segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

CARTA AOS EFÉSIOS - S. PAULO

Cartas de São Paulo
Carta aos Efésios
VIDA PLENA EM CRISTO
Introdução
As quatro cartas aos Filipenses, a Filémon, aos Colossenses e aos Efésios formam o grupo das cartas do cativeiro. As três primeiras foram muito provavelmente escritas em Éfeso, entre os anos 55-57. As cartas aos Efésios e Colossenses talvez tenham sido escritas na mesma ocasião; é o que se deduz da semelhança entre elas e pelo facto de mencionarem Tíquico como portador de ambas (Ef 6,21; Cl 4,7). O Apóstolo parece não conhecer pessoalmente os destinatários dessas duas cartas. Isto leva-nos a pensar que a carta aos Efésios, na origem, não teve destinatário preciso; talvez fosse uma circular destinada às comunidades da região vizinha de Éfeso; e alguns chegam a pensar que seria a mesma carta dirigida à Igreja de Laodiceia, citada em Cl 4,16. Note-se que a expressão «em Éfeso» (Ef 1,1) falta em diversos manuscritos antigos.
A carta aos Efésios é fruto de longa e amadurecida meditação teológica. Contemplando o projecto de Deus para a salvação da Humanidade, o olhar de Paulo concentra-se em Jesus Cristo no Céu. É a ideia central da carta. Cristo, porém, não está longe do mundo nem dos homens. De facto, a sua soberania engloba toda a Criação e com ela toda a Humanidade, que assim constituem o seu Corpo, a Igreja, na qual se manifesta o grande mistério agora revelado, ou seja: em Cristo, Deus reúne todos os homens na paz e na unidade, excluindo quaisquer separações de raça ou de origem religiosa. Cristo é o centro e ápice do eterno projecto de Deus, é o caminho da reconciliação e reunião de todos os homens no único povo de Deus. A Igreja abarca a Humanidade inteira, e Paulo contempla-a nas dimensões do Universo. Ela é descrita sob três imagens: esposa (5,22-23), corpo (1,23; 4,16) e edifício (2,19-22). Deste modo, o Apóstolo relembra os laços íntimos e orgânicos que unem os homens a Cristo e entre si na comunidade, para a levar ao pleno desenvolvimento. A carta aos Efésios é a carta do mistério da Igreja.
1
Endereço e saudação
[1]Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, aos cristãos que estão em Éfeso e fiéis em Jesus Cristo. 2Que a graça e a paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco.
A graça não tem limites
3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso SenhorJesus Cristo: Ele nos abençoou com todas as bênçãos espirituais, no Céu,em Cristo. 4 Ele nos escolheu em Cristo antes de criar o mundo para que sejamos santos e sem defeito diante d’Ele, no amor. 5 Ele nos predestinou para sermos seus filhos adoptivos por meio de Jesus Cristo,conforme a benevolência da sua vontade, 6 para o louvor da sua glória e da graça que Ele derramou abundantemente sobre nós por meio do seu Filho querido. 7 Por meio do sangue de Cristo é que fomos libertos, e n’Ele as nossas faltas foram perdoadas, conforme a riqueza da sua graça. 8 Deus derramou sobre nós essa graça, abrindo-nos para toda a sabedoria e inteligência. 9 Ele fez-nos conhecer o mistério da sua vontade,a livre decisão que havia tomado outrora 10de levar a História à sua plenitude, reunindo o Universo inteiro, tanto as coisas celestes como as terrestres, sob uma só Cabeça, Cristo. 11Em Cristo recebemos a nossa parte na herança, conforme o projecto d’Aquele que tudo conduz segundo a sua vontade: fomos predestinados 12a ser o louvor da sua glória, nós, que já antes esperávamos em Cristo. 13Em Cristo, também vós ouvistes a Palavra da verdade, o Evangelho que vos salva. Em Cristo, ainda, acreditastes, e fostes marcados com o selo do Espírito prometido, o Espírito Santo, 14que é a garantia da nossa herança, enquanto esperamos a completa libertação do povo que Deus adquiriu para o louvor da sua glória.
Agradecimento e pedido
15Tenho ouvido falar da fé que tendes no Senhor Jesus e do vosso amor para com todos os cristãos. 16Por isso, não cesso de dar graças a vosso respeito, quando vos menciono nas minhas orações. 17Que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vos revele Deus e faça que O conheçais profundamente. 18Que vos ilumine os olhos da mente, para que compreendais a esperança para a qual Ele vos chamou; para que entendais como é rica e gloriosa a herança destinada ao seu povo; 19e compreendais o grandioso poder com que Ele age em favor de nós que acreditamos, conforme a sua força poderosa e eficaz. 20Ele manifestou-a em Cristo, quando O ressuscitou dos mortos e O fez sentar-Se à sua direita no Céu, 21muito acima de qualquer principado, autoridade, poder e soberania, e de qualquer outro nome que se possa nomear, não só no presente, mas também no futuro. 22De facto, Deus colocou tudo debaixo dos pés de Cristo e colocou-O acima de todas as coisas, como Cabeça da Igreja, 23a qual é o seu corpo, a plenitude d’Aquele que plenifica tudo em todas as coisas.
2
Salvos pela graça
1Vós estáveis mortos por causa das faltas e pecados que cometíeis. 2Outrora vivíeis nessas faltas e pecados, seguindo o modo de pensar deste mundo, seguindo o príncipe do poder do ar, o espírito que agora age nos homens desobedientes. 3Antigamente também nós andávamos como eles, submetidos aos desejos da carne, obedecendo aos caprichos do instinto e da imaginação; como os outros, éramos, por natureza, merecedores da ira de Deus. 4Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, 5deu-nos a vida juntamente com Cristo, quando estávamos mortos por causa das nossas faltas. Fostes salvos pela graça! 6Na pessoa de Jesus Cristo, Deus ressuscitou-nos e fez-nos sentar no Céu. 7Assim, com a sua bondade para connosco em Jesus Cristo, Ele quis mostrar para os tempos futuros a incomparável riqueza da sua graça.
8De facto, fostes salvos pela graça, por meio da fé; e isto não vem de vós, mas é dom de Deus. 9Isto não vem das obras, para que ninguém se encha de orgulho. 10Porque foi Deus quem nos fez, e em Jesus Cristo fomos criados para as boas obras que Deus já havia preparado, a fim de que nos ocupássemos com elas.
Todos reunidos em Cristo
11Lembrai-vos de que vós, pagãos de nascimento, éreis chamados incircuncisos por aqueles que se dizem circuncidados, devido à circuncisão que se faz na carne com mão humana. 12Lembrai-vos de que nesse tempo estáveis sem Cristo, afastados da cidadania de Israel, estranhos para as alianças da promessa, sem esperança e sem Deus neste mundo. 13Mas agora, em Jesus Cristo, vós que estáveis longe fostes trazidos para perto, graças ao sangue de Cristo. 14Cristo é a nossa paz. De dois povos, Ele fez um só. Na sua carne derrubou o muro da separação: o ódio. 15Aboliu a Lei dos mandamentos e preceitos. Ele quis, a partir do judeu e do pagão, criar em Si mesmo um homem novo, estabelecendo a paz. 16Quis reconciliá-los com Deus num só corpo, por meio da cruz; foi nela que Cristo matou o ódio. 17Ele veio anunciar a paz a vós, que estáveis longe, e a paz àqueles que estavam perto. 18Por meio de Cristo, podemos, uns e outros, apresentar-nos diante do Pai, num só Espírito.
19Vós, portanto, já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas concidadãos do povo de Deus e membros da família de Deus. 20Pertenceis ao edifício que tem como alicerce os Apóstolos e os profetas; e o próprio Jesus Cristo é a pedra principal dessa construção. 21Em Cristo, toda a construção se ergue, bem ajustada, para formar um templo santo no Senhor. 22Em Cristo, também vós sois integrados nessa construção, para vos tornardes morada de Deus, por meio do Espírito.
3
Paulo e o mistério de Cristo
1Por isso, é que eu, Paulo, estou prisioneiro de Cristo em favor de vós, os pagãos... 2Certamente ouvistes falar do modo como a graça de Deus me foi confiada em vosso benefício. 3Foi por revelação que Deus me fez conhecer o mistério que acabo de expor brevemente. 4Lendo esta carta, podereis entender a percepção que eu tenho do mistério de Cristo. 5Deus não manifestou esse mistério às gerações passadas da mesma forma com que o revelou agora, pelo Espírito, aos seus santos Apóstolos e profetas: 6em Jesus Cristo, por meio do Evangelho, os pagãos são chamados a participar da mesma herança, a formar o mesmo corpo e a participar da mesma promessa. 7Eu fui feito ministro desse Evangelho pelo dom da graça que Deus me concedeu através do seu poder eficaz. 8A mim, o menor de todos os cristãos, foi dada a graça de anunciar aos pagãos a incalculável riqueza de Cristo, 9e de esclarecer a todos como se realiza o mistério que esteve sempre escondido em Deus, o Criador do Universo. 10Deste modo, os principados e as autoridades no Céu doravante conhecem, graças à Igreja, a multiforme sabedoria de Deus, 11conforme o projecto eterno que Ele executou em Jesus Cristo nosso Senhor. 12N’Ele ousamos aproximar-nos de Deus com aquela confiança que a fé em Cristo nos dá. 13Peço-vos: não fiqueis abatidos com as tribulações que eu enfrento por vossa causa, pois elas são motivo de glória para vós.
