quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CARTAS A TIMÓTEO - S. PAULO - 1ª e 2ª

Cartas de São Paulo Carta a Timóteo PRIMEIRA CARTA A TIMÓTEO APELO AO DISCERNIMENTO Introdução
Juntamente com a carta a Tito, as cartas a Timóteo formam um conjunto à parte na literatura que é comummente atribuída a São Paulo. Não se dirigem a uma comunidade, mas a pessoas individuais que possuem responsabilidades no governo, no ensino e no comportamento das comunidades cristãs. Porque apresentam directrizes para os pastores, desde o séc. XVIII são chamadas Cartas Pastorais. Timóteo foi discípulo e colaborador de Paulo, e é mencionado ou está sempre junto do Apóstolo quando este escreve as suas cartas. Como dizem os Actos, Timóteo nasceu em Listra, na Licaónia. Filho de pai grego e mãe judeo-cristã, Paulo permitiu que ele fosse circuncidado (Act 16,1-3). Ao passar por Listra, na sua segunda viagem missionária, Paulo tomou Timóteo consigo como companheiro de viagem. Timóteo ficou em Bereia quando Paulo teve que fugir (Act 17,14s) e depois juntou-se a Paulo em Corinto. Foi mandado para a Macedónia antes da terceira viagem de Paulo (Act 19,22) e estava no grupo de Paulo no fim da terceira viagem (Act 20,4). A 1 Tm deve ter sido escrita em 64-65 e apresenta Timóteo como responsável pela Igreja de Éfeso. A importância da 1 Tm está no seu testemunho histórico sobre a organização eclesiástica. Paulo insiste para que Timóteo desempenhe com firmeza e coragem a função que recebeu de Cristo mediante a imposição das mãos («ordenação»). Exorta-o a tornar-se anunciador e defensor da verdade (1,3- 20), a organizar o culto (2,1-15) e a ser pastor, dirigindo a comunidade na diversidade dos grupos (3,1-6,2). Estamos ainda longe de uma rígida organização jurídica, mas podemos dizer que temos aqui um verdadeiro ponto de partida para a reflexão teológica sobre o ministério na Igreja.
1 Endereço e saudação
1Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo por ordem de Deus nosso Salvador e de Jesus Cristo nossa esperança, 2a Timóteo, meu verdadeiro filho na fé: graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo nosso Senhor. A vida cristã não é teoria 3Ao partir para a Macedónia, recomendei que ficasses em Éfeso, a fim de impedir que alguns continuassem a ensinar doutrinas diferentes, 4e para que não se ocupassem com fábulas e genealogias sem fim; estas favorecem mais as discussões do que o projecto de Deus, que se realiza na fé. 5A finalidade desta ordem é o amor que procede de um coração puro, de uma boa consciência e de uma fé sem hipocrisia. 6Alguns desviaram-se desta linha e perderam-se num palavreado inútil; 7pretendem passar por doutores da Lei, mas não sabem nem o que dizem nem o que afirmam. O papel da Lei 8Sabemos que a Lei é boa, contanto que a tomemos como uma lei. 9Ela não é destinada ao justo, mas aos iníquos e rebeldes, ímpios e pecadores, sacrílegos e profanadores, parricidas e matricidas, homicidas, 10impudicos, pederastas, mercadores de escravos, mentirosos, para os que juram falso, e para tudo o que se oponha à sã doutrina, 11de acordo com o Evangelho glorioso do Deus bendito, que me foi confiado. O papel da graça 12Agradeço Àquele que me deu força, a Jesus Cristo nosso Senhor, que me considerou digno de confiança, tomando-me para o seu serviço, 13apesar de eu ter sido um blasfemo, perseguidor e insolente. Mas obtive misericórdia porque agia sem saber, longe da fé. 14Sim, Ele concedeu-me com maior abundância a sua graça, com a fé e o amor que estão em Jesus Cristo. 15Esta palavra é segura e digna de ser acolhida por todos: Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o primeiro. 16Mas exactamente por causa disto é que eu obtive misericórdia: Jesus Cristo quis demonstrar toda a sua generosidade primeiramente em mim, como exemplo para os que depois iriam acreditar n’Ele, a fim de terem a vida eterna. 17Ao rei dos séculos, ao Deus incorruptível, invisível e único, honra e glória para sempre. Ámen! Fé e boa consciência 18Timóteo, meu filho, esta é a instrução que te confio, conforme as profecias que foram outrora pronunciadas a teu respeito. Apoiado nelas combate o bom combate, 19com fé e boa consciência. Alguns rejeitaram a boa consciência e acabaram por naufragar na fé. 20Entre esses encontram-se Himeneu e Alexandre, que entreguei a Satanás, a fim de que aprendam a não blasfemar.
