quarta-feira, 8 de julho de 2009

CARITAS IN VERITATE - ENCÍCLICA 29-6-2009

Meus amigos:
A partir desta data, vou tentar publicar e traduzir (de espanhol para português) - o mais sofrivelmente possível, já que eu não sou perito, mas sim porque conheço um bocado a língua espanhola (ou castelhana), dado que tenho um filho a viver há uns anos em Gijón e por vezes acontece arranhar um pouco este idioma que aliás, percebo quase totalmente, tanto escrito como falado... - , como ia dizendo, vou tentar traduzir a Encíclica "CARITAS IN VERITATE" mediante a recolha que efectuei através do site www.es.catholic.net, que, no entanto será feita por capítulos. Aliás, conforme podem verificar em postagem anterior já dei início a esta tarefa...



CARTA ENCÍCLICA

CARITAS IN VERITATE
DO SUMO PONTÍFICE BENTO XVI
AOS BISPOS AOS PRESBÍTEROS E DIÁCONOS ÀS PESSOAS CONSAGRADAS A TODOS OS FIÉIS LAICOS E A TODOS OS HOMENS DE BOA VONTADE
SOBRE O DESENVOLVIMENTO HUMANO INTEGRAL NA CARIDADE E NA VERDADE
INTRODUÇÃO
1. A Caridade na Verdade, da que Jesus Cristo se fez testemunha com sua vida terrena e, sobretudo, com sua morte e ressurreição, é a principal força impulsionadora do autêntico desenvolvimento de cada pessoa e de toda a humanidade. O amor -«caritas»- é uma força extraordinária, que move as pessoas a comprometer-se com valentía e generosidade no campo da justiça e da paz. É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta. Cada um encontra seu próprio bem assumindo o projecto que Deus tem sobre ele, para realizá-lo plenamente: com efeito, encontra no dito projecto a sua verdade e, aceitando esta verdade, se faz livre (cf. Jn 8,22). Portanto, defender a verdade, propô-la com humildade e convicção e testemunhá-la na vida são formas exigentes e insubstituíveis de caridade. Esta «goza com a verdade» (1 Co 13,6). Todos os homens percebem o impulso interior de amar de maneira autêntica; amor e verdade nunca os abandonam completamente, porque são a vocação que Deus colocou no coração e na mente de cada ser humano. Jesus Cristo purifica e liberta de nossas limitações humanas a busca do amor e a verdade, e nos desvenda plenamente a iniciativa de amor e o projecto de vida verdadeira que Deus tem preparado para nós.
Em Cristo, a Caridade na Verdade se converte no Rosto de sua Pessoa, numa vocação de amar a nossos irmãos na verdade de seu projecto. Com efeito, Ele mesmo é a Verdade (cf. Jn 14,6).

2. A caridade é a vía mestra da doutrina social da Igreja. Todas as responsabilidades e compromissos traçados por esta doutrina proveem da caridade que, segundo o ensinamento de Jesus, é a síntese de toda a Lei (cf. Mt 22,36-40). Ela dá a verdadeira substância à relação pessoal com Deus e com o próximo; não é só o princípio das micro-relações, como as amizades, a família, o pequeno grupo, mas também das macro-relações, como as relações sociais, económicas e políticas. Para a Igreja - ajudada pelo Evangelho -, a caridade é tudo porque, como ensina São João (cf. 1 Jn 4,8.16) e como recordei na minha primeira Carta Encíclica «Deus é caridade» (Deus caritas est): tudo provém da caridade de Deus, tudo adquire forma por ela, e a ela tende tudo. A caridade é o dom maior que Deus deu aos homens, é a sua promessa e nossaa esperança. Sou consciente dos desvios e a perda de sentido que tem sofrido e sofre a caridad, com o consequente risco de ser mal entendida, ou excluída da ética vivida e, em qualquer caso, de impedir sua correcta valoração. No âmbito social, jurídico, cultural, político e económico, quer dizer, nos contextos mais expostos ao dito perigo, se afirma facilmente sua irrelevância para interpretar e orientar as responsabilidades morais.

