sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

2ª CARTA AOS CORÍNTIOS - CAP I - S. PAULO

SEGUNDA CARTA AOS CORÍNTIOS
A FORÇA MANIFESTA-SE NA FRAQUEZA
Introdução
É difícil dar uma visão ordenada da segunda carta aos Coríntios. Isto porque esta carta é composta, provavelmente, de vários escritos que Paulo enviou aos Coríntios em ocasiões diferentes. Um facto é certo: o Apóstolo remeteu mais de duas cartas aos Coríntios; pelo menos quatro e um bilhete. Alguns dados ajudam a descobri-lo. Em 1Cor 5,9, Paulo diz que tinha escrito uma carta anterior, admoestando os Coríntios para que não tivessem relações com gente imoral. Em 2Cor 2,4, fala de uma carta severa e que, ao escrevê-la, «estava tão preocupado e aflito que até chorava». Essas duas cartas, terão desaparecido ou podemos encontrá-las em algum lugar? Vamos por partes:
1. O trecho 2Cor 6,14 — 7,1 interrompe de certa maneira o contexto; se retirado, não faria falta e até a leitura correria melhor. Nesses versículos Paulo trata dos ídolos e da impiedade; por isso, alguns estudiosos pensam que se trata de um pedaço da carta mencionada em 1Cor 5,9.
2. Os capítulos 10-13 da segunda carta aos Coríntios têm tonalidade diferente dos capítulos anteriores. Paulo mostra-se severo e nota-se grande envolvimento emocional. Pode ser a carta de que ele fala em 2Cor 2,3.
3. No início de 2Cor 9, Paulo diz que é inútil escrever sobre o «serviço prestado aos cristãos», isto é, sobre a colecta. No entanto, o cap. 8 já tratara longamente sobre essa questão. Este cap. 9 seria então, um bilhete escrito posteriormente, que retoma o assunto da colecta.
Assim, temos em ordem cronológica:
A — 2Cor 6,14-7,1: fragmento da carta escrita antes da 1Cor.
B — Primeira carta aos Coríntios.
C2Cor 10-13: carta severa escrita entre lágrimas. Paulo defende ardorosamente a autenticidade do seu ministério, fazendo uma espécie de diário apaixonado da sua vida de Apóstolo. Os coríntios tinham-no pressionado, exigindo contas quanto à origem da sua vocação, à autenticidade do seu evangelho e à sinceridade do seu comportamento. Paulo reage magoado; mas, com firmeza e de coração aberto, expõe a sua vida. Deixa vir à tona a sua personalidade exuberante e contraditória: ele é forte e fraco, audaz e reservado, impetuoso e terno, mas sempre fiel à missão apostólica e plenamente convicto do evangelho que prega.
D2Cor 1-8: carta escrita depois da anterior (C). Recorda os incidentes entre o Apóstolo e a comunidade de Corinto, em particular o caso de alguém que o teria injuriado pessoalmente. Tito fora enviado para resolver essa questão e voltara trazendo boas notícias sobre a reconciliação. No final (cap. 8), dá instruções sobre uma colecta para ajudar a Igreja de Jerusalém, que se encontrava em sérios apuros financeiros.
E — 2Cor 9: bilhete escrito pelo próprio Paulo, retomando o assunto da colecta, talvez endereçado às Igrejas da região de Corinto.
A sequência pode parecer complicada, mas permite compreender melhor os acontecimentos e o modo como Paulo reagiu às dificuldades suscitadas pela turbulenta comunidade de Corinto.
SEGUNDA CARTA AOS CORÍNTIOS
Prólogo
1
Endereço e saudação
1Paulo, Apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e o irmão Timóteo, à Igreja de Deus que está em Corinto, e também a todos os cristãos que se encontram por toda a Acaia. 2A graça e a paz vos sejam dadas da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.
Solidariedade na perseguição
3Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação! 4Ele nos consola em todas as nossas tribulações, para que possamos consolar os que estão em qualquer tribulação, através da consolação que nós mesmos recebemos de Deus. 5Na verdade, assim como os sofrimentos de Cristo são numerosos para nós, assim também é grande a nossa consolação por meio de Cristo. 6Se somos atribulados é para vossa consolação e salvação. Se somos consolados, é para vossa consolação, para que possais suportar os mesmos sofrimentos que também nós padecemos. 7E a nossa esperança a vosso respeito é firme, pois sabemos que, se participais dos nossos sofrimentos, também haveis de participar da nossa consolação. 8Irmãos, não queremos que ignoreis isto: a tribulação que sofremos na Ásia fez-nos sofrer muito, para além das nossas forças, a ponto de perdermos a esperança de sobreviver. 9Sim, nós sentíamo-nos como condenados à morte: a nossa confiança já não podia estar apoiada em nós, mas em Deus que ressuscita os mortos. 10Foi Deus que nos libertou dessa morte e dela nos libertará; n’Ele colocamos a esperança de que ainda nos libertará da morte. 11Para isso vós ides colaborar através da oração. Deste modo, a graça que obteremos pela intercessão de muitas pessoas provocará a acção de graças de muitos em nosso favor.
