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sexta-feira, 17 de abril de 2009

EPÍLOGO - UM ANO A CAMINHAR COM SÃO PAULO

EPÍLOGO

PAULO FALA-NOS (DEPOIS) DO SEU MARTÍRIO

“PARA MIM, VIVER É CRISTO E MORRER UM LUCRO”

Não se e exactamente em que data nem de que modo Paulo foi morto. Os Actos dos Apóstolos, depois do relato da sua prisão em Jerusalém e da viagem para Roma, para aí ser julgado, dizem somente que aí permaneceu dois anos inteiros sob arresto domiciliário (28, 30). Com base em tradições posteriores, pensa-se que terá sido degolado na primeira metade dos anos sessenta.

Mas, mais do que as circunstâncias externas da sua morte, é o seu significado que nos deve interessar. Tanto mais que foi escrito directamente pelo próprio em Fl 1, 12-26, numa carta enviada da prisão, provavelmente em Éfeso, sem saber ainda o desfecho que o esperava. As suas palavras mostram-nos que para ele a morte física não iria ser o termo, mas o auge de uma vida que se prolonga muito para além dos nossos dias e da qual continuamos hoje a usufruir. Vejamos em que sentido.

Fl 1, 12-26

Mas quero dar-vos a conhecer, irmãos, que o que se passa comigo acabou por contribuir ainda mais para o progresso do Evangelho: assim, foi em Cristo que as minhas prisões se tornaram conhecidas em todo o pretório e de todos os restantes; e a maioria dos irmãos do Senhor é pela confiança ganha devido às minhas prisões que têm mais coragem para, sem medo, anunciar a Palavra.

Embora alguns o façam por inveja e rivalidade, outros, porém, é mesmo com boa intenção que pregam a Cristo. Embora haja os que o fazem por caridade, sabendo que estou designado para a defesa do Evangelho, os que, porém, anunciam Cristo por ambição, sem sinceridade, pensam que estão a agravar a tributação que sofro nas minhas prisões. Mas que importa? Desde que, de qualquer modo, por subterfúgio ou por veracidade, Cristo seja anunciado, com isso me alegro.

Mais: alegrar-me-ei, pois sei que isto irá resultar para mim em salvação, devido às vossas orações e ao auxílio do Espírito de Jesus Cristo, de acordo com a minha expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado. Pelo contrário, com todo o desassombro, como sempre também agora, Cristo será engrandecido no meu corpo, quer pela vida quer peia morte.

É que, para mim, viver é Cristo e morrer, um lucro. Se, porém, eu viver na carne, isso para mim reverterá em fruto da obra que realizo; o que hei-de escolher, não sei. Estou pressionado dos dois lados: tenho o desejo de partir e estar com Cristo, já que isso seria muito e muito melhor; mas permanecer na carne é mais necessário por causa de vós. E é confiado nisto que sei que ficarei e continuarei junto de todos vós para o vosso progresso e alegria da fé, a fim de que a vossa glória, que tendes em Cristo Jesus por meio de mim, aumente com a minha presença de novo junto de vós.

No centro das palavras de Paulo está o mesmo que sempre esteve no centro da sua vida apostólica: a alegria (v. 18). Alegra-se pelo que está a acontecer por causa sua prisão (vv. 12-18) e pelo que poderá suceder-lhe como resultado da mesma (vv. 19-26). Um preso que, quanto mais preso, mais livre se sente. Seria um contra-senso, se o que realmente o prende não fosse exactamente quem o faz plenamente livre: Cristo que, só com este título, é mencionado nove vezes. É por causa dele que está encarcerado (v. 13), de tal modo que na carta a Filémon, escrita do mesmo lugar, se apresenta como prisioneiro de Cristo Jesus (vv. 1.9). Mas continua seu prisioneiro, mesmo para além das amarras do cárcere e até da morte, que, por isso, enfrenta ainda com maior alegria.

Na base da sua alegria está a certeza da fé: Sei que isto irá resultar para mim em salvação (v. 19). O que sabe vem-lhe de Deus a quem se entrega. E fá-lo de três modos:

1. Recorre à sua Palavra: Isto irá resultar para mim em salvação é dito por Job (13, 16), como expressão de total confiança em Deus que, nem na morte, abandona os seus.

2. 2. Conta com as orações da comunidade à qual ele próprio se havia associado, também pela oração e por uma causa comum: o anúncio do Evangelho (1, 4s). Por isso:

3. Confia no auxílio do Espírito de Jesus Cristo, certamente pedido nas orações da comunidade e prometido por Jesus aos mensageiros do Evangelho (Mc 13, 11).

