quinta-feira, 8 de outubro de 2009

SERÁS TU, CRENTE ?

 

 

Sinto muito, não sou crente
Agora chegaria o momento de dizer em que coisas não creio mas me falta coragem

Autor: Enrique Monasterio | Fuente: Fluvium.org

Você é crente?


A mim já ninguém pergunta estas coisas. Claro que, sendo sacerdote e vestindo como tal, a fé se nota desde logo. Os curas, como os taxistas, necessitam de atrair clientes ao voo, e é útil que nos reconheçam desde longe. Não sei como não o compreendem alguns colegas, ilustres e piedosos por outro lado. Se não fosse demasiado pitoresco, eu colocaria na testa uma luzinha verde.
O caso é que, como ia dizendo, já ninguém me interroga sobre minhas convicções religiosas. É uma pena, porque, se um dia me perguntassem na rua ¿você é crente?, com toda a sinceridade e com ânimo de escandalizar só um pouquinho, responderia: Por suposto que não.

Seria uma forma, como outra qualquer, de dizer que sou católico, já que, nesta sociedade moderadamente pagã e laica, nós cristãos nos distinguimos dos que não o são, não tanto pelo que cremos, como por aquelas coisas nas que não nos dá a vontade de crer.
O paganismo sim, que tem sido e é crente; inclusive crédulo, supersticioso, idólatra, devotamente assustadiço ante as forças ocultas que imagina sepultadas no fundo dos abismos. O paganismo prescinde de Deus que dá racionalidade e sentido a cada uma das criaturas, olvidando que ao princípio não existia o caos, mas sim o Verbo, a inteligência divina que tudo abarca e penetra. Sem ela o universo se torna opaco, irracional, escravo de extravagantes poderes que ninguém controla. Daí que o pagão recorra a deuses de bijutaria, a conjuros, amuletos, horóscopos e demais ansiolíticos em oferta para aplacar seus inevitáveis ataques de pânico. Dizia Joseph Ratzinger anos antes de ser eleito Papa: o mundo sem o seu Criador se converte num lugar muito perigoso. 

Mas o laicismo é outra coisa ¿Ou não?
Não, meu querido Kloster. O laicismo, ao menos em teoria, expulsa da sociedade a todos los deuses. Os tolera como se toleram as enfermidades infecciosas, mas toma medidas: procura pô-los em quarentena para evitar contágios. O laicismo dá por suposto que a fé se situa no âmbito do irracional, do que nunca deve infeccionar o mundo do pensamento, da cultura ou da ciência.
O que ocorre é que, a posteriori, também o laicismo necessita suas próprias crenças. E este laicismo, versão século XXI, criou um elenco interminável de dogmas politicamente correctos que se apresentam a si mesmos como artigos de fé civil, se proclamam por todos os meios e cristalizam em frases-tópico que todo o bom democrata deve repetir de vez em quando e aceitá-las religiosamente se não quer ser anatematizado pelos inquisidores e enviado às trevas da reacção e do fundamentalismo.


Por isso digo que não sou "crente" nem estou disposto a sê-lo. Não posso crer nas magias do paganismo, e me rebentam ainda mais os pedantismos dogmáticos do relativismo militante. Talvez num próximo artigo me anime a explicar com mais detalhe porque a tenho tomada com a palavra "crente". Basta dizer este mês que só pretendo ser uma pessoa judiciosa: crer com toda a alma em Deus e em muito poucas coisas mais, porque isso é o sensato; ser consciente de que a fé é um dom recebido, desde logo, mas um dom razoável no dizer de São Paulo, que enriquece a inteligência e ajuda a pensar por livre.

Em todo caso não é um sentimento, nem uma neurose. Ao laicismo lhe encanta falar do respeito aos "sentimentos religiosos". Já se vê que o laicismo é sensível e compassivo. Mas às 6 horas da manhã ando escasso desse tipo de sentimentos e nem por isso deixo de ser cristão.

Agora chegaria o momento de dizer em que coisas não creio; mas me falta a coragem. Temo que meus leitores rasguem as vestes, e o tempo não está muito agradável para se andar muito ventilados.

  • Perguntas e comentários ao autor deste artigo
  • (Com

    a devida vénia, recolhi e transcrevi este texto da autoria de Pe Henrique Monasterio, publicado através de Fluvium.org que me foi enviado por e-mail do site:
    http://es.catholic.net que subscrevo.

    António Fonseca

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