OS CRISTÃOS REZAM: "PAI NOSSO"
17. A oração do Senhor
Jesus conhece as orações da comunidade judaica. Ele louva, dá graças e reza no seio da assembleia dos fiéis. Ao Sábado, assiste com os seus discípulos ao culto divino, na sinagoga. Às refeições, canta com eles os salmos de David. Por vezes, afasta-Se para rezar sozinho. Um dia, de manhã cedo, os discípulos encontram-n'O em oração, num lugar deserto (Mc 1,35). Noutra ocasião, Jesus envia os discípulos numa barca para a outra margem do lago enquanto fica a rezar na montanha (Mc 6,46).
Um dos discípulos pergunta a Jesus: "Senhor, ensina-nos a rezar" (Lc 11,1). E Jesus ensina-lhes a oração de todos os cristãos, o Pai Nosso.
O Pai Nosso é exposto no Evangelho de São Lucas (Lc 11,2-4) numa versão abreviada; no de São Mateus (6,9-13) numa versão mais longa. É este texto mais longo que se tornou a oração de todos os cristãos.
17.1 Pai Nosso que estais nos Céus
Jesus, o Filho de Deus, leva consigo até junto de seu Pai, todos aqueles que, cheios de confiança, se tornaram seus irmãos e irmãs. Como filhos e filhas de Deus, têm o direito de O invocar através de um nome que exprime a sua pertença e intimidade: Abba, papá (paizinho).
Quando dizemos: "Pai Nosso que estais nos Céus", queremos dizer que, por Ele e junto d'Ele, tudo o que significa a palavra "céu" torna-se para nós realidade: felicidade, segurança, paz, vida em plenitude.
A paternidade de Deus estende-se também aos filhos e filhas que vivem experiências desagradáveis com os pais biológicos: que não são amados, mas rejeitados; que não são aprovados, mas censurados; que não são encorajados, mas condenados; que não são libertados, mas oprimidos. Na comunidade dos crentes, estas pessoas descobrem irmãos e irmãs que lhes permitem experimentar aquilo que lhes tinha sido negado.
- Ter um Pai no Céu:
Ter Alguém em Quem poder apoiar-se,
mesmo quando os pais falhem;
Alguém a Quem poder perguntar,
mesmo quando as mães não dão resposta;
ter Alguém que nos dá irmãos e irmãs,
ter Alguém a Quem podemos amar.
Ainda que meu pai e minha mãe me abandonem, o Senhor me acolherá.
SALMO 27,10
17.2 Santificado seja o vosso Nome
Santificar o Nome de Deus não significa que O glorifiquemos só dentro dos muros das igrejas nas orações comuns, que O silenciemos e afastemos de tudo o que tem a ver com o mundo.
- Santificar o Nome de Deus significa que O pronunciamos, que Lhe cantamos cânticos e O damos a conhecer.
- Que contamos com Ele, quando se trata de assuntos do mundo.
- Que manifestamos que o Nome de Deus é mais importante, para nós, do que todos os nomes dos poderosos por quem sentimos muito respeito.
- Que O damos a conhecer entre as nações, pois quando o Nome de Deus é santificado, também o nosso é santificado com Ele.
Santificar o Nome de Deus significa: chamar os outros pelo seu nome, tanto os que estão perto como os que estão longe; não precisamos de humilhar o nome do outro receando que o nosso seja esquecido: "Não tenhas medo... chamei-te pelo teu nome: tu és meu" (Is 43,1).
Nós Te damos graças, Pai santo,
pelo teu santo Nome
que fizeste habitar em nossos corações,
para o conhecimento, a fé e a imortalidade
que Tu nos concedeste
por meio de Jesus, teu servo.
DIDAQUÊ (DOUTRINA DOS DOZE APÓSTOLOS, SÉCULOS IIII)
17.3 Venha a nós o vosso Reino
Os crentes aguardam que o Reino de Deus se faça realidade. Escutam atentamente quando Jesus diz: "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: arrependei-vos e acreditai no Evangelho" (Mc 1,15).
No povo judeu muitos esperam o começo do Reino de Deus, o seu Reino. Acreditam que Deus virá, na pessoa do Messias, completar o que eles não podem fazer por si próprios: vencer os inimigos do seu povo, expulsar os romanos do país, e reinar, desde Jerusalém - o centro do mundo - sobre todas as nações, ser um rei poderoso sobre o trono de David. Mas Jesus fala duma outra maneira do Reino de Deus e do seu Reino: conta histórias através de imagens, parábolas. Ele diz: O Reino de Deus é semelhante a uma semente que o semeador lançou à terra (Mt 13,1-9). É semelhante a um grão de mostarda que se tornou uma árvore (Mt 13,31-32), ao fermento que uma mulher toma e amassa com três medidas de farinha (Mt 13,33), a um tesouro escondido no campo (Mt 13,44).
