terça-feira, 13 de outubro de 2009

Missa do XXVIII Domingo do Tempo Comum - 10 (11) de Outubro

No passado sábado, 10 de Outubro festejei o 44º aniversário do meu casamento e fui assistir à Celebração Eucarística na Capela de Fradelos, situada no cruzamento da Rua de Sá da Bandeira com a Rua Guedes de Azevedo e que já conheço há muitos e muitos anos, (quase 70...) mas em que por mero acaso nunca havia assistido a nenhuma Missa.

Devo dizer que fiquei surpreendido agradavelmente com a celebração: 1º não estava cheia a pequenina Capela, apesar de ser sábado e serem 19 horas; no entanto, estava bem composta - estariam provavelmente no início cerca de 25 pessoas e posteriormente devem ter entrado mais umas 10 talvez; toda a gente tinha um opúsculo de dez páginas pelo qual acompanhava o que dizia o sacerdote, já com uma idade razoável mas com uma presença respeitável; Não havia coro, mas o padre encarregava-se de dirigir os cânticos habituais - entrada, kírie, aleluia, santo e Agnus Dei - com uma voz não muito forte, mas perceptível para todos os presentes.

Contrariamente ao que habitualmente se faz, creio que na maior parte das igrejas - pelo menos as que conheço, a celebração começou por um cântico entoado em melodia fácil e iniciado pelo padre (sem música, embora houvesse um órgão, que no entanto, permaneceu fechado, visto que ninguém tocava e as pessoas cantavam como se fosse um coro nos seus próprios lugares).

Depois o celebrante leu o seguinte intróito: 

"É falsa a distinção habitual que muita gente faz entre público e privado, muito de acordo com a miserável classificação que os Modernos se habituaram a fazer de individual e colectivo. Cheia de sentido, verdade do Homem! a pessoa e a comunidade é que são o binómio que nos revela toda a riqueza da vida humana. Os Bens que o Criador nos deu para o Bem de todos e de cada um de nós, para serem próprios, e nunca se tornarem impróprios, não podem ser nem público nem privados, mas comuns ou pessoais. A propriedade privada é um modo impróprio de ter e de usar os Bens, pois priva os outros do usufruto e a propriedade pública acaba por cair nas mãos do Estado que em princípio deveria administrar com justiça o Bem Comum, mas acaba às mãos da burocracia na bolsa e no uso de apenas alguns. Não que o estado seja mau por natureza, somente porque não é tudo: não é, nunca foi, e nunca será fácil ter e conter o estado no seu lugar".

Seguiu-se depois o Kyrie, não como é habitual mas intercalado pelas seguintes palavras:

. Ter que não ajuda a ser, saber sem sabedoria,

é como a ciência sem consciência, caminho da Morte:

não servem de nada, meios sem fins e sem princípios!

Kyrie, eléison!  Kyrie, eléison! 

. Os Pobres não têm pão e os Ricos não têm paz,

pois ninguém é feliz à custa da felicidade dos outros

razão porque o Reino dos Céus foi dado aos Pobres!

Christe, eléison!  Christe, eléison! 

. Só o Amor, criador e criativo, pobre e livre,

sabe, quer e pode, restituir aos bens a sua função social,

a socialização dos bens, sem desvios totalitários!

Kyrie, eléison!  Kyrie, eléison! 

Oração Colecta

Oremos, Cristãos,

ao SENHOR, nosso Deus, a quem

ninguém pode chamar pai, Pai Nosso,

se não souber, se não puder chamar

aos homens, aos outros homens, Irmãos!

ASSEMBLEIA:

Ubi Caritas et Amor, Deus ibi est!
(Onde está a Caridade e o Amor, aí está Deus!)

PRESBÍTERO:

Dá-nos, Pai Nosso, nos mil lugares e tempos

e nas mil formas de Comunidade com que em 2 milénios

enriqueceste a tua Igreja, desde os primeiros dias

até aos últimos dias, em sociedades em mutação

chamadas a ser e a fazer da terra uma Casa Comum,

dá-nos ser no meio das massas aquele fermento,

que é do Reino dos Céus que o teu Cristo nos trouxer

e uma inspiração para a socialização-dos-Bens

que o bom Papa João XXIII na carta encíclica,

a que deu o belo nome de Pax in Terris,

apontou como programa de Justiça e de Paz

no meio de um mundo saturado

e desiludido com revoluções e ideologias,

que nada mudaram, antes tudo agravaram.