A esta fé corresponde, como ele diz, a expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado (v. 20). De novo se apoia em palavras sagradas (Sl 24, 2s.20; 68, 7; 118, 31.80.116): como o salmista, também ele não será envergonhado na missão de testemunhar Cristo. Pelo contrário: se a tribulação produz a paciência, a paciência a comprovação, e a comprovação a esperança, e esta não engana (Rm 5, 4s), então é nas tribulações, como aquela por que está a passar, que – acrescenta elecom todo o desassombro (...) Cristo será engrandecido no meu corpo, quer pela vida quer pela morte. É nas tribulações que mais se sente o poder vivificante do triunfo de Cristo sobre a morte. E o primeiro dele a usufruir é o Apóstolo.

Daí que ele diga: Para mim, viver é Cristo e morrer um lucro (v. 21). O seu critério de vida, aquilo que o faz viver, não é qualquer bem confinado a este mundo limitado e perecível, mas unicamente Cristo que para sempre venceu a morte e, nessas condições, o conquistou, o prendeu parta uma vida como a sua. Se para o Apóstolo viver é Cristo é porque Cristo é a sua vida, no sentido de que já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim (Gl 2, 20).

E é na medida em que Cristo vive em mim e eu para Cristo, que morrer é um lucro. Não porque esteja cansado de viver, mas exactamente o contrário: porque a minha vida consiste em desfazer-me dela em favor dos outros, como fez o Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim (Gl 2, 20). A morte é só um lucro, porque nela me uno plenamente àquele que me faz viver, para gozar perpetuamente do amor com que Ele próprio venceu a morte.

Compreende-se assim o dilema de Paulo: por um lado, deseja morrer, para estar com Cristo para sempre: por outro, vê como é necessário permanecer na carne para, pela presença física, continuar a contribuir para o progresso e alegria da fé das suas comunidades (vv. 22-26). Opta pela segunda hipótese, na esperança de deixar a cadeia em liberdade, mas levado pelo mesmo amor que anseia por saborear na união definitiva com Cristo. Dito por palavras suas: Nenhum de nós vive para si mesmo e nenhum de nós morre para si mesmo. Se vivemos, é para o Senhor que vivemos, e se morremos, é para o Senhor que morremos. Ou seja, quer vivamos quer morramos, é ao Senhor que pertencemos. Pois foi para isto que Cristo morreu e voltou à vida: para ser Senhor dos vivos e dos mortos (Rm 14, 7-9).

Daí que nada mais lhe interesse, senão que Cristo seja anunciado (v. 18). Foi o que fez até à morte. Ou melhor, até ao triunfo sobre a morte. Uma prova de que está vivo, é o testemunho (martírio, em grego) que tantos de nós, levados por ele, damos de Cristo.

In:Um Ano a caminhar com São Paulo

De: D. Anacleto de OliveiraBispo Auxiliar de Lisboa

Compilado por: António Fonseca - 10-04-2009

LEITURA Nº 52 - UM ANO A CAMINHAR COM SÃO PAULO

52

“O DIA DO SENHOR CHEGA DE NOITE COMO UM LADRÃO”

Tudo indica que Paulo contava estar vivo por altura da parusia de Cristo. Mesmo na última carta escrita em vida, ele afirma que a salvação está agora mais perto de nós do que quando começamos a acreditar (Rm 13, 14). Não tendo isso acontecido, ter-se-á ele enganado? A verdade é que de nenhuma das suas cartas foi riscada a convicção de que o Senhor está próximo (Fl 4, 4). Não será porque a iminência temporal, mais do que cronológica, é de entender em sentido qualitativo?

Ainda hoje a parusia de Cristo é posta em causa por duas posições extremas; a dos que, confiados nas próprias capacidades e nos meios e progressos da ciência e da técnica, procuram um paraíso confinado a este mundo; e a dos que, levados por um medo paralisante, devido a desgraças de toda a espécie, chegam ao ponto de fixar a data do fim do mundo. Além das desilusões em que uns e outros acabam por cair, falta-lhes uma confiança em Deus, de acordo com o que Ele realmente é e faz pela nossa salvação.

É para isso que Paulo chama a atenção, sempre que fala da última vinda de Cristo, nomeadamente em 1 Ts 5, 1-11, aqui, na sequência da resposta à questão acerca da sorte dos que haviam falecido. Depois de assegurar que também eles participarão da salvação definitiva oferecida por Cristo na sua parusia (4, 13-18), procura agora desfazer as dúvidas que a põem em causa e mostrar como viver na sua expectativa... também hoje.

