Caros Amigos:
A fim de poder dar o meu pequeno contributo para a celebração do Amo Sacerdotal no âmbito do meu blogue, resolvi efectuar uma busca em diversos sites, sobre a vida de vários sacerdotes e por isso hoje, através do site www.ecclesia.pt (a quem solicito humildemente, permissão, e também pedindo desculpa pela utilização) dos textos e fotos, do boletim da Agência Ecclesia, faço aqui transcrição de algumas dessas biografias… (AF)
Padre e.... Bispo
D. Manuel Linda inaugura espaço para o Ano Sacerdotal em que a Agência ECCLESIA dá a conhecer diversas facetas dos padres no nosso país
Nos últimos tempos, os colegas padres e alguns leigos brincavam com ele sobre a hipótese de ser bispo. "Eram brincadeiras, mas não passavam disso" - disse à Agência ECCLESIA D. Manuel Linda, nomeado bispo auxiliar de Braga, no passado dia 27 de Junho. Com o título de Case Mediane e Auxiliar de Braga, D. Manuel Linda relatou a vivência dos dias passados entre o telefonema da Nunciatura Apostólica e a data da sua nomeação.
Os dias foram muito intensos e "ocuparam-me o tempo todo" porque "estamos no fim do ano académico no Seminário de Vila Real". Com toda a naturalidade disse que "sinto-me padre a 100%, mas bispo ainda não".
No domingo (21 de Junho), o email - datado das 07horas e 43minutos - deste sacerdote da diocese de Vila Real tinha um pedido expresso: "ligar para determinado número da Nunciatura Apostólica". Depois de visualizar esta mensagem pelas 22 horas, "interpretei o que se passava, mas naquele dia não liguei".
Como tinha um serviço na manhã do dia seguinte, D. Manuel Linda colocou o telemóvel em modo silencioso, mas "estava, continuamente, a receber chamadas de um número de Lisboa". Cerca das 12 horas e liberto do trabalho matinal, "liguei para o respectivo número". Recebeu a notícia quando caminhava na rua... "admito que tenha ficado branco" - sublinhou.
Nascido a 15/04/1956 na Freguesia de Paus, Concelho de Resende, Distrito de Viseu, Diocese de Lamego, o novo bispo auxiliar de Braga frequentou os Seminário Menor (Resende) e Maior (Lamego) da Diocese de Lamego, bem como o Instituto de Ciências Humanas e Teológicas (Porto), já como aluno da Diocese de Vila Real. Foi ordenado presbítero no Dia de Portugal e de Camões (10 de Junho) do ano de 1981.
O facto de ter lido o email na véspera "deu-me alguma calma". Após a celebração eucarística, o titular de Case Mediane foi almoçar ao Seminário de Vila Real, onde é reitor, e "procurei que a cara não demonstrasse nada de especial". A notícia que mudaria a sua vida alterou os seus comportamentos e "creio que os meus colegas descobriram". E explica a fragilidade: "provavelmente estava menos falador naquele dia".
A introspecção apoderou-se de D. Manuel Linda e, na tarde de 22 de Junho, "não conseguia concentrar-me". Esteve a trabalhar, mas a execução "era quase automática" porque "não tinha a cabeça fria" (Risos). Desempenhou todas as funções desse dia, porém "sabe Deus como" e "às vezes com pouca dimensão humana".
Os primeiros dias foram especiais e "comecei a dar-me conta do peso do episcopado". A consciência das novas tarefas na diocese minhota apoderaram-se do novo bispo auxiliar de Braga. "Curiosamente, nem pensei na mitra nem no solidéu" - confessa. E desabafa: "não podemos levar estas coisas de ânimo leve".
Nessa Terça-feira (dia 23 de Junho), D. Manuel Linda recebe um telefonema de sua mãe. Depois das conversas entre mãe e filho, será que o instinto maternal adivinha? Esta pergunta-lhe: "É verdade que vais para bispo?". Como estava sujeito ao segredo, "não pude dizer-lhe nada", mas devolveu-lhe a questão: "E a mãe gostava?". Não sabemos a resposta da mãe do titular de Case Mediane, mas "mostrou apreensão porque respeita o ministério episcopal". (Risos). No entanto, deu-lhe a palavra que este queria ouvir: "Tu ordenaste-te para servir a Igreja, vê lá como a podes servir".