Daquí a necessidade de unir não só a Caridade com a Verdade, no sentido assinalado por São Paulo da «veritas in caritate» (Ef 4,15), mas também no sentido, inverso e complementário, de «caritas in veritate». Se há-de procurar, encontrar e expressar a verdade na «economía» da caridade, mas, por sua vez, se há-de entender, valorar e praticar a caridade à luz da verdade. Deste modo, não só prestaremos um serviço à caridade, iluminada pela verdade, mas que contribuiremos para dar força à verdade, mostrando sua capacidade de autentificar e persuadir na concretização da vida social. E isto não é algo de pouca importância hoje, num contexto social e cultural, que com frequência relativiza a verdade, desentendendo-se dela, ou recusando-a.

3. Por esta estreita relação com a verdade, se pode reconhecer a caridade como expressão autêntica de humanidade e como elemento de importância fundamental nas relações humanas, também as de carácter público. Só na verdade resplandece a caridade e pode ser vivida autênticamente. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade. Esta luz é simultáneamente a da razão e a da fé, por meio da qual a inteligência chega à verdade natural e sobrenatural da caridade, percebendo seu significado de entrega, acolhida e comunhão. Sem verdade, a caridade cai em mero sentimentalismo. O amor se converte num envoltório vazio que se enche arbitrariamente. Este é o risco fatal do amor numa cultura sem verdade. É presa fácil das emoções e as opiniões contingentes dos sujeitos, uma palavra de que se abusa e que se distorce, terminando por significar o contrário. A verdade liberta a caridade da estreiteza de uma emotividade que a priva de conteúdos relacionais e sociais, assim como de um fidelismo que mutila seu horizonte humano e universal. Na verdade, a caridade reflecte a dimensão pessoal e ao mesmo tempo pública da fé no Deus bíblico, que á às vezes «Agapé» e «Lógos»: Caridade e Verdade, Amor e Palavra.

4. Posto que está cheia de verdade, a caridade pode ser compreendida pelo homem em toda a sua riqueza de valores, compartilhada e comunicada. Com efeito, a verdade é «lógos» que cria «diá-logos» e, portanto, comunicação e comunhão. A verdade, resgatando os homens das opiniões e das sensações subjectivas, lhes permite chegar mais além das determinações culturais e históricas e apreciar o valor e a substância das coisas. A verdade abre e une o intelecto dos seres humanos no "lógos" do amor: este é o anúncio e o testemunho cristão da caridade. No contexto social e cultural actual, em que está difundida a tendência a relativizar o verdadeoro, viver a caridade na verdade leva a compreender que a adesão aos valores do cristianismo não é só um elemento útil, mas indispensável para a construção de uma boa sociedade e um verdadeiro desenvolvimento humano integral. Um cristianismo de caridade sem verdade se pode confundir facilmente com uma reserva de bons sentimentos, proveitosos para a convivência social, mas marginais. Deste modo, no mundo não haveria um verdadeiro e próprio lugar para Deus. Sem a verdade, a caridade é relegada a um âmbito de relações reduzido e privado. Fica excluída dos projectos e processos para construir um desenvolvimento humano de alcance universal, no diálogo entre saberes e operatividade.