Ámen

A cerimónia prosseguiu com as leituras do Livro da Sabedoria (7,7-11) - Salmo 89 (refrão: Acumulai tesouros no Céu, diz o Senhor!) - Carta aos Hebreus (4.12-13) e Aleluia cantado e, finalmente o Evangelho Segundo S. Marcos (10,17-30), terminando também com Aleluia.

A Homília que foi feita pelo celebrante, (que antes chamou a atenção da assistência, para o facto de que o conteúdo da mesma não tem nada a ver com as eleições que vão ter lugar amanhã, dia 11/10 - trata-se apenas duma coincidência pura e simples... nada mais...) - é como segue:

"O problema do Estado é de todos os tempos nas sociedades organizadas, civilizadas. Agravou-se nos nossos dias, na medida em que regimes, de toda e qualquer cor política, tendem a absorver a vida das sociedades, não respeitando os seus limites. Não que o Estado seja mau, mas não é tudo. Não é, nunca foi, e nunca será fácil ter e conter o Estado no seu lugar. Nas sociedades há um lugar para o Estado. Para além do seu lugar, o Estado tem ou pode ter uma função supletiva, da qual se deve retirar logo que a sociedade seja ou se torne capaz de iniciativas e funções que, por si e em si não competem ao Estado. A boa e clara doutrina social da Igreja, desde Leão XIII (1891), com a sua encíclica Rerum Novarum, afirmou claramente a função supletiva do Estado e marcou os seus limites. Infelizmente na própria Igreja não é muito respeitada pelo centralismo romano que não respeita a liberdade da comunhão das Igrejas, apesar do último Concílio Ecuménico (1965) ter decretado grandes reformas contra esse centralismo que, desde Júlio II (1513) - de má memória - pensou e organizou a Igreja ao-modo-Estado. Felizmente as Igrejas e as suas Comunidades, desde aquele Concílio têm usado da liberdade dos Filhos de Deus, que nunca mais ninguém nos pode tirar.

Tudo tem a ver com a questão dos Bens que nos foram dados pelo Criador para nosso bem, e não para nosso mal.

Então os Bens que o Criador nos deu podem fazer-nos mal?

Sim, na medida em que privam os outros do Bem que os bens têm para lhes dar!

Temos hoje diante de nós uma grande e difícil questão: a questão da Propriedade Privada!

Então a Propriedade é um mal?

Os Comunistas é que tinham razão e os Capitalistas, ao privatizar tudo o que podem privatizar, não têm razão?

Nem os Comunistas nem os Capitalistas têm razão. Porque o Mal que vicia o uso dos Bens, não está na Propriedade.

O mal está na privatização, que priva os outros do Bem que os bens têm para nos dar a todos e a cada um. Para ser, todo o homem e cada homem precisa de ter. Para ser Ele-próprio, precisa de se apropriar dos bens que, como frutos na Árvore da Vida, são oferecidos a todos e a cada um, para saborear e alimentar a Vida, uma vida de Homem, uma vida própria! Mas esta apropriação não pode ser à custa da desapropriação dos outros homens. De qualquer forma, os Últimos Discípulos tal-qualmente os Primeiros Cristãos, para poderem fazer progredir o Reino dos Céus e a sua justiça, têm que resolver a sua relação com os Bens deste mundo. Todos os bens, toda a espécie de bens. Como explicou o Apóstolo: "Ainda que eu distribua todos os meus bens pelos Pobres, se não tiver Amor isso não me serve de nada!"

Depois de resolvida a tua relação com os bens que não nos foram dados para nos fazer mal, mas criados para o Bem de todos os homens, de todos e de cada homem, de todo o homem e do Homem todo, "que me falta?"

Depois, "Vem e segue-me!" diz o nosso Mestre.

Como?

Como?!

Ainda conheces, ao fim de tanto tempo, ainda conheces tão mal os Santos? Não sabes que o Cristo Jesus tem discípulos em todos os sítios e situações?!... Sim, os Cristãos não se imitam uns aos outros, não são macacos-de-imitação, mas seguidores de Cristo e, todos os sítios e situações, sem nunca se deixarem sitiar nos estados-de-sítio.

Porque são livres. Pobres e livres. Pobres porque são livres. Livres porque são pobres. Livres em relação a tudo e a todos.