Foi nessa lógica de serviço que D. Manuel Linda saiu das terras do Marão e se deslocou, no dia 24 de Junho, a Lisboa para falar com o Núncio Apostólico. Desde o telefonema da Nunciatura até à data da nomeação "dormi bem" visto que "não tenho problemas de insónias" - realça o prelado.
No seu dia-a-dia, o vigário episcopal para a cultura e coordenador da pastoral da diocese de Vila Real utiliza a gravata na sua indumentária. Depois de saber da ida para a diocese de Braga ainda não pensou o que fazer à colecção de gravatas que possui. No seu ar bem-disposto disse que está disponível para "dar algumas, mas a minha casa de origem tem muito espaço".
Apesar de não ter muito tempo, D. Manuel Linda confessa que gosta muito de "corridas de automóveis". Como a cidade de Vila Real recuperou o circuito automóvel, a simpatia pelas velocidades renasceu. Quando era mais novo - "agora não tenho ido muito" -, o novo bispo gostava também de MotoCross. Nunca praticou nenhum destes desportos, mas noutros tempos "conduzia com mais velocidade". A prudência dos anos tirou-lhe a adrenalina das velocidades.
Em relação ao desporto-rei, o bispo auxiliar de Braga confessa que quando "era adolescente sofria com o futebol". O nacionalismo ainda existe quando a selecção joga, mas "não dou saltos na cadeira quando Portugal marca um golo". Nota-se que gosta de futebol, mas não sabemos as cores da sua equipa preferida. "Rigorosamente já não tenho clube, houve alturas em que tive e vibrava muito com ele". (Risos)
Nos seus tempos de jovem padre - "era menino e moço com 24 anos" - o actual titular de Case Mediane foi nomeado para uma paróquia "considerada difícil". O facto de ter criado um boletim paroquial, mas com notícias da zona "acalentou o ego daquela gente que depois me recebeu de braços abertos". Com experiência na Comunicação Social, D. Manuel Linda esteve na génese de uma rádio local: a Rádio Voz do Marão. "Só por si a Comunicação Social não faz um homem novo, mas é um instrumento valiosíssimo".
O actual bispo de Lamego, D. Jacinto Botelho, foi reitor do seminarista Manuel Linda na diocese de Lamego. Num contexto "muito próprio, o meu ano optou por amadurecer vocacionalmente fora da diocese" - contou. Nesse ano, o actual bispo de Lamego tinha passado a Vigário-Geral da diocese e na substituição da reitoria, "nós - talvez coisas ingénuas de adolescentes - achámos que poderíamos amadurecer fora de Lamego".
O «célebre» bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, foi o tema da tese de doutoramento do novo bispo auxiliar de Braga. "Quando comecei a estudá-lo, esta figura da Igreja não estava suficientemente estudada". Depois da leitura das homílias de D. António Ferreira Gomes proferidas na diocese de Portalegre e, depois, no Porto "dei-me conta que a temática social, aquilo a que chamamos moral sociopolítica, seria a grande referência do pensamento dele" - enfatizou.
No domínio da literatura, Miguel Torga e José Régio são os seus autores preferidos. "Já escrevi um artigo para a Revista «Brotéria» sobre a mundividência de Miguel Torga". O escritor de S. Martinho da Anta (Vila Real) que foi adoptado pela cidade do Mondego "diz-me muito" porque "andava sempre em busca do religioso e nunca o encontrou verdadeiramente". A poesia de Régio também "me toca imenso" - frisou.
Apreciador de Arte Sacra, D. Manuel Linda recebeu - por coincidência - um «presente» no dia da nomeação para bispo auxiliar de Braga: a inauguração, no Seminário de Vila Real, de uma exposição de treze telas sobre S. António. "Uns quadros fantásticos" - disse. Apesar de gostar de pintura reconhece que "sou um desastre na arte de pintar". E lamenta: "aliás, não sei como fui tão pouco dotado nestes domínios" (Risos).
É o homem da Pastoral da Cultura na diocese de Vila Real, mas "na cultura entendida como pensamento e como criação". Nas suas viagens pelas grandes cidades, gosta de "visitar os museus de referência". Já esteve várias vezes em Madrid e "conheço o Museu do Prado muito bem".
A falta de tempo impede-o de viajar mais, mas conhece algumas partes do mundo. "Fico extasiado quando vejo alguns monumentos". A primeira vez que viu a catedral de Milão (Itália) apeteceu-lhe "encostar a uma parede e ficar ali a ver toda aquela simbólica". O contacto com a catedral de Colónia (Alemanha) "pôs-me deslumbrado" e "fiquei muitos minutos a observar aquela obra, absolutamente espantosa".
