SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
(Sexta-feira a seguir à oitava do Corpo de Deus)
O símbolo que melhor representa o amor é o coração, como mostra o nosso modo ordinário de falar. Para expressar o amor que temos a uma pessoa, apontamos para o coração ou dizemos que a temos no coração. Para exprimir que uma pessoa é boa, compassiva, dizemos: «Que coração! Que bom coração! Que coração de mãe!» A devoção ao Coração de Jesus não é mais que a devoção (que quer dizer conhecimento, dedicação e entrega) ao amor de Jesus, manifestando no símbolo mais eloquente e claro desse mesmo amor, que é o coração. Coração de Jesus é o Jesus autêntico do Evangelho, que tem um coração «bondoso e cheio de misericórdia», que é o «amigo dos pecadores», que nos amou desde o presépio à cruz e ficou por nosso amor no sacrário. Santo Afonso Maria de Ligório escreveu: «A devoção ao Coração de Jesus é a mais bela e a mais sólida do cristianismo. A mais bela porque o mais belo atributo de Cristo é o seu amor, que nesta devoção honramos. A mais sólida porque é a devoção ao amor de Jesus, origem da Encarnação e de todos os seus actos. É, pois, maior que a devoção ao Menino Jesus, à Paixão ou ao Santíssimo Sacramento, porque nela veneramos o amor de Cristo, causa do seu nascimento, morte e da permanência eucarística». Ter devoção ao Coração de Jesus é acreditar no seu amor e viver para Ele em doação completa e desinteressada. É repetir com o apóstolo S. João: «Nós conhecemos e acreditamos no amor que Deus nos tem» (I Jo 4, 16). Assim julgaram este culto os últimos Pontífices: «No Coração de Jesus se há-de colocar toda a esperança; a Ele há que pedir e d’Ele se há-de esperar a salvação dos homens» (Leão XIII, enc. Charitate Christi). «Nesta devoção contém-se o resumo de toda a religião e ainda uma norma de vida mais perfeita, pois guia suavemente as almas ao conhecimento de Nosso Senhor e estimula-as eficazmente a amá-Lo com todo o coração e a imitá-Lo de perto» (Pio XI, enc. Miserentissimus Redemptor). Pio XII expôs maravilhosamente o que é a devoção ao Coração de Jesus na sua magistral encíclica Haurietis Aquas, de 15 de Maio de 1956. Dela extraímos estas passagens:
«É digna, pois, da maior estima esta forma de culto, que permite ao homem honrar e amar a Deus mais intensamente, e consagrar-se com maior facilidade e prontidão à caridade divina; tanto mais quanto é certo que o nosso Redentor Se dignou propô-la e recomendá-la ao povo cristão, e os Sumos Pontífices confirmaram-na com grandes louvores. Por isso, coisa temerária e prejudicial seria e até ofensa de Deus, ter em menos estima tão insigne benefício, concedido por Jesus Cristo à sua Igreja. Sendo assim, não há dúvida que os fiéis, ao honrarem o Sacratíssimo Coração de Jesus, cumprem o gravíssimo dever que têm de servir a Deus, e ao mesmo tempo de consagrar ao Criador e Redentor as suas pessoas e actividades, tanto externas como internas, e cumprem desta forma o mandamento divino: «Amarás ao Senhor teu Deus com todo o coração, com a toda a tua alma, com todo o espirito e com todas as suas forças». «Assim, incitamos a praticar com entusiasmo esta devoção a todos os Nossos filhos em Cristo… «Para tantos males, que hoje como nunca, perturbam profundamente os indivíduos, as famílias, as nações e o mundo inteiro, onde ir buscar remédio, veneráveis Irmãos? Poder-se-á, porventura, encontrar forma de piedade superior ao culto do Coração de Jesus, que melhor corresponda à índole da fé católica e mais se adapte às necessidades hodiernas da Igreja e da humanidade?» «Por isso, seguindo o exemplo do Nosso imediato Antecessor, apraz-Nos também a Nós repetir aqui aquela exortação que Leão XIII, de imortal memória, dirigia no fim do século passado aos fiéis do mundo inteiro e de todas as pessoas sinceramente preocupadas com a salvação de si mesmas e da sociedade: «Eis que se oferece hoje, aos nossos olhos, outro sinal muito favorável e divino: o Coração Sacratíssimo de Jesus… brilhando entre chamas com esplêndido fulgor. N’Ele se devem colocar todas as esperanças; a Ele se há-de pedir e d’Ele esperar a salvação dos homens”. «É ainda ardentíssimo desejo Nosso que todos os que se gloriam do nome de cristãos e lutam estrenuamente pelo estabelecimento do Reino de Cristo no mundo, tenham a devoção ao Coração de Jesus como bandeira de unidade, de salvação e de paz. E ninguém julgue que este culto prejudica em alguma coisa as outras formas de piedade, com que o povo cristão, dirigido pela Igreja, honra o Divino Redentor. Pelo contrário, a fervorosa devoção ao Coração de Jesus há-de sem dúvida favorecer e promover sobretudo o culto da Santíssima Cruz e, do mesmo modo, o amor ao Augustissimo Sacramento do Altar»