Jesus diz aos seus discípulos: vivam de tal maneira que os outros vejam através da vossa fé, da vossa esperança e da vossa caridade, que o Reino de Deus está a crescer. Deixai os vossos cálculos. Só Deus conhece o dia e a hora. Quanto a vós, sede vigilantes a fim de não faltardes à festa de Deus. E suplicai: Venha a nós o vosso Reino!
Jesus diz:
Alegrem-se todos os que se sabem pobres diante de Deus: é a eles que pertence o Reino dos Céus. Alegrem-se todos os aflitos: Deus os consolará. Alegrem-se todos os que não recorrem à violência: Deus lhes dará a posse da terra. Alegrem-se todos os que esperam com ardor que a vontade de Deus se faça: Deus realizará os seus sonhos. Alegrem-se todos os misericordiosos: Deus lhes fará misericórdia. Alegrem-se todos os que têm um coração puro: eles verão a Deus. Alegrem-se todos os que trabalham pela paz: Deus aceita-os como seus filhos. Alegrem-se todos os que são perseguidos porque esperam a vontade de Deus: a eles pertence o Reino dos Céus.
CF. EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS 5,1-10
Boa Nova (Evangelho): Esta palavra grega aplica-se ao anúncio da vitória depois duma batalha ou ainda ao anúncio do nascimento duma criança de família real. Em relação a Jesus, significa a mensagem que Ele entrega e os sinais que realiza.
17.4 Seja feita a vossa vontade
Porque Deus é Rei e Senhor, porque o seu Reino é uma realidade para todos os homens, perguntamos: Que quer Deus? Que quer Deus de mim? Porque no mundo onde vivemos, nas nossas sociedades, é a vontade do homem que conta: a vontade do pai e da mãe, dos professores e dos superiores, dos legisladores e dos que exercem repressão para que as leis se imponham. Mas ninguém pergunta se o que eles fazem seguindo a sua vontade é também a vontade de Deus.
- Porque a nossa vontade se opõe à de Deus,
porque queremos fazer valer o nosso nome,
porque queremos construir o nosso próprio reino,
porque não queremos partilhar o nosso pão,
porque não queremos aceitar-nos a nós mesmos, porque vivemos em oposição uns aos outros, porque não queremos confiarem Deus
- é esta a razão por que somos culpados.
Ergamos os olhos a Maria, que disse "Fiat" (sim) quando o anjo a visitou. E para Jesus, que disse de Si próprio: "O meu alimento é fazer a vontade d'Aquele que Me enviou e realizar a sua obra" (Jo 4,34). Sabemos também que Jesus rezou no jardim de Getsémani, na noite antes da sua morte: "Pai, se é da tua vontade, afasta de Mim este cálice! Contudo, que não se faça a minha vontade, mas a tua!" (Lc 22,42). No dia seguinte, Jesus é crucificado. Os homens fizeram d'Ele o que quiseram. Mas Deus não O abandonou. Ressuscitou dos mortos o seu Filho. Jesus é o penhor da nossa esperança. Podemos apoiar-nos n'Ele quando a desgraça nos bate à porta.
- Deus não quer
que uma criança nasça sem mãos,
que os jovens se tornem toxicodependentes
que se viva à custa doutro,
que os doentes estejam sós
que as pessoas idosas não contem para nada na sociedade
que as doenças sejam incuráveis... - Onde quer que
uma pessoa estende a mão a outra,
partilha as suas vestes,
assiste os doentes,
protesta contra a injustiça,
a vontade de Deus é feita.
A vontade de Deus está na nossa confiança na sua presença em nós mesmos no meio do sofrimento, no seu auxílio mesmo quando não o compreendemos. A sua vontade é que haja paz na terra e vida para todos os homens. Sentimos a vontade de Deus na nostalgia que nos dá alento, no amor aos nossos semelhantes e na esperança que não nos permite duvidar. Sentimos também a vontade de Deus nas perguntas para as quais não temos respostas.
Fazer:
a sua própria vontade,
a vontade do pai,
a vontade da mãe,
a vontade dos legisladores,
a vontade dos poderosos...
Faz crescer a tua vontade em nós
a fim de que encontremos o nosso próprio caminho.
Impõe-nos a tua vontade
para que todos encontremos o caminho nos leva a Ti.
17.5 O pão nosso de cada dia nos dai hoje
Na segunda parte do Pai Nosso, pedimos ao Pai que Ele nos dê o necessário para o nosso sustento: o pão nosso de cada dia nos dai hoje.