Enraizados e alicerçados no amor
14É por isso que eu dobro os joelhos diante do Pai, 15de quem recebe o nome toda a família, no Céu e na Terra. 16Que Ele Se digne, segundo a riqueza da sua glória, fortalecer-vos a todos no seu Espírito, para que o homem interior de cada um se fortifique. 17Que Ele faça habitar Cristo no vosso coração pela fé. Enraizados e alicerçados no amor, 18tornar-vos-ei capazes de compreender, com todos os cristãos, qual é a largura e o comprimento, a altura e a profundidade, 19de conhecer o amor de Cristo, que supera qualquer conhecimento, para que fiqueis repletos de toda a plenitude de Deus. 20Deus, por meio do seu poder que age em nós, pode realizar muito mais do que pedimos ou imaginamos; 21a Ele seja dada a glória na Igreja e em Jesus Cristo por todas as gerações, para sempre. Ámen!
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Unidade na diversidade
1Por isso, eu, prisioneiro no Senhor, peço que vos comporteis de modo digno da vocação que recebestes. 2Sede humildes, amáveis, pacientes e suportai-vos uns aos outros no amor. 3Mantende entre vós laços de paz, para conservar a unidade do Espírito.
4Há um só corpo e um só Espírito, assim como fostes chamados a uma só esperança:
5há um só Senhor, uma só fé, um só baptismo.
6Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, que age por meio de todos e está presente em todos.
7Cada um de nós, entretanto, recebeu a graça na medida que Cristo a concedeu. 8Por isso diz a Escritura: «Subiu às alturas levando prisioneiros; distribuiu dons aos homens». 9Que quer dizer «subiu»? Quer dizer que primeiro desceu aos lugares mais baixos da Terra. 10Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima de todos os céus, para plenificar o Universo. 11Foi Ele quem estabeleceu alguns como Apóstolos, outros como profetas, outros como evangelistas e outros como pastores e mestres. 12Assim, Ele preparou os cristãos para o trabalho do ministério que constrói o Corpo de Cristo.
13A meta é que todos juntos nos encontremos unidos na mesma fé e no conhecimento do Filho de Deus, para chegarmos a ser o homem perfeito que, na maturidade do seu desenvolvimento, é a plenitude de Cristo. 14Então, já não seremos crianças, arrastados pelas ondas e levados para cá e para lá por qualquer vento de doutrina, presos pela artimanha dos homens e pela astúcia com que eles nos induzem ao erro. 15Pelo contrário, vivendo um amor autêntico, cresceremos sob todos os aspectos em direcção a Cristo, que é a Cabeça. 16Ele organiza e dá coesão ao corpo inteiro, através de uma rede de articulações, que são os membros, cada um com a sua actividade própria, para que o corpo cresça e se construa a si próprio no amor.
Do homem velho para o homem novo
17Portanto, em nome do Senhor, vos digo e recomendo: não vivais como os pagãos, cuja mente é vazia. 18A sua inteligência tornou-se cega e vivem muito longe da vida de Deus, porque o endurecimento do seu coração é que os mantém na ignorância. 19Perderam a sensibilidade e deixaram-se levar pela libertinagem, entregando-se com avidez a todo o tipo de imoralidade. 20Não foi assim que aprendestes a conhecer Cristo, 21se é que de facto Lhe destes ouvidos e fostes mesmo instruídos segundo a verdade que há em Jesus. 22Deveis deixar de viver como vivíeis antes, como homem velho que se corrompe com paixões enganadoras. 23É preciso que vos renoveis pela transformação espiritual da inteligência 24e vos revistais do homem novo, criado segundo Deus na justiça e na santidade que vem da verdade.
25Por isso, abandonai a mentira: cada um diga a verdade ao seu próximo, pois somos membros uns dos outros. 26Se vos irardes, não pequeis; o Sol não se ponha sobre a vossa ira. 27Não deis ocasião ao diabo. 28Quem roubava, não roube mais; antes, ocupe-se trabalhando com as próprias mãos em algo útil e tenha assim que repartir com os pobres. 29Que nenhuma palavra inconveniente saia da vossa boca; ao contrário, se for necessário, dizei uma boa palavra, que seja capaz de edificar e fazer bem aos que ouvem.
30Não entristeçais o Espírito Santo, com que Deus vos marcou para o dia da libertação. 31Afastai de vós qualquer aspereza, desdém, raiva, gritaria, insulto, e toda a espécie de maldade. 32Sede bons e compreensivos uns com os outros, perdoando-vos mutuamente, assim como Deus vos perdoou em Cristo.
5
Imitar a Deus
1Sede imitadores de Deus, como filhos queridos. 2Vivei no amor, assim como Cristo nos amou e Se entregou a Deus por nós, como oferta e vítima, como perfume agradável. 3Fornicação, impureza e avareza não sejam nem assunto de conversa entre vós, pois isso não convém a cristãos. 4O mesmo se diga a respeito de piadas indecentes, picantes ou maliciosas. São coisas inconvenientes. Em vez disso, dai graças a Deus.
5Podeis estar certos de uma coisa: nenhuma pessoa imoral, impura ou avarenta — pois a avareza é uma idolatria — jamais terá herança no reino de Cristo e de Deus. 6Ninguém vos engane com argumentos vazios, porque essas coisas atraem a ira de Deus sobre os desobedientes. 7Não sejais seus cúmplices! 8Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Por isso, comportai-vos como filhos da luz. 9O fruto da luz consiste em toda a bondade, justiça e verdade. 10Procurai discernir o que é agradável ao Senhor. 11Não participeis das obras infrutuosas das trevas; pelo contrário, denunciai tais obras. 12Dá até vergonha dizer o que eles fazem às escondidas. 13Porém, tudo o que é denunciado torna-se manifesto pela luz, 14pois tudo o que se torna manifesto é luz. É por isso que se diz: «Desperta, tu que dormes. Levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará».
15Estai atentos à maneira como viveis: não vivais como tolos, mas como homens sensatos, 16aproveitando o tempo presente, porque os dias são maus. 17Não sejais insensatos; antes, procurai compreender a vontade do Senhor. 18Não vos embriagueis com vinho, que leva à libertinagem, mas procurai a plenitude do Espírito. 19Juntos recitai salmos, hinos e cânticos inspirados, cantando e louvando ao Senhor de todo o coração. 20Agradecei sempre a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
Submissos uns aos outros
21Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo. 22As mulheres sejam submissas aos seus maridos, como ao Senhor. 23De facto, o marido é a cabeça da sua esposa, assim como Cristo, salvador do Corpo, é a cabeça da Igreja. 24E assim como a Igreja está submissa a Cristo, assim também as mulheres sejam submissas em tudo aos seus maridos.
25Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela; 26assim, Ele a purificou com o banho de água e a santificou pela Palavra, 27para apresentar a Si mesmo uma Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou qualquer outro defeito, mas santa e imaculada.
28Portanto, os maridos devem amar as suas mulheres como aos seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, está amando a si mesmo. 29Ninguém odeia a sua própria carne; pelo contrário, nutre-a e cuida dela, como Cristo faz com a Igreja, 30porque somos membros do seu corpo. 31Por isso o homem deixará seu pai e sua mãe e unir-se-á à sua mulher, e os dois serão uma só carne. 32Este mistério é grande: eu refiro-me a Cristo e à Igreja. 33Portanto, cada um de vós ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido.
6
1Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isso é justo. 2«Honra teu pai e tua mãe» é o primeiro mandamento, e vem acompanhado de uma promessa: 3«para que sejas feliz e tenhas vida longa sobre a Terra». 4Pais, não deis aos filhos motivo de revolta contra vós; criai os filhos, educando-os e corrigindo-os como quer o Senhor. 5Escravos, obedecei aos vossos senhores nesta vida, com temor e tremor, com simplicidade de coração, como a Cristo. 6Não sirvais somente quando vigiados ou para que os homens vos elogiem, mas sede como servos de Cristo, que cumprem de todo o coração a vontade de Deus. 7Servi de bom grado, como se servísseis ao Senhor e não a homens. 8Vós sabeis que cada um, escravo ou livre, receberá do Senhor o bem que tiver feito.
9Senhores, tratai os vossos servos do mesmo modo. Deixai de lado as ameaças: bem sabeis que tanto eles como vós tendes o mesmo Senhor, que está no Céu e não faz distinção de pessoas.
A vida cristã é luta
10Quanto ao mais, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder.
11Vesti a armadura de Deus para poderdes resistir às manobras do diabo. 12A nossa luta, de facto, não é contra homens de carne e osso, mas contra os principados e as autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do mal, que habitam as regiões celestes. 13Por isso vesti a armadura de Deus para que, no dia mau, possais resistir e permanecer firmes, superando todas as provas. 14Ficai, portanto, bem firmes: cingidos com o cinturão da verdade, vestidos com a couraça da justiça, 15os pés calçados com o zelo para propagar o evangelho da paz; 16tende sempre na mão o escudo da fé, e assim podereis apagar as flechas inflamadas do Maligno. 17Ponde o capacete da salvação e empunhai a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus.
18Rezai incessantemente no Espírito, com toda a espécie de orações e súplicas, vigílias, intercedendo, sem cansaço, por todos os cristãos.