Nomeado no Verão de 2009, D. Manuel Linda disse que gosta "muito de praia", mas reconhece que passava "mais despercebido" antes da notícia das suas novas funções eclesiais.
Como a data da ordenação ainda não está marcada - "em princípio será na segunda quinzena de Setembro" - D. Manuel Linda afirma que ainda não "leu o rito da ordenação nem o directório dos bispos". O lema episcopal ainda não está escolhido, mas colocará as tónicas "do espírito da alegria e da esperança" no seu episcopado.
"Se for obrigado a ter brasão gostava de colocar um campo em branco onde a vida escreverá algo" - declarou. No domínio da simbólica a cunhar no seu brasão, D. Manuel Linda confessou que gosta do castanheiro - "árvore da minha região" - ou então do pinheiro que "resiste a muitas intempéries".
Padre e... Futebolista:
Marco Gil, capitão da equipa de futsal de padres de Portugal
Arrancou com a bola do meio-campo, fintou um, dois, três e marcou o melhor golo da carreira. Actualmente tem 33 anos e fez o contrato da sua vida a 20 de Julho de 2003 quando foi ordenado padre por D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga. Em declarações à Agência ECCLESIA, o Pe. Marco Gil relata como consegue conciliar o futebol com a vida de pároco.
Tudo começou na infância. Com os vizinhos jogava na rua, mas o «vício» prolongou-se pela vida fora. "No seminário praticávamos muito desporto e foi uma forma de não esquecer os passos dados na infância". No futebol de rua, os vidros das janelas sofreram com os pontapés na bola. "Por acaso, só aconteceu uma vez" - confessou.
Se fosse jogador de futebol profissional estava no fim da carreira, mas tal não acontece na vida sacerdotal. Na sua terra natal, Lousado, Vila Nova de Famalicão, um padre Comboniano abriu-lhe o caminho vocacional. Com a ajuda de outro sacerdote Pe Constantino de S. Miguel, Caldas de Vizela, "comecei a frequentar o Pré-Seminário". O passo seguinte foi a entrada no Seminário. As dúvidas surgiram e "interrompi por uns anos" - revelou. Mais tarde e depois de amadurecida a questão da vocação sacerdotal, Marco Gil faz um passe certeiro: entra novamente no seminário rumo ao contrato da sua vida.
O futebol é que nunca desapareceu da vida deste sacerdote bracarense. "Joguei futebol federado e tive algumas propostas". Os clubes grandes do futebol português nunca o abordaram. "Andei sempre pelas equipas da região". Como estava a estudar, mentalizou-se que primeiro estava a escola - "primeiro tinha que cumprir os meus objectivos" - e depois "é que vinha o futebol".
Como jogador de futebol "é tecnicamente e tacticamente evoluído". No entanto, considera-se, "no bom sentido, um bocadinho agressivo na forma como abordo o jogo". Com o passar dos anos, sente que este temperamento vai resfriando. "Nunca levei nenhum cartão vermelho" - sublinha.
No rectângulo de jogo de futebol onze jogava a trinco, no meio campo, embora "chegasse - durante duas ou três épocas - a jogar a central". Como o futebol de salão (Futsal) o espaço de jogo é inferior, o padre futebolista desempenha todas as posições excepto a de guarda-redes. "Às vezes no ataque e noutros jogos mais à defesa para aguentar o jogo todo".
Baresi (jogador do Milan da década de 90) e Rui Costa (jogador do Benfica até 2008) foram os seus ídolos no futebol nacional e internacional. Dois jogadores diferentes na ocupação dos espaços. "Admirava o Rui Costa pela forma como conduzia o jogo e o Baresi pela questão táctica" - confidenciou. E acrescenta: "o Baresi era pequeno como eu, mas exprimia o jogo muito bem". Não tem alcunha no futebol, mas, às vezes, os amigos chamam-lhe Baresi. Aqueles que não têm tanta proximidade "tratam-me por padre".
No primeiro ano após a ordenação - "assumi quatro comunidades" -, o padre futebolista tinha o tempo todo controlado. "Os jogos eram às 15horas e tinha Eucaristia às 17h 30m... era na queima para chegar a horas". A condição física já não é a mesma quando tinha vinte e poucos anos. "Começou a ser extremamente difícil conciliar futebol de onze e a vida sacerdotal" - admitiu.