- Outrora, no deserto, os antepassados fizeram a experiência do pão dado por Deus e do modo como o dá. Tal como o orvalho da manhã, assim caiu do céu o maná cobrindo a terra. O suficiente para saciar o homem. Cada um podia apanhar o que necessitava: uns mais, outros menos. Mas aqueles que faziam reservas porque não confiavam em Deus, esses viam o seu pão estragar-se.
Deus dá-nos a sua palavra. Dá-nos o seu pão. Dá-nos Jesus, seu Filho. Na Eucaristia, Ele próprio Se torna nosso pão quotidiano.
Quando pedimos a Deus o nosso pão de cada dia, referimo-nos a tudo o que necessitamos para viver: o pão e a água, o calor e o lar, o trabalho e a comunidade, a sua bênção.
Deus dá-nos a terra sobre a qual cresce o trigo e o arroz, a mandioca e o milho: o "fruto da terra e do trabalho dos homens" a fim de que partilhemos com os que têm fome.
- Hoje,
dá-nos o pão
do qual temos necessidade:
alguém,
uma palavra,
um sinal,
uma canção,
a fim de chegarmos a ser
aquilo que os outros necessitam, hoje.
Rezamos assim:
Bendito sejais, Senhor, Deus do universo,
pelo pão que recebemos da vossa bondade,
fruto da terra e do trabalho do homem,
que hoje Vos apresentamos
e que para nós se vai tornar Pão da vida.
Bendito seja Deus para sempre.
ORAÇÃO PARA A PREPARAÇÃO DOS DONS
17.6 Perdoai-nos as nossas ofensas
A quinta petição do Pai Nosso consta de duas partes: uma súplica e uma promessa.
- A súplica "Perdoai-nos as nossas ofensas" é uma oração comum a todos os homens pois não existe um só que não tenha cometido faltas. Ofendemos a Deus quando não respeitamos a sua Palavra, quando não nos preocupamos com a sua vontade. Quando pensamos que poderíamos viver sem Ele e contra Ele. Quando construímos o nosso próprio reino.
Tornamo-nos culpados quando não confiamos n'Aquele que nos dá o seu Filho amado, Jesus Cristo, que Se fez homem, a fim de chegarmos a Deus. Jesus é para todos e para sempre o penhor do amor e da ternura do Pai pelos homens. Ele, que conhece o Pai como ninguém, diz-nos como Deus perdoa. Tornamo-nos culpados com o nosso próximo quando não partilhamos o nosso pão, quando não vivemos uns para os outros, mas uns contra os outros. Quando nos ofendemos mutuamente, nos rebaixamos uns aos outros, quando mentimos. - A promessa "assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido", está em consonância com a petição e vai ao encontro do nosso ser natural. Saber sofrer a injustiça é bem mais difícil do que cometê-la. Aquele que é ultrajado, traído, enganado ou explorado, pensa na vingança: Hás-de mas pagar! Hei-de pagar-te com a mesma moeda! Hás-de saber quem eu sou! Não te perdoarei nunca! Já não te conheço... Nesse momento, os amigos passam a inimigos, os íntimos a estranhos.
Todos nós ficamos presos numa engrenagem de injustiça e de culpabilidade, se pensarmos que a vingança é a única reacção possível à injustiça recebida. Jesus mostra-nos que é possível romper essa engrenagem: podemos fazer com que o amor seja mais forte que a ofensa e a ira; podemos dialogar com aquele que cometeu uma injustiça connosco, podemos dar-lhe uma oportunidade e também a nós próprios.
Jesus diz-nos como o perdão é importante: Portanto, se ao levares a tua oferenda ao altar, aí te lembrares que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa aí a tua oferenda diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois volta para apresentar então a tua oferenda.
EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS 5,23-24
- Perdoa as nossas ofensas,
como nós perdoamos a quem nos ofende.
Vem ao nosso encontro
como nós vamos ao encontro dos outros.
Dá-nos a mão,
como nós damos a mão uns aos outros.
Não contes as nossas faltas
como nós não contamos as dos outros.
Tem paciência connosco
como nós a temos também com os outros.
Dá-nos ainda uma oportunidade
como nós a damos também aos outros.
Não nos deixes cair em tentação
como nós nos apoiamos uns aos outros.
Livra-nos do mal
para que todos juntos possamos louvar-Te.
Não podemos dizer sinceramente a oração que Jesus nos ensinou, enquanto cada um de nós não perdoar ao outro, de todo o coração.
17.7 Não nos deixeis cair em tentação
Deus concede aos homens a liberdade - e com ela, a capacidade de assumir as decisões pessoais - para uma vida feita de confiança em Deus, na sua Palavra e nos seus mandamentos, ou então, para uma vida sem Deus.