19Rezai também por mim: que a Palavra seja colocada na minha boca, para anunciar ousadamente o mistério do Evangelho, 20do qual sou embaixador aprisionado. Que eu possa anunciá-lo com ousadia, como é meu dever.
Saudações finais
21Desejo que também vós saibais qual é a minha situação e o que estou fazendo. Tíquico, o irmão querido e fiel ministro no Senhor, dar-vos-á todas as notícias. 22Eu o envio, para que recebais notícias nossas e sejais reconfortados. 23Aos irmãos, a paz, o amor e a fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. 24A graça esteja com todos aqueles que amam nosso Senhor Jesus Cristo com amor perene.
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[1]1,1-2: Quanto à indicação «em Éfeso», cf. Introdução.
3-14: Paulo desenvolve um hino de louvor em forma de «bênção», frequente no Antigo Testamento. O louvor é uma resposta do homem ao Deus que se manifesta através de um acto de salvação ou mediante a revelação de um mistério.
Deus Pai é o sujeito e a fonte de toda a acção criadora e salvadora. E tudo o que Deus Pai realiza no homem e no Mundo, fá-lo através de seu Filho Jesus Cristo: escolhe (vv. 4-5), liberta (vv. 6-7), reúne tudo em Cristo (vv. 8-10), entrega a herança prometida (vv. 11-12) e concede o dom do Espírito Santo (vv. 13-14).
6: A expressão «para o louvor da sua glória» (cf. vv. 12 e 14) mostra que o sentido último da vida humana é louvar a Deus. O louvor é, portanto, acto de consciência: declarando Deus como o único absoluto, o homem reconhece que as criaturas são relativas. O louvor é devido somente a Deus.
9-10: O mistério é o projecto com que Deus se propõe levar a História à sua plena realização, reunindo em Cristo tudo o que existe.
15-23: Pela fé, os cristãos possuem uma sabedoria que supera qualquer outro conhecimento: sabem que Deus manifestou em Jesus Cristo a sua força, destronizando todos os poderes que até agora aprisionam a vida, e libertando os homens para uma esperança nova diante do futuro. Nesta carta, a Igreja ideal identifica-se praticamente com o Reino e, portanto, ultrapassa meras concretizações históricas. Como corpo e plenitude de Cristo, ela torna-se a meta para a qual caminhamos. Paulo refere-se a uma Igreja santa, a um modelo ideal que exige conversão contínua da Igreja real que vive na História.
2,1-10: Paulo opõe duas épocas e dois modos de viver: sem Cristo e com Cristo. Sem Cristo é o mundo pagão, cuja mentalidade, modo de pensar e de agir manifestam a presença activa do mal, que é o egoísmo que assume formas individuais e colectivas, dividindo os homens. Com Cristo surge a nova forma de viver: o amor que gera doação e comunhão, através das obras que continuam a acção de Jesus Cristo, realizando o projecto de Deus. A nova forma de viver, porém, é graça de Deus que já foi dada aos homens através do testemunho de Jesus Cristo. A vida cristã é a passagem contínua de um modo de viver para o outro.
11-22: A participação de judeus e pagãos no único povo de Deus é sinal concreto do homem novo. A morte de Cristo derrubou o muro de separação que a Lei colocava entre judeus e pagãos; surgiu assim o novo Israel, a Igreja, que se abre para todos os homens e os coloca sob uma cabeça única, Cristo. O Evangelho fará cair todas as diferenças. Por mais que surjam sociedades classistas, as suas leis e instituições injustas cairão, ou derrubadas pela violência, ou desprestigiadas por sacrificarem os seus povos, em lugar de os ajudarem.
3,1-13: O mistério é o centro do anúncio de Paulo, e está inseparavelmente ligado à sua vocação de missionário entre os pagãos. Esse mistério é o projecto de Deus, que se realizou em Jesus Cristo e que manifesta toda a sua grandeza na Igreja, através do ministério de Paulo: os pagãos são chamados a pertencer ao povo de Deus.
14-21: O Apóstolo quer que os cristãos conheçam profundamente a Deus e experimentem todas as dimensões do amor de Cristo por nós, para que o próprio Cristo possa habitar no coração de cada um. E isso acontecerá se os cristãos viverem uma autêntica vida comunitária que tenha o amor como raiz e alicerce. A realidade nova trazida por Cristo vai além de todo o conhecimento e só pode ser experimentada na vivência do amor.
4,1-16: O alicerce e raiz do amor tem como finalidade conservar a unidade do Corpo de Cristo (4,1-6). Mas unidade não significa uniformização, pois Deus concede dons diferentes a cada pessoa (4,7-13). Essa unidade na diversidade dá coesão à comunidade para que ela não seja dominada por doutrinas que a despedacem (4,14-16).
1-6: O aspecto central da vida cristã é a unidade. Com efeito, a acção de Deus em Jesus Cristo unifica toda a realidade. Os cristãos devem ser exemplo vivo dessa unidade, que supera as divisões humanas.
7-13: A diversidade dos dons que cada um recebeu de Cristo não pode ser fonte de divisão, inveja e competição na comunidade. Paulo relembra que a variedade de dons é desejada por Cristo, para que cada um se coloque ao serviço de todos. Os dons relembrados no v. 11 são os carismas de governo e ensino, importantes para a comunidade permanecer unida no conhecimento e no compromisso da fé.
14-16: Vivendo o amor autêntico que preserva a unidade e respeita a diversidade, a comunidade torna-se capaz de discernir as falsas doutrinas e manter sempre vivo o esforço e a tensão que a leva a crescer sempre mais, tornando-se a verdadeira Igreja de Cristo.
17-32: Paulo convida os cristãos à conversão contínua. Essa conversão começa no baptismo, onde o cristão deixa o homem velho (modo de vida pagão) para se revestir do homem novo (a justiça que vem pela vida segundo o Espírito). Nos vv. 25-32, Paulo dá exemplos concretos do que significa essa passagem: da mentira para a verdade; do roubo para o trabalho honesto, que leve a partilhar com os que nada têm; da palavra inconveniente para a palavra construtiva; do comportamento egoísta para a generosidade recíproca.
5,1-20: Paulo traz uma série de exortações e conselhos para que os cristãos vivam autenticamente a sua fé. Os vv. 1-2 apresentam o princípio que rege a vida nova: imitar a Deus, vivendo o amor, como viveu Jesus Cristo. Por outras palavras, os cristãos são e devem viver como filhos de Deus, tendo como modelo supremo o acto de amor de Cristo na cruz, onde entregou a sua vida por todos. A vida nova compreende a renovação de todas as atitudes do homem: esta é a resposta livre ao dom de Deus.
5,21-6,9: Paulo analisa as três relações fundamentais da família antiga: mulher-marido, filhos-pais, escravos-patrões. Não busca modificar o aspecto externo e jurídico dessas relações, mas quer que elas se renovem a partir de dentro, para serem vividas com mentalidade nova, em coerência com tudo aquilo que se aprendeu e se recebeu de Cristo. Para o sentido geral das exortações, cf. nota em Cl 3,18-4,1.
5,21: Este versículo apresenta uma espécie de princípio fundamental que terá três diferentes aplicações nos versículos seguintes. A submissão de que fala pode ser compreendida como forma de amor, caracterizado pela humildade e doação. O temor de Cristo apresenta a motivação: assim como Cristo é o Salvador de todos, também será o juiz de todos. Este princípio fundamental atinge a todos indistintamente.
22-33: Paulo compara a relação entre Jesus Cristo e a Igreja com a visão do matrimónio na sociedade antiga, onde a mulher devia submeter-se inteiramente ao marido. De facto, Cristo é chefe e salvador da Igreja, e esta deve submeter-se a Ele como seu Senhor. Numa concepção actual de relação marido-mulher, onde existe igualdade de direitos e deveres, Paulo certamente faria outro tipo de aplicação.
6,1-9: A vida é uma renovação total das relações, onde o respeito é devido a todos: os pais também devem respeitar os filhos. Quanto ao relacionamento entre senhores e escravos, Paulo não faz uma crítica à estrutura social do seu tempo; porém, salientando que todos são iguais perante Deus, anuncia uma transformação radical das relações, sejam quais forem os papéis e os deveres sociais (cf. carta a Filémon e notas correspondentes).
10-20: A vida cristã é uma luta contínua contra o mal, e as armas para o combate são: verdade, justiça, testemunho do Evangelho, fé, Palavra de Deus. Para os antigos, o mal era personificado por demónios e forças invisíveis que dominam os homens (Principados, Autoridades, Poderes, Soberanias). Traduzindo o mítico para o histórico, poderíamos falar de estruturas que geram egoísmo, injustiça, ódio, opressão e morte.
21-24: Sobre Tíquico, cf. Introdução e a nota a Cl 4,7-9.
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LOUVADO SEJA DEUS,
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO,
LOUVADA SEJA SUA MÃE MARIA SANTISSIMA,
POR TODOS OS SÉCULOS DOS SÉCULOS. ´
AMÉN.
António Fonseca

CARTA A FILÉMON - S. PAULO

NOTA PRÉVIA:
Meus amigos e Irmãos em Cristo.
Na sexta feira passada, dia 30/1 fui ao Hospital de S. João para uma consulta externa de Ortopedia, pensando que iria ser-me retirado o gesso do braço esquerdo que fracturei em 11 de Janeiro no acidente que tive em minha casa. Porém, após ter sido retirado o gesso, constatei que afinal o braço ainda me doía bastante; efectuei uma radiografia e fui depois à consulta, na qual o médico me informou que o osso partido ainda não estava em condições pelo que teria de ser colocado novo gesso pelo menos, até 27 de Fevereiro, o que foi feito.