Paulo VI, eleito Papa no dia da festa do Coração de Jesus do ano de 1963, repetidas vezes recomendou a devoção a este divino Coração. A 6 de Fevereiro de 1965 dirigiu ao Episcopado do mundo inteiro uma Carta Apostólica, comemorativa do 2º centenário da aprovação da festa do Coração de Jesus. Nela diz: «Desejamos que a todas as categorias de fiéis sejam explicados, da maneira mais adaptada e completa, os profundos e íntimos princípios doutrinais que ilustram os infinitos tesouros de caridade do Sagrado Coração de Jesus; e que se determinem especiais funções sagradas, que afervorem, sempre cada vez mais a devoção para este culto, digno da mais alta consideração, a fim de se conseguir que todos os cristãos, animados de novas disposições de espirito, prestem as devidas homenagens ao mesmo Coração Divino e reparem os inumeráveis pecados com demonstrações de veneração sempre mais fervorosas, conformando também a vida inteira com os preceitos da verdadeira caridade, que é a plenitude da lei (cfr. Rom. 13, 10)… Esta maneira de proceder parece-me muito idónea para conseguir que o culto do Sagrado Coração, em alguns um tanto entibiado (com dor o dizemos), volte a florescer cada vez mais, e seja por todos considerado como forma nobilíssima e digna daquela piedade verdadeira, que no nosso tempo, particularmente por obra do Concilio Vaticano II, é insistentemente pedida para com Jesus Cristo, Rei e centro de todos os corações, cabeça do Corpo que é a Igreja… princípio e primogénito dentre os mortos, a fim de que em tudo tenha Ele o primado (Col 1, 18)».
Talvez nenhum Papa se tenha referido tantas vezes ao Coração de Jesus, como João Paulo II. Desde a sua eleição, a 16 de Outubro de 1978, até ao verão de 1982, nas suas alocuções, falou 39 vezes sobre este Divino Coração, ao qual consagrou também a Encíclica sobre a Misericórdia Divina, de 30 de Novembro de 1980. A devoção ao Coração de Jesus cultiva-a o papa desde a sua juventude, como ele declarou na homilia pronunciada na Paróquia Romana de Santa Maria de Trastévere, a 27 de Abril de 1980: «Na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a liturgia da Igreja concentra-se, com adoração e amor especial, em torno ao mistério do Coração de Cristo. Quero hoje dirigir juntamente convosco o olhar dos nossos corações para o mistério desse Coração. Ele falou-me desde a minha juventude. Cada ano volto a este mistério no ritmo litúrgico do tempo da Igreja». A 31 de Março de 1984, dirigiu estas palavras a uma peregrinação do Apostolado da Oração de Itália: «Finalmente é dirigida uma calorosa palavra de apreço e felicitações aos associados do Apostolado da Oração. Dada a importância fundamental deste apostolado na Igreja em geral e na vida particular de cada fiel, o meu discurso deveria ser muito mais longo e profundo do que aquilo que é possível neste breve espaço de tempo. Referindo-me à mensagem do Sagrado Coração a santa Margarida Maria e às grandes encíclicas dos meus predecessores, Leão XIII (Annum Sacrum, 25 de Maio de 1899), Pio XI (Miserentissimus Redemptor, 8 de Maio de 1928), Pio XII (Haurietis aquas, 15 de Maio de 1956), Paulo VI (Investigables divitias Christi, 6 de Fevereiro de 1965; Diserti interpretes facti, 25 de Maio de 1965) e às minhas duas encíclicas Redemptor hominis e Dives in misericordia, exorto-vos a estender e a aprofundar cada vez mais o raio do vosso apostolado em cada paróquia, comunidade e Diocese, inculcando a oração e o oferecimento quotidiano pela conversão dos pecadores, pelas necessidades da Igreja, pelos Governantes e Autoridades civis, a fim de que possuam verdadeira e recta consciência no governo, e estimulando a autêntica devoção ao Coração de Jesus por meio da consagração das famílias, e sobretudo a celebração vivida da primeira sexta-feira de cada mês com a confissão sacramental e a participação na Eucaristia».