2 Deus quer salvar a todos
1Antes de tudo, recomendo que façais pedidos, orações, súplicas e acções de graças em favor de todos os homens, 2pelos reis e por todos os que têm autoridade, a fim de que levemos uma vida calma e serena, com toda a piedade e dignidade. 3Isso é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador. 4Ele quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. 5Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem 6que Se entregou para resgatar a todos. Esse é o testemunho dado nos tempos estabelecidos por Deus, 7e para o qual eu fui designado pregador e Apóstolodigo a verdade, não minto, — doutor das nações na fé e na verdade. 8Quero, portanto, que os homens orem em todo o lugar, erguendo mãos puras, sem ira e sem discussões. Comportamento das mulheres 9Quanto às mulheres, que elas se apresentem em trajes decentes e se enfeitem com pudor e modéstia. Não usem tranças, nem objectos de ouro, pérolas ou vestuário luxuoso; 10mas enfeitem-se com boas obras, como convém a mulheres que dizem ser piedosas. 11Durante a instrução, a mulher deve ficar em silêncio, com toda a submissão. 12Eu não permito que a mulher ensine ou domine o homem. Portanto, que ela permaneça em silêncio. 13Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. 14E não foi Adão que foi seduzido, mas a mulher que, seduzida, pecou. 15Entretanto, ela será salva pela sua maternidade, desde que permaneça com modéstia na fé, no amor e na santidade.
3 Organização da comunidade
1É certo que se alguém aspira a um cargo de direcção, aspira a uma coisa nobre. 2É preciso, porém, que o dirigente seja irrepreensível, esposo de uma única mulher, ajuizado, equilibrado, educado, hospitaleiro, capaz de ensinar, 3não dado à bebida, nem desordeiro, mas indulgente, pacífico e sem interesse por dinheiro. 4Deve ser homem que saiba dirigir bem a própria casa, e cujos filhos lhe obedeçam e o respeitem. 5Pois, se alguém não sabe dirigir bem a própria casa, como poderá dirigir bem a Igreja de Deus? 6Que não seja recém-convertido, a fim de que não fique cheio de soberba e seja condenado como o foi o diabo. 7Exige-se ainda que tenha boa fama entre os de fora, para não cair no descrédito e nos laços do diabo. 8Os diáconos igualmente devem ser dignos de respeito, homens de palavra, não inclinados à bebida, nem ávidos de lucros vergonhosos. 9Conservem o mistério da fé com a consciência limpa. 10Também eles devem ser primeiramente experimentados e, em seguida, se forem irrepreensíveis, sejam admitidos na função de diáconos. 11Também as mulheres devem ser dignas de respeito, não maldizentes, ajuizadas, fiéis em todas as coisas. 12Que os diáconos sejam esposos de uma única mulher, dirigindo bem os filhos e a própria casa. 13Pois aqueles que exercem bem o diaconado conquistam lugar de honra, e também muita coragem na fé em Cristo Jesus. 14Escrevo-te estas coisas esperando encontrar-te em breve. 15Se me atrasar, saberás como proceder na casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade. 16De facto, como é grande o mistério da piedade: ele manifestou-se na carne, foi justificado no Espírito, apareceu aos anjos, foi anunciado aos pagãos, foi acreditado no mundo e exaltado na glória!
4 Tudo o que Deus criou é bom
1O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns renegarão a fé, para dar atenção a espíritos sedutores e a doutrinas demoníacas. 2Serão seduzidos por homens hipócritas e mentirosos, que têm a própria consciência como que marcada a ferro quente. 3Eles proibirão o casamento, exigirão abstinência de certos alimentos, embora Deus tenha criado essas coisas para serem recebidas com acção de graças por aqueles que têm fé e conhecem a verdade. 4De facto, tudo o que Deus criou é bom, e nada é desprezível se tomado com acção de graças, 5porque é santificado pela Palavra de Deus e pela oração. O bom servidor de Cristo 6Ensinando estas coisas aos irmãos, comportar-te-ás como bom servidor de Jesus Cristo, alimentado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido. 7Rejeita, porém, as fábulas ímpias, coisas de pessoas caducas. Exercita-te na piedade. 8Vale pouco o exercício corporal, ao passo que a piedade é proveitosa para tudo, pois contém a promessa da vida presente e futura. 9Esta palavra é fiel e digna de toda a aceitação. 10De facto, se nós trabalhamos e lutamos, é porque colocamos a nossa esperança no Deus vivo, salvador de todos os homens, principalmente dos que têm fé. 11Proclama e ensina estas coisas. 12Que ninguém te despreze por seres jovem. Quanto a ti mesmo, sê para os fiéis um modelo na palavra, na conduta, no amor, na fé, na pureza. 13Enquanto aguardas a minha chegada, dedica-te à leitura, animação e ensinamento. 14Não descuides o dom da graça que há em ti e que te foi dado através da profecia, com a imposição das mãos do grupo dos presbíteros. 15Cuida bem destas coisas e persevera nelas, a fim de que o teu progresso seja manifesto a todos. 16Vigia-te a ti mesmo e ao ensinamento, e sê perseverante. Desse modo salvar-te-ás a ti mesmo e aos teus ouvintes.
