CRISTO REI
Festa de
NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
REI DO UNIVERSO
CHRISTUS REGNAT
CRISTO REINA
E reina pela cruz. «REGNAVIT A LIGNO DEUS».
Ao passo que tronos e tronos, ornados com pedras finas e cobertos de preciosos brocados, se esboroaram, a madeira rugosa da cruz continua, obstinadamente, a dominar o mundo. STAT CRUX DUM VOLVITUR ORBIS. Império estranho. Cristo ordenara aos apóstolos que lhe conquistasse, todo o o universo. Vimos muitos monarcas conduzirem os soldados à vitória. mas nenhum deles lhes disse:
«Quando eu já não existir e não possa dar a palavra de ordem, então começareis a conquistar grandes terras».
Que maravilha ! Um morto conquistador !
Jesus Cristo ousou predizer essas conquistas mundiais. Foi bem sucedido ?
Os Apóstolos ainda não tinham terminado a sua tarefa, quando São PAULO escrevia aos Colossenses:
«O Evangelho, que vós ouvistes, é pregado a toda a criatura debaixo do céu» (1, 23). O testemunho de São JUSTINO (Diálogo com Tryph, II-17) garante-nos que, cem anos depois de jesus Cristo, a religião contava fiéis no seio de todas as nações. Tertuliano, na sua Apologia, dirigida aos Magistrados do Império dizia:
«Somos de ontem e enchemos as vossas cidades, as vossas ilhas, os vossos próprios campos, o palácio, o senado, o foro; somente vos deixamos os templos. Se nos retirássemos, o Império ficaria deserto...»
«Entre os Partos, os Medos, os Elamitas, entre os habitantes da Mesopotâmia, da Arménia, da Frígia, da Capadócia, do Ponto, da Ásia Menor, do Egipto, de Cirene, entre as diversas raças dos Gétulas e dos Mouros, entre os povos de Espanha, da Gália, da Bretanha e da Germânia, por toda a parte contamos fiéis» (cap. 38, nº 24),
...Um inimigo da religião, Plínio o Moço, governador da Bitínia, escrevia em 112 ao Imperador Trajano:
«O contágio da superstição cristã já não se limita às cidades; invadiu as aldeias e os campos, apoderou-se de pessoas de todas as idades e de todas as condições sociais. os nossos templos estão quase de todo abandonados e as cerimónias desprezadas». (Cartas L.X.I,097 e Annales de Tácito).
Séneca deixou escapar esta exclamação de despeito:
«Esta raça de cristãos mete-se em toda a parte» (Referido por Santo Agostinho, Cidade de Deus, Livro 6).
A conclusão tira-a o próprio Renan:
«Em cento e cinquenta anos, a profecia de Jesus realizou-se. O grão de mostarda tornara-se uma árvore que começava a cobrir o mundo».
A Igreja é Católica, isto é, representada em todo o mundo, já que a catolicidade não é uma questão de número mas de universalidade. Oitocentos milhões de homens dizem-se "cristãos" , o que, segundo a própria etimologia, significa que se têm oficialmente como súbditos de Cristo.
Jesus é um Rei que reina e a nova festa de Cristo-Rei por toda a parte se revestiu dum carácter triunfal. CHRISTUS REGNAT.
O mais notável é que Jesus ousou querer e predizer que o seu Reino seria um Reino de amor. O amor é aquilo que menos se pode impor ao mundo, um sentimento tão livre que ninguém o pode conquistar à força. Pode impor-se aos homens a obediência; pode impor-se a estima; pode até impor-se a admiração, à força de virtude, e de talento ou de génio. O afecto, porém, não se pode ou o mero facto de o impor teria como resultado paralisá-lo. Não podemos mandar que nos amem. Suplicamo-lo.
Nosso Senhor, sim, exige o amor e faz dele o seu primeiro mandamento.
«Amarás o Senhor teu Deus, de todo o coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e com todo o teu esforço. Eis o primeiro mandamento» (Mc 12, 30).
Vai mais longe ainda e quer o amor de todos os homens. Dificilmente, chegamos a encontrá-lo num amigo, em duas ou três pessoas. O esposo exige por vezes inutilmente o amor da esposa e nem sempre ganhamos a amizade dum irmão, dum filho. Como é raro chegar à certeza de termos ganho alguns corações, um só coração integralmente !
Quem jamais sonhou ser amado por todos ?
Quem ? Jesus.
E quanto tempo é necessário amá-lo assim ?
Jesus contentar-se-á porventura com uma prova brilhante de amor ?
Com alguns actos heroicos ?
Com um ano inteiro de dedicação ? Não.
Quer ser amado sempre, sem nenhum arrependimento.
«Todo aquele que olha para trás, não é apto para o Reino de Deus» (Lc 9, 62)
E como será necessário amá-Lo ?
Porque afinal há graus de amor... Deve ser amado acima de tudo, de modo que (na estima racional e não na parte emotiva) os homens devem preferi-lo aos pais, às esposas, aos filhos. Esta é a sua vontade intransigente.
Uma exigência assim, não o condenará ao isolamento, ao ridículo ? Existe ainda um último ponto que confunde ainda mais a nossa maneira humana de sentir.
Quando é que Cristo será amado deste modo ? Depois da morte.
«Quando for levantado da terra, atrairei a mim todos os homens. Dizia isto para significar de que morte havia de morrer» (Jo 12, 32-33).
Jesus, que foi abandonado em vida, até pelos próprios discípulos, que expirou no meio de insultos, vai ser amado depois da morte ?
Não sabia o Mestre que a presença é o grande alimento do amor e ignorava aquela tão simples lei da psicologia: longe da vista, longe do coração ?
Quando morre um homem, os que o conheceram podiam ainda amá-lo; mas desaparecem, e com eles, a ternura. Os sucessores poderão admirar, mas já não amam verdadeiramente. O milagre deu-se. Nosso Senhor conseguiu-o:
«Condenado à morte, venço». (São Fulgêncio, Sermão 5º para a Epifania).
Pascal num dos papéis soltos em que escrevia pensamentos, deixou-nos estas lacónicas palavras, de cujo desenvolvimento resultaria, sob a sua pena, um belo capítulo.
«Jesus Cristo quis ser amado; foi-o; é Deus».