I. A VISITA ADIADA
Consciência limpa
12Este é o nosso motivo de orgulho: o testemunho da consciência de que nos comportámos no mundo, e mais particularmente em relação a vós, com a santidade e sinceridade que vêm de Deus. Não foram razões humanas que nos moveram, mas a graça de Deus. 13De facto não há nada em nossas cartas além daquilo que ledes e compreendeis. E espero que compreendais plenamente, 14assim como em parte já nos compreendestes que somos para vós motivo de glória, assim como vós o sereis para nós, no Dia do Senhor Jesus.
Firme e fiel
15Animado por esta certeza, eu pretendia em primeiro lugar ir ter convosco, para que recebêsseis uma segunda graça; 16depois seguiria para a Macedónia; e, finalmente, da Macedónia iria outra vez ter convosco, a fim de que me preparásseis a viagem para a Judeia. 17Será que fui leviano ao fazer este projecto? Será que os meus planos foram inspirados por objectivos puramente humanos, de tal modo que em mim existe «sim e não» ao mesmo tempo? 18Deus é testemunha fiel de que a palavra que vos dirigimos não é «sim e não». 19De facto, Jesus Cristo, o Filho de Deus, que eu, Silvano e Timóteo vos anunciámos, não foi «sim e não», mas unicamente «sim». 20Todas as promessas de Deus encontraram n’Ele o seu sim; por isso, é por meio d’Ele que dizemos «Ámen» a Deus, para a glória de Deus.
21Quem nos fortalece juntamente convosco em Cristo e nos dá a unção, é Deus. 22Deus marcou-nos com um selo e colocou em nossos corações a garantia do Espírito.
Não dominar a fé
23Quanto a mim, invoco a Deus como testemunha da minha vida: foi para vos poupar que não voltei a Corinto. 24Não é nossa intenção dominar a fé que tendes, mas colaborar para que tenhais alegria. Quanto à fé, vós estais firmes.
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16,1-4: Cf. notas em 2Cor 8-9.
5-18: Timóteo teve papel importante nas relações entre Paulo e a comunidade de Corinto (4,17; Act 15,41-16,5; 19,21-22). Apolo não quer voltar logo a Corinto, para não reagrupar um partido em torno do seu nome e do seu prestígio (1,12; 3,5-6; 4,6; Act 18, 24-19,1).
19-24: Maranatá é expressão aramaica e significa «Vem, Senhor!» Entrou em uso na liturgia e exprime a espera da comunidade pela vinda gloriosa de Jesus.
1,1-2: Timóteo acompanha Paulo na segunda e na terceira viagem, participando na fundação da comunidade em Corinto (1,19; cf. Act 18,5). É Timóteo que mantém a ligação entre Paulo e essa comunidade (1Cor 4,17; 16,10-11).
3-11: Paulo conheceu a perseguição e sentiu o medo da morte próxima; teve a experiência da incompreensão e rejeição, até mesmo por parte das comunidades por ele fundadas. Nisso tudo, ele descobre aspectos da tribulação, que caracteriza a condição cristã (cf. nota em Rm 5,1-11). Todavia, ele firma-se numa convicção profunda: a alegria de estar nas mãos do Senhor e participar da própria condição de Jesus. A palavra consolação é repetida nove vezes, para significar a libertação interior, a força reencontrada, a mudança de situação, a experiência de ser sustentado por Deus. Nos momentos difíceis, confirma-se a solidariedade dos cristãos, porque todos pertencem ao mesmo corpo de Cristo.
12-14: Já houve muitos mal-entendidos entre a comunidade e Paulo. Este pede que ninguém procure subentendidos nas suas cartas, nem segundas intenções nos seus actos.
15-22: Paulo prometera voltar a Corinto, mas não fora possível, e por isso foi mal interpretado. Ele mostra, porém, que é firme e fiel, como verdadeiro discípulo de Jesus (cf. Mt 5,36). Se estivesse a enganar os Coríntios, estaria a trair a sua própria fidelidade a Jesus, que foi sempre fiel à vontade de Deus. A seguir, lembra o rito do baptismo, que incorpora os fiéis a Cristo, tornando-os participantes do mistério da Trindade.
1,23-2,13: Paulo explica porque escreveu uma carta, em vez de realizar a visita prometida. Nada sabemos sobre os pormenores do incidente. O Apóstolo foi contestado por alguém que se opôs aos seus colaboradores. Na sua opinião, uma visita poderia aumentar a problemática, enquanto uma carta levaria à reflexão e reconciliação. Foi o que aconteceu: a comunidade puniu o culpado e este reconheceu o próprio erro. Agora, deve prevalecer o amor. A referida carta (2,3)perdeu-se ou encontra-se nos caps. 10-13 da presente carta (cf. Introdução). A sequência dos acontecimentos será retomada em 7,5.
segue-se Capítulo II - 2ª carta
António Fonseca