5 Respeito e solidariedade
1Não repreendas duramente um ancião, mas exorta-o como se fosse um pai. Aos rapazes, como a irmãos. 2Às senhoras, como a mães. Às jovens, como a irmãs, com toda a pureza. As viúvas 3Honra as viúvas que são realmente viúvas. 4Porém, se alguma viúva tiver filhos ou netos, que estes aprendam primeiramente a cumprir os seus deveres para com a própria família e a recompensar os seus pais, pois isso é agradável diante de Deus. 5Aquela que é verdadeiramente viúva, que ficou sozinha, deposita a sua confiança em Deus e persevera dia e noite em súplicas e orações. 6Mas a viúva que só busca prazer, mesmo que viva, já está morta. 7Portanto, ordena tudo isto, a fim de que elas sejam irrepreensíveis. 8Se alguém não cuida dos seus e principalmente dos que são da sua própria casa, renegou a fé e é pior que um incrédulo. 9A mulher só será inscrita no grupo das viúvas com sessenta anos e não menos, se tiver sido esposa de um só marido, 10se tiver em seu favor o testemunho das suas boas obras, criado filhos, sido hospitaleira, lavado os pés dos fiéis, socorrido os atribulados, aplicada a toda a boa obra. 11Rejeita as viúvas mais jovens; pois, quando os seus desejos se afastam de Cristo, elas querem casar-se, 12tornando-se censuráveis por terem rompido o seu primeiro compromisso. 13Além disso, aprendem a viver ociosas, correndo de casa em casa; não são apenas desocupadas, mas também bisbilhoteiras e indiscretas, falando do que não convém. 14Desejo, pois, que as viúvas jovens se casem, criem filhos e dirijam a sua casa para não darem ao adversário nenhuma ocasião de maledicência. 15Porque já existem algumas que se desviaram, seguindo a Satanás. 16Se um fiel tem viúvas na sua família, preste-lhes socorro; não se onere a Igreja, a fim de que possa ajudar aquelas que são verdadeiramente viúvas. Os presbíteros 17Os presbíteros que exercem bem a presidência são dignos de dupla remuneração, sobretudo os que trabalham no ministério da Palavra e da instrução. 18De facto, assim diz a Escritura: «Não amordaçarás o boi que debulha». E ainda: «O operário é digno do seu salário». 19Não aceites denúncia contra um presbítero, a não ser sob depoimento de duas ou três testemunhas. 20Repreende, diante de todos, os presbíteros que pecam, a fim de que os demais temam. 21Conjuro-te diante de Deus, de Jesus Cristo e dos anjos eleitos: observa estas regras sem preconceitos, nada fazendo por favoritismo. 22Não te apresses a impor as mãos em alguém, para não seres cúmplice dos pecados de outrem. Conserva-te puro. 23Não continues a beber somente água; toma um pouco de vinho, por causa do estômago e das frequentes fraquezas que tens. 24Os pecados de alguns homens manifestam-se antes do julgamento, os de outros manifestam-se depois. 25Do mesmo modo, as boas obras são evidentes; e as outras não conseguem ficar ocultas.
6 Os escravos
1Aqueles que se encontram sob o jugo da escravidão devem tratar os seus patrões com todo o respeito, para que o Nome de Deus e o ensinamento não sejam blasfemados. 2Os que têm patrões que acreditam, não os desrespeitem, porque são irmãos. Pelo contrário: sirvam-nos melhor ainda, pois aqueles que beneficiam dos seus trabalhos, são fiéis e irmãos amados. O falso doutor — Isto é o que deves ensinar e recomendar. 3Pois, quem ensina coisas diferentes, que não concordam com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensinamento conforme a piedade, 4é cego, não entende nada, é doente à procura de discussões e brigas de palavras. É daí que nascem invejas, brigas, blasfémias, suspeitas, 5polémicas intermináveis, coisas típicas de homens de espírito corrupto e desprovidos da verdade. 6Eles supõem que a piedade é fonte de lucro. De facto, a piedade é grande fonte de lucro, mas para quem sabe contentar-se. 7Pois não trouxemos nada para o mundo, e dele nada podemos levar. 8Se temos que comer e com que nos vestir, fiquemos contentes com isso. 9Aqueles, porém, que querem tornar-se ricos, caem na armadilha da tentação e em muitos desejos insensatos e perniciosos, que fazem mergulhar os homens na ruína e perdição. 10Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por causa dessa ânsia de dinheiro, alguns afastaram-se da fé e afligem-se a si mesmos com muitos tormentos. O verdadeiro doutor 11Tu, porém, homem de Deus, foge dessas coisas. Procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão. 12Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado. Isso já o reconheceste numa bela profissão de fé diante de muitas testemunhas. 13Diante de Deus, que dá a vida a todas as coisas, e de Jesus Cristo, que deu testemunho diante de Pôncio Pilatos numa bela profissão de fé, eu te ordeno: 14guarda o mandamento puro, de modo irrepreensível, até à Aparição de nosso Senhor Jesus Cristo. 15Essa Aparição mostrará, nos tempos estabelecidos, o Bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, 16o único que possui a imortalidade, que habita uma luz inacessível, que nenhum homem viu, nem pode ver. A Ele, honra e poder eterno. Ámen! Os ricos e a conversão 17Admoesta os ricos deste mundo, para que não sejam orgulhosos e não coloquem a sua esperança na incerteza das riquezas, mas em Deus, que nos dá tudo com abundância para que nos alegremos. 18Que eles façam o bem, se enriqueçam de boas obras, sejam prontos a distribuir, capazes de partilhar. 19Desse modo, estão acumulando para si mesmos um belo tesouro para o futuro, a fim de obterem a verdadeira vida. Saudações finais 20Timóteo, guarda o depósito. Evita o palavreado irreverente e as objecções dessa falsa ciência, 21pois alguns professaram-na e desviaram-se da fé. A graça esteja convosco.
