sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Leitura nº 35 - Um Ano a Caminhar com São Paulo"

35 “TODA A MULHER QUE REZA E PROFETIZA” Não é clara a posição de Paulo sobre o lugar da mulher na Igreja. Por um lado, declara aos cristãos, revestidos de Cristo pelo Baptismo: Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há masculino e feminino, porque todos sois um em Cristo (Gl 3, 28). Foi eliminada qualquer discriminação, por diferenças religiosas, sociais e sexuais. As últimas são expressas por um binómio literalmente igual ao de Gn 1, 27, na versão dos LXX, segundo o qual Deus criou o ser humano masculino e feminino. Como as desigualdades entre homem e mulher eram justificadas por ter sido ela a seduzi-lo para o pecado (Gn 3, 6), a renovação baptismal restaurou a dignidade original da mulher, também ela criada à imagem e semelhança de Deus. Por outro lado, ordena, em 1 Cor 14, 34s, que as mulheres estejam caladas nas assembleias ... Trata-se provavelmente de um a interpolação, talvez por influência de regras comunitárias como a de 1 Tm 2, 11-15, com a mesma proibição. De qualquer modo, houve numa mudança entre a vida de Paulo e a redacção das Cartas Pastorais. A que se deve esta evolução? Terão contribuído para isso as palavras de 1 Cor 11, 2-16? Também elas parecem contradizer quer as de Gl 3, 28 quer a colaboração de várias mulheres na actividade apostólica de Paulo.
Parecem, mas, de facto, não contradizem. 1 Cor 11, 2-16 Felicito-vos, porque em tudo vos lembrais de mim e guardais as tradições, conforme vo-las transmiti. Mas quero que vós saibais que de todo o homem, é Cristo a cabeça, mas a cabeça da mulher é o homem,
e a cabeça de Cristo é Deus. Todo o homem que reza ou profetiza de cabeça coberta, desonra a sua cabeça. Mas toda a mulher que reza ou profetiza de cabeça descoberta, desonra a sua cabeça; é exactamente como se estivesse de cabeça rapada. Se a mulher não se cobre, mande cortar os cabelos. Mas, se é vergonhoso para uma mulher cortar os cabelos ou raspar a cabeça, cubra-se. o homem não deve cobrir a cabeça, porque é imagem e glória de Deus; mas a mulher é glória do homem. E o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. Por isso a mulher deve trazer um poder sobre a sua cabeça, por causa dos anjos. De qualquer modo, nem a mulher é separável do homem, nem o homem da mulher, diante do Senhor. Pois, se a mulher foi tirada do homem, o homem nasce da mulher, mas tudo provém de Deus. Julgai por vós mesmos: será decoroso que a mulher reze a Deus de cabeça descoberta? E não é a própria natureza que vos ensina que é uma desonra para o homem trazer os cabelos compridos, ao passo que, para a mulher, deixá-los crescer é uma glória, porque a cabeleira lhe foi dada como cobertura? Mas, se alguém quiser contestar, nós não temos esse costume, nem tampouco as Igrejas de Deus. Como se vê, nas assembleias dos cristãos de Corinto, as mulheres tinham uma intervenção activa, quer em orações, por vezes espontâneas (14, 26), quer no ensino profético, tão necessário para a edificação da comunidade (14, 1-5.29-33). Por isso Paulo os felicita: por guardarem tradições, como, certamente, a de Gl 3, 28 (v. 2). O problema estava no modo como faziam, que tinha a ver com a cabeça, em sentido próprio e metafórico. Comecemos por este, em que cabeça exprime precedência. Mas não, necessariamente, autoridade nem, muito menos, autoritarismo Pelo menos entre Deus e Cristo: a uni-los está a relação da paternidade e filiação. Um amor que fez de Cristo, como mediador divino da criação e da redenção, cabeça do cosmos e da Igreja
(Cl 1, 18; 2, 10.19; Ef 1, 10. 22s; 4, 15; 5, 23). Ora, se é assim que Cristo é a cabeça de todo o homem, não pode deixar de ser do mesmo que, entre cristãos, a cabeça da mulher é o homem. A uni-los está o respeito por uma igual dignidade. A precedência tem a ver unicamente com o que os distingue: a masculinidade e a feminilidade que, por serem integrantes da sua natureza, Paulo reporta à criação (vv. 8s com base em Gn 1, 26s; 2, 21-23). E a ordem porque foram criados apenas explica a diferenciação sexual que, ao contrário da exclusão, exige complementaridade: Nem a mulher é separável do homem, nem o homem da mulher, diante do Senhor. Pois, se a mulher foi tirada do homem, o homem nasce da mulher, mas tudo provém de Deus (vv. 11s).
Há, portanto, que respeitar cada parte, naquilo que lhe é próprio. E que cada parte se dê ao respeito. No caso da mulher, que se apresente com sinais da sua feminilidade, nomeadamente no cabelo. Mas sociedades mediterrânicas de então, toda a mulher que se honrasse, além, de o deixar crescer, enrolava-o à volta da cabeça, formando como que uma cobertura (v. 15). Soltando-o, desonrava a sua cabeça, que podia ser o marido, o pai ou o irmão (vv. 4-6). Tanto mais que os cabelos caídos pelos ombros eram já então um factor de atracção sexual. Daí o dever da mulher de trazer um poder sobre a sua cabeça, por causa dos anjos (v. 10). É provável que Paulo, com os anjos, aluda a atracção que, segundo Gn 6, 1-4, as filhas dos homens causavam, sobre os filhos de Deus. Para evitar algo de parecido nas celebrações cristas, onde facilmente se entrava em êxtase, por isso é que as mulheres deviam usar o seu próprio poder: o de decidir que o desarranjo dos cabelos, não contribuísse para desacreditar a Igreja ... e o Evangelho. De resto, terá sido também por amor ao Evangelho que, nos finais do séc. I, as mulheres foram mesmo proibidas de ensinar durante as celebrações comunitárias (1 Cor 14,34s; 1 Tm 2, 11-15). Para se defenderem de desvios gnósticos que levavam a um certo libertinismo, as Igrejas tiveram de se organizar segundo o modelo familiar patriarcal,
em que a sacrificada era a mulher. Mas foi também por amor ao Evangelho que Paulo, na sua actividade apostólica, promoveu a participação activa da mulher na vida eclesial, indo muito além do que era prática comum nos diversos campos da organização social de então, tanto entre judeus como entre romanos e gregos. Só entre os colaboradores referidos nas suas cartas, cerca de um terço são mulheres.
E algumas com tarefas de reconhecida responsabilidade. Leiam-se, a esse respeito, os elogios que Paulo tece a muitas delas em Rm 16, 1-6. E foi ainda por amor ao Evangelho que ele próprio se entregou aos Tessalonicenses como uma mãe que acalenta os seus filhos, quando os alimenta (1 Ts 2, 7). E aos cristãos da Galácia trata como meus filhos por quem sinto outra vez dores de parto, até que Cristo se forme em vós (Gl 4, 19). Não fosse o Evangelho, por ele assim encarnado, a mensagem da ternura e da abnegação de um Deus que concedeu à mulher potencialidade únicas para a viver e anunciar ... e que crescem, na medida em que são alimentadas pelo mesmo Evangelho
de que vive a Igreja, esposa e mãe.
Igreja da Comunidade de S. Paulo do Viso – Bairro do Viso – Ramalde - Porto
LOUVADO SEJA DEUS PARA SEMPRE E SUA MÃE MARIA SANTÍSSIMA
António Fonseca

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