5. A caridade é amor recebido e oferecido. É «gracia» (cháris). Sua origem é o amor que brota do Pai pelo Filho, no Espírito Santo. É amor que desde o Filho desce sobre nós. O amor criador, pelo que nós somos; é amor redentor, pelo qual somos recroados. É o Amor revelado, posto em prática por Cristo (cf. Jn 13,1) e «derramado em nossos corações pelo Espírito Santo» (Rm 5,5). Os homens, destinatários do amor de Deus, se convertem em sujeitos de caridade, chamados a fazerem-se eles mesmos instrumentos da graça para difundir a caridade de Deus e para tecer redes de caridade. A doutrina social da Igreja responde a esta dinâmica de caridade recebida e oferecida. É «caritas in veritate in re sociali», anúncio da verdade do amor de Cristo na sociedade. Dita doutrina é serviço da caridade, mas na verdade. A verdade preserva e expressa a força libertadora da caridade nos acontecimentos sempre novos da história. É ao mesmo tempo verdade da fé e da razão, na distinção e a sinergia em vez dos dos âmbitos cognitivos. O desenvolvimento, o bem estar social, uma solução adequada dos graves problemas sócio-económicos que afligem a humanidade, necessitam esta verdade. E necessitam ainda mais que se estime e dê testimunho desta verdade. Sem verdade, sem confiança e amor pelo verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a actuação social se deixa à mercê de interesses privados e de lógicas de poder, com efeitos desagregadores sobre a sociedade, tanto mais numa sociedade em vias de globalização, em momentos difíceis como os actuais.
6. «Caritas in veritate» é o princípio sobre o que gira a doutrina social da Igreja, um princípio que adquire forma operativa em critérios orientadores da acção moral. Desejo voltar a recordar particularmente dois deles, requeridos de maneira especial pelo compromisso para eo desenvolvimento numa sociedade em vias de globalização: a justiça e eo bem comum. Antes de tudo, a justiça. Ubi societas, ibi ius: toda a sociedade elabora um sistema próprio de justiça. A caridade vai mais além da justiça, porque amar é dar, oferecer do «meu» ao outro; mas nunca carece de justiça, a qual leva a dar ao outro o que é «seu», o que lhe corresponde em virtude de seu ser e de seu obrar. Não posso «dar» ao outro do meu sem lhe haver dado em primeiro lugar o que em justiça lhe corresponde.