==========================reflexão ======================

1,1-2: A respeito de Timóteo, cf. Act 16,1-5 e a nota correspondente.

3-7: A vida cristã não é mera teoria baseada em mil especulações e sistemas teológicos, que muitas vezes parecem não ter outra coisa em mira além de deleitar o pensamento. A vida cristã inspira-se no caminho e prática de Jesus, que se resumem na vivência do amor, isto é, na capacidade de se relacionar, respondendo a situações concretas.
8-11: Em Éfeso, alguns apresentam-se como doutores da Lei, mas transformam a Lei em especulações dogmáticas, esquecendo-se do verdadeiro papel da Lei. De facto, a Lei existe para mostrar o erro e evitar que os conflitos de interesse cheguem a níveis de destruição, causando exploração, opressão e morte. Para os que vivem do amor evangélico, a Lei já não tem sentido, pois o amor é muito mais exigente do que a Lei. A sã doutrina é a tradição apostólica, isto é, o testemunho do Apóstolo, que orienta todo o pensamento e prática dos cristãos, de acordo com o testemunho de Jesus Cristo. 12-17: No meio da confusão de ideias e interpretações, é importante voltar sempre ao sentido profundo e primeiro do Evangelho: Deus enviou Jesus ao mundo, não para condenar, mas para salvar os homens. A salvação, portanto, é um acto de graça e confirma-se como graça abundante porque é oferecida gratuitamente aos pecadores, isto é, a todos aqueles que jamais poderiam merecê-la. Paulo é um exemplo vivo do Evangelho da graça. O povo de Deus não é formado por pessoas que nunca erraram, mas por pecadores que se convertem e são salvos por pura graça.
18-20: As profecias pronunciadas sobre Timóteo lembram a intervenção dos «profetas» no momento da ordenação apostólica (cf.Act 13,1-3). «Entregar a Satanás» quer dizer exclusão da comunidade; essa pena é uma medida para que o culpado se arrependa e se emende (cf. 1Cor 5,5).
2,1-8: O autor recomenda que os cristãos incluam na sua oração todos os homens. É a oração litúrgica universal, impulsionada pela convicção de que Deus enviou o seu Filho para salvar o mundo inteiro. Ser Igreja no mundo é testemunhar que o projecto de Deus está aberto a todos.
9-15: Nos conselhos dados às mulheres, é preciso ter em mente o contexto social da época, que via a mulher como inferior ao homem, o ensinamento patriarcal dos mestres judeus e as preocupações imediatas da carta. Afirmando que a mulher será salva pela maternidade, a carta opõe-se aos falsos doutores que proibiam o matrimónio (4,3). A recomendação sobre o silêncio quer evitar os excessos de boatos e indiscrições. E procura impedir que a emancipação da mulher, fruto da liberdade evangélica, acarrete exageros.
3,1-16: Com a multiplicação e desenvolvimento das comunidades, surgem os primeiros esboços de uma organização eclesial. A respeito dos «dirigentes» (em grego = epíscopos) e dos diáconos, cf. nota em Fl 1,1-2. É provável que algumas mulheres tenham ocupado o cargo de diaconisas (cf. Rm 16,1). Aqui não se pensa numa lei do celibato, mas exige-se que os candidatos a cargos eclesiais tenham sólidas qualidades humanas.
4,1-16: Nos últimos tempos, isto é, entre a ressurreição e a segunda vinda de Cristo, multiplicam--se os mestres e doutrinas que adulteram a fé. Alguns desprezam tudo o que se refere ao corpo, condenando o matrimónio, proibindo alimentos e pregando exageradas práticas ascéticas. O cristão, porém, sabe acolher tudo o que Deus criou e apega-se somente a Deus e ao cumprimento da sua vontade. Aquele que tem um cargo de direcção na comunidade procure tornarse modelo, tanto no comportamento como na acção, perseverando na graça que recebeu pela imposição das mãos (cf. 2Tm 1,6).
5,1-2: Numa comunidade cristã, o exercício de um cargo de direcção não dá a ninguém o direito de agir com aspereza e prepotência. Pelo contrário, o exercício do cargo é um serviço que se realiza no respeito e na solidariedade com as pessoas.
3-16: O texto deve ser entendido na época e nas condições concretas da comunidade. Há três espécies de viúvas: as que têm família e não necessitam de auxílios; aquelas que a Igreja deve assistir porque são «verdadeiras viúvas», sozinhas no mundo; aquelas que, assistidas ou não pela Igreja, por esta são chamadas para realizar certas funções oficiais, contanto que satisfaçam sérias exigências. A reticência sobre viúvas jovens talvez se deva a uma experiência negativa de consagração feita e depois abandonada.