Resulta daí que continuo impossibilitado de escrever normalmente durante este longo período, pelo que volto a transcrever as Cartas de S. Paulo, recolhidas através do site da http://diocese-porto.pt conforme vinha fazendo, dado que será muito dificil retomar em breve a transcrição das leituras do livro "Um ano a caminhar com S. Paulo" que estavam a ser reescritas por mim, como já havia informado anteriormente.
No entanto, julgo que não se perderá nada com a troca, pois as Cartas são possivelmente mais importantes do que os extractos das mesmas, e por isso embora o meu trabalho seja um pouco mais facilitado, talvez seja mais elucidativo, porquanto o seu teor completo será desconhecido por muitos de nós - penso eu.
Assim retomo, as referidas transcrições e para já aí está a Carta a FILÉMON. Depois passarei às que restantes que ainda não publiquei. Bem hajam, pela vossa compreensão.
Cartas de São Paulo
Carta a Filémon
EM CRISTO TODOS SÃO IRMÃOS
Introdução
De todas as cartas de Paulo, esta a Filémon é a mais breve e pessoal, a única escrita inteiramente de próprio punho. Paulo está na prisão, provavelmente em Éfeso. O facto de Onésimo voltar com Tíquico para Colossos (Cl 4,7-9) faz supor que esta carta foi escrita na mesma data que a carta aos Colossenses. Filémon parece ser membro importante da Igreja de Colossos, e é muito provavelmente o chefe do grupo que se reúne em sua casa (vv. 1-2). É uma carta de recomendação em favor de Onésimo, um escravo que fugiu ao seu patrão, Filémon, provavelmente depois de o ter roubado (v. 18). Onésimo procurou o apoio de Paulo, que estava na prisão, e acabou por se converter ao cristianismo (v. 10). Paulo devolve-o a Filémon, pedindo-lhe que o trate como irmão (v. 16). Paulo não pensava certamente em criticar o estatuto da escravidão, comum no seu tempo, provocando assim uma revolução social. Os cristãos ainda não tinham força para exigir transformações estruturais da sociedade. Mas o Apóstolo, implicitamente, declara que a estrutura vigente não é legítima. De facto, mostrando que as relações dentro da comunidade cristã devem ser fraternas, Paulo esvazia completamente o estatuto da escravidão e a desigualdade entre as classes. Em Cristo todos são irmãos, com os mesmos direitos e deveres. Só Cristo é o Senhor.
CARTA A FILÉMON
Endereço e saudação
1[1]Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo, e o irmão Timóteo, a Filémon, nosso amigo e colaborador, 2e também à irmã Ápia, a Arquipo, nosso companheiro de luta, e à Igreja que se reúne em casa de Filémon. 3Que a graça e a paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo estejam convosco.
Agradecimento e pedido
4Dou graças ao meu Deus sempre que me lembro de ti nas minhas orações. 5De facto, ouço falar do amor e da fé que tens para com o Senhor Jesus e em favor de todos os cristãos. 6Peço a Deus que a participação que tens na fé seja eficaz para compreenderes que todos os bens que temos são para Cristo.
Uma nova relação entre os homens
7Caro irmão: o teu amor tem-me dado muita alegria e coragem, pois graças a ti os cristãos sentem-se tranquilos. 8Tenho toda a liberdade em Cristo para te ordenar o que deves fazer, 9mas prefiro pedir por amor. Quem faz este pedido sou eu, o velho Paulo, agora também prisioneiro de Jesus Cristo. 10Peço-te em favor de Onésimo, o filho que eu gerei na prisão. 11Antes ele era inútil para ti, mas agora é útil, tanto para ti, como para mim. 12Vou enviar-to novamente; ele é como se fosse o meu próprio coração.
13Gostaria que ele ficasse comigo para me servir em teu lugar, enquanto estou preso por causa do Evangelho. 14Eu, porém, não quis fazer nada sem o teu consentimento. Não quero que a tua bondade seja forçada, mas espontânea. 15Talvez Onésimo se tenha afastado de ti por algum tempo, para que o recuperes para sempre. 16Agora tê-lo-ás, não já como escravo, mas muito mais do que escravo: tê-lo-ás como irmão querido; ele é querido para mim, e sê-lo-á muito mais para ti, seja como homem, seja como cristão.
17Assim, se me consideras como irmão na fé, recebe Onésimo como se fosse eu mesmo. 18Se te causou algum prejuízo ou te deve alguma coisa, põe isso na minha conta. 19Eu, Paulo, escrevo com a minha própria mão: eu pagarei... É claro que não preciso de te lembrar que também me deves a tua própria vida. 20Sim, irmão, permite-me que abuse da tua bondade no Senhor. Conforta, em Cristo, o meu coração.
21Escrevo na certeza de que me vais obedecer, e sei que farás mais ainda do que te estou a pedir. 22Peço também que prepares um quarto para mim, porque espero ser-vos devolvido, graças às orações que estais a fazer.
Saudações finais
23Saudações de Épafras, meu companheiro de prisão em Jesus Cristo, 24como também de Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus colaboradores.
25A graça do Senhor Jesus Cristo esteja convosco.
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[1]1-3: Embora a carta interesse particularmente a Filémon, é dirigida a toda a comunidade que se reúne em sua casa. Poderíamos suspeitar que Paulo tem intenção de fazer uma catequese à comunidade, a partir de um caso particular: a atitude do chefe da comunidade para com o escravo fugitivo teria sérias consequências para o testemunho cristão.
4-6: O comportamento em relação aos irmãos demonstra a fé e o amor que se tem por Jesus. Paulo convida Filémon a dar um testemunho prático e eficaz da própria fé: mostrar que tudo o que tem, inclusive Onésimo, pertence a Cristo.
7-12: Paulo considera Onésimo como filho, porque foi graças a eleque Onésimo se converteu. O nome Onésimo significa «útil».
13-16: Pedindo a Filémon que trate Onésimo como irmão, Paulo mostra que o Evangelho põe fim às diferenças entre os homens e esvazia completamente o estatuto da escravidão.
17-20: Paulo assume inteira responsabilidade, propondo-se pagar pessoalmente o dano causado pela fuga de Onésimo. Mas lembra também que Filémon foi convertido por Paulo, a quem deve, por isso, a própria vida. Deste modo, o Apóstolo mostra que há valores muito mais importantes do que qualquer dívida material.
21-22: Embora Paulo não queira recorrer à própria autoridade (v. 8), espera que Filémon obedeça às suas sugestões, e faça mais do que lhe é pedido. Talvez esteja veladamente a sugerir que Filémon liberte Onésimo.
23-25: Sobre as pessoas citadas cf. a nota em Cl 4,10-18.
LOUVADO SEJA DEUS PAI
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
LOUVADA SEJA SUA MÃE MARIS SANTISSIMA
PARA TODO O SEMPRE
António Fonseca

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CARTAS A TIMÓTEO - S. PAULO - 1ª e 2ª

Cartas de São Paulo Carta a Timóteo PRIMEIRA CARTA A TIMÓTEO APELO AO DISCERNIMENTO Introdução
Juntamente com a carta a Tito, as cartas a Timóteo formam um conjunto à parte na literatura que é comummente atribuída a São Paulo. Não se dirigem a uma comunidade, mas a pessoas individuais que possuem responsabilidades no governo, no ensino e no comportamento das comunidades cristãs. Porque apresentam directrizes para os pastores, desde o séc. XVIII são chamadas Cartas Pastorais. Timóteo foi discípulo e colaborador de Paulo, e é mencionado ou está sempre junto do Apóstolo quando este escreve as suas cartas. Como dizem os Actos, Timóteo nasceu em Listra, na Licaónia. Filho de pai grego e mãe judeo-cristã, Paulo permitiu que ele fosse circuncidado (Act 16,1-3). Ao passar por Listra, na sua segunda viagem missionária, Paulo tomou Timóteo consigo como companheiro de viagem. Timóteo ficou em Bereia quando Paulo teve que fugir (Act 17,14s) e depois juntou-se a Paulo em Corinto. Foi mandado para a Macedónia antes da terceira viagem de Paulo (Act 19,22) e estava no grupo de Paulo no fim da terceira viagem (Act 20,4). A 1 Tm deve ter sido escrita em 64-65 e apresenta Timóteo como responsável pela Igreja de Éfeso. A importância da 1 Tm está no seu testemunho histórico sobre a organização eclesiástica. Paulo insiste para que Timóteo desempenhe com firmeza e coragem a função que recebeu de Cristo mediante a imposição das mãos («ordenação»). Exorta-o a tornar-se anunciador e defensor da verdade (1,3- 20), a organizar o culto (2,1-15) e a ser pastor, dirigindo a comunidade na diversidade dos grupos (3,1-6,2). Estamos ainda longe de uma rígida organização jurídica, mas podemos dizer que temos aqui um verdadeiro ponto de partida para a reflexão teológica sobre o ministério na Igreja.