1 Ts 5, – 1,-11

Quanto a tempos e momentos, irmãos, não há necessidade de que vos escreva. Com efeito, vós próprios sabeis exactamente que o dia do Senhor chega de noite como um ladrão. Quando disserem: «paz e segurança», então virá repentinamente sobre eles a ruína como as dores do parto sobre a mulher grávida, e de modo nenhum escaparão.

Mas vós, irmãos, não estais nas trevas, de modo que esse dia vos apanhe como um ladrão. Com efeito, todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos nem da noite nem das trevas. Portanto, não durmamos como os outros, mas vigiemos e sejamos sóbrios. Pois os que dormem é de noite que dormem e os que se embriagam é de noite que se embriagam. Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, revestidos com a couraça da fé e da caridade e com o elmo da esperança da salvação.

É que Deus não nos destinou à ira, mas à aquisição da salvação, por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo que morreu por nós, a fim de que, quer vigiemos quer durmamos, vivamos em sintonia com Ele. Por isso consolai-vos uns aos outros e edificai-vos mutuamente, como já fazeis.

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Como há dias e dias, também os tempos (em grego khrónoi) se medem, não tanto pela sua duração, como sobretudo pela importância do que neles acontece, isto é, pelos seus momentos (em grego kairó) decisivos. São momentos históricos dos quais, na medida em que nos afectam, vivemos uma vida inteira. Por isso, de tempos a tempos, os comemoramos, actualizando-os até através do memorial celebrativo.

Nós cristãos vivemos entre duas intervenções salvíficas de Deus que na realidade, são uma só, mas distribuída por dois momentos complementares a que chamamos escatológicos, isto é, extremos ou últimos: a primeira vinda de Seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo que morreu por nós (v. 9s) e pela sua ressurreição nos abriu, de um modo único e definitivo, o caminho para Deus, e a sua última vinda, no dia do Senhor (v. 2), em que, no final da história, consumará, a nível pessoal e cósmico, a iniciada e na qual já participamos.

Para indicar a sua dimensão escatológica e gloriosa, Paulo serve-se, entre outras, das seguintes expressões: dia do Senhor (1 Cor 1, 8; 5, 5; 2 Cor 1, 14; Fl 1, 6, 10; 2, 16; 2 Ts 2, 2) que, no AT e a partir de Am 5, 18.20, realça a componente judicial da intervenção de Deus, partilhada por Jesus Cristo, o Filho do Homem sentado à direita de Deus e vindo sobre as nuvens do Céu (Mc 14, 62); e parusia (1 Cor 15, 23; 1 Ts 2, 19; 3, 3; 4, 15; 5, 23; 2 Ts 2, 1, 8), um termo que significa presença e era aplicado à visita de um príncipe ou à manifestação de uma divindade.

Que a gloriosa parusia de Cristo completa a sua primeira vinda, é indicado pelo objectivo por que morreu por nós; a fim de que, quer vigiemos quer durmamos, isto é, vivos ou mortos, vivamos em sintonia com Ele (v. 10), no presente (Gl 2, 19; 2 Cor 5, 15) e no futuro escatológico (1 Ts 4, 17). Daí que o tempo que separa uma vinda da outra seja qualitativamente breve: na medida em que está preenchido pela salvação já iniciada, estamos capacitados para vencer todos os obstáculos que ainda nos separam da sua consumação final. não é isso que sentimos, até humanamente, quando, perante uma contrariedade, temos a certeza de que ela há-de acabar? na vida cristã, essa certeza é a da fé que, temporalmente, se torna esperança e se manifesta na nossa prática de vida.

É para esta prática que Paulo chama a nossa atenção, no texto que nos ocupa, também ele literariamente envolvido pela referência às duas vindas de Cristo. Começa por nos dizer o que não é sequer de tentar fazer: saber quando será o dia do Senhor (vv. 2s). Só podemos saber que o não sabemos. É uma ignorância que se deve ao facto de o dia em causa ser do Senhor. E para com Ele a única atitude a tomar é a da fé. Para isso, há que reconhecer as nossas limitações, incluindo as do conhecimento, para a Ele nos confiarmos, sabendo que o que Ele faz é sempre para nosso bem e ultrapassa, pelo amor poderoso e ilimitado com o que faz, as nossas expectativas humanas. Não queiramos, por isso, assenhorear-nos do tempo de que só Ele é o Senhor. A certeza de que virá o seu dia, porque baseada na plica a incerteza quanto à sua data: virá de noite como um ladrão, isto é, inesperadamente, e como as dores do parto sobre a mulher grávida, isto é, inevitavelmente. Apoiar-se na própria segurança revelar-se-á, a seu tempo, como uma total e terrível insegurança.