17-25: Presbítero é uma palavra grega que significa «ancião». Os presbíteros não se distinguem dos dirigentes (= epíscopos) citados acima (3,1-7); a sua função é animar a liturgia e ensinar a Sagrada Escritura. Aqui são dadas algumas orientações a respeito de pessoas que exercem cargos de autoridade dentro da Igreja; esta função é conferida através do rito da imposição das mãos. Quem a exerce tem direito a receber da comunidade o necessário para viver; devem ser protegidos contra qualquer calúnia; e não é qualquer um que pode ser escolhido. Por outro lado, a comunidade tem direito a exigir que os seus dirigentes sejam fiéis aos compromissos assumidos. 6,1-2 a: Esta passagem não trata da estrutura social na época, mas da lealdade de vida e das relações humanas dentro de uma determinada estrutura. Sobre o tema, ver notas da carta a Filémon.
2b-10: A piedade é a maneira prática de viver que testemunha o verdadeiro seguimento do Evangelho e a «sã doutrina» que dele procede. O texto mostra como perceber claramente quando uma doutrina é «doentia»: o desejo desenfreado de lucro, o amor ao dinheiro. Qualquer doutrina que aceite essa prática percorre infalivelmente o caminho contrário ao Evangelho, à fé e à salvação, porque se fundamenta numa idolatria, que é geradora de inveja, quezílias, blasfémias, corrupção e mentira.
11-16: O verdadeiro doutor é aquele que foge da ambição e vive com sobriedade. O seu principal compromisso é com a verdade, que se manifesta no ministério de Cristo, relembrado nos vv. 15-16.
17-19: O seguimento de Cristo está aberto também aos ricos, desde que estejam dispostos a converter-se: deixar a idolatria da riqueza para adorar a Deus vivo, que cria os bens para todos. Assim, os ricos são chamados a imitar o próprio Deus, tornando-se capazes de distribuir o que possuem, repartindo os seus bens com aqueles que nada têm (cf. Mc 10,17-22).
20-21: No começo do capítulo (6,3ss) e no fim (6,20s) insiste-se na fidelidade à tradição («depósito»). O núcleo fundamental da fé é o compromisso dos cristãos com Deus e principalmente com o seguimento de Jesus Cristo. É neste seguimento que se manifesta totalmente o Deus vivo. Esse compromisso, porém, incarna-se em épocas e lugares diferentes; as doutrinas, por sua vez, exprimem essas diversas incarnações. A verdadeira Tradição procura garantir que o núcleo fundamental da fé se concretize através dessas incarnações históricas. As incarnações são sempre relativas a determinado tempo e lugar. O conhecimento delas é grande estímulo para que também nós nos abramos aos desafios e apelos do nosso contexto, dando uma resposta baseados no núcleo fundamental da fé, conservado e transmitido pela Tradição viva.
SEGUNDA CARTA A TIMÓTEO COMBATER O BOM COMBATE Introdução

Embora trate dos mesmos temas da 1.ª carta a Timóteo e da carta a Tito, a 2.ª carta a Timóteo é um escrito predominantemente pessoal. O interesse central desloca-se da comunidade cristã (1Tm e Tt) para a relação pessoal entre Paulo e Timóteo, tornando esta carta muito semelhante à carta a Filémon.> Paulo está de novo na prisão em Roma, provavelmente no ano 67. As condições são duras, bem diferentes da prisão domiciliar, quando ainda podia pregar livremente (Act 28, 16). O Apóstolo sente-se só, ninguém o defendeu no tribunal, os seus dias estão contados, e prepara-se para o martírio. Frente ao abandono, incompreensão, torturas e próxima execução, Paulo continua firme e dá graças. Antes da morte, deseja rever o seu «amado filho Timóteo» e confirmá-lo na missão. Este é apresentado com traços mais precisos: uma pessoa sensível (1,4), às vezes indecisa e sem coragem (1,8). Ficamos também a conhecer o nome de sua avó Lóide e de sua mãe Eunice (1,5), exemplos de fé para Timóteo. O tema central da carta são as considerações sobre os «últimos dias». Trata-se dos últimos tempos de Paulo, prisioneiro, doravante próximo a partir, e também dos últimos tempos da Igreja. Assim, o Apóstolo deseja rever Timóteo. Relembra os próprios sofrimentos e experimenta o conforto de ter «combatido o bom combate», e a certeza de receber a coroa da justiça. Por outro lado, recomenda a Timóteo: que não se envergonhe do Evangelho, mas que o proclame com integridade; que tome cuidado com as «palavras vãs» de falsos pregadores que aparecerão nos últimos tempos, apresentando falsas doutrinas; que se vigie a si mesmo e se mantenha perseverante, mesmo que deva sofrer como ele, Paulo, por causa do Evangelho.