CARTA AOS CORÍNTIOS - CAP XV - S. PAULO

4. A ressurreição dos mortos

15

Cristo ressuscitado, fundamento da nossa
1Irmãos, lembro-vos o Evangelho que vos anunciei, que recebestes e no qual permaneceis firmes. 2É pelo Evangelho que sereis salvos, contanto que o guardeis do modo como eu vo-lo anunciei; de contrário, tereis acreditado em vão. 3Transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo recebi, isto é: Cristo morreu pelos nossos pecados, conforme as Escrituras; 4foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras; 5apareceu a Pedro e depois aos Doze. 6Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma só vez; a maioria deles ainda vive e alguns já morreram.

7Depois apareceu a Tiago e, a seguir, a todos os Apóstolos. 8Em último lugar apareceu-me também a mim, que sou um aborto. 9De facto eu sou o menor dos Apóstolos e não mereço ser chamado Apóstolo, pois persegui a Igreja de Deus. 10Mas aquilo que sou devo-o à graça de Deus; e a graça que Ele me deu não foi estéril. Pelo contrário: trabalhei mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo. 11Portanto, aqui está o que nós pregamos, tanto eu como eles; aqui está aquilo em que vós acreditastes. Se os mortos não ressuscitam... — 12Ora, se nós pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, como é que alguns de vós dizem que não há ressurreição dos mortos? 13Se não há ressurreição dos mortos, então Cristo também não ressuscitou; 14e, se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vazia e também é vazia a fé que tendes. 15Se os mortos não ressuscitam, então somos testemunhas falsas de Deus, pois testemunhamos contra Deus, quando dizemos que Deus ressuscitou a Cristo. 16Pois, se os mortos não ressuscitam, Cristo também não ressuscitou. 17E, se Cristo não ressuscitou, a fé que tendes é ilusória e ainda permaneceis nos vossos pecados. 18E, desse modo, aqueles que morreram em Cristo estão perdidos. 19Se a nossa esperança em Cristo é somente para esta vida, nós somos os mais infelizes de todos os homens.
Deus será tudo em todos
20Mas não! Cristo ressuscitou dos mortos como primeiro fruto dos que morreram. 21De facto, já que a morte veio através de um homem, também por um homem vem a ressurreição dos mortos. 22Como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos receberão a vida. 23Cada um, porém, na sua própria ordem: Cristo, como primeiro fruto; depois, aqueles que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. 24A seguir, chegará o fim, quando Cristo entregar o Reino a Deus Pai, depois de ter destruído todo o principado, toda a autoridade, todo o poder. 25Pois é preciso que Ele reine, até que tenha posto todos os seus inimigos debaixo dos seus pés. 26O último inimigo a ser destruído será a morte, 27pois Deus tudo colocou debaixo dos pés de Cristo. Mas, quando se diz que tudo Lhe será submetido, é claro que se deve excluir Deus, que tudo submeteu a Cristo. 28E quando todas as coisas Lhe tiverem sido submetidas, então o próprio Filho Se submeterá Àquele que tudo Lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos.
O testemunho é prova da ressurreição
29Se não fosse assim, que ganhariam aqueles que se fazem baptizar em favor dos mortos? Se os mortos realmente não ressuscitam, porquê fazer-se baptizar em favor deles? 30E nós mesmos, porque nos expomos ao perigo a todo o momento? 31Diariamente corro perigo de morte, tão certo, irmãos, quanto sois vós a minha glória em Jesus Cristo nosso Senhor. 32Para mim, de que teria adiantado lutar contra os animais em Éfeso, se eu tivesse apenas interesses humanos? Se os mortos não ressuscitam, comamos e bebamos, pois amanhã morreremos. 33Não vos deixeis iludir: as más companhias corrompem os bons costumes. 34Voltai a viver a vida séria e correcta; e não pequeis. Pois alguns de vós ignoram tudo a respeito de Deus. Digo isto para que sintais vergonha.
Seremos semelhantes a Cristo ressuscitado
35Todavia alguém dirá: «Como é que os mortos ressuscitam? Com que corpo voltarão?» 36Insensato! Aquilo que semeias não volta à vida, a não ser que morra. 37E o que semeias não é o corpo da futura planta que deve nascer, mas simples grão de trigo ou de qualquer outra espécie. 38A seguir, Deus dá-lhe corpo como quer: Ele dá a cada uma das sementes o corpo que lhe é próprio. 39Nenhuma carne é igual às outras: a carne dos homens é de um tipo, a dos animais é de outro, e de outro a das aves e de outro ainda a dos peixes. 40Há corpos celestes e há corpos terrestres. O brilho dos celestes, porém, é diferente do brilho dos terrestres. 41Uma coisa é o brilho do Sol, outra o brilho da Lua, e outra o brilho das estrelas. E até de estrela para estrela.
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15,1-11: A certeza da fé cristã baseia-se num facto: a ressurreição de Cristo. Paulo recorda o ensinamento tradicional da Igreja, e confirma-o enumerando as testemunhas que viram Cristo ressuscitado. Encontramos aqui os traços principais do Credo e, ao mesmo tempo, o mais antigo testemunho escrito sobre o ensinamento primitivo da Igreja a respeito das aparições de Jesus Cristo.
12-19: Em Corinto, alguns pensavam que, depois da morte, a alma imortal continuava a viver sozinha, abandonando a matéria e o corpo, que são considerados coisas más e inferiores. Outros pensavam que tudo terminava com a morte e que era melhor aproveitar o momento presente. Paulo mostra que ambas as opiniões são contrárias ao núcleo da fé cristã, porque se os mortos não ressuscitam verdadeiramente, nem Cristo ressuscitou.
20-28: Dois estados da Humanidade se opõem: o pecado e a morte, dos quais Adão é o símbolo; a graça e a vida, realizadas em Cristo (cf. Rm 5,17-21). A partir do pecado, existem na sociedade forças e estruturas que invertem o destino humano, desagregando, pervertendo, e até mesmo levando os homens à morte. Cristo foi morto por essas estruturas, mas Deus ressuscitou-O e deu-Lhe poder para as destruir. Após vencer essas forças, também a morte será vencida; então, o triunfo será definitivo. Unida a Cristo, a Humanidade estará de novo submetida a Deus e o Reino de Deus manifestar-se-á completamente.
29-34: Dois argumentos apoiam a fé na ressurreição: o baptismo pelos mortos e o testemunho cristão que não teme a morte. Quanto ao baptismo pelos mortos, trata-se de um rito desconhecido com que os cristãos procuravam assegurar a salvação dos seus parentes falecidos.