Mas, então, o que é um Discípulo? Os discípulos são seguidores do Caminho - Caminho e verdade da Vida que lhes apareceu. Deixaram tudo, para ganhar tudo. Como o especialista de pérolas que encontrou a Pérola mais bela e mais cara: foi e vendeu todas as pérolas que tinha, para adquirir aquela Pérola. Como aquele lavrador que escavava e cultivava um campo, e descobriu numa vala que abriu, um tesouro. Foi, vendeu tudo o que tinha e comprou aquele campo, para ficar com o tesouro. O nosso Mestre ensinou-nos que, deixando tudo, eu ganho tudo. Tudo isto tem a ver com aquele Amor que sabe conjugar o Verbo encarecer, e que nos trouxe a bela Caridade. Mas até do mais belo nome os medíocres fizeram uma coisa que hoje ninguém quer..."

Comentários para quê....

Depois desta Homília e ainda antes de se entrar na parte Eucarística, o celebrante fez ainda referência a várias memórias a decorrer nos dias 11 (Mártires Africanos - entre os anos 483 e 484 - mais de 5 mil mártires às mãos dos Vândalos - bárbaros que destruíram tudo à sua passagem pela Península Ibérica, Estreito de Gibraltar, Norte de África (Tunísia); Dia 13, João Ogílvie, 1615, em Glasgow (Escócia); dia 15, Santa Teresa de Ávila, em Alba de Tormes (Espanha) em 1582; Dia 16, Stª Margarida Maria, em Paray-Le-Monial (França) - 1690 e dia 17, Inácio de Antioquia (Síria) que no ano 107 foi morto em Roma, no Circo Máximo, aos dentes das feras.

Como Oração dos fiéis  - ou em sua substituição - e intercalando as invocações entoou-se o Kyrie, eléison:

Sobre este vale de lágrimas Pai Nosso,

venha o teu Amor que é poderoso

e que deu o Reino dos Céus aos que choram.

Kyrie, Eléison

Livra-nos, Senhor, nosso Deus e Pai nosso,

da Peste em mil versões de medo e horror

trazida por tempos de muito errados comportamentos.

Kyrie, Eléison

Por entre fogos-cruzados de mil ódios renovados

os sinais-dos-Tempos anunciam manhãs de guerra:

livra-nos, Pai nosso, dos previsíveis holocaustos.

Kyrie, Eléison

Os nossos contemporâneos falam muito de amor,

mas só conhecem o amor-da-Cupidez em que rivalizam:

manifeste-se, ó Deus, o amor dos filhos de Deus.

Kyrie, Eléison

O amor dos Modernos é medo de ter medo a sós,

gosto de se roçar e ódio vulgar aos outros rebanhos:

manifeste-se, ó Deus, o amor dos filhos de Deus.

Kyrie, Eléison

Só o teu amor, ó Deus, explica o mistério da Vida

desde o princípio nos seus meios e nos seus fins:

quem não ama está morto, quem odeia é homicida.

Kyrie, Eléison

Dá-nos, ó Deus, a Fé na Vida, Vida mais, mais Vida,

e tira-nos o medo da Morte que não nos deixa viver

para que quem dá a vida saiba que ganha a Vida!

Kyrie, Eléison

A celebração Eucarística propriamente dita decorreu então tal como a conheço. Na parte da Comunhão além da distribuição da partícula (Corpo)pelos comungantes, esta era imersa no cálice para ser embebida  no Vinho (Sangue) que o Acólito tinha nas suas mãos.

Antes da Bênção final, o Presbítero leu a seguinte Oração

No caminho da transformação das realidades terrestres, vocação e missão recebidas de Cristo, toda a prudência é pouca da parte dos Leigos inseridos nos sítios e situações, já que dos Ministros da Igreja podemos agora esperar uma liberdade que muitas vezes nos reinos chamados cristãos, não souberam, não quiseram ou não puderam ter.

A grande liberdade, agora sem reservas clericais, a liberdade dos filhos de Deus dará aos Leigos o saber restar, circular e empenhar-se a fundo à esquerda ou à direita, companheiros dos homens de boa vontade nas grandes lutas do Século pela Justiça e pela Paz, sem alienar a Vocação e a Missão e nunca perdendo o Espírito crítico!

A Assembleia por sua vez respondeu:


Senhor Jesus que fizeste de nós o Sal da terra e a Luz do Mundo, dá às nossas dedicações e empenhamentos a lucidez e força capazes daquele Modo de estar no Tempo que nos mantém livres em todos os sítios e situações. Ámen.

Comentário final:  Nunca tinha assistido a uma celebração idêntica a esta mas devo dizer que fiquei muito satisfeito com tudo o que vi e pude apreciar a dignidade e o recolhimento dos fieis que ali estavam que colaboraram com o celebrante, como se de facto estivessem reunidos em família  a louvar a Deus.

Transcrição de António Fonseca

 

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