1 Endereço e saudação
1Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo por ordem de Deus nosso Salvador e de Jesus Cristo nossa esperança, 2a Timóteo, meu verdadeiro filho na fé: graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo nosso Senhor. A vida cristã não é teoria 3Ao partir para a Macedónia, recomendei que ficasses em Éfeso, a fim de impedir que alguns continuassem a ensinar doutrinas diferentes, 4e para que não se ocupassem com fábulas e genealogias sem fim; estas favorecem mais as discussões do que o projecto de Deus, que se realiza na fé. 5A finalidade desta ordem é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sem hipocrisia. 6Alguns desviaram-se desta linha e perderam-se num palavreado inútil; 7pretendem passar por doutores da Lei, mas não sabem nem o que dizem nem o que afirmam. O papel da Lei 8Sabemos que a Lei é boa, contanto que a tomemos como uma lei. 9Ela não é destinada ao justo, mas aos iníquos e rebeldes, ímpios e pecadores, sacrílegos e profanadores, parricidas e matricidas, homicidas, 10impudicos, pederastas, mercadores de escravos, mentirosos, para os que juram falso, e para tudo o que se oponha à sã doutrina, 11de acordo com o Evangelho glorioso do Deus bendito, que me foi confiado. O papel da graça 12Agradeço Àquele que me deu força, a Jesus Cristo nosso Senhor, que me considerou digno de confiança, tomando-me para o seu serviço, 13apesar de eu ter sido um blasfemo, perseguidor e insolente. Mas obtive misericórdia porque agia sem saber, longe da fé. 14Sim, Ele concedeu-me com maior abundância a sua graça, com a fé e o amor que estão em Jesus Cristo. 15Esta palavra é segura e digna de ser acolhida por todos: Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro. 16Mas exactamente por causa disto é que eu obtive misericórdia: Jesus Cristo quis demonstrar toda a sua generosidade primeiramente em mim, como exemplo para os que depois iriam acreditar n’Ele, a fim de terem a vida eterna. 17Ao rei dos séculos, ao Deus incorruptível, invisível e único, honra e glória para sempre. Ámen! Fé e boa consciência 18Timóteo, meu filho, esta é a instrução que te confio, conforme as profecias que foram outrora pronunciadas a teu respeito. Apoiado nelas combate o bom combate, 19com fé e boa consciência. Alguns rejeitaram a boa consciência e acabaram por naufragar na fé. 20Entre esses encontram-se Himeneu e Alexandre, que entreguei a Satanás, a fim de que aprendam a não blasfemar.
2 Deus quer salvar a todos
1Antes de tudo, recomendo que façais pedidos, orações, súplicas e acções de graças em favor de todos os homens, 2pelos reis e por todos os que têm autoridade, a fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda a piedade e dignidade. 3Isso é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador. 4Ele quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. 5Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem 6que Se entregou para resgatar a todos. Esse é o testemunho dado nos tempos estabelecidos por Deus, 7e para o qual eu fui designado pregador e Apóstolodigo a verdade, não minto, — doutor das nações na fé e na verdade. 8Quero, portanto, que os homens orem em todo o lugar, erguendo mãos puras, sem ira e sem discussões. Comportamento das mulheres 9Quanto às mulheres, que elas se apresentem em trajes decentes e se enfeitem com pudor e modéstia. Não usem tranças, nem objectos de ouro, pérolas ou vestuário luxuoso; 10mas enfeitem-se com boas obras, como convém a mulheres que dizem ser piedosas. 11Durante a instrução, a mulher deve ficar em silêncio, com toda a submissão. 12Eu não permito que a mulher ensine ou domine o homem. Portanto, que ela permaneça em silêncio. 13Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. 14E não foi Adão que foi seduzido, mas a mulher que, seduzida, pecou. 15Entretanto, ela será salva pela sua maternidade, desde que permaneça com modéstia na fé, no amor e na santidade.
3 Organização da comunidade
1É certo que se alguém aspira a um cargo de direcção, aspira a uma coisa nobre. 2É preciso, porém, que o dirigente seja irrepreensível, esposo de uma única mulher, ajuizado, equilibrado, educado, hospitaleiro, capaz de ensinar, 3não dado à bebida, nem desordeiro, mas indulgente, pacífico e sem interesse por dinheiro. 4Deve ser homem que saiba dirigir bem a própria casa, e cujos filhos lhe obedeçam e o respeitem. 5Pois, se alguém não sabe dirigir bem a própria casa, como poderá dirigir bem a Igreja de Deus? 6Que não seja recém-convertido, a fim de que não fique cheio de soberba e seja condenado como o foi o diabo. 7Exige-se ainda que tenha boa fama entre os de fora, para não cair no descrédito e nos laços do diabo. 8Os diáconos igualmente devem ser dignos de respeito, homens de palavra, não inclinados à bebida, nem ávidos de lucros vergonhosos. 9Conservem o mistério da fé com a consciência limpa. 10Também eles devem ser primeiramente experimentados e, em seguida, se forem irrepreensíveis, sejam admitidos na função de diáconos. 11Também as mulheres devem ser dignas de respeito, não maldizentes, ajuizadas, fiéis em todas as coisas. 12Que os diáconos sejam esposos de uma única mulher, dirigindo bem os filhos e a própria casa. 13Pois aqueles que exercem bem o diaconado conquistam lugar de honra, e também muita coragem na fé em Cristo Jesus. 14Escrevo-te estas coisas esperando encontrar-te em breve. 15Se me atrasar, saberás como proceder na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade. 16De facto, como é grande o mistério da piedade: ele manifestou-se na carne, foi justificado no Espírito, apareceu aos anjos, foi anunciado aos pagãos, foi acreditado no mundo e exaltado na glória!
4 Tudo o que Deus criou é bom
1O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns renegarão a fé, para dar atenção a espíritos sedutores e a doutrinas demoníacas. 2Serão seduzidos por homens hipócritas e mentirosos, que têm a própria consciência como que marcada a ferro quente. 3Eles proibirão o casamento, exigirão abstinência de certos alimentos, embora Deus tenha criado essas coisas para serem recebidas com acção de graças por aqueles que têm fé e conhecem a verdade. 4De facto, tudo o que Deus criou é bom, e nada é desprezível se tomado com acção de graças, 5porque é santificado pela Palavra de Deus e pela oração. O bom servidor de Cristo 6Ensinando estas coisas aos irmãos, comportar-te-ás como bom servidor de Jesus Cristo, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido. 7Rejeita, porém, as fábulas ímpias, coisas de pessoas caducas. Exercita-te na piedade. 8Vale pouco o exercício corporal, ao passo que a piedade é proveitosa para tudo, pois contém a promessa da vida presente e futura. 9Esta palavra é fiel e digna de toda a aceitação. 10De facto, se nós trabalhamos e lutamos, é porque colocamos a nossa esperança no Deus vivo, salvador de todos os homens, principalmente dos que têm fé. 11Proclama e ensina estas coisas. 12Que ninguém te despreze por seres jovem. Quanto a ti mesmo, sê para os fiéis um modelo na palavra, na conduta, no amor, na fé, na pureza. 13Enquanto aguardas a minha chegada, dedica-te à leitura, animação e ensinamento. 14Não descuides o dom da graça que há em ti e que te foi dado através da profecia, com a imposição das mãos do grupo dos presbíteros. 15Cuida bem destas coisas e persevera nelas, a fim de que o teu progresso seja manifesto a todos. 16Vigia-te a ti mesmo e ao ensinamento, e sê perseverante. Desse modo salvar-te-ás a ti mesmo e aos teus ouvintes.
5 Respeito e solidariedade
1Não repreendas duramente um ancião, mas exorta-o como se fosse um pai. Aos rapazes, como a irmãos. 2Às senhoras, como a mães. Às jovens, como a irmãs, com toda a pureza. As viúvas 3Honra as viúvas que são realmente viúvas. 4Porém, se alguma viúva tiver filhos ou netos, que estes aprendam primeiramente a cumprir os seus deveres para com a própria família e a recompensar os seus pais, pois isso é agradável diante de Deus. 5Aquela que é verdadeiramente viúva, que ficou sozinha, deposita a sua confiança em Deus e persevera dia e noite em súplicas e orações. 6Mas a viúva que só busca prazer, mesmo que viva, já está morta. 7Portanto, ordena tudo isto, a fim de que elas sejam irrepreensíveis. 8Se alguém não cuida dos seus e principalmente dos que são da sua própria casa, renegou a fé e é pior que um incrédulo. 9A mulher só será inscrita no grupo das viúvas com sessenta anos e não menos, se tiver sido esposa de um só marido, 10se tiver em seu favor o testemunho das suas boas obras, criado filhos, sido hospitaleira, lavado os pés dos fiéis, socorrido os atribulados, aplicada a toda a boa obra. 11Rejeita as viúvas mais jovens; pois, quando os seus desejos se afastam de Cristo, elas querem casar-se, 12tornando-se censuráveis por terem rompido o seu primeiro compromisso. 13Além disso, aprendem a viver ociosas, correndo de casa em casa; não são apenas desocupadas, mas também bisbilhoteiras e indiscretas, falando do que não convém. 14Desejo, pois, que as viúvas jovens se casem, criem filhos e dirijam a sua casa para não darem ao adversário nenhuma ocasião de maledicência. 15Porque já existem algumas que se desviaram, seguindo a Satanás. 16Se um fiel tem viúvas na sua família, preste-lhes socorro; não se onere a Igreja, a fim de que possa ajudar aquelas que são verdadeiramente viúvas. Os presbíteros 17Os presbíteros que exercem bem a presidência são dignos de dupla remuneração, sobretudo os que trabalham no ministério da Palavra e da instrução. 18De facto, assim diz a Escritura: «Não amordaçarás o boi que debulha». E ainda: «O operário é digno do seu salário». 19Não aceites denúncia contra um presbítero, a não ser sob depoimento de duas ou três testemunhas. 20Repreende, diante de todos, os presbíteros que pecam, a fim de que os demais temam. 21Conjuro-te diante de Deus, de Jesus Cristo e dos anjos eleitos: observa estas regras sem preconceitos, nada fazendo por favoritismo. 22Não te apresses a impor as mãos em alguém, para não seres cúmplice dos pecados de outrem. Conserva-te puro. 23Não continues a beber somente água; toma um pouco de vinho, por causa do estômago e das frequentes fraquezas que tens. 24Os pecados de alguns homens manifestam-se antes do julgamento, os de outros manifestam-se depois. 25Do mesmo modo, as boas obras são evidentes; e as outras não conseguem ficar ocultas.