A fé, por sua vez, manifesta-se numa permanente vigilância e sobriedade (vv. 4-8). Uma exige a outra. Deixar-nos dominar pelos bens materiais que, embora necessários para viver, são limitados e perecíveis, tolda-nos o olhar, impede-nos de ver para além de nós próprios. Mas se, com a regeneração pela fé e o Baptismo, nos tornamos filhos da luz e filhos do dia, vivamos conforme somos. Como filhos pertencemos àquele que se manifesta como luz que ilumina e aquece, já na sua primeira vinda e, de um modo inexcedivelmente luminoso, no dia da sua gloriosa parusia. E se a Ele pertencemos, vivamos revestidos com o que nos faz andar vigilantes e sóbrios: com a couraça da fé e da caridade e com o elmo da esperança. E partilhemos esta protecção do coração e da cabeça com os que lutam como nós: Consolai-vos uns aos outros e edificai-vos mutuamente (v. 11). É que a união faz a força, sobretudo se vem de Deus.

In:Um Ano a caminhar com São Paulo

De: D. Anacleto de OliveiraBispo Auxiliar de Lisboa

Compilado por: António Fonseca - 10-04-2009

segunda-feira, 6 de abril de 2009

LEITURA Nº 49 - UM ANO A CAMINHAR COM SÃO PAULO

49

“DEUS, POR MEIO DE JESUS, CONDUZIRÁ, COM ELE, OS QUE ADORMECERAM”

A morte é um mistério. Por um lado, ela faz parte da vida. Ou melhor: vista realisticamente, é a negação da vida. Daí que, por outro lado, a vida consista na luta contra morte e tudo o que a ela pode levar. Não é isso que nos traz de pé? Mas que sentido tem empenhar a vida por uma causa que, previamente, se sabe perdida?

Por ser um enigma que o ultrapassa, desde a sua origem o homem procura uma solução fora de si. A morte é a questão, por excelência, de todas as religiões. E até muitos dos que se têm por ateus ou agnósticos e rejeitam a imortalidade, até esses manifestam um respeito para com os mortos que, por vezes, tem expressões quase cultuais e nos faz duvidar das suas convicções.

O Cristianismo é a única religião fundada no efectivo triunfo de Deus sobre a morte. Mas é um triunfo na morte e pela morte. Por isso, também ele é um mistério. Ainda hoje se procuram explicações racionais para a ressurreição de Cristo que, não raramente, levam à sua negação. É que, a razão última, se de razão se pode falar, que nos leva a aceitar a vitória definitiva de Cristo sobre a morte é a fé. E a verdade que esta se baseia em testemunhos, localizáveis no tempo e no espaço. Mas são testemunhos de fé. Daí que nem todos se deixem convencer.

De entre eles, destaca-se o de Paulo, quer pelos efeitos radicais do encontro com Cristo ressuscitado na sua vida, quer, na sequência disso Ele ser, a todos os níveis, o conteúdo central e centralizador da sua pregação. Não há tema nenhum das suas cartas sem uma referência directa ou indirecta a Cristo glorioso.

É o caso de 1 Ts 4, 13-18, onde fala do destino dos cristãos depois da morte. Não se sabe ao certo a origem da dúvida: talvez, por Paulo, na fundação da comunidade uns meses antes, ter manifestado a convicção de que a última vinda de Cristo estaria para breve. Nesse caso, que acontece com os cristãos entretanto falecidos? Independentemente destas circunstâncias, a pergunta é de todos os tempos. Porque, na prática, é a morte que está em questão. Ou melhor: a vida que todos tanto amamos.

1 TS 4, 13-18

Mas não queremos, irmãos, deixar-vos na ignorância a respeito dos que adormeceram, para não andardes tristes como os outros que não têm esperança. De facto, se acreditamos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, por meio de Jesus, conduzirá, com Ele, os que adormeceram.

Isto, com efeito, vos dizemos com uma palavra do Senhor: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, não precederemos os que adormeceram; pois o próprio Senhor, à ordem dada, à voz do arcanjo e à trombeta de Deus, descerá do Céu, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. Em seguida, nós, os vivos, os que ficamos, seremos arrebatados juntamente com eles sobre as nuvens, para irmos ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.

Consola-vos, pois, uns aos outros com estas palavras.

Confirma-se que Paulo não fala da morte, mas dos mortos, e só de cristãos. Usa um eufemismo ainda hoje ouvido: por ser tão cruel, preferimos falar de adormecer, até porque o sono é o estado mais parecido com a morte. Mas será só por isso? Ou será também, porque por detrás disso se esconde o desejo de que tudo não passe de um sono e de que, assim, a maior causa de tristeza resulte na de maior alegria?