Actualmente, o Pe. Marco Gil é o capitão da selecção portuguesa dos padres que jogam Futsal. É também um dos elementos da equipa da diocese de Braga que praticam este desporto. Este ano, os padres da diocese de Viana do Castelo saborearam a vitória pela quarta vez consecutiva. Como entendido do futebol e praticante da modalidade, o Pe. Marco Gil dá o seu parecer sobre a superioridade da diocese que venceu o «Clericus Cup nacional». "A média de idades da equipa de Braga é superior em relação à selecção de Viana do Castelo" e neste desporto "a idade e a condição física contam muito".
O bispo da diocese, D. Jorge Ortiga, e o Pe. Marco Gil são naturais de Famalicão. "Por acaso cheguei a jogar contra o sobrinho de D. Jorge que era guarda-redes no Brufe" - realça. E garante: "D. Jorge Ortiga nunca nos proibiu de jogar futebol, apenas nos alertava para o cuidado pastoral". Como chegou à conclusão que não conseguia "tocar dois instrumentos em simultâneo", o sacerdote optou por aquele "pelo qual a minha paixão me seduziu".
Conhece os meandros do futebol e sublinha que "podemos ser bons, mas se não tivermos padrinhos.... (risos) não vamos a lado nenhum". Nunca teve empresário, contudo recebia conselhos de algumas pessoas. O pai deste sacerdote bracarense não era um grande amante do futebol. "Primeiro os estudos e depois o futebol" - recorda.
O mundo do futebol é complexo. "Trabalhas bem, mas se tens uma lesão... vai tudo por água abaixo". Por outro lado - lamenta o Pe. Marco Gil - "há clubes que prometem muito e depois não pagam salários".
No último torneio (Clericus Cup nacional) jogou lesionado, mas a lesão mais grave que teve "foi no menisco e ligamentos e até fui transportado de ambulância". Através de tratamentos recuperou, mas "nunca mais fiquei a 100%". "Dá para este futebol entre amigos" - avança.
Marco Gil é capitão e líder da selecção dos clérigos. Os colegas "escolheram-me e assumi" o estatuto. Reconhece que tem espírito de liderança, embora "trabalhar com sacerdotes não é fácil". E desabafa: "tenho pena de alguns bispos... (risos)". Alguns padres são "evoluídos tecnicamente", porém "falta-lhes apetência para o sentido de sacrifício e do treino".
No seu percurso futebolístico, o Pe. Marco Gil recorda um jogo que lhe correu na perfeição. No jogo da meia-final do campeonato nacional contra a diocese do Porto "estávamos a perder por um a zero e fomos ganhar por dois a um. Acho que joguei bem e marquei os dois golos". No futebol de onze, este sacerdote participou também em duas subidas de divisão pelo Meães (clube da regional de Braga).
Apreciador de bons jogos, o capitão da selecção dos padres é adepto do Benfica. "Sou sócio do Sporting de Braga e simpatizante do Benfica" e "vivo intensamente um jogo de futebol". Não tem nenhuma forma específica para festejar os golos, mas com a intensidade do jogo grita bem alto: gooooooolo.
Já treinou miúdos, mas "é muito complicado". Surgem observações com frequência: "aquele está a jogar há muito tempo" e "aquele não joga porquê?". Uma experiência enriquecedora, mas "difícil e cheia de atritos".
Actualmente, tem quatro paróquias na diocese de Braga e estuda Direito Canónico na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa. "Ando sempre a correr" - confessa. Devido aos estudos passa quatro dias na capital, mas tenho "o auxílio dos colegas do meu Arciprestado da Póvoa de Lanhoso".
Em pleno Ano Sacerdotal, o Pe. Marco Gil lamenta que a sociedade não aprecie as outras qualidades dos padres. "Têm dificuldade em reconhecer essas qualidades e ficam admiradas". Ficam estupefactas e questionam: "Os padres também jogam à bola?". E conclui: "o padre não é uma pessoa formatada".
Padre e... Pescador: João Brasil
Ligado umbilicalmente ao mar, o Pe. João Brasil gosta de ir pescar nos tempos livres. Com 44 anos (30 de Julho de 1965), este sacerdote da diocese de Angra nasceu na Ilha de S. Jorge e, actualmente, é pároco na Ilha Graciosa. "Comprei um pequeno barco com os meus irmãos e pescava com familiares e amigos" - disse à Agência ECCLESIA.