6 Os escravos
1Aqueles que se encontram sob o jugo da escravidão devem tratar os seus patrões com todo o respeito, para que o Nome de Deus e o ensinamento não sejam blasfemados. 2Os que têm patrões que acreditam, não os desrespeitem, porque são irmãos. Pelo contrário: sirvam-nos melhor ainda, pois aqueles que beneficiam dos seus trabalhos, são fiéis e irmãos amados. O falso doutor — Isto é o que deves ensinar e recomendar. 3Pois, quem ensina coisas diferentes, que não concordam com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensinamento conforme a piedade, 4é cego, não entende nada, é doente à procura de discussões e brigas de palavras. É daí que nascem invejas, brigas, blasfémias, suspeitas, 5polémicas intermináveis, coisas típicas de homens de espírito corrupto e desprovidos da verdade. 6Eles supõem que a piedade é fonte de lucro. De facto, a piedade é grande fonte de lucro, mas para quem sabe contentar-se. 7Pois não trouxemos nada para o mundo, e dele nada podemos levar. 8Se temos que comer e com que nos vestir, fiquemos contentes com isso. 9Aqueles, porém, que querem tornar-se ricos, caem na armadilha da tentação e em muitos desejos insensatos e perniciosos, que fazem mergulhar os homens na ruína e perdição. 10Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por causa dessa ânsia de dinheiro, alguns afastaram-se da fé e afligem-se a si mesmos com muitos tormentos. O verdadeiro doutor 11Tu, porém, homem de Deus, foge dessas coisas. Procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão. 12Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado. Isso já o reconheceste numa bela profissão de fé diante de muitas testemunhas. 13Diante de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Jesus Cristo, que deu testemunho diante de Pôncio Pilatos numa bela profissão de fé, eu te ordeno: 14guarda o mandamento puro, de modo irrepreensível, até à Aparição de nosso Senhor Jesus Cristo. 15Essa Aparição mostrará, nos tempos estabelecidos, o Bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, 16o único que possui a imortalidade, que habita uma luz inacessível, que nenhum homem viu, nem pode ver. A Ele, honra e poder eterno. Ámen! Os ricos e a conversão 17Admoesta os ricos deste mundo, para que não sejam orgulhosos e não coloquem a sua esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que nos dá tudo com abundância para que nos alegremos. 18Que eles façam o bem, se enriqueçam de boas obras, sejam prontos a distribuir, capazes de partilhar. 19Desse modo, estão acumulando para si mesmos um belo tesouro para o futuro, a fim de obterem a verdadeira vida. Saudações finais 20Timóteo, guarda o depósito. Evita o palavreado irreverente e as objecções dessa falsa ciência, 21pois alguns professaram-na e desviaram-se da fé. A graça esteja convosco.
==========================reflexão ======================

1,1-2: A respeito de Timóteo, cf. Act 16,1-5 e a nota correspondente.

3-7: A vida cristã não é mera teoria baseada em mil especulações e sistemas teológicos, que muitas vezes parecem não ter outra coisa em mira além de deleitar o pensamento. A vida cristã inspira-se no caminho e prática de Jesus, que se resumem na vivência do amor, isto é, na capacidade de se relacionar, respondendo a situações concretas.
8-11: Em Éfeso, alguns apresentam-se como doutores da Lei, mas transformam a Lei em especulações dogmáticas, esquecendo-se do verdadeiro papel da Lei. De facto, a Lei existe para mostrar o erro e evitar que os conflitos de interesse cheguem a níveis de destruição, causando exploração, opressão e morte. Para os que vivem do amor evangélico, a Lei já não tem sentido, pois o amor é muito mais exigente do que a Lei. A sã doutrina é a tradição apostólica, isto é, o testemunho do Apóstolo, que orienta todo o pensamento e prática dos cristãos, de acordo com o testemunho de Jesus Cristo. 12-17: No meio da confusão de ideias e interpretações, é importante voltar sempre ao sentido profundo e primeiro do Evangelho: Deus enviou Jesus ao mundo, não para condenar, mas para salvar os homens. A salvação, portanto, é um acto de graça e confirma-se como graça abundante porque é oferecida gratuitamente aos pecadores, isto é, a todos aqueles que jamais poderiam merecê-la. Paulo é um exemplo vivo do Evangelho da graça. O povo de Deus não é formado por pessoas que nunca erraram, mas por pecadores que se convertem e são salvos por pura graça.
18-20: As profecias pronunciadas sobre Timóteo lembram a intervenção dos «profetas» no momento da ordenação apostólica (cf.Act 13,1-3). «Entregar a Satanás» quer dizer exclusão da comunidade; essa pena é uma medida para que o culpado se arrependa e se emende (cf. 1Cor 5,5).
2,1-8: O autor recomenda que os cristãos incluam na sua oração todos os homens. É a oração litúrgica universal, impulsionada pela convicção de que Deus enviou o seu Filho para salvar o mundo inteiro. Ser Igreja no mundo é testemunhar que o projecto de Deus está aberto a todos.
9-15: Nos conselhos dados às mulheres, é preciso ter em mente o contexto social da época, que via a mulher como inferior ao homem, o ensinamento patriarcal dos mestres judeus e as preocupações imediatas da carta. Afirmando que a mulher será salva pela maternidade, a carta opõe-se aos falsos doutores que proibiam o matrimónio (4,3). A recomendação sobre o silêncio quer evitar os excessos de boatos e indiscrições. E procura impedir que a emancipação da mulher, fruto da liberdade evangélica, acarrete exageros.
3,1-16: Com a multiplicação e desenvolvimento das comunidades, surgem os primeiros esboços de uma organização eclesial. A respeito dos «dirigentes» (em grego = epíscopos) e dos diáconos, cf. nota em Fl 1,1-2. É provável que algumas mulheres tenham ocupado o cargo de diaconisas (cf. Rm 16,1). Aqui não se pensa numa lei do celibato, mas exige-se que os candidatos a cargos eclesiais tenham sólidas qualidades humanas.
4,1-16: Nos últimos tempos, isto é, entre a ressurreição e a segunda vinda de Cristo, multiplicam--se os mestres e doutrinas que adulteram a fé. Alguns desprezam tudo o que se refere ao corpo, condenando o matrimónio, proibindo alimentos e pregando exageradas práticas ascéticas. O cristão, porém, sabe acolher tudo o que Deus criou e apega-se somente a Deus e ao cumprimento da sua vontade. Aquele que tem um cargo de direcção na comunidade procure tornarse modelo, tanto no comportamento como na acção, perseverando na graça que recebeu pela imposição das mãos (cf. 2Tm 1,6).
5,1-2: Numa comunidade cristã, o exercício de um cargo de direcção não dá a ninguém o direito de agir com aspereza e prepotência. Pelo contrário, o exercício do cargo é um serviço que se realiza no respeito e na solidariedade com as pessoas.
3-16: O texto deve ser entendido na época e nas condições concretas da comunidade. Há três espécies de viúvas: as que têm família e não necessitam de auxílios; aquelas que a Igreja deve assistir porque são «verdadeiras viúvas», sozinhas no mundo; aquelas que, assistidas ou não pela Igreja, por esta são chamadas para realizar certas funções oficiais, contanto que satisfaçam sérias exigências. A reticência sobre viúvas jovens talvez se deva a uma experiência negativa de consagração feita e depois abandonada.
17-25: Presbítero é uma palavra grega que significa «ancião». Os presbíteros não se distinguem dos dirigentes (= epíscopos) citados acima (3,1-7); a sua função é animar a liturgia e ensinar a Sagrada Escritura. Aqui são dadas algumas orientações a respeito de pessoas que exercem cargos de autoridade dentro da Igreja; esta função é conferida através do rito da imposição das mãos. Quem a exerce tem direito a receber da comunidade o necessário para viver; devem ser protegidos contra qualquer calúnia; e não é qualquer um que pode ser escolhido. Por outro lado, a comunidade tem direito a exigir que os seus dirigentes sejam fiéis aos compromissos assumidos. 6,1-2 a: Esta passagem não trata da estrutura social na época, mas da lealdade de vida e das relações humanas dentro de uma determinada estrutura. Sobre o tema, ver notas da carta a Filémon.
2b-10: A piedade é a maneira prática de viver que testemunha o verdadeiro seguimento do Evangelho e a «sã doutrina» que dele procede. O texto mostra como perceber claramente quando uma doutrina é «doentia»: o desejo desenfreado de lucro, o amor ao dinheiro. Qualquer doutrina que aceite essa prática percorre infalivelmente o caminho contrário ao Evangelho, à fé e à salvação, porque se fundamenta numa idolatria, que é geradora de inveja, quezílias, blasfémias, corrupção e mentira.
