In: Boletim da Agência Ecclesia – 20-06-2010
Jornal do Vaticano lembra Saramago
OR
O Jornal do Vaticano, “L’Osservatore Romano”, publica na sua edição dominical um artigo dedicado ao escritor português José Saramago, falecido na passada Sexta-feira, aos 87 anos de idade.
Intitulado “A (presumível) omnipotência do narrador”, o obituário assinado por Claudio Toscani fala num “provocador” Prémio Nobel da Literatura e começa mesmo por citar um excerto do romance “Todos os Nomes” para apresentar o pensamento de Saramago sobre a morte.
Após um breve aceno ao percurso biográfico do autor português, o jornal do Vaticano fala num “eterno marxista”, “um homem e um intelectual de nenhuma admissão metafísica, ancorado até ao final numa confiança arbitrária no materialismo histórico”.
“Colocado lucidamente entre o joio no evangélico campo de trigo, declara-se sem sono pelo pensamento das cruzadas ou da Inquisição, esquecendo a memória do ‘gulag’, das purgas, dos genocídios, dos ‘samizdat’ culturais e religiosos”, assinala o longo artigo.
A obra de José Saramago, lê-se, tem um “tom de inevitável apocalipse, cujo perturbador presságio pretende celebrar o falhanço de um Criador e da sua criação”.
Toscani recorda a produção literária do escritor português, qualificando o romance “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991) de “obra irreverente” que constitui um “desafio à memória do cristianismo”.
“Relativamente à religião, atada como esteve sempre a sua mente por uma destabilizadora intenção de tornar banal o sagrado e por um materialismo libertário que quanto mais avançava nos anos mais se radicalizava, Saramago não se deixou nunca abandonar por uma incómoda simplicidade teológica”, escreve.
Para o Jornal do Vaticano, “um populista extremista como ele, que tomou a seu cargo o porquê do mal do mundo, deveria ter abordado em primeiro lugar o problema das erróneas estruturas humanas, das histórico-políticas às sócio-económicas, em vez de saltar para o plano metafísico”.
O artigo afirma que Saramago não devia ter “culpado, sobretudo demasiado comodamente e longe de qualquer outra consideração, um Deus no qual nunca acreditou, através da sua omnipotência, da sua omnisciência, da sua omniclarividência”.
Particularmente dura é a crítica sobre o “inaceitável” «Caim», que o “Osservatore Romano apresenta como “um romance-saga sobre a injustiça de Deus, uma anti-leitura bíblica parodiante”.
Em Portugal, a morte de Saramago levou à publicação de um “voto de pesar” do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (organismo dependente da Conferência Episcopal Portuguesa), no qual se recordava que “o cristianismo e o texto bíblico interessaram muito ao autor como objecto para a sua livre recriação literária”.´
“Há uma exigência e beleza nessa aproximação que gostaríamos de sublinhar. O único lamento é que ela nem sempre fosse levada mais longe, e de forma mais desprendida de balizamentos ideológicos”, assinala o texto.
Internacional | Agência Ecclesia | 2010-06-20 | 15:50:50 | 3770 Caracteres | Igreja/Cultura
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Embora pessoalmente tenha sempre discordado do pensamento anti católico que sempre manifestou José Saramago, nos seus livros e nas suas entrevistas que tanta polémica e celeuma originaram no seio do povo português, sempre reconheci que apesar de tudo era um homem inteligente e que mereceu o Prémio Nobel que lhe foi atribuído, mas não alinho no endeusamento que se está pretendendo efectuar a nível oficial do Governo e de alguns Partidos políticos. No entanto como homem admito que seja admirado pelo que fez em prol da língua portuguesa, conseguindo que os seus livros tenham mercado em praticamente todo o mundo – no entanto, todos tivemos ocasião de ouvir muita gente a falar na Televisão, dizendo que nunca leram os livros dele… aliás, como eu… e outros que aproveitaram para gritar no cemitério – ( “… a luta continua… a luta continua” – não sei o que é que isso tem a ver, mas enfim…). Com a transcrição que acabo de fazer através do boletim da Agência Ecclesia, de hoje, desejo esclarecer que lamento a sua morte e a sua perda para as letras em Portugal, apenas e só… António Fonseca
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