Nas lides piscatórias, o padre pescador esclarece que não faz pesca de rede. Apenas "submarina, miudeza e, menos vezes, a pesca do alto". E acrescenta: "tipo de pesca artesanal". A cana, a linha e o anzol são utensílios essenciais para ocupar os tempos livres. Ordenado sacerdote a 25 de Junho de 1989, este pescador sublinha que "nem sempre se consegue tirar peixe".
Quando o grupo de amigos se junta e o mar está propício, o barco é o companheiro na ondulação. "Vamos pescar para fazermos uma jantarada" - disse. Quando a faina é boa, este grupo de amigos não vende o peixe. Se sobrar "damos às pessoas". Os açorianos têm o mar no sangue e quando "temos um bocadinho de tempo vamos relaxar, descansar e pescar para o mar".
Como o mar não é para brincadeiras, o Pe. João Brasil vai sempre com os amigos para o Oceano Atlântico. Após a pescaria, as brasas esperam pelo fruto do hobby. Na confecção, "todos fazem qualquer coisa". Enquanto uns abrem o peixe, os outros preparam a mesa para o repasto da comunhão.
Este pescador não gosta de ser conotado com o ditado popular - «Pescador e Caçador são uns exagerados» e confessa que não sabe "nem o tamanho, nem o peso dos peixes" que a linha trouxe com a ajuda do isco. "Não ligo a records". O lírio, chicharro, veja, garoupa e o sargo são as espécies mais abundantes no mar que banha a ilha Graciosa. "Temos também a miudeza - peixes mais pequenos - que servem para fritar" - esclarece.
O Verão é a estação preferida para as pescarias. "No Inverno o mar está mais perigoso, por isso vamos poucas vezes". Não se aventuram a percorrer muitas milhas. "Para pescar não é preciso ir muito longe, temos aqui algumas baías".
Para além de ser pescador em part-time, o Pe. João Brasil é também instrutor de mergulho de garrafa. "Sou instrutor de escafandro" - explica. Lentamente, tirou o curso com uns amigos e dá aulas nesta área. Actualmente, "estamos a dar um curso a onze pessoas".
A pesca submarina é outra paixão. "É diferente porque temos de ir para as «baixas» (rochas mais afastadas) onde existem pesqueiros". Com o barco ao largo - "fica sempre alguém a tomar conta da embarcação" - e o seu equipamento, o Pe. João Brasil mergulha na busca do peixe e das belezas do mar. O medo elimina-se com a experiência, mas "já apanhei alguns sustos: tempestades e tubarões". Também já visualizou baleias, todavia estas "passam mais na zona da ilha do Pico e do Faial".
As regras estão estabelecidas. Na pesca submarina não se pode "apanhar mais de dez peixes" por pessoa. Se o número for superior, "estamos sujeitos a uma multa da Polícia Marítima". Nas lides piscatórias nem sempre corre tudo bem. "Às vezes perde-se um arpão, uma arma ou a bóia com o peixe" - reconhece.
Este sacerdote não tem medo dos peixes. Já os conhece e sabe os seus hábitos. "As moreias estão lá nos seus buracos e não temos nada que colocar lá as mãos" - disse. Este pescador consciencioso só "apanha o peixe necessário". Olha para o futuro e fica preocupado com o desaparecimento de algumas espécies.
Os golfinhos são os parceiros predilectos neste sobe e desce das ondas. "Vêm brincar, muitas vezes, para a proa do barco". Para além destes cetáceos, os paroquianos são os companheiros de viagem. "Somos poucos padres e cada um tem as suas acções pastorais".
Pároco, professor, mergulhador
De forma oval e com cerca de 60 Km2 de superfície, a Ilha Graciosa tem quatro paróquias: Praia (S. Mateus); Santa Cruz, Guadalupe e Luz. Pouco montanhosa, plana e baixa na área norte e nordeste, eleva-se lentamente até à altitude de 398 m no Pico Timão, localizado no centro. O Pe. João Brasil tem a seu cargo a paróquia da Praia - cujo padroeiro é S. Mateus - e também joga futsal, tocou violão num rancho folclórico da Ilha de S. Jorge e é professor de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC).