A dúvida pode surgir no nosso coração: Deus não me ama, não me vê, não Se preocupa comigo. O tentador trata de nos seduzir: Porque te agarras a Deus? Ele não te dá nada. Sem Ele irás muito mais longe, terás uma vida mais fácil, à vontade...
A história da sedução, do amor traído, começa com o primeiro homem.
A tentação significa: ser posto à prova, fazer uma experiência que ameaça o meu equilíbrio, que exige a minha decisão. "Caímos" em tentação. Na tentação é a minha liberdade que está em jogo. Trata-se de mim e do meu Deus.
Quem quiser vencer na tentação, terá de apoiar-se em Jesus. Ele permaneceu fiel ao Pai - e não em vão. Podemos estar seguros de que o Deus fiel nos concederá, na tentação, o modo para sair dela e a força para a suportar (1Cor 10,13).
Quando pedimos a Deus que nos preserve e fortaleça na tentação, devemos estar próximos uns dos outros, apoiar-nos e assistir-nos mutuamente. E devemos velar para que ninguém tente o outro, não o faça tropeçar. Quando alguém está só e débil, facilmente pode cair. Quando muitos estão juntos na fé, são capazes - com a ajuda de Deus - de resistir, com firmeza, aos poderes do mal.
Não dirijas os meus passos para o poder do pecado
e não me leves ao poder da culpa
nem da tentação
nem do caduco.
EXTRACTO DA ORAÇÃO JUDAICA DA TARDE
17.8 Mas livrai-nos do mal
O mal está presente em toda a parte - não é preciso procurá-lo. As catástrofes naturais, os tremores de terra, as inundações, os acidentes de vária ordem destroem a vida de muitas pessoas. As vítimas perguntam: "Porquê? Que fiz eu para merecer isto?" Com frequência os homens fazem mal uns aos outros. Não podemos confiar uns nos outros.
Quando suplicamos "Livrai-nos do mal", apresentamos toda a miséria do mundo ao Pai celeste. Pensamos nas catástrofes que nos ameaçam, mas também no mal em que nos vemos implicados - sem que nos tenham consultado - ou no qual implicamos outros. Pensamos nos regulamentos e leis feitos de modo a que as guerras não acabem, que os poderosos o sejam cada vez mais, os ricos cada vez mais ricos, os pobres cada vez mais pobres e os que dependem, cada vez mais dependentes.
Como cristãos, nós não acreditamos unicamente no "Mal", mas também no "Maligno". A tradição da fé cristã afirma: isto é obra do maligno, o inimigo de Deus, o Diabo. Ele é também inimigo do homem. Ele quer separar-nos de Deus. Seduz-nos e engana-nos para nos pôr do seu lado. Quer afastar-nos da vontade de Deus e conquistar-nos com o seu plano de ódio e inveja; afastar-nos do caminho que conduz à vida, ao seguimento de Jesus para nos levar por um caminho que nos leva à perdição. O mistério obscuro das forças do Mal faz-nos sofrer. Mas nós acreditamos que o Deus de Jesus Cristo é mais forte que todos os poderes do Mal no mundo. Quem se apoia em Deus pode viver sem medo, confiando n'Aquele que venceu o Mal. No último dia, o Senhor voltará - e com Ele, o novo mundo de Deus, no qual Deus será tudo em todos.
Rezamos assim em cada celebração eucarística:
"Livrai-nos de todo o mal, Senhor,
e dai ao mundo a paz em nossos dias,
para que, ajudados pela vossa misericórdia,
sejamos livres do pecado e de toda a perturbação,
enquanto esperamos a vinda gloriosa
de Jesus Cristo nosso Salvador.
17.9 Nós Vos louvamos, nós Vos bendizemos, nós Vos damos graças
É legítimo dirigir súplicas a Deus porque Ele nos atende com amor. Podemos pedir porque Ele tem o poder de dar o que nós necessitamos. Ele é senhor da sua criação e toda a vida é criada para O louvar. Quem acredita que Deus é amigo dos homens, que Ele está próximo das suas criaturas em tudo o que lhes acontece, sente que é bom pertencer a Deus, dar-Lhe graças e cantar seus louvores.
E ouvi todas as criaturas do Céu, da terra, de debaixo da terra, e do mar, e todos os seres vivos, proclamarem: "O louvor, a honra, a glória e o poder pertencem Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro pelos séculos dos séculos!"
APOCALIPSE DE SÃO JOÃO 5,13
Desde os primeiros tempos da Igreja, o Pai Nosso termina com o louvor da assembleia:
VOSSO É O REINO E O PODER E A GLÓRIA PARA SEMPRE
ÁMEN!
Recolha e transcrição de António Fonseca
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