SEGUNDA CARTA A TIMÓTEO 1 Endereço e saudação
1Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo por vontade de Deus, para anunciar a promessa da vida em Jesus Cristo, 2ao amado filho Timóteo: graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo nosso Senhor. Agradecimento 3Agradeço a Deus, a quem sirvo com consciência limpa como os meus antepassados, enquanto me recordo sempre de ti nas minhas orações, noite e dia. 4Quando me lembro das lágrimas que derramaste, sinto grande desejo de te voltar a ver e, assim, transbordar de alegria. 5Lembro-me da fé sincera que há em ti, a mesma que havia antes na tua avó Lóide, depois na tua mãe Eunice e que agora, estou convencido, também há em ti. Não se envergonhar do Evangelho 6Por esse motivo, convido-te a reavivar o dom de Deus que está em ti pela imposição das minhas mãos. 7De facto, Deus não nos deu um espírito de medo, mas um espírito de força, de amor e de sabedoria. 8Não te envergonhes, portanto, de dar testemunho de nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro; pelo contrário, participa do meu sofrimento pelo Evangelho, confiando no poder de Deus. 9Ele salvou-nos e chamou-nos com uma vocação santa, não por causa das nossas obras, mas conforme o seu próprio projecto e graça. Esta graça foi-nos concedida em Jesus Cristo desde a eternidade, 10mas somente agora foi revelada pela aparição do nosso Salvador Jesus Cristo. Ele não só venceu a morte, mas também fez brilhar a vida e a imortalidade por meio do Evangelho, 11do qual eu fui constituído anunciador, Apóstolo e mestre. 12Esta é a causa dos males que estou a sofrer. Todavia, não me envergonho, porque sei em quem coloquei a minha fé, e estou certo de que Ele tem poder para guardar o meu depósito até àquele Dia. 13Toma por modelo as sãs palavras que ouviste de mim, com a fé e o amor que estão em Jesus Cristo. 14Guarda o bom depósito com o auxílio do Espírito Santo que habita em nós. Não se envergonhar da testemunha do Evangelho 15Sabes que todos os da Ásia me abandonaram, e entre eles Figelo e Hermógenes. 16Que o Senhor conceda misericórdia à família de Onesíforo, porque ele muitas vezes me confortou e não se envergonhou de eu estar preso; 17pelo contrário, quando chegou a Roma, procurou-me com insistência, até me encontrar. 18Que o Senhor lhe conceda misericórdia junto a Deus naquele Dia. E quanto aos serviços que ele me prestou em Éfeso, tu sabe-lo melhor do que eu.
2 O bom soldado de Cristo
1Tu, porém, fortifica-te sempre na graça que está em Jesus Cristo. 2O que ouviste de mim na presença de muitas testemunhas, transmite-o a homens de confiança que, por sua vez, estejam em grau de o ensinar a outros. 3Participa dos sofrimentos como bom soldado de Jesus Cristo. 4Ao alistar-se no exército, ninguém se deixará envolver pelas questões da vida civil, se quiser satisfazer a quem o alistou no regimento. 5Do mesmo modo, um atleta não receberá a coroa se não tiver lutado conforme as regras. 6O agricultor que trabalha deve ser o primeiro a participar dos frutos. 7Procura compreender o que estou a tentar dizer-te, e o Senhor certamente darte-á inteligência em todas as coisas. Louvor ao mártir 8Lembra-te de que Jesus Cristo, descendente de David, ressuscitou dos mortos. Este é o meu Evangelho, 9pelo qual eu sofro, a ponto de estar acorrentado como um malfeitor. Mas a Palavra de Deus não está algemada. 10É por isso que tudo suporto por causa dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Jesus Cristo, com a glória eterna. 11Estas palavras são verdadeiras: Se com Ele morremos, com Ele viveremos; 12se com Ele sofremos, com Ele reinaremos. Se O renegamos, também Ele nos renegará.13Se Lhe formos infiéis, Ele permanece fiel, pois não pode renegar-Se a Si mesmo. Um servo provado no Senhor 14Lembra-te destas coisas, testemunhando diante de Deus que é preciso evitar as discussões inúteis, que não servem para nada, a não ser para a perdição dos que as ouvem. 15Procura apresentar-te a Deus como homem digno de aprovação, como trabalhador que não tem de que se envergonhar e que distribui com rectidão a Palavra da verdade. 16Evita o palavreado inútil dessa gente que se vai tornando cada vez mais ímpia; 17a sua palavra é como gangrena que se alastra. Entre eles encontram-se Himeneu e Fileto. 18Estes desviaram-se da verdade, dizendo que a ressurreição já aconteceu e estão a perverter a fé em várias pessoas. 19Apesar disso, o sólido alicerce colocado por Deus permanece, marcado pelo selo desta palavra: «O Senhor conhece os que são seus». E ainda: «Afaste-se da injustiça todo aquele que pronuncia o Nome do Senhor». 20Numa casa grande, não há somente vasos de ouro e prata; há também de madeira e barro. Alguns são para uso nobre, outros para uso comum. 21Aquele que se purificar desses erros será vaso nobre, santificado, útil para o seu dono e preparado para toda a boa obra. 22Foge das paixões da juventude; segue a justiça e a fé, o amor e a paz com aqueles que invocam de coração puro o Nome do Senhor. 23Evita questões loucas e não educativas que provocam brigas. 24Um servo do Senhor não deve ser quezilento, mas manso para com todos, competente no ensino, paciente nas ofensas sofridas. 25É com suavidade que deves educar os opositores, esperando que Deus lhes dará não só a conversão, para conhecerem a verdade, 26mas também o retorno ao bom senso, libertando-os do laço do diabo, que os conservava presos para lhe fazerem a vontade.