35-49: Não se pode imaginar a ressurreição como simples reviver, ou simples regresso às condições da vida terrestre. O ser humano passará para uma condição inteiramente nova: este corpo «animal», mortal, que nos foi transmitido pelos nossos pais, torna-se «espiritual», isto é, recebe vida nova do Espírito que Cristo nos dá. Paulo usa diversas imagens para nos dar a ideia da transfiguração pela qual passaremos. Nenhuma delas, porém, é capaz de dar uma ideia completa da misteriosa e real transformação que nos tornará semelhantes ao próprio Cristo ressuscitado.
50-53: Paulo imagina que Cristo há-de voltar antes que a sua geração morra; os mortos ressuscitarão e os que estiverem vivos serão transformados. Deste modo, ele salienta que a ressurreição não é apenas retorno à vida.
54-58: Depois que Cristo ressuscitou, nenhum tipo de morte terá a vitória final. Esta vitória de Cristo sobre a morte é também vitória contra o pecado, que introduz e alimenta a morte no mundo, e contra a lei, que mostra o que é pecado, mas não dá forças para o vencer. Quem acredita em Jesus ressuscitado pode cantar desde já o triunfo da vida.
Segue-se a Introdução da 2ª Carta aos Corintíos e 1º Capítulo
António Fonseca