No mergulho amador, o limite de profundidade "não nos deixa passar dos 40 metros". Uma descida por etapas com a ajuda de um "computadorzinho que nos regula" e transmite a informação correcta e os "tempos de descompressão". Com paragens obrigatórias, os mergulhadores devem saber "as sequências" para que o organismo não sofra as sequelas.
Nas profundezas do oceano, este padre da Ilha Graciosa sente-se no "mundo do silêncio". E acrescenta: "é o melhor que os Açores têm". Ao falar das cores que iluminam o oceano, o Pe. João Brasil esclarece: "com a profundidade vão-se perdendo algumas cores". Desaparece o vermelho, o amarelo... O mergulho tem "outra beleza" até aos 20 metros de profundidade. Com a sua máquina fotográfica regista estes segredos do mar. "É um hobby muito engraçado".
A timidez da sua voz indica-nos o caminho... Aponta-nos para o transcendente e as razões deste misticismo. "Habituámos-nos a viver sozinhos e fechados pelo mar". Este é "o primeiro companheiro", por isso "o açoriano é introvertido por natureza".
Apesar de considerar o mar como companheiro, este sacerdote não tem o hábito de ir sozinho para o oceano. "Pode acontecer algo... uma das regras de segurança é ir acompanhado". Olhar o estrelado do céu e sentir o baloiçar das ondas também não é muito aconselhável. "Também não gosto. Já fiz mergulho nocturno e não gostei muito" - confessou.
Tal como a movimentação marítima que «beija» as ilhas de bruma, o nevoeiro inicial do diálogo começa a desvanecer-se. A contrariedade existente no arquipélago - vulcões e terramotos - "ajuda a ligarmo-nos ao transcendente". Em certas circunstâncias considera-se introvertido. "No início sou..." - confessa.
Os sismos moldam a personalidade do açoriano e a tradição religiosa popular centra-se no pedido de auxílio. Nossa Senhora da Saúde e Nossa Senhora do Socorro são expressões "utilizadas com frequência".
Tem duas embarcações - «S. Mateus» (faz parte de uma sociedade) e o «Trimix». O Pe. João Brasil explica o porquê dos nomes dos barcos. O Trimix é um barco de fibra - com 5 metros e 45 centímetros - e esta expressão utiliza-se no mergulho. "É um mergulho com três misturas". Em relação ao S. Mateus, "colocámos este nome porque é o padroeiro da paróquia".
Conotado com a sua riqueza ao nível do peixe, o Pe. João Brasil frisou que, actualmente, "já não existe tanto peixe como as pessoas pensam". As redes "clandestinas estão a matar muito peixe" porque as pessoas "não cumprem as regras".
Foi para o seminário com 15 anos, mas sempre que estava de férias o mar recebia-o de braços abertos. "Os superiores do seminário não lhe diziam nada porque são açorianos e percebem esta ligação entre as pessoas e o mar". Enquanto nas ilhas maiores - caso de S. Miguel - existem freguesias de costas voltadas para o mar, nas ilhas mais pequenas - caso da Graciosa e S. Jorge - "muitas famílias não compram peixe". Há sempre uma que tem um barco e apanha peixe para os vizinhos. "Existe o sentido de comunidade e comunhão entre as pessoas". E completa: "Na ilha Graciosa não há uma peixaria".
Conhece as nove ilhas que compõem o arquipélago - Corvo, Flores, Graciosa, Pico, S. Jorge, Faial, Terceira, Santa Maria e S. Miguel - e quando lhe disse que estive duas semanas na Ilha do Corvo respondeu prontamente: "Isso é um acto heróico". Não teve problemas de adaptação na Graciosa porque as estas terras vulcânicas são "praticamente todas semelhantes".
Ordenado há 20 anos, o Pe. João Brasil esteve dois anos na Ilha das Flores, 10 em S. Jorge e está há oito anos na Ilha Graciosa. "Estamos sempre a aprender com os outros" visto que cada ilhéu tem a sua experiência de vida.
Com cerca de mil paroquianos e os serviços pastorais organizados, este padre considera-se próximo da população. "Devemos estar com as pessoas e movimentar os grupos existentes". E conclui: "a maioria dos apóstolos eram pescadores".
Marcos do Vale, Padre e... Ilusionista
Em pleno Ano Sacerdotal, a Agência ECCLESIA continua a dar a conhecer as diversas facetas dos padres do nosso país
Fernando Martins
Sem truques na manga, o professor Marcos do Vale explica que o seu hobby - o ilusionismo - começou pela brincadeira nos encontros de jovens. No seu laboratório da magia, este ilusionista materializa o sonho das crianças e desperta na densidade dos adultos a alegria da vida.