3 A Sagrada Escritura é o alimento da fé
1Sabe, porém, que nos últimos dias haverá momentos difíceis. 2Os homens serão egoístas, gananciosos, soberbos, blasfemos, rebeldes com os pais, ingratos, iníquos, 3sem afecto, implacáveis, mentirosos, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, 4traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres do que de Deus; 5manterão aparências de piedade, mas negarão a sua força interior. Evita essas pessoas! 6Entre esses encontram-se os que entram nas casas e cativam mulherzinhas cheias de pecados e possuídas por todo o tipo de desejos, 7que estão sempre a aprender, mas não conseguem chegar ao conhecimento da verdade. 8E assim como Janes e Jambres se opuseram a Moisés, também esses se opõem à verdade; são homens de espírito corrupto e fé inconsistente. 9Mas não irão longe, pois a sua loucura será desmascarada diante de todos, como aconteceu com aqueles dois. 10Tu, porém, seguiste-me de perto no ensino e no comportamento, nos projectos, na fé, na paciência, no amor e na perseverança, 11nas perseguições e sofrimentos que tive em Antioquia, em Icónio e Listra. Que perseguições sofri! Mas de todas elas o Senhor me livrou. 12Assim, também, todos os que querem viver com piedade em Jesus Cristo serão perseguidos. 13Quanto aos maus e impostores, eles progredirão no mal, enganando e sendo enganados. 14Quanto a ti, permanece firme naquilo que aprendeste e aceitaste como certo, pois sabes de quem o aprendeste. 15Desde a infância que conheces as Sagradas Escrituras; elas têm o poder de te comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé em Jesus Cristo. 16Toda a Escritura é inspirada por Deus e é útil para ensinar, para refutar, para corrigir, para educar na justiça, 17a fim de que o homem de Deus seja perfeito, preparado para toda a boa obra.
4 Proclama a Palavra
1Rogo-te diante de Deus e de Jesus Cristo, que há-de vir para julgar os vivos e os mortos, pela sua manifestação e pelo seu Reino: 2proclama a Palavra, insiste no tempo oportuno e inoportuno, advertindo, reprovando e aconselhando com toda a paciência e doutrina. 3Pois vai chegar o tempo em que já não se suportará a doutrina; pelo contrário, desejosos de ouvir novidades, os homens rodear-se-ão de mestres a seu bel-prazer. 4Desviarão os ouvidos da verdade orientando-os para as fábulas. 5Quanto a ti, sê sóbrio em tudo, suporta o sofrimento, faz o trabalho de um anunciador do Evangelho, realiza plenamente o teu ministério. Combati o bom combate 6Quanto a mim, o meu sangue está para ser derramado em libação, e chegou o tempo da minha partida. 7Combati o bom combate, terminei a minha corrida, conservei a fé. 8Agora só me resta a coroa da justiça que o Senhor, justo Juiz, me entregará naquele Dia; e não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor a sua manifestação. O Senhor deu-me forças 9Apressa-te a vir ter comigo, 10pois Demas abandonou-me, preferindo o mundo presente. Ele partiu para Tessalónica; Crescente, para a Galácia; Tito, para a Dalmácia. 11Somente Lucas está comigo. Procura Marcos e traze-o contigo, porque ele pode ajudar-me no ministério. 12Mandei Tíquico para Éfeso. 13Quando vieres, traz-me o manto que deixei em Tróade, em casa de Carpo. Traz também os livros, principalmente os pergaminhos. 14Alexandre, o ferreiro, fez-me muito mal. O Senhor o recompensará conforme as suas obras. 15Tu também, toma cuidado com ele, pois ele opôs-se muito à nossa pregação. 16Na minha primeira defesa no tribunal, ninguém ficou ao meu lado; todos me abandonaram. Que Deus não lhes ponha isso na conta! 17Mas o Senhor ficou comigo e encheu-me de força, a fim de que pudesse anunciar toda a mensagem, e ela chegasse aos ouvidos de todas as nações. E assim fui libertado da boca do leão. 18O Senhor me libertará de todo o mal e me levará para o seu Reino eterno. Ao Senhor, glória para sempre. Ámen! Saudações finais 19Saudações a Prisca e Áquila e à família de Onesíforo. 20Erasto ficou em Corinto. Deixei Trófimo doente em Mileto. 21Procura vir antes do Inverno. Êubulo, Pudente, Lino, Cláudia e todos os irmãos enviam-te saudações.
22O Senhor esteja com o teu espírito. A graça esteja com todos vós.
=========================== reflexão =========================
1,1-5: Um belo testemunho sobre a relação que cresceu dentro de uma solidariedade na missão. O v. 5 é uma rara notícia sobre os benefícios da educação da fé no seio de uma família cristã.