11-16: O verdadeiro doutor é aquele que foge da ambição e vive com sobriedade. O seu principal compromisso é com a verdade, que se manifesta no ministério de Cristo, relembrado nos vv. 15-16.
17-19: O seguimento de Cristo está aberto também aos ricos, desde que estejam dispostos a converter-se: deixar a idolatria da riqueza para adorar a Deus vivo, que cria os bens para todos. Assim, os ricos são chamados a imitar o próprio Deus, tornando-se capazes de distribuir o que possuem, repartindo os seus bens com aqueles que nada têm (cf. Mc 10,17-22).
20-21: No começo do capítulo (6,3ss) e no fim (6,20s) insiste-se na fidelidade à tradição («depósito»). O núcleo fundamental da fé é o compromisso dos cristãos com Deus e principalmente com o seguimento de Jesus Cristo. É neste seguimento que se manifesta totalmente o Deus vivo. Esse compromisso, porém, incarna-se em épocas e lugares diferentes; as doutrinas, por sua vez, exprimem essas diversas incarnações. A verdadeira Tradição procura garantir que o núcleo fundamental da fé se concretize através dessas incarnações históricas. As incarnações são sempre relativas a determinado tempo e lugar. O conhecimento delas é grande estímulo para que também nós nos abramos aos desafios e apelos do nosso contexto, dando uma resposta baseados no núcleo fundamental da fé, conservado e transmitido pela Tradição viva.
SEGUNDA CARTA A TIMÓTEO COMBATER O BOM COMBATE Introdução

Embora trate dos mesmos temas da 1.ª carta a Timóteo e da carta a Tito, a 2.ª carta a Timóteo é um escrito predominantemente pessoal. O interesse central desloca-se da comunidade cristã (1Tm e Tt) para a relação pessoal entre Paulo e Timóteo, tornando esta carta muito semelhante à carta a Filémon.> Paulo está de novo na prisão em Roma, provavelmente no ano 67. As condições são duras, bem diferentes da prisão domiciliar, quando ainda podia pregar livremente (Act 28, 16). O Apóstolo sente-se só, ninguém o defendeu no tribunal, os seus dias estão contados, e prepara-se para o martírio. Frente ao abandono, incompreensão, torturas e próxima execução, Paulo continua firme e dá graças. Antes da morte, deseja rever o seu «amado filho Timóteo» e confirmá-lo na missão. Este é apresentado com traços mais precisos: uma pessoa sensível (1,4), às vezes indecisa e sem coragem (1,8). Ficamos também a conhecer o nome de sua avó Lóide e de sua mãe Eunice (1,5), exemplos de fé para Timóteo. O tema central da carta são as considerações sobre os «últimos dias». Trata-se dos últimos tempos de Paulo, prisioneiro, doravante próximo a partir, e também dos últimos tempos da Igreja. Assim, o Apóstolo deseja rever Timóteo. Relembra os próprios sofrimentos e experimenta o conforto de ter «combatido o bom combate», e a certeza de receber a coroa da justiça. Por outro lado, recomenda a Timóteo: que não se envergonhe do Evangelho, mas que o proclame com integridade; que tome cuidado com as «palavras vãs» de falsos pregadores que aparecerão nos últimos tempos, apresentando falsas doutrinas; que se vigie a si mesmo e se mantenha perseverante, mesmo que deva sofrer como ele, Paulo, por causa do Evangelho.
SEGUNDA CARTA A TIMÓTEO 1 Endereço e saudação
1Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo por vontade de Deus, para anunciar a promessa da vida em Jesus Cristo, 2ao amado filho Timóteo: graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo nosso Senhor. Agradecimento 3Agradeço a Deus, a quem sirvo com consciência limpa como os meus antepassados, enquanto me recordo sempre de ti nas minhas orações, noite e dia. 4Quando me lembro das lágrimas que derramaste, sinto grande desejo de te voltar a ver e, assim, transbordar de alegria. 5Lembro-me da fé sincera que há em ti, a mesma que havia antes na tua avó Lóide, depois na tua mãe Eunice e que agora, estou convencido, também há em ti. Não se envergonhar do Evangelho 6Por esse motivo, convido-te a reavivar o dom de Deus que está em ti pela imposição das minhas mãos. 7De facto, Deus não nos deu um espírito de medo, mas um espírito de força, de amor e de sabedoria. 8Não te envergonhes, portanto, de dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro; pelo contrário, participa do meu sofrimento pelo Evangelho, confiando no poder de Deus. 9Ele salvou-nos e chamou-nos com uma vocação santa, não por causa das nossas obras, mas conforme o seu próprio projecto e graça. Esta graça foi-nos concedida em Jesus Cristo desde a eternidade, 10mas somente agora foi revelada pela aparição do nosso Salvador Jesus Cristo. Ele não só venceu a morte, mas também fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do Evangelho, 11do qual eu fui constituído anunciador, Apóstolo e mestre. 12Esta é a causa dos males que estou a sofrer. Todavia, não me envergonho, porque sei em quem coloquei a minha fé, e estou certo de que Ele tem poder para guardar o meu depósito até àquele Dia. 13Toma por modelo as sãs palavras que ouviste de mim, com a fé e o amor que estão em Jesus Cristo. 14Guarda o bom depósito com o auxílio do Espírito Santo que habita em nós. Não se envergonhar da testemunha do Evangelho 15Sabes que todos os da Ásia me abandonaram, e entre eles Figelo e Hermógenes. 16Que o Senhor conceda misericórdia à família de Onesíforo, porque ele muitas vezes me confortou e não se envergonhou de eu estar preso; 17pelo contrário, quando chegou a Roma, procurou-me com insistência, até me encontrar. 18Que o Senhor lhe conceda misericórdia junto a Deus naquele Dia. E quanto aos serviços que ele me prestou em Éfeso, tu sabe-lo melhor do que eu.
2 O bom soldado de Cristo
1Tu, porém, fortifica-te sempre na graça que está em Jesus Cristo. 2O que ouviste de mim na presença de muitas testemunhas, transmite-o a homens de confiança que, por sua vez, estejam em grau de o ensinar a outros. 3Participa dos sofrimentos como bom soldado de Jesus Cristo. 4Ao alistar-se no exército, ninguém se deixará envolver pelas questões da vida civil, se quiser satisfazer a quem o alistou no regimento. 5Do mesmo modo, um atleta não receberá a coroa se não tiver lutado conforme as regras. 6O agricultor que trabalha deve ser o primeiro a participar dos frutos. 7Procura compreender o que estou a tentar dizer-te, e o Senhor certamente darte-á inteligência em todas as coisas. Louvor ao mártir 8Lembra-te de que Jesus Cristo, descendente de David, ressuscitou dos mortos. Este é o meu Evangelho, 9pelo qual eu sofro, a ponto de estar acorrentado como um malfeitor. Mas a Palavra de Deus não está algemada. 10É por isso que tudo suporto por causa dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Jesus Cristo, com a glória eterna. 11Estas palavras são verdadeiras: Se com Ele morremos, com Ele viveremos; 12se com Ele sofremos, com Ele reinaremos. Se O renegamos, também Ele nos renegará.13Se Lhe formos infiéis, Ele permanece fiel, pois não pode renegar-Se a Si mesmo. Um servo provado no Senhor 14Lembra-te destas coisas, testemunhando diante de Deus que é preciso evitar as discussões inúteis, que não servem para nada, a não ser para a perdição dos que as ouvem. 15Procura apresentar-te a Deus como homem digno de aprovação, como trabalhador que não tem de que se envergonhar e que distribui com rectidão a Palavra da verdade. 16Evita o palavreado inútil dessa gente que se vai tornando cada vez mais ímpia; 17a sua palavra é como gangrena que se alastra. Entre eles encontram-se Himeneu e Fileto. 18Estes desviaram-se da verdade, dizendo que a ressurreição já aconteceu e estão a perverter a fé em várias pessoas. 19Apesar disso, o sólido alicerce colocado por Deus permanece, marcado pelo selo desta palavra: «O Senhor conhece os que são seus». E ainda: «Afaste-se da injustiça todo aquele que pronuncia o Nome do Senhor». 20Numa casa grande, não há somente vasos de ouro e prata; há também de madeira e barro. Alguns são para uso nobre, outros para uso comum. 21Aquele que se purificar desses erros será vaso nobre, santificado, útil para o seu dono e preparado para toda a boa obra. 22Foge das paixões da juventude; segue a justiça e a fé, o amor e a paz com aqueles que invocam de coração puro o Nome do Senhor. 23Evita questões loucas e não educativas que provocam brigas. 24Um servo do Senhor não deve ser quezilento, mas manso para com todos, competente no ensino, paciente nas ofensas sofridas. 25É com suavidade que deves educar os opositores, esperando que Deus lhes dará não só a conversão, para conhecerem a verdade, 26mas também o retorno ao bom senso, libertando-os do laço do diabo, que os conservava presos para lhe fazerem a vontade.