Nos espectáculos é o Professor Marcos do Vale, mas no reino eclesial é o Pe. Manuel Armando. Actualmente é pároco em Aguada de Baixo, Águeda, e sublinha à Agência ECCLESIA que o ilusionismo serve para "divertir os jovens e os menos jovens". Primeiro nasceu a vocação sacerdotal e, posteriormente, talvez pelos "meus 25 anos, descobri estas andanças".
Esta paixão nunca mais esmoreceu. Para além da arte de «fazer aparecer e desaparecer», a voz magnética do Pe. Manuel Armando actua como íman nos disponíveis do palco. Em poucos segundos transforma-os em músicos que tocam tambores, pandeiretas, cavaquinhos, adufes, pianos, bateria; bombos; xilofones. Os escolhidos até fazem de polícias sinaleiros num palco sem carros. É o poder da mente... A sua altiva voz sobrepõe-se... Os outros obedecem. A plateia ri com os poderes do professor Marcos do Vale.
As habilidades já serviram para angariar fundos para causas sociais. Neste reino da ilusão "faço desaparecer coisas que existem" porque o que "fazemos é escamotear a verdade de alguns objectos" - garantiu o Pe. Manuel Armando. No meio de tanta panóplia de instrumentos "não consigo fazer aparecer nada que não exista".
Ao definir o ilusionismo, o Professor Marcos do Vale realça que esta arte "ilude o sentido da visão e audição das pessoas". Através desta arte, "conseguimos distrair a sua atenção noutro lado".
O nome Marcos do Vale tem uma explicação. Aproveitou o nome do pai - Marques - que transformou para Marcos e o nome da localidade de nascimento, Vale Maior (concelho de Albergaria-a-Velha). Quando participou no primeiro festival internacional de artes mágicas, onde "entrava também o mentalismo", o Pe. Manuel Armando correu no domínio da hipnose. "Pediram-me um pseudónimo por causa das pontuações e passei a utilizar Marcos do Vale" - confessou. E acrescenta: "passou a ser este o «nome de guerra» nestas andanças".
Com 67 anos de idade (6 de Outubro de 1941) e algumas décadas de artista, o Pe. Manuel Armando não contabiliza os espectáculos que faz, mas "andam lá pelos milhares". Já percorreu Portugal de lés a lés e países de vários continentes. "Vou com frequência fazer espectáculos às comunidades portuguesas espalhadas pelos diversos cantos do mundo" - reconhece.
Muito para contar
No âmbito das recordações, o professor Marcos do Vale sublinha que num espectáculo nos Estados Unidos da América com outro artista português a comunidade esperava alguns milhares de pessoas na plateia. O feitiço virou-se contra o feiticeiro e "actuámos somente para trinta pessoas". Às vezes, a agilidade é inimiga e "falha-se o truque", mas "remediamos a coisa para outro lado". E explica: "aquilo que falhou, faz de conta que foi um truque." Episódios caricatos... Um dia teve de actuar numa arena porque a tarde da festa era preenchida com uma vacada e o professor Marcos do Vale. "Puseram-me a actuar no meio da arena (risos) em cima de uma camioneta com os taipais descaídos". Com um sorriso nos lábios afirma: "nunca me senti tão touro como naquele dia". Só fez o primeiro truque - "as pessoas não devem ter percebido nada" - e o resto da actuação foi noutro local.
Com uma agenda muito preenchida, certo dia o professor Marcos do Vale enganou-se na hora do espectáculo. Confundiu as 15 horas com as 17 horas... No final, "pediram-me uma indemnização". Com toda a naturalidade disse que podia rasgar o cheque e dar-lhes "um bocadinho desse mesmo cheque". No dia seguinte, quando foi fazer o depósito ao banco, "o cheque estava mais careca que o Santo António". (risada geral)
Este artista não tem empresário porque "gosto de ser livre" e "actuar quando e onde posso". Esporadicamente, um ou outro empresário pede-lhe o seu contributo. Eles trabalham na base das "percentagens", mas o Pe. Manuel Armando gosta que as pessoas "saibam linearmente quanto recebo por espectáculo". E esclarece: "nunca recebi mais de 750 euros por espectáculo".
