sexta-feira, 17 de abril de 2009

LEITURA Nº 52 - UM ANO A CAMINHAR COM SÃO PAULO

52

“O DIA DO SENHOR CHEGA DE NOITE COMO UM LADRÃO”

Tudo indica que Paulo contava estar vivo por altura da parusia de Cristo. Mesmo na última carta escrita em vida, ele afirma que a salvação está agora mais perto de nós do que quando começamos a acreditar (Rm 13, 14). Não tendo isso acontecido, ter-se-á ele enganado? A verdade é que de nenhuma das suas cartas foi riscada a convicção de que o Senhor está próximo (Fl 4, 4). Não será porque a iminência temporal, mais do que cronológica, é de entender em sentido qualitativo?

Ainda hoje a parusia de Cristo é posta em causa por duas posições extremas; a dos que, confiados nas próprias capacidades e nos meios e progressos da ciência e da técnica, procuram um paraíso confinado a este mundo; e a dos que, levados por um medo paralisante, devido a desgraças de toda a espécie, chegam ao ponto de fixar a data do fim do mundo. Além das desilusões em que uns e outros acabam por cair, falta-lhes uma confiança em Deus, de acordo com o que Ele realmente é e faz pela nossa salvação.

É para isso que Paulo chama a atenção, sempre que fala da última vinda de Cristo, nomeadamente em 1 Ts 5, 1-11, aqui, na sequência da resposta à questão acerca da sorte dos que haviam falecido. Depois de assegurar que também eles participarão da salvação definitiva oferecida por Cristo na sua parusia (4, 13-18), procura agora desfazer as dúvidas que a põem em causa e mostrar como viver na sua expectativa... também hoje.

1 Ts 5, – 1,-11

Quanto a tempos e momentos, irmãos, não há necessidade de que vos escreva. Com efeito, vós próprios sabeis exactamente que o dia do Senhor chega de noite como um ladrão. Quando disserem: «paz e segurança», então virá repentinamente sobre eles a ruína como as dores do parto sobre a mulher grávida, e de modo nenhum escaparão.

Mas vós, irmãos, não estais nas trevas, de modo que esse dia vos apanhe como um ladrão. Com efeito, todos vós sois filhos da luz e filhos do dia. Não somos nem da noite nem das trevas. Portanto, não durmamos como os outros, mas vigiemos e sejamos sóbrios. Pois os que dormem é de noite que dormem e os que se embriagam é de noite que se embriagam. Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, revestidos com a couraça da fé e da caridade e com o elmo da esperança da salvação.

É que Deus não nos destinou à ira, mas à aquisição da salvação, por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo que morreu por nós, a fim de que, quer vigiemos quer durmamos, vivamos em sintonia com Ele. Por isso consolai-vos uns aos outros e edificai-vos mutuamente, como já fazeis.

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Como há dias e dias, também os tempos (em grego khrónoi) se medem, não tanto pela sua duração, como sobretudo pela importância do que neles acontece, isto é, pelos seus momentos (em grego kairó) decisivos. São momentos históricos dos quais, na medida em que nos afectam, vivemos uma vida inteira. Por isso, de tempos a tempos, os comemoramos, actualizando-os até através do memorial celebrativo.

Nós cristãos vivemos entre duas intervenções salvíficas de Deus que na realidade, são uma só, mas distribuída por dois momentos complementares a que chamamos escatológicos, isto é, extremos ou últimos: a primeira vinda de Seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo que morreu por nós (v. 9s) e pela sua ressurreição nos abriu, de um modo único e definitivo, o caminho para Deus, e a sua última vinda, no dia do Senhor (v. 2), em que, no final da história, consumará, a nível pessoal e cósmico, a iniciada e na qual já participamos.

Para indicar a sua dimensão escatológica e gloriosa, Paulo serve-se, entre outras, das seguintes expressões: dia do Senhor (1 Cor 1, 8; 5, 5; 2 Cor 1, 14; Fl 1, 6, 10; 2, 16; 2 Ts 2, 2) que, no AT e a partir de Am 5, 18.20, realça a componente judicial da intervenção de Deus, partilhada por Jesus Cristo, o Filho do Homem sentado à direita de Deus e vindo sobre as nuvens do Céu (Mc 14, 62); e parusia (1 Cor 15, 23; 1 Ts 2, 19; 3, 3; 4, 15; 5, 23; 2 Ts 2, 1, 8), um termo que significa presença e era aplicado à visita de um príncipe ou à manifestação de uma divindade.

Que a gloriosa parusia de Cristo completa a sua primeira vinda, é indicado pelo objectivo por que morreu por nós; a fim de que, quer vigiemos quer durmamos, isto é, vivos ou mortos, vivamos em sintonia com Ele (v. 10), no presente (Gl 2, 19; 2 Cor 5, 15) e no futuro escatológico (1 Ts 4, 17). Daí que o tempo que separa uma vinda da outra seja qualitativamente breve: na medida em que está preenchido pela salvação já iniciada, estamos capacitados para vencer todos os obstáculos que ainda nos separam da sua consumação final. não é isso que sentimos, até humanamente, quando, perante uma contrariedade, temos a certeza de que ela há-de acabar? na vida cristã, essa certeza é a da fé que, temporalmente, se torna esperança e se manifesta na nossa prática de vida.

É para esta prática que Paulo chama a nossa atenção, no texto que nos ocupa, também ele literariamente envolvido pela referência às duas vindas de Cristo. Começa por nos dizer o que não é sequer de tentar fazer: saber quando será o dia do Senhor (vv. 2s). Só podemos saber que o não sabemos. É uma ignorância que se deve ao facto de o dia em causa ser do Senhor. E para com Ele a única atitude a tomar é a da fé. Para isso, há que reconhecer as nossas limitações, incluindo as do conhecimento, para a Ele nos confiarmos, sabendo que o que Ele faz é sempre para nosso bem e ultrapassa, pelo amor poderoso e ilimitado com o que faz, as nossas expectativas humanas. Não queiramos, por isso, assenhorear-nos do tempo de que só Ele é o Senhor. A certeza de que virá o seu dia, porque baseada na plica a incerteza quanto à sua data: virá de noite como um ladrão, isto é, inesperadamente, e como as dores do parto sobre a mulher grávida, isto é, inevitavelmente. Apoiar-se na própria segurança revelar-se-á, a seu tempo, como uma total e terrível insegurança.

A fé, por sua vez, manifesta-se numa permanente vigilância e sobriedade (vv. 4-8). Uma exige a outra. Deixar-nos dominar pelos bens materiais que, embora necessários para viver, são limitados e perecíveis, tolda-nos o olhar, impede-nos de ver para além de nós próprios. Mas se, com a regeneração pela fé e o Baptismo, nos tornamos filhos da luz e filhos do dia, vivamos conforme somos. Como filhos pertencemos àquele que se manifesta como luz que ilumina e aquece, já na sua primeira vinda e, de um modo inexcedivelmente luminoso, no dia da sua gloriosa parusia. E se a Ele pertencemos, vivamos revestidos com o que nos faz andar vigilantes e sóbrios: com a couraça da fé e da caridade e com o elmo da esperança. E partilhemos esta protecção do coração e da cabeça com os que lutam como nós: Consolai-vos uns aos outros e edificai-vos mutuamente (v. 11). É que a união faz a força, sobretudo se vem de Deus.

In:Um Ano a caminhar com São Paulo

De: D. Anacleto de OliveiraBispo Auxiliar de Lisboa

Compilado por: António Fonseca - 10-04-2009

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