Na Introdução - explica a síntese - o Papa recorda que a caridade é "a vía mestra da doutrina social da Igreja".
Por outro lado, dado o "risco de ser mal entendida ou excluída da ética vivida" adverte de que "um cristianismo de caridade sem verdade se pode confundir facilmente com uma reserva de bons sentimentos, proveitosos para a convivência social, mas marginais". "O desenvolvimento (...) necessita esta verdade", escreve Bento XVI e analiza "dos critérios orientadores da acção moral: a justiça e o bem comum. (...) Todo o cristão está chamado a esta caridade, segundo sua vocação e suas possibilidades de incidir na globalização. Esta é a vía institucional do viver social".
O primeiro capítulo está dedicado à "Mensagem da "Populorum progressio" de Paulo VI
que "reafirmou a importância imprescindível do Evangelho para a construção da sociedade segundo a liberdade e justiça". "A fé cristã - escreve Bento XVI - ocupa-se do desenvolvimento não se apoiando em privilégios ou posições de poder (...) mas apenas em Cristo". O pontífice evidencia que "as causas do subdesenvolvimento não são principalmente de ordem material". Estão antes de tudo na vontade, o pensamento e todavía mais "na falta de fraternidade entre os homens e os povos".
"O desenvolvimento humano em nosso tempo" é o tema do segundo capítulo.
"O objectivo exclusivo do benefício, quando é mal obtido e sem o bem comum como fim último - reitera o Papa - corre o risco de destruir riqueza e criar pobreza". E enumera algumas distorções do desenvolvimento: uma actividade financeira "em boa parte especulativa", os fluxos migratórios "frequentemente provocados e depois não geridos adequadamente ou a exploração sem regras dos recursos da terra". Frente a esses problemas ligados entre sí, o Papa invoca "uma nova síntese humanista", constatando depois que "o quadro de desenvolvimento se espalha em múltiplos ámbitos: (...) cresce a riqueza mundial em termos absolutos, mas aumentam também as desigualdades (...) e nascem novas pobrezas". "No plano cultural -prossegue- (...) as possibilidades de interacção" deram lugar a "novas perspectivas de diálogo", (...)mas há um duplo risco". Em primeiro lugar "um eclectismo cultural" onde as culturas se consideram "substancialmente equivalentes". O perigo oposto é o de "rebaixar a cultura e homologar os (...) estilos de vida". Bento XVI recorda "o escândalo da Fome" e auspicia "uma equânime reforma agrária nos países em desenvolvimento". Assim mesmo, o pontífice evidencia que o respeito pela vida "em modo algum pode separar-se das questões relacionadas com o desenvolvimento dos povos" e afirma que "quando uma sociedade se encaminha para a negação e a supressão da vida acaba por não encontrar a motivação e a energía necessárias para esforçar-se no serviço do verdadeiro bem do homem". Outro aspecto ligado ao desenvolvimento é o "direito à liberdade religiosa. A violência - escreve o Papa -, trava o desenvolvimento autêntico" e isto "ocorre especialmente com o terrorismo de inspiração fundamentalista".
"Fraternidade, desenvolvimento económico e sociedade civil" é o tema do terceiro capítulo,
que se abre com um elogio da experiência do dom, não reconhecida habitualmente, "devido a uma visão da existência que antepõe a tudo a produtividade e a utilidade. (...) O desenvolvimento, (...) se quer ser auténticamente humano, necessita em troca dar espaço ao princípio de gratuidade", e porquanto se refere ao mercado a lógica mercantil, esta deve estar "ordenada à consecução do bem común, que é responsabilidade sobretudo da comunidade política". Retomando a encíclica "Centesimus annus" indica "a necessidade de um sistema baseado em três instâncias: o mercado, o Estado e a sociedad civil" e espera "uma civilização da economía". Fazem falta "formas de economía solidária" e "tanto o mercado como a política têm necessidade de pessoas abertas ao dom recíproco". O capítulo se encerra com uma nova valoração do fenómeno da globalização, que não se deve entender só como "um processo sócio-económico". (...) A globalização necessita "uma orientação cultural personalista e comunitária aberta à transcendência (...) e capaz de corrigir suas disfunções".
No quarto capítulo, a Encíclica trata o tema do "Desenvolvimento dos povos, direitos e deveres, ambiente".