Paulo distingue-nos dos que não têm esperança (v. 1). Pressupõe-se que não é uma como a nossa. É que também noutros, sobretudo os judeus, acreditavam que a vida não termina com a morte. Desde o século II aC., era quase comum entre eles a convicção de que Deus, nos tempos finais da história, ressuscitaria os mortos que se lhe tinham mantido fiéis até ao fim, mormente os que tinham pago a fé com a vida: os mártires, por rejeitarem normas éticas e cultuais a que eram forçados com a helenização da Palestina, imposta por Antíoco IV (cfr 2 Mac e Dn). Na base desta convicção está a relação entre Deus e a vida. Se Ele, como havia mostrado na história do seu povo, é mesmo o Autor e Senhor da vida, como poderá agora abandonar à morte quem para Ele sempre vivera?

O que para eles era uma esperança, fundada no ser e na acção de Deus e numa prática de vida coerente com a fé, tornou-se realidade histórica em Jesus Cristo. No fundo, pelas mesmas razões: porque Ele, o maior justo, se manteve em comunhão com Deus. Mais: porque enfrentou a ignomínia da Cruz como a prova máxima da sua fidelidade a Deus e aos homens, fazendo da morte a doação da vida, num amor incondicional, por isso a sua morte foi o definitivo triunfo sobre a morte e tudo o que a ela conduz.

É este acontecimento salvífico que está resumido na afirmação de que Jesus morreu e ressuscitou (v. 14a), o conteúdo do Evangelho anunciado por Paulo e acolhido pelos cristãos de Tessalónica. A frase é precedida por acreditamos, um verbo que, conforme o correspondente hebraico, indica uma entrega total a Deus, uma entrega a quem todo se entregou, e que, por isso, se torna presente e actuante naqueles que a Ele se entregam, fazendo deles novas criaturas (2 Cor 5, 14-17). De tal modo que, diz-nos Paulo, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, também dará vida aos vossos corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vós (Rm 8, 11).

É o mesmo que dizer: assim também Deus, por meio de Jesus, conduzirá, com Ele, os que adormeceram (v. 14b). A diferença está, praticamente, só no verbo conduzir, aplicado na Bíblia a intervenções de Deus, como o êxodo do Egipto, também ele uma condução da morte à vida.

É possível que Paulo o tenha escolhido, por ter já em vista a descrição seguinte da ressurreição dos que vivem e morrem em união com Jesus ressuscitado, servindo-se de uma palavra do Senhor que cita (v. 15) e explica (vv. 16). É uma das palavras de Jesus que os evangelhos não recolheram da tradição oral. O mais importante é a sua autoridade. A linguagem é metafórica, a única possível para exprimir realidades transcendentais, como são as teofanias. Neste caso, são termos indicativos da luta vitoriosa na guerra contra o maior inimigo do homem, uma vitória celebrada no culto: a trombeta convoca para a batalha e a celebração cultual; o arrebatamento exprime a libertação dos prisioneiros da morte; as nuvens aparecem nas teofanias, para, simultaneamente, Revelar e encobrir um Deus que está para além dois ares, que separam o terreno do transcendente.

Esta é, pois, a nossa esperança: os defuntos cristãos, uma vez ressuscitados, participarão, tal como os vivos, até à vinda gloriosa de Cristo, da eterna comunhão de amor com Ele. Um amor de que já vive e se exprime também na consolação dos que sofrem por causa da morte... para consolo, presente e futuro, dosa que o fazem (v. 18).

In:Um Ano a caminhar com São Paulo

De: D. Anacleto de OliveiraBispo Auxiliar de Lisboa

Compilado por: António Fonseca - 06-04-2009

sexta-feira, 27 de março de 2009

LEITURA Nº 47 - UM ANO A CAMINHAR COM SÃO PAULO

47

“ALEGRAI-VOS SEMPRE NO SENHOR”

É impressionante a insistência com que Paulo, em Fl, fala da alegria: o substantivo aparece 5 vezes e o verbo 11. É ele próprio que se alegra, por vários motivos, com relevo para o facto de estar na prisão, com sérias possibilidades de vir a ser morto (2, 17s), e para a solicitude da parte dos Filipenses (1, 4; 2, 2.17s; 4, 1.10). Estes, por sua vez, são repetidamente convidados a alegrar-se, seja como atitude permanente (1, 25; 3, 1; 4, 4), seja por motivos específicos (2, 17 s; 2, 28).

Humanamente, não é normal que alguém se alegre na tribulação de que está a ser vítima, e, para mais, sem fim à vista. E, então Paulo, que fervia por umas imparável actividade missionária. Como se explica isto?