6-14: Preso e prestes a enfrentar o martírio, Paulo procura estimular o seu companheiro Timóteo, convidando-o a reavivar o dom que este recebeu na sua «ordenação» para a missão. Esta consiste fundamentalmente em testemunhar o Evangelho, e isto pode levar a testemunha ao mesmo destino de Jesus: o sofrimento e a morte. «Envergonhar-se» é renegar o testemunho por causa da perseguição social que ele provoca (cf. Mc 8,38). A vocação cristã é um dom gratuito de participação no projecto de Deus: projecto de salvação feito desde a eternidade, manifestado em Jesus Cristo e entregue a todos pelo anúncio do Evangelho.
Sobre o «depósito da fé» — vv. 12.14cf. nota em 1Tm 6,20-21. O Espírito Santo garante o discernimento que faz compreender qual é o núcleo fundamental da fé, isto é, o testemunho de Jesus Cristo, e como concretizá-lo dentro de novas situações históricas.
15-18: A situação de perseguição provocada pelo testemunho do Evangelho conduz à verdadeira triagem das relações: como aconteceu com Jesus, a maioria afasta-se da testemunha perseguida («envergonham-se»); outros aproximam-se ainda mais, confirmando o próprio testemunho. 2,1-7: Os vv. 1-2 colocam-nos em contacto com a tradição viva, que transmite o «depósito da fé» (cf. nota em 1Tm 6,20-21). A seguir, temos três comparações para mostrar que o seguidor de Jesus Cristo é alguém que faz uma opção (v. 4), participa no destino doloroso de Jesus (v. 5) e também na sua ressurreição gloriosa (v. 6).
8-13: Timóteo é convidado a viver como testemunha da ressurreição. A seguir, é recordado um hino baptismal (vv. 11-13): neste afirma-se o compromisso com uma prática que seja coerente com a fé recebida.
14-26: No dirigente deve haver rectidão, respeito e acolhimento para com todos, firmeza na perseguição, seriedade na palavra e fuga de conversas ociosas. O autor condena uma vez mais os erros que se propagam na região de Éfeso: são apenas agitação feita de palavras vazias. Os gregos tinham dificuldade em admitir a ressurreição dos corpos (cf. Act 17,32; 1Cor 15,22); por isso, alguns cristãos evitavam o problema, dizendo que a ressurreição já acontecera no baptismo, e que aqui se tratava apenas de uma ressurreição espiritual.
3,1-17: Jesus anunciara perspectivas sombrias para os últimos tempos: os falsos messias multiplicam-se, desviando as pessoas com doutrinas perversas (cf. Mt 24,4-5.24). Paulo relembra esse aumento do mal que antecede o fim da História (cf. 2Ts 2,3-12). Segundo a lenda judaica, Janes e Jambres foram os chefes dos magos que se opuseram a Moisés na presença do Faraó (cf. Ex 7,8ss). Quem anuncia o Evangelho deve contar com a perseguição (cf. Mt 10,22; Act 13,1-14,28), permanecendo fiel à Palavra de Deus contida na Sagrada Escritura: nela se encontra o alimento da fé e a força para o testemunho.
4,1-5: A missão dos Apóstolos e pastores é, em primeiro lugar, anunciar o Evangelho, a fim de que os homens deixem a idolatria e sirvam ao único Deus vivo.
6-8: Perante a certeza do martírio, Paulo compara-se a um atleta que recebe o prémio da vitória: ele sabe que a sua vida foi inteiramente dedicada a propagar e sustentar a fé.
9-18: Os últimos tempos de Paulo são tristes e solitários. Embora abandonado e traído pelos companheiros mais próximos, o seu olhar continua firme no Senhor, para anunciar o Evangelho e finalmente participar plenamente no Reino. Lucas já estava com Paulo no tempo da primeira prisão (cf. Cl 4,14); talvez seja este Lucas o autor do 3.º Evangelho e do livro dos Actos dos Apóstolos. Marcos ou João Marcos foi companheiro circunstancial (cf. Act 12,12) e teve uma divergência com Paulo (cf. Act 15,37-39). Mas encontramo-lo como companheiro fiel no tempo da perseguição (cf. Cl 4,10). 19-22: Paulo recorda-se de Prisca (ou Priscila) e Áquila, o casal cristão que o hospedou e se tornou missionário em pleno mundo pagão (cf. Act 18,2.18.26; Rm 16,3; 1Cor 16,19).
http://diocese-porto.pt http://ecclesia.pt/anopaulino NOTA: Ao iniciar a transcrição das Cartas a Timóteo, não reparei que iam ocupar tanto espaço e ainda pensei publicar a segunda carta em mensagem separada, mas acabei por deixar ficar como está, pelo que peço a vossa compreensão. Obrigado.
LOUVADO SEJA ETERNAMENTE DEUS, NOSSO SENHOR JESUS CRISTO E SUA MÃE MARIA SANTISSIMA
António Fonseca

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Nº 5 801 - SÉRIE DE 2024 - Nº (277) - SANTOS DE CADA DIA - 2 DE OUTUBRO DE 2024

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