CARTA AOS CORÍNTIOS - CAP XIV - S. PAULO

14
Carismas e bem comum
1Procurai o amor. Entretanto, aspirai aos dons do Espírito, principalmente à profecia. 2Pois aquele que fala línguas não fala aos homens, mas a Deus. Ninguém o entende, pois ele, em espírito, diz coisas incompreensíveis. 3Mas aquele que profetiza fala aos homens: edifica, exorta, consola. 4Aquele que fala línguas edifica-se a si mesmo, ao passo que aquele que profetiza edifica a assembleia. 5Eu desejo que todos vós faleis línguas, mas prefiro que profetizeis. Aquele que profetiza é maior do que aquele que fala línguas, a menos que ele mesmo as interprete, para que a assembleia seja edificada.
6Suponde, irmãos, que eu vá ter convosco falando em línguas: como vos seria útil, se a minha palavra não vos levasse nem revelação, nem ciência, nem profecia, nem ensinamento? 7O mesmo acontece com os instrumentos musicais, como a flauta ou a cítara: se não produzirem sons distintos, como reconhecer quem toca a flauta ou quem toca a cítara?
8E se a trombeta produzir um som confuso, quem se preparará para a guerra? 9Assim também vós: se a vossa linguagem não se exprime em palavras inteligíveis, como se poderá compreender o que dizeis? Sereis como quem fala ao vento. 10No mundo existem não sei quantas espécies de linguagem e não existe nada sem linguagem. 11Ora, se eu não conheço a força da linguagem, serei como estrangeiro para aquele que fala, e aquele que fala será um estrangeiro para mim. 12Assim também vós: já que aspirais aos dons do Espírito, procurai tê-los em abundância para edificardes a Igreja.
13Por isso, aquele que fala em línguas deve rezar para que ele mesmo possa interpretá-las. 14Se rezo em línguas, o meu espírito está em oração, mas a minha inteligência não colhe fruto nenhum. 15O que fazer então? Rezarei com o meu espírito, mas rezarei também com a minha inteligência; cantarei com o meu espírito, mas cantarei também com a minha inteligência. 16De facto, se é apenas com o teu espírito que dás graças a Deus, como poderá o ouvinte não iniciado dizer «Ámen» ao agradecimento que fazes, uma vez que ele não sabe o que dizes? 17A acção de graças que fazes é sem dúvida valiosa, mas o outro não se edifica. 18Agradeço a Deus por falar em línguas mais do que todos vós. 19Numa assembleia, porém, prefiro dizer cinco palavras com a minha inteligência para instruir também os outros, que dizer dez mil palavras em línguas. 20Irmãos, não sejais crianças quanto ao modo de julgar; sede crianças quanto à malícia, mas quanto ao modo de julgar sede adultos. 21Está escrito na Lei: «Falarei a este povo por meio de homens de outra língua e por meio de lábios estrangeiros, e mesmo assim eles não Me escutarão, diz o Senhor». 22Portanto, as línguas são um sinal, não para os que acreditam, mas para os que não acreditam. A profecia, ao contrário, não é para os incrédulos, mas para os que acreditam. 23Por exemplo: se a Igreja se reunir e todos falarem em línguas, será que os simples ouvintes e os incrédulos que entrarem não vão dizer que estais loucos? 24Ao contrário, se todos profetizarem, o incrédulo ou o simples ouvinte que entrar sentir-se-á persuadido do seu erro por todos, julgado por todos; 25e os segredos do seu coração serão desvendados; ele prostrar-se-á com o rosto por terra, adorará a Deus e proclamará que Deus está realmente no meio de vós.