Vejamos o que ele nos diz em 4, 4-9, quase no final da carta. Embora se trate de uma exortação aos leitores, os motivos pelos quais eles devem alegrar-se são comuns a todos os que comungam da mesma fé em Cristo: os cristãos de Filipos, o Apóstolo e nós, que, talvez, até já experimentamos a alegria a que somos convidados. Mas será que estamos todos conscientes da sua origem profunda, especificidade e significado, particularmente para a nossa missão de cristãos?

Fl 4, 4-9

Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo digo. Alegrai-vos. O que de vós é bondoso seja conhecido de todos os homens. O Senhor está próximo!

Por nada vos deixeis inquietar. Pelo contrário: em tudo, pela oração e pela prece, os vossos pedidos sejam dados a conhecer a Deus, em acções de graças. E a paz de Deus, que ultrapassa toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.

De resto, irmãos, tudo o que seja íntegro, tudo o que seja honroso, tudo o que seja justo, tudo o que seja puro, tudo o que seja agradável, tudo o que seja respeitável, se houver qualquer coisa que seja virtude, se houver qualquer coisa que mereça louvor, tende isso em mente. E o que aprendestes e recebestes, ouvistes de mim e vistes em mim, ponde isso em prática. E o Deus da paz estará convosco.

Que Paulo nos exorte, por duas vezes (v. 4), a segunda das quais com uma especial ênfase, a viver na alegria, e ininterruptamente, significa para já que se trata de algo fundamental para a nossa vida, não só física e mental, coimo sobretudo cristã. A alegria é constitutiva da nossa identidade, está integrada na nossa relação existencial com Cristo Senhor. Mas de que alegria se trata e de como a obter?

A etimologia dos termos gregos correspondentes podem ajudar-nos a encontrar a resposta. Khará (alegria) e káirein (alegrar-se) são da mesma família verbal de kháris (graça) e kharízesthai (agraciar). Na origem da alegria está, pois, uma graça ou gesto benevolente, particularmente para com alguém que, além de socialmente inferior, está numa situação de carência e abatimento. A partir disto, passou a usar-se, como saudação, a palavra alegrar-se, com base na graça que é, para ambas as partes, o encontro entre elas.

Este terá sido um dos motivos que levou Paulo, nas saudações das suas cartas, a substituir alegrar-se por graça, a que habitualmente junta a paz, o termo usado na saudação judaica. Mas a maior novidade está na indicação do autor da graça que é fonte de paz. Deus nosso Pai e o Senhor Jesus Cristo (Fl 1, 2). É de Deus que recebemos a maior graça: a salvação oferecida na morte redentora de seu Filho e a que temos acesso pela fé que, por sua vez, nos leva a viver no seu amor. Portanto, é nesta dupla comunhão com Deus, e nele, com os irmãos, que está a fonte única e inexcedível da nossa alegria.

Ambas são referidas por Paulo (v. 1): na comunhão inter-humana insere-se o que em nós há de bondoso e que deve ultrapassar o âmbito das relações entre os cristãos; da comunhão de fé com Deus faz a exclamação: o Senhor está próximo, um grito de esperança na gloriosa vinda de Cristo no final dosa tempos, com base na graça da sua primeira vinda. Uma origem da nossa alegria, a dois níveis, que Paulo desenvolve a seguir, mas em ordem inversa, que é, de facto, a da sua constituição: é da comunhão com Deus (vv. 6s) que nasce e se mantém a comunhão entre nós (vv. 8s).

1. Vivemos numa alegria profunda e indestrutível, na medida em que por nada nos deixamos inquietar, mas, ao contrário, em tudo, especialmente nas situações adversas, nos confiamos a Deus, pela oração e pela prece (v. 6). É o que Paulo chama a alegria da fé (1, 25), fruto da presença eficaz do Espírito Santo em nós (Gl 5, 22). A fé exprime-se e alimenta-se particularmente pela oração. E, quando não sabemos o que havemos de pedir, para rezarmos como deve ser, o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis (Rm 8, 26). E é tal a nossa confiança em Deus que até a prece, com que transmitimos a Deus os nossos pedidos, é feita em acções de graças. Seja qual for a resposta divina, sabemos que será sempre para nosso bem. Tantas e tão grandiosas são as graças dele recebidas.

E que resultado pode ter esta fé em oração, senão a paz de Deus... e com Deus (v. 7)? A Ele devemos a comunhão com Ele. Por isso a paz que dele recebemos ultrapassa toda a inteligência. Se Ele nem sequer poupou o seu próprio Filho, mas o entregou por nós (Rm 8, 32)!? Ora, se foi assim que Ele nos reconciliou consigo, então, aconteça o que acontecer, no presente e no futuro, podemos ter a certeza de que Ele guardará os nossos corações e os nossos pensamentos, isto é, todo o nosso ser, em Cristo Jesus. Sem mais, da nossa parte?

