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S. Tiago, imagem na Igreja de Ferreira
Este ano o dia dedicado a S. Tiago, 25 de Julho, dia de fortes tradições festivas na religiosidade popular na península, no país e particularmente do norte de Portugal e da Galiza, ocorre em dia de domingo. Por isso, como é tradicional, foi declarado “Ano Santo Compostelano” e, entre as tantas manifestações religiosas e culturais, romarias, caminhadas (entre as quais uma da juventude portuense), peregrinações e outras iniciativas, conta com a presença em Novembro do Papa Bento XVI, que será para aquelas terras, como foi para nós, um acontecimento que ficará na memória da população.
S. Tiago, o Maior, era aquele que, que segundo os Actos dos Apóstolos, acolhia em sua casa os discípulos (Act, 21,18); Pedro manda dar-lhe conhecimento da sua miraculosa libertação do cárcere (Act. 12,17); toma a palavra após Pedro para garantir que a salvação em Cristo é universal (Act, 15, 13); S. Paulo confessa tê-lo conhecido após a sua primeira viagem apostólica (Gal, 1,17) e refere que o Senhor apareceu a Pedro e a Tiago (aspecto importante por ser responsável pelos cristãos de Jerusalém, Act, 21, 17). Certamente porque era o principal responsável da Igreja que ia crescendo em Jerusalém, foi mandado decapitar pelo tetrarca Herodes, com o que terá agradado aos chefes judaicos, facto que o levou também a prender Pedro (Act, 12).
História e religiosidade popular
É a partir deste dado relatado nos Actos, que se fundou a tradição de que seus discípulos o colocaram num barco que acabou por aportar à zona ocidental da Península, onde, transportado em cima de uma montada, acabou por aportar ao “Campus Stellae”, o campo da estrela, hoje Compostela, onde se foi desenvolvendo a devoção popular ao Apóstolo. A mítica lenda medieval do Santo Graal tem contornos e sentido semelhantes: ambas traduzem a evangelização da Europa, uma na Bretanha, outra na Península).
A narrativa tem todos os ingredientes de uma narrativa simbólica e mítica. Ela exprime a passagem do testemunho da fé cristã que se estende pelas novas terras; testemunha a S. Tiago, um Patriarca do Noroeste Peninsular afirmação da evangelização dos territórios peninsulares; a criação dos pólos de atracção da religiosidade popular. Como todos os mitos, ela é essencialmente verdadeira: traduz o carácter apostólico da fé que se transmite, traduz a veneração pelo primeiro bispo mártir da igreja; mostra como os povos que vieram até à península após o império romano acolheram a presença do apóstolo que anuncia Cristo. Assim se firmaram os numerosos caminhos de Santiago, que vêm do norte e do sul da Europa e continuam a constituir um testemunho da espiritualidade a da busca do religioso mesmo nos caminhos profanos da vida.
O crescimento na fé dos povos fez o resto: a primitiva igreja certamente visigótica, a posterior igreja românica medieval (que ainda tem por lá os seus resquícios), e depois a imponente catedral clássica e barroca que singrou pelos tempos até aos nossos dias.
Na diocese do Porto, os caminhos de S. Tiago têm rotas diversas, mas em cada uma, sendo uma igreja paroquial ou uma pequena ermida perdida, os caminhos do apóstolo continuam a exprimir-se histórica e simbolicamente.
Ao todo, 25 paróquias têm por padroeiro S. Tiago. Há várias linhas do percurso dos peregrinos: uma mais litoral, outra mais interior, a até uma que vem do leste da diocese. Na primeira, de sul para norte, temos Riba UL (Ol. Azeméis), Codal, (V. de Cambra), Rio Meão (Feira), Espargo (Feira), Lourosa (Feira), Lobão (Feira). Pela zona litoral norte temos Custóias (Matosinhos), Labruge (V. do Conde), Milheirós (Maia), Bougado (Trofa); em território já mais interior, há um notável conjunto: Burgães (S. Tirso), Carreira (S. Tirso), Rebordões (S. Tirso); Carvalhosa (P. de Ferreira), Modelo (P. de Ferreira), Cernadelo (Lousada), Lustosa (Lousada); mais para o interior, Pinheiro (Felgueiras), Sendim (Felgueiras), Capela (Penafiel), Fonte Arcada (Penafiel), Subarrifana (Penafiel), Valpedre (Penafiel); e na zona leste da diocese encontramos ainda Mesquinhata (Baião) e Valadares (Baião).
Os caminhos de Santiago são assim uma presença bem visível na nossa tradição religiosa-cultural. MCF (com a devida vénia)
NOTA de António Fonseca: Estava na minha pretensão, no início do corrente ano, efectuar uma peregrinação a pé a Santiago de Compostela, nesta altura, para assistir ao Jacobeo. Simplesmente as coisas complicaram-se de tal modo, que impossibilitaram de facto, que eu fizesse o que tinha projectado, inclusivamente à última hora, ainda cheguei a pensar em poder lá ir mesmo em transporte próprio. Porém, como acima digo, este sonho tornou-se impossível de efectuar, pelo menos, por agora. Espero, no entanto, poder lá ir brevemente, a pé ou de transporte, assim Deus o permita. Assim, aproveitando o texto publicado esta semana na Voz Portucalense, resolvi transcrevê-lo para partilhar de outro modo o JACOBEO DE 2010.
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