"Governo e organismos internacionais - se lê - não podem esquecer "a objectividade e a indisponibilidade" dos direitos. A este respeito, se detém nas "problemáticas relacionadas com o crescimento demográfico". Reafirma que a sexualidade não se pode "reduzir a um mero feito hedonístico e lúdico". Os Estados, escreve, "estão chamados a realizar políticas que promovam a centralidade da família". "A economía -afirma uma vez mais- tem necessidade da ética para seu correcto funcionamento; não de qualquer ética mas sim de uma ética amiga da pessoa". A mesma centralidade da pessoa, escreve, deve ser o princípio guía "nas intervenções para o desenvolvimento" da cooperação internacional. (...) Os organismos internacionais - exorta o Papa - deveriam interrogar-se sobre a real eficácia de seus aparatos burocráticos", "com frequência muito custosos". O Santo Padre se refere mais adiante às problemáticas energéticas. "O acumular dos recursos" por parte de Estados e grupos de poder, denuncia, constituem "um grave impedimento para o desenvolvimento dos países pobres". (...) "As sociedades tecnologicamente avançadas - acrescenta - podem e devem diminuir a própria necessidade energética", enquanto deve "avançar a investigação sobre energías alternativas".
"A colaboração da família humana" é o coração do quinto capítulo,
em que Bento XVI põe em relevo que "o desenvolvimento dos povos depende sobretudo do reconhecimento de ser uma só familia". Daí que, se lê, a religião cristã pode contribuir ao desenvolvimento "só se Deus encontra um posto também na esfera pública". O Papa faz referência ao princípio de subsidiaridade, que oferece uma ajuda à pessoa "através da autonomía dos corpos intermédios". A subsidiariedade, explica, "é o antídoto mais eficaz contra toda a forma de assistencialismo paternalista" e "é mais adequada para humanizar a globalização". Assim mesmo, Bento XVI exorta aos Estados ricos a "destinar maiores quotas" do Produto Interno Bruto para o deesnvolvimento, respeitando os compromissos adquiridos. E augura um maior acesso à educação e, ainda mais, à "formação completa da pessoa" afirmando que, cedendo ao relativismo, se converte em mais pobre. Um exemplo, escreve, é o do fenómeno perverso do turismo sexual. "É doloroso constatar - observa - que se desenvolve com frequência com o aval dos governos locais". O Papa afronta a continuação ao fenómeno "histórico" das migrações. "Todo o emigrante, afirma, "é uma pessoa humana" que "possui direitos que devem ser respeitados por todos e em toda a situação". O último páragrafo do capítulo o dedica o Pontífice "à urgência da reforma" da ONU e "da arquitectura económica e financeira internacional". Urge "a presença de uma verdadeira Autoridade política mundial" (...) que goze de "poder efectivo".
O sexto e último capítulo está centrado no tema de "Desenvolvimento dos povos e a técnica".
O Papa põe em guarda ante a "pretensão Prometeica" segundo a qual "a humanidade crê poder-se recrear valendo-se dos ’prodígios’ da tecnología". A técnica, sublinha, não pode ter uma "liberdade absoluta". O campo primário "da luta cultural entre o absolutismo da tecnicidade e a responsabilidade moral do homem é hoje o da bioética", explica o Papa, e acrescenta: "A razão sem a fé está destinada a perder-se na ilusão da própria omnipotência". A questão social se converte em "questão antropológica". A investigação com embriões, a clonação, lamenta o Pontífice, "são promovidas pela cultura actual", que "crê haver desvendado todo o mistério". O Papa teme "uma sistemática planificação eugenésica dos nascimentos".
Na Conclusão da Encíclica, o Papa sublinha que o desenvolvimento "tem necessidade de cristãos com os braços elevados até Deus em gesto de oração", de "amor e de perdão, de renúncia a sí mesmo, de acolhimento ao próximo, de justiça e de paz".
Descarregar o texto completo da Encíclica em PDF, dando click em: http://es.catholic.net/catholic_db/archivosWord_db/caritas_en_veritate.pdf Recolha, transcrição e tradução (de espanhol para português) de António Fonseca

Igreja da Comunidade de São Paulo do Viso

Nº 5 801 - SÉRIE DE 2024 - Nº (277) - SANTOS DE CADA DIA - 2 DE OUTUBRO DE 2024

   Caros Amigos 17º ano com início na edição  Nº 5 469  OBSERVAÇÃO: Hoje inicia-se nova numeração anual Este é, portanto, o 277º  Número da ...