2. Vivemos numa alegria profunda e indestrutível, se, em paz com Deus, nos entregarmos aos outros, do mesmo modo como Paulo nos trata: como verdadeiros irmãos. É a fé vai actuar na caridade (Gl 5, 6), concretizada aqui em oito modos de agir, distribuídos binariamente (v. 8); o que, visto da minha parte, é íntegro, justo, agradável, cheio de virtude, é completado, visto da parte dos outros, pelo que é honroso, puro, respeitável, meritório de louvor. São qualidades que já, na época, faziam parte do código moral, proposto, por exemplo pelos estóicos. Um ideal, portanto, que devemos ter em mente. Mas, como pô-lo em prática, de um modo total e persistente?

Para isso, para que seja autêntica caridade, precisamos da energia da graça, própria do Evangelho, aprendido e recebido de Paulo e por ele vivido (v. 9). Então sim, pela entrega incondicional e gratuita com que o fazemos, é o Deus da paz que actua em nós e é anunciado ao vivo por nós. E se for acolhido pelos outros, nomeadamente por aqueles a quem nos entregamos, torna-se fonte, também para eles, da verdadeira paz, a que ultrapassa toda a inteligência e capacidade humanas. E a nossa alegria será completa: a alegria de vermos a nossa vida a frutificar na vida daqueles a quem a damos: a alegria, que é um dos rostos mais visíveis da fé e da caridade que temos em Cristo. Graças a Deus!

In:Um Ano a caminhar com São Paulo

De: D. Anacleto de OliveiraBispo Auxiliar de Lisboa

Compilado por: António Fonseca - 27-03-2009

terça-feira, 17 de março de 2009

ANO PAULINO - Leitura Nº 44 - "Um Ano a Caminhar com S. Paulo"

44

“NÃO HAVERÁ ENTÃO, ENTRE VÓS, NINGUÉM SUFICIENTEMENTE SÁBIO, QUE POSSA JULGAR ENTRE IRMÃOS?”

Nunca é demais insistir no alcance eclesial e missionário da conduta moral dos cristãos. A história da Igreja mostra bem como um comportamento contrário ao do Evangelho não só compromete a santidade da Igreja, como sobretudo a credibilidade do mesmo Evangelho. E então tratando-se das relações entre nós, cristãos...

É nesse sentido que Paulo, em I Cor 6, 1-11, se insurge contra o recurso dos cristãos a tribunais públicos, para resolver judicialmente conflitos entre eles. Da veemência e emoção com que se exprime já se depreende que, por detrás disso, estava mais em jogo, de que os Coríntios, possivelmente, se não apercebiam. E nós?

1 COR 6, 1-11

Quando algum de vós tem uma questão litigiosa com outro, como ousa submetê-la ao juízo dos injustos e não dos santos? Ou não sabeis que são os santos que hão-de julgar o mundo? E se é por vós que o mundo há-de ser julgado, sereis indignos de julgar coisas menores? Não sabeis que havemos de julgar os anjos? Quanto mais as pequenas coisas da vida! Quando, pois tendes questões menores, porque estabeleceis como juízes aqueles que na Igreja nada valem? Para vossa vergonha o digo. Não haverá então, entre vós, ninguém suficientemente sábio, que possa julgar entre irmãos? No entanto, um irmão põe um processo contra um irmão, e isto diante de não crentes.

Já é uma verdadeira derrota para vós que tenhais questões entre vós mesmos. Porque não deixais antes que vos cometam injustiças? Porque não deixais antes que vos defraudem? Mas, pelo contrário, sois vós que cometeis injustiças e defraudais, e isto contra irmãos.

Ou não sabeis que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não vos iludais; nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os pedófilos, nem os gatunos, nem os avarentos, nem os beberrões, nem os caluniadores, nem os ladrões herdarão o Reino de Deus. E alguns de vós éreis assim. Mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus.

Fique desde já bem claro que não é o sistema judicial que Paulo critica. Não é que já os tribunais de então o não merecessem. Mas, de facto, não é essa a sua intenção. Portanto, expressões, como injustos (v. 1), aqueles que na Igreja nada valem (v. 4) ou até não crentes (v. 6), devem ser interpretadas, não isoladamente, mas em contraste com o que são os cristãos: santos (vv. 1.2) e, consequentemente, irmãos (vv. 5,6), porque membros da mesma família cristã, a Igreja que é, por natureza, pura e santa.