Habitualmente, não trabalha com animais porque "dão muito trabalho e não tenho tempo para isso". As cordas, cartas, aros e bandeiras são os objectos preferidos para enganar as pessoas.
Conciliar paixões
O convite para os espectáculos ao Houdin (célebre ilusionista francês, 1805-1871) dos padres em Portugal deve-se a vários factores. "Sou convidado para trabalhos religiosos, mas junto o útil ao agradável" - enfatizou. Depois destas tarefas coloca o saber acumulado da "arte de palco nas festas para onde recebi o convite".
Nunca teve acções de formação no ilusionismo. "Sou um autodidacta e curioso" - considera. O entusiasmo nesta área "leva-nos a progredir" e a "fazer diferente e melhor". Se a vida estiver organizada "temos tempo para tudo". No entanto, o Pe. Manuel Armando esclarece que se tiver uma actividade eclesial e um convite para um espectáculo "primeiro está a minha missão de padre".
Habitualmente e com a ajuda dos colegas sacerdotes consegue satisfazer os vários pedidos. A magia e a hipnose não "são fonte de rendimento" para o Professor Marcos do Vale. Este hobby é um complemento à vida sacerdotal. Todavia, alguns espectáculos são pagos. "Um cachet justo" - confidenciou. Quando é convidado para causas solidários, o artista actua de forma gratuita.
A sua magia ainda não chegou ao campo vocacional. Ainda não conseguiu aumentar o número de vocações sacerdotais. De forma peremptória diz: "isso queria eu, mas tenho procurado cativar a juventude". E confessa: "há miúdos que dizem que gostavam se ser padres para fazer aquilo que faço". (Risos)
Os anos trouxeram-lhe saber acumulado nas artes mágicas. Neste braço de ferro entre o que existe e o que desaparece, o padre da diocese de Aveiro ganha, mas gosta de ensinar algumas perícias. "Ensino aos miúdos alguns truques" - afirma. Comunica a alegria de ser padre através das suas habilidades. E recorda o nascimento da sua vocação sacerdotal: "quando andava na escola primária, um padre - tinha uma mota muito velha - passava junto de nós e parava para falar connosco. Admirava aquela mota e dizia que queria ser padre para ter uma mota".
Reconhece que não treina muito a não ser quando tem um aparato novo. Tem vários livros sobre os temas e vai a alguns encontros de ilusionistas. "Sabem que sou padre e respeitam-me" - salientou. Ao olhar para os seus colegas sacerdotes da diocese aveirense não vislumbra nenhum sucessor nas artes da magia. "Têm muitos dotes, mas nenhum para a arte de iludir".
Não explicou como consegue «enganar» a plateia, mas confessa que é uma questão de agilidade. "Quanto mais querem ver, menos vêem". O preto é a cor dominante nos ilusionistas, mas o professor Marcos do Vale não tem uma indumentária de artista. "O fato da semana ou do Domingo é aquele que utilizo no palco" porque "não tenho dinheiro para esses fatos".
Um artista simples que não utiliza também o cabeção. "Não uso desde que saí do seminário". "Há rapazes novos que saem com essa virtude do seminário, no entanto penso que não é o cabeção que nos faz padres" - frisou.
Percurso de vida
Entrou para o seminário em 1952 e fez todo o ciclo preparatório naquela instituição de Aveiro. Posteriormente, foi para Lisboa, para o Seminário dos Olivais, onde esteve quatro anos. Foi ordenado a 25 de Julho de 1965, na Sé de Aveiro, por D. Manuel de Almeida Trindade, falecido em Agosto de 2008. "Estive um ano na Gafanha da Nazaré, depois vim para Águeda. Estive também em Cacia durante 20 anos e agora estou em Aguada de Baixo e Avelãs de Caminho" - declarou o sacerdote.
D. Manuel de Almeida Trindade, D. António Marcelino e D. António Francisco Santos foram os três bispos que teve como padre desta diocese. Nenhum destes pastores manifestou desencanto pelo hobby do Pe. Manuel Armando. "Sabem que estou a tempo inteiro como padre". E acrescenta: "sempre me incentivaram porque procuro dar testemunho daquilo que sou na Igreja".
http:ecclesia.pt
Agência Ecclesia (boletim)
Recolha e transcrição (e aposição de fotos) por António Fonseca
- Renovo os meus pedidos de desculpa à Agência Ecclesia e www.ecclesia.pt
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