A ordem nas reuniões
26Que fazer então, irmãos? Quando estais reunidos, cada um pode entoar um cântico, dar um ensinamento ou revelação, falar em línguas ou interpretá-las. Mas que tudo seja para edificação! 27Se existe alguém que fale em línguas, falem dois ou no máximo três, um após o outro. E que alguém as interprete. 28Se não há intérprete, que o irmão se cale na assembleia; fale a si mesmo e a Deus. 29Quanto aos profetas, que dois ou três falem, e os outros profetas dêem o seu parecer. 30Se alguém que está sentado recebe uma revelação, cale-se aquele que está a falar. 31Todos vós podeis profetizar, mas um após outro, para que todos sejam instruídos e encorajados. 32Os espíritos dos profetas estão submissos aos profetas. 33Pois Deus não é um Deus de desordem, mas de paz.
34Que as mulheres fiquem caladas nas assembleias, como se faz em todas as Igrejas dos cristãos, pois não lhes é permitido tomar a palavra. Devem ficar submissas, como diz também a Lei. 35Se desejam instruir-se sobre algum ponto, perguntem aos maridos em casa; não é conveniente que a mulher fale nas assembleias. 36Porventura a Palavra de Deus teve a sua origem em vós? Ou fostes vós os únicos que a recebestes? 37Se alguém julga ser profeta ou inspirado pelo Espírito, reconheça um mandamento do Senhor nas coisas que vos escrevo. 38Todavia, se alguém não reconhecer isso, é porque também não é reconhecido por Deus. 39Portanto, irmãos, aspirai ao dom da profecia e não impeçais que alguém fale em línguas. 40Mas que tudo seja feito de modo conveniente e com ordem.
»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»»» reflexão «««««««««««««««««««««««««
14,1-25: Os carismas são úteis quando colaboram para o crescimento da comunidade, e não quando servem para a ostentação de quem os recebeu. Paulo recomenda vivamente a profecia e é restritivo quanto ao dom das línguas. A profecia é o dom pelo qual alguém, sob a inspiração do Espírito Santo, mostra a vontade de Deus dentro da situação presente, levando a comunidade à conversão e ao esclarecimento da fé. O dom das línguas é uma espécie de oração realizada em clima de êxtase religioso: a pessoa fala na reunião da comunidade com palavras incompreensíveis, ou repetindo sons desordenados e louvando a Deus em línguas desconhecidas, que um intérprete traduz. Paulo não condena o fenómeno de «falar em línguas»; mostra apenas a sua limitação e o ridículo em que a comunidade pode cair (v. 23).
26-40: Parece que as reuniões da comunidade de Corinto eram muito desordenadas. Ninguém pedia a palavra, vários falavam ao mesmo tempo, e em tudo isto talvez sobressaíssem as mulheres. Por essa razão, Paulo convida-as a calarem-se. Os que tinham dons especiais julgavam-se superiores aos outros e não respeitavam a ordem mais elementar.
António Fonseca
Segue-se Capítulo XV

Igreja da Comunidade de São Paulo do Viso

Nº 5 801 - SÉRIE DE 2024 - Nº (277) - SANTOS DE CADA DIA - 2 DE OUTUBRO DE 2024

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