Escreveu o papa Leão XIII que a devoção ao Coração de Jesus se resume em dois actos: Consagração e Reparação. A Consagração é o reconhecimento dos direitos soberanos de Jesus, a entrega ao seu amor e a confiança na sua misericórdia. O Papa Leão XIII consagrou o mundo inteiro ao Coração de Jesus, a 9 de Junho de 1899. Pio XII renovou esta Consagração e mandou que todos os anos se repetisse na festa de Cristo Rei, bem como um acto de desagravo na solenidade do Coração de Jesus.. Seguindo os exemplos e exortações dos papas e dos Bispos, têm sido consagradas ao Coração de Jesus as nações, cidades, vilas, freguesias, instituições e sobretudo as famílias e os indivíduos. A Reparação ocupa parte muito importante nesta devoção «porque – como ensina o papa Pio XI – os pecados e os delitos dos homens, cometidos em qualquer tempo, foram a causa de que o Filho de Deus fosse entregue à morte e, também no presente, causariam a morte de Cristo, acompanhada das mesmas dores e das mesmas angústias, visto cada pecado considerar-se Renovação, de alguma maneira, da Paixão do Senhor…». E por isso, ao manifestar-se a Santa Margarida Maria, disse Jesus: «Eis o Coração que tanto tem amado os homens e os cumulou de benefícios, e em paga do seu amor infinito, em vez de gratidão, encontra esquecimento, indiferença, ultrajes, e estes causados algumas vezes até pelas almas a Ele obrigadas pela dívida mais estrita de especial amor». Precisamente em Reparação de tais culpas, entre outras muitas recomendações fez estas, em particular, como a Si muito agradáveis: que os fiéis com intenção de desagravo se aproximassem da Sagrada Mesa para fazerem a «Comunhão Reparadora» e durante uma hora inteira realizassem actos de Oração e de Reparação, à qual com toda a propriedade se dá o nome de «Hora santa»; devoções estas que a Igreja não só aprovou, mas também enriqueceu com copiosos favores espirituais… Entre as práticas de devoção ao Coração de Jesus, e sobretudo de carácter reparador, sobressai o piedoso exercício das Primeiras Sextas-feiras, tão aprovado e recomendado pela Santa Igreja. Por ordem de Papa Leão XIII a Sagrada Congregação dos Ritos, a 21-7-1889, recomendou esta devoção. Outro tanto fez o mesmo Pontífice no ano seguinte, e Pio XI na encíclica Miserantissimus Redemptor, João XXIII no Sínodo Romano e João Paulo II, a 31-3-1984. Bento XV introduziu as próprias palavras do Coração de Jesus sobre as primeiras sextas-feiras na Bula de Canonização de Santa Margarida.
«O Senhor Jesus dignou-se falar à sua fiel esposa nestes termos: Na imensa misericordia do meu Coração prometo, a todos aqueles que durante nove meses seguidos comungarem na primeira sexta-feira, a graça da penitência final; não morrerão em pecado grave contra mim e sem receberem os Santos Sacramentos. O meu Coração será o seu refúgio seguro nos últimos momentos». A santa Sé várias vezes indulgenciou esta piedosa prática e muitos Bispos do mundo inteiro aprovaram-na e recomendaram-na. À devoção das primeiras sextas-feiras podem justamente aplicar-se as palavras do Concilio Vaticano II: «São muito de recomendar os actos de piedade do povo cristão, desde que estejam em conformidade com as leis da Igreja, e, especialmente, quando aprovados pela Santa Sé. As condições necessárias para nos tornarmos dignos da Grande Promessa, isto é, da Salvação, são três:
1. A comunhão; que deve ser feita na 1ª sexta-feira de cada mês e não noutro dia.
2. Deve fazer-se durante 9 meses seguidos.
3. A Comunhão há-de ser feita em estado de graça e com recta intenção. Certeza absoluta de salvação não no-la dá, nem nunca a poderemos ter. Mas dá-nos certeza moral, que é mais do que grande probabilidade. O notável moralista e insigne teólogo P. Vermeersch, longos anos professor da Universidade Gregoriana, de Roma, escreve: «A Grande Promessa dá certeza moral suficiente para afastar toda a ansiedade, quanto à nossa salvação». Segundo as palavras de Nosso Senhor, todos os que tiverem feito as nove primeiras sextas-feiras podem ter fundada esperança de:
1. - Morrer em estado de graça, isto é, de se salvar. É a principal recompensa anexa a esta devoção. É a realização da promessa de Jesus: «Quem comer deste pão viverá eternamente» (Jo 6, 51).
2. - Se à hora da morte se encontrarem em pecado mortal receberão, pela misericórdia de Deus, os últimos Sacramentos a fim de se salvarem.
3. - Se, já estiverem em graça, pode ser que os não recebam. Também os não necessitam para entrar no céu, que é o grande prémio das nove primeiras sextas-feiras.
4. - O Coração de Jesus auxiliá-los-á nos últimos momentos com graças especiais. Para merecer a Grande Promessa de Nosso Senhor, basta fazer uma vez as Primeiras sextas-feiras. Não deve, porém, ser suficiente para o nosso amor. Devemos desagravar e consolar o Coração de Jesus com comunhões cada vez mais fervorosas em todas as primeiras sextas-feiras da nossa vida. É este o desejo manifestado por Jesus a Santa Margarida Maria: «Comungarás todas as primeiras sextas-feiras de cada mês».