3 A Sagrada Escritura é o alimento da fé
1Sabe, porém, que nos últimos dias haverá momentos difíceis. 2Os homens serão egoístas, gananciosos, soberbos, blasfemos, rebeldes com os pais, ingratos, iníquos, 3sem afecto, implacáveis, mentirosos, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, 4traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres do que de Deus; 5manterão aparências de piedade, mas negarão a sua força interior. Evita essas pessoas! 6Entre esses encontram-se os que entram nas casas e cativam mulherzinhas cheias de pecados e possuídas por todo o tipo de desejos, 7que estão sempre a aprender, mas não conseguem chegar ao conhecimento da verdade. 8E assim como Janes e Jambres se opuseram a Moisés, também esses se opõem à verdade; são homens de espírito corrupto e fé inconsistente. 9Mas não irão longe, pois a sua loucura será desmascarada diante de todos, como aconteceu com aqueles dois. 10Tu, porém, seguiste-me de perto no ensino e no comportamento, nos projectos, na fé, na paciência, no amor e na perseverança, 11nas perseguições e sofrimentos que tive em Antioquia, em Icónio e Listra. Que perseguições sofri! Mas de todas elas o Senhor me livrou. 12Assim, também, todos os que querem viver com piedade em Jesus Cristo serão perseguidos. 13Quanto aos maus e impostores, eles progredirão no mal, enganando e sendo enganados. 14Quanto a ti, permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como certo, pois sabes de quem o aprendeste. 15Desde a infância que conheces as Sagradas Escrituras; elas têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo. 16Toda a Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, 17a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda a boa obra.
4 Proclama a Palavra
1Rogo-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há-de vir para julgar os vivos e os mortos, pela sua manifestação e pelo seu Reino: 2proclama a Palavra, insiste no tempo oportuno e inoportuno, advertindo, reprovando e aconselhando com toda a paciência e doutrina. 3Pois vai chegar o tempo em que já não se suportará a doutrina; pelo contrário, desejosos de ouvir novidades, os homens rodear-se-ão de mestres a seu bel-prazer. 4Desviarão os ouvidos da verdade orientando-os para as fábulas. 5Quanto a ti, sê sóbrio em tudo, suporta o sofrimento, faz o trabalho de um anunciador do Evangelho, realiza plenamente o teu ministério. Combati o bom combate 6Quanto a mim, o meu sangue está para ser derramado em libação, e chegou o tempo da minha partida. 7Combati o bom combate, terminei a minha corrida, conservei a fé. 8Agora só me resta a coroa da justiça que o Senhor, justo Juiz, me entregará naquele Dia; e não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor a sua manifestação. O Senhor deu-me forças 9Apressa-te a vir ter comigo, 10pois Demas abandonou-me, preferindo o mundo presente. Ele partiu para Tessalónica; Crescente, para a Galácia; Tito, para a Dalmácia. 11Somente Lucas está comigo. Procura Marcos e traze-o contigo, porque ele pode ajudar-me no ministério. 12Mandei Tíquico para Éfeso. 13Quando vieres, traz-me o manto que deixei em Tróade, em casa de Carpo. Traz também os livros, principalmente os pergaminhos. 14Alexandre, o ferreiro, fez-me muito mal. O Senhor o recompensará conforme as suas obras. 15Tu também, toma cuidado com ele, pois ele opôs-se muito à nossa pregação. 16Na minha primeira defesa no tribunal, ninguém ficou ao meu lado; todos me abandonaram. Que Deus não lhes ponha isso na conta! 17Mas o Senhor ficou comigo e encheu-me de força, a fim de que pudesse anunciar toda a mensagem, e ela chegasse aos ouvidos de todas as nações. E assim fui libertado da boca do leão. 18O Senhor me libertará de todo o mal e me levará para o seu Reino eterno. Ao Senhor, glória para sempre. Ámen! Saudações finais 19Saudações a Prisca e Áquila e à família de Onesíforo. 20Erasto ficou em Corinto. Deixei Trófimo doente em Mileto. 21Procura vir antes do Inverno. Êubulo, Pudente, Lino, Cláudia e todos os irmãos enviam-te saudações.
22O Senhor esteja com o teu espírito. A graça esteja com todos vós.
=========================== reflexão =========================
1,1-5: Um belo testemunho sobre a relação que cresceu dentro de uma solidariedade na missão. O v. 5 é uma rara notícia sobre os benefícios da educação da fé no seio de uma família cristã.
6-14: Preso e prestes a enfrentar o martírio, Paulo procura estimular o seu companheiro Timóteo, convidando-o a reavivar o dom que este recebeu na sua «ordenação» para a missão. Esta consiste fundamentalmente em testemunhar o Evangelho, e isto pode levar a testemunha ao mesmo destino de Jesus: o sofrimento e a morte. «Envergonhar-se» é renegar o testemunho por causa da perseguição social que ele provoca (cf. Mc 8,38). A vocação cristã é um dom gratuito de participação no projecto de Deus: projecto de salvação feito desde a eternidade, manifestado em Jesus Cristo e entregue a todos pelo anúncio do Evangelho.
Sobre o «depósito da fé» — vv. 12.14cf. nota em 1Tm 6,20-21. O Espírito Santo garante o discernimento que faz compreender qual é o núcleo fundamental da fé, isto é, o testemunho de Jesus Cristo, e como concretizá-lo dentro de novas situações históricas.
15-18: A situação de perseguição provocada pelo testemunho do Evangelho conduz à verdadeira triagem das relações: como aconteceu com Jesus, a maioria afasta-se da testemunha perseguida («envergonham-se»); outros aproximam-se ainda mais, confirmando o próprio testemunho. 2,1-7: Os vv. 1-2 colocam-nos em contacto com a tradição viva, que transmite o «depósito da fé» (cf. nota em 1Tm 6,20-21). A seguir, temos três comparações para mostrar que o seguidor de Jesus Cristo é alguém que faz uma opção (v. 4), participa no destino doloroso de Jesus (v. 5) e também na sua ressurreição gloriosa (v. 6).
8-13: Timóteo é convidado a viver como testemunha da ressurreição. A seguir, é recordado um hino baptismal (vv. 11-13): neste afirma-se o compromisso com uma prática que seja coerente com a fé recebida.
14-26: No dirigente deve haver rectidão, respeito e acolhimento para com todos, firmeza na perseguição, seriedade na palavra e fuga de conversas ociosas. O autor condena uma vez mais os erros que se propagam na região de Éfeso: são apenas agitação feita de palavras vazias. Os gregos tinham dificuldade em admitir a ressurreição dos corpos (cf. Act 17,32; 1Cor 15,22); por isso, alguns cristãos evitavam o problema, dizendo que a ressurreição já acontecera no baptismo, e que aqui se tratava apenas de uma ressurreição espiritual.
3,1-17: Jesus anunciara perspectivas sombrias para os últimos tempos: os falsos messias multiplicam-se, desviando as pessoas com doutrinas perversas (cf. Mt 24,4-5.24). Paulo relembra esse aumento do mal que antecede o fim da História (cf. 2Ts 2,3-12). Segundo a lenda judaica, Janes e Jambres foram os chefes dos magos que se opuseram a Moisés na presença do Faraó (cf. Ex 7,8ss). Quem anuncia o Evangelho deve contar com a perseguição (cf. Mt 10,22; Act 13,1-14,28), permanecendo fiel à Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura: nela se encontra o alimento da fé e a força para o testemunho.
4,1-5: A missão dos Apóstolos e pastores é, em primeiro lugar, anunciar o Evangelho, a fim de que os homens deixem a idolatria e sirvam ao único Deus vivo.
6-8: Perante a certeza do martírio, Paulo compara-se a um atleta que recebe o prémio da vitória: ele sabe que a sua vida foi inteiramente dedicada a propagar e sustentar a fé.
9-18: Os últimos tempos de Paulo são tristes e solitários. Embora abandonado e traído pelos companheiros mais próximos, o seu olhar continua firme no Senhor, para anunciar o Evangelho e finalmente participar plenamente no Reino. Lucas já estava com Paulo no tempo da primeira prisão (cf. Cl 4,14); talvez seja este Lucas o autor do 3.º Evangelho e do livro dos Actos dos Apóstolos. Marcos ou João Marcos foi companheiro circunstancial (cf. Act 12,12) e teve uma divergência com Paulo (cf. Act 15,37-39). Mas encontramo-lo como companheiro fiel no tempo da perseguição (cf. Cl 4,10). 19-22: Paulo recorda-se de Prisca (ou Priscila) e Áquila, o casal cristão que o hospedou e se tornou missionário em pleno mundo pagão (cf. Act 18,2.18.26; Rm 16,3; 1Cor 16,19).
http://diocese-porto.pt http://ecclesia.pt/anopaulino NOTA: Ao iniciar a transcrição das Cartas a Timóteo, não reparei que iam ocupar tanto espaço e ainda pensei publicar a segunda carta em mensagem separada, mas acabei por deixar ficar como está, pelo que peço a vossa compreensão. Obrigado.
LOUVADO SEJA ETERNAMENTE DEUS, NOSSO SENHOR JESUS CRISTO E SUA MÃE MARIA SANTISSIMA
António Fonseca

Igreja da Comunidade de São Paulo do Viso

Nº 5 660 - SÉRIE DE 2024 - Nº (137) - SANTOS DE CADA DIA - 16 DE MAIO DE 2024 - NÚMERO ( 1 9 2 )

   Caros Amigos 17º ano com início na edição  Nº 5 469  OBSERVAÇÃO: Hoje inicia-se nova numeração anual Este é, portanto, o 137º  Número da ...