Mas, para ser realmente templo de Deus (3, 16), é dever nosso tudo fazer para que se mantenha incólume de critérios de pensar e agir que podem corromper a santidade divina de que ela vive e nela se manifesta. É nessas condições que os cristãos usufruem de um poder único: por exemplo, e no caso presente, o de julgar o mundo e os anjos (vv. 2s), tomando parte activa no julgamento final a que todos serão sujeitos. Aqui, mundo e anjos não são duas realidades diferentes, mas os anjos são figuras que, a nível mítico, representam o mundo. É como no Apocalipse, onde o autor se dirige aos anjos das Igrejas (2, 1ss), que, na realidade, são os guardiães que com elas se identificam.

A autoridade dos cristãos para julgar o mundo, vem-lhes do facto de serem santos. São, desde a renovação baptismal, de tal modo propriedade divina que participam do poder de Deus. Uma condição que o mundo não tem. Não por ser mundo, mas por se ter tornado um mundo contrário a Deus, ao recusar a oferta de salvação que Ele lhe oferece através do Evangelho.

Ora bem, dotados de uma tal autoridade, como se atrevem os cristãos a sujeitar-se ao julgamento daqueles que por eles hão-de ser julgados? Para mais, tratando-se de conflitos passados entre eles, no foro interno da Igreja. Mais: são questões que, comparadas com as que serão objecto do juízo final, não passam de pequenas coisas da vida (v. 3). Não se encontrará entre eles ninguém suficientemente sábio para resolver o que, sendo coisas entre cristãos, devem ser julgadas segundo critérios cristãos (v. 5)?

Este ponto é fulcral: o pior não está em ir para a praça pública lavar a roupa sujada no interior da Igreja, mas no modo como essa roupa deve ser limpa. Não se trata de esconder ao mundo as coisas vergonhosas praticadas na Igreja, mas da sabedoria que só a Igreja tem para que tais se resolvam... e não se repitam. Só assim a santidade da Igreja é realmente preservada. E que sabedoria é essa?

Aquela que me pode levar a preferir sofrer injustiças e fraudes (vv. 7s). Mas, vou eu então deixar de lutar pelos meus direitos? Mais: não estou assim a pactuar com o mal que outros fazem e que pode levar à ruína até dos que o praticam? E não é isso um atentado contra a santidade da Igreja?

A proibição da prática de fraudes e injustiças vem de Lv 19,13, isto é, do chamado código de santidade que culmina com o mandamento; Amarás o próximo como a ti mesmo (19, 18). Se já então era este amor que fazia de Israel um povo santo, depois da intervenção salvífica de Deus em Jesus Cristo, infinitamente mais. Não foi, porventura a sua morte a maior concretização desta caridade? E não é pela adesão de fé ao Evangelho da Cruz que nós, não apenas compreendemos que a suma da Lei está no incondicional amor ao próximo, mas recebemos também a energia para o pôr em prática? E não é, acima de tudo, essa caridade que faz da Igreja o sagrado templo de Deus?

Pois bem, se é por ela que os cristãos se devem orientar no seu modo de agir e julgar, então justifica-se plenamente o perdão das ofensas e prejuízos sofridos, como meio de conquistar o ofensor para a prática da mesma caridade. E se ele não aceitar o meu perdão até sete vezes? Então só tenho de tentar até setenta vezes sete (Mt 18, 21s). Mesmo que, pelo meio, o pecador tenha de ser excluído da comunhão comunitária, como se fosse um pagão ou um publicano (Mt 18, 17). Também essa medida extrema é movida pela caridade ilimitada e, por isso, não tem outro objectivo senão a sua conquista para o Reino de Deus, a que nem injustos nem ladrões têm acesso (vv. 9s).

Estes são dois vícios da lista exposta por Paulo, para mostrar a transformação operada naqueles que, pela fé no Evangelho e a renovação baptismal, foram lavados, santificados e justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus (v. 11). O Espírito que, habitando em nós, faz da Igreja a que pertencemos o templo de Deus (1 Cor 3, 16). Uma Igreja que, não sendo deste mundo, está nele... para o conquistar para Deus, pelo Evangelho da caridade, anunciado pela prática da vida.

Paulo no cativeiro.JPG

17-03-2009

Do livro "Um Ano a Caminhar com S. Paulo"

de D. Anacleto de Oliveira

Bispo Auxiliar de Lisboa

Transcrição em 17-Março-2009

por

António Fonseca

17-Março-2009

Igreja da Comunidade de São Paulo do Viso

Nº 5 801 - SÉRIE DE 2024 - Nº (277) - SANTOS DE CADA DIA - 2 DE OUTUBRO DE 2024

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