sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Mais uma leitura do livro de S. Paulo

Caros Amigos:
Dado que se insere muito no âmbito do tema mais querido da Conferência Vicentina, ou melhor, de todos os Vicentinos, que é a CARIDADE, achei por bem incluir nesta nova mensagem, o tema da 26ª leitura do livro "Um Ano a Caminhar com S. Paulo" que, conforme comuniquei anteriormente está sendo utilizado durante este Ano Paulino para celebrar condignamente o aniversário 2000 de S. Paulo, que fala profundamente sobre o assunto, para o que peço a vossa melhor atenção ao seu teor. Obrigado.
26 “ACIMA DE TUDO, REVESTI-VOS DA CARIDADE, QUE É O VÍNCULO DA PERFEIÇÃO Faz parte da celebração baptismal a imposição da veste branca aos neófitos, com as palavras que lhe dão sentido: Agora sois nova criatura e estais revestidos de Cristo. Ainda hoje, a veste serve para nos identificar. Perante os outros e em relação a nós próprios. Quantas vezes a roupa que vestimos nos ajuda a fazer aquilo de que somos capazes, a mostrar de que somos feitos. O branco tem a ver com a luz. Até a etimologia da palavra reflecte o que se passa a nível da física: o latim lux é da mesma raiz verbal do grego leukos, que significa branco. E sem luz não há vida. Pelo Baptismo é de Cristo ressuscitado que passamos a viver. Mediante a fé, somos dele revestidos (Gl 3, 27), ou então do homem novo (Cl 3, 10). É o mesmo, só que visto de perspectivas diferentes. O homem novo é aquele que pode dizer: Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do filho de Deus que me amou e se entregou a si mesmo por mim (Gl 2, 20). Destas palavras pode já concluir-se que esta vida nova tem de ser alimentada. Mas Paulo di-lo expressamente: O homem novo, que somos, não cessa de ser renovado à imagem do seu Criador (Cl 3, 10). Daí o apelo: Revesti-vos do Senhor Jesus Cristo (Rm 13, 14). Se não, arriscamo-nos a manchar a veste branca que nos identifica. O perigo é actual, e muitos não lhe resistem. Cristãos, cujo modo de pensar e agir pouco ou nada os distingue dos não cristãos. Será o meu caso? Para que não seja, acolhamos as exortações de Cl 3, 12-17. Vêm na parte da carta relativa à nossa conduta cristã (3,1-4,6), estão fundamentadas na mudança que Deus operou em nós e pretendem manter-nos em permanente renovação. Cl 3, 12-17 Como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos, pois, de entranhas de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade, suportando-vos uns aos outros e agraciando-vos mutuamente, se alguém tiver razão de queixa contra outro; na medida em que o Senhor vos agraciou, fazei-o vós também. E, acima de tudo, revesti-vos da caridade, que é o vinculo da perfeição. Reine nos vossos corações a paz de Cristo, à qual também vós fostes chamados num só corpo. E sede agradecidos. A palavra de Cristo habite em vós, em toda a sua riqueza: com toda a sabedoria, ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros; com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai a Deus, nos vossos corações, a vossa gratidão. E tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, que tudo seja em nome do Senhor Jesus, dando graças por Ele a Deus Pai. Paulo diz-nos o que devemos fazer, primeiro nas ocupações do dia a dia (vv. 12-15) e depois em celebrações do culto (vv. 16s). Ambas são imprescindíveis. Estão, por isso, envolvidas por duas referências à nossa relação com Deus: dele partimos, naquilo que nos dá (v. 12a), e a Ele nos dirigimos, com aquilo que fazemos (v. 17). É, pois, dele e para Ele que vivemos, numa total união de graça. Cinco vezes aparece este termo e seus derivados, distribuídos pelas duas partes do texto. Se a vida que temos é uma graça divina (vv. 12-15), só a podemos viver como ela é, na gratidão (vv. 16s). Apenas para com Deus? Repare-se que no centro está: Sede agradecidos (v. 15b). É um eixo entre as duas partes, porque a gratidão é permanente e para com todos. Também os outros são agentes da graça. É ela que a todos nos identifica, a veste de que estamos revestidos.. Vejamos de que é constituída e como se manifesta, começando pela sua origem em Deus. Foi Ele que nos elegeu, despindo-nos dos vícios do homem velho, anterior ao Baptismo (3, 8s). Também então nos santificou, fazendo-nos seus filhos, em Cristo. E somos por Ele amados. No original grego, este verbo está no perfeito, indicativo de um acontecimento passado, mas ainda em acção no presente. Porém, só vivemos deste amor, e o pomos em prática, e como o recebemos. Isto é, por uma série de virtudes que a Bíblia atribui também a Deus e são determinantes no nosso relacionamento mútuo: a misericórdia, tão arreigada em nós que, segundo a concepção semítica, provém das entranhas, a sede dos sentimentos; a bondade, em que é prioritário o bem do outro; a humildade, que exclui o orgulho e o egoísmo; a mansidão, que exige autodomínio; a longanimidade, para vencermos obstáculos que nos podem desanimar. Há duas situações em que tudo isto é mais difícil e necessário: quando os outros são para nós um peso, devido ou às suas debilidades ou ao mal que nos fazem (v. 13). No primeiro caso, devemos suportá-los, mas no sentido positivo e original do termo: (trans)portá-los, connosco debaixo deles. No segundo, é imprescindível o poder da graça. Para perdoar, isto é, doar-se, depois do mal que nos foi feito, precisamos da emergia com que o Senhor Jesus morreu pelos nossos pecados, da graça que nos oferece. Por outras palavras: precisamos da caridade que Ele manifestou numa plenitude até então inimaginável. É ela que está acima de tudo, acima de todas as outras virtudes, como uma veste que as cobre, dotando-as do seu dinamismo e sentido profundo. É na caridade que está o pleno cumprimento da lei (Rm 13, 10) e, se não tiver caridade, nada sou (1 Cor 13, 2). Por isso ela é o vinculo da perfeição. Une, não só as virtudes próprias dos cristãos, como sobretudo os que as praticam, num grau que os aproxima de Deus, a suma perfeição (1 Cor 13, 8-13; Mt 5, 43-48). Fruto da caridade, talvez o maior, é a paz (v. 15). Tem origem em Cristo, reina no coração de cada crente, e dele, estende-se à Igreja que, deste modo, adquire ou reforça a sua unidade de um só corpo, tornando-se ela própria instrumento da paz. Mas esta paz, mais do que um convite, aqui é objecto de um voto, semelhante ao da saudação inicial e final das cartas e das celebrações em que eram lidas. Era também aí, nas celebrações, provavelmente eucarísticas, que mais se agradecia (vv. 16s). O esquema, em linhas gerais, é idêntico ao das nossas: à liturgia da palavra seguia-se a eucarística ou de acção de graças. Na primeira predominava o ensino e admoestação; na segunda, o louvor, com salmos, hinos e cantos inspirados, isto é, sob a acção do Espirito. O objectivo principal de uma e outra é levar a que habite no coração dos participantes palavra de Cristo, isto é, o Evangelho, cujo conteúdo é, de cada vez e conforme as circunstâncias, explicado e meditado, rezado e celebrado. Assim se formaram muitos dos textos do NT que hoje, entre outros, nos ajudam a realizar a exortação conclusiva a tudo fazermos em nome do Senhor Jesus, por Ele orientados e fortalecidos. Então teremos mais razões para dar graças a Deus Pai: pelo que nos dá, a nós e a tantos outros que O podem conhecer, pela veste da caridade que nos identifica. Queira Deus!

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