Quem ama com caridade aos demais, é antes de tudo justamente com eles. Não basta dizer que a justiça não é estranha a caridade, que não é uma vía alternativa ou paralela à caridade: a justiça é «inseparável da caridade» [1], intrínseca a ela. A justiça á a primeira vía da caridade ou, como disse Paulo VI, sua «medida mínima» [2], parte integrante desse amor «com obras e segundo a verdade» (1 Jn 3,18), ao que nos exorta o apóstolo João. Por um lado, a caridade exige a justiça, o reconhecimento e o respeito dos legítimos direitos das pessoas e os povos. Se ocupa da construção da «cidade do homem» segundo o direito e a justiça. Por outro, a caridade supera a justiça e a completa seguindo a lógica da entrega e o perdão [3]. A «cidade do homem» não se promove só com relações de direitos e deveres, mas antes e mais ainda, com relações de gratuidade, de misericórdia e de comunhão. A caridade manifesta sempre o amor de Deus também nas relações humanas, outorgando valor teologal e salvífico a todo o compromisso pela justiça no mundo.
7. Há que ter também em grande consideração o bem comum. Amar a alguém é querer seu bem e trabalhar eficazmente por ela. Junto ao bem individual, há um bem relacionado com o viver social das pessoas: o bem comum. É o bem desse «todos nós», formado por individuos, familias e grupos intermédios que se unem em comunidade social [4]. Não é um bem que se busca por si mesmo, mas para as pessoas que formam parte da comunidade social, e que só nela podem conseguir seu bem realmente e de modo mais eficaz. Desejar o bem comum e esforçar-se por ele é exigência de justiça e caridade. Trabalhar pelo bem comum é cuidar, por um lado, e utilizar, por outro, esse conjunto de instituções que estruturam jurídica, civil, política e culturalmente a vida social, que se configura assim como pólis, como cidade. Se ama ao próximo tanto mais eficazmente, quanto mais se trabalha por um bem comum que responda também a suas necessidades reais. Todo o cristão está chamado a esta caridade, segundo sua vocação e suas possibilidades de incidir na pólis. Esta é a vía institucional -também política, poderíamos dizer - da caridade, não menos qualificada e incisiva do que possa ser a caridade que encontra directamente ao próximo fora das mediações institucionais da pólis. O compromisso pelo bem comum, quando está inspirado pela caridade, tem uma valência superior ao compromisso meramente secular e político. Como todo o compromisso em favor da justiça, forma parte desse testemunho da caridade divina que, actuando no tempo, prepara o eterno. A acção do homem sobre a terra, quando está inspirada e sustentada pela caridade, contribui à edificação dessa cidade de Deus universal para a qual avança a história da família humana. Numa sociedade em vías de globalização, o bem comum e o esforço por ele, hão-de abarcar necessariamente a toda a família humana, quer dizer, a comunidade dos povos e nações [5], dando assim forma de unidade e de paz à cidade do homem, e fazendo-a em certa medida uma antecipção que prefigura a cidade de Deus sem barreiras.
8. Ao publicar em 1967 a Encíclica Populorum progressio, meu venerado predecessor Paulo VI iluminou o grande tema de desenvolvimento dos povos com o esplendor da verdade e a luz suave da caridade de Cristo. Afirmou que o anúncio de Cristo é o primeiro e principal factor de desenvolvimento [6] e nos há deixado o depósito de caminhar pela vía do desenvolvimento com todo nosso coração e com toda nossa inteligência [7], quer dizer, com o ardor da caridade e a sabedoria da verdade. A verdade originária do amor de Deus, que se nos há dado gratuitamente, é o que abre nossa vida ao dom e faz possível esperar num «desenvolvimento de todo o homem e de todos os homens»[8], no trânsito «de condições menos humanas a condições mais humanas»[9], que se obtém vencendo as dificuldades que inevitavelmente se encontram ao longo do caminho. A mais de quarenta anos da publicação da Encíclica, desejo render homenagem e honrar a memória do grande Pontífice Paulo VI, retomando seus ensinos sobre o desenvolvimento humano integral e seguindo a rota que traçaram, para actualizá-las em nossos días. Este processo de actualização começou com a Encíclica Sollicitudo rei socialis, com a que o Servo de Deus João Paulo II quis comemorar a publicação da Populorum progressio por ocasião de seu vigéssimo aniversário. Até então, uma comemoração similar foi dedicada só a Rerum novarum. Passados outros vinte anos mais, manifesto minha convicção de que a Populorum progressio merece ser considerada como «a Rerum novarum da época contemporânea», que ilumina o caminho da humanidade em vias de unificação.
9. O amor na verdade - caritas in veritate - é um grande desafío para a Igreja num mundo em progressiva e expansiva globalização. O risco de nosso tempo é que a interdependência de facto entre os homens e os povos não se corresponda com a interacção ética da consciência e o intelecto, da que poss resultar um desenvolvimento realmente humano. Só com a caridade, iluminada pela luz da razão e da fé, é possível conseguir objectivos de desenvolvimento com um carácter mais humano e humanizador. O compartilhar os bens e recursos, do que provém o autêntico desenvolvimento, não se assegura só com o progresso técnico e com meras relações de conveniência, mas com a força do amor que vence ao mal com o bem (cf. Rm 12,21) e abre a consciência do ser humano a relações recíprocas de liberdade e de responsabilidade. A Igreja não tem soluções técnicas que oferecer [10] e não pretende «de nenhuma maneira misturar-se na política dos Estados»[11]. Não obstante, tem uma missão de verdade que cumprir em todo tempo e circunstância em favor de uma sociedade a medida do homem, de sua dignidade e de sua vocação a praxis, porque não está interessada em tomar emconsideração os valores - às vezes nem sequer o significado - com os quais julgá-la e orientá-la. A fidelidade ao homem exige a fidelidade à verdade, que é a única garantía de liberdade (cf. Jn 8,32) e da possibilidade de um desenvolvimento humano integral. Por isso a Igreja a busca, a anuncia incansavelmente e a reconhece ali onde se manifeste. Para a Igreja, esta missão de verdade é irrenunciável. Sua doutrina social é uma dimensão singular deste anúncio: está o serviço da verdad que liberta. Aberta à verdade, de qualquer saber que provenha, a doutrina social da Igreja a acolhe, recompõe em unidade os fragmentos em que a miúdo a encontra, e se faz sua portadora na vida concreta sempre nova da sociedade dos homens e os povos [12).
Recolha, transcrição e tradução
(de espanhol para português - o melhor possível -)
de António Fonseca

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