sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Notícias - Agência Ecclesia

Cinco novos Santos para a Igreja

Pe. Damião, apóstolo dos leprosos, e a fundadora das Irmãzinhas dos Pobres entre os fiéis que Bento XVI vai canonizar

Bento XVI preside este Domingo à cerimónia de canonização de cinco novos Santos, entre os quais o padre Damião de Veuster, conhecido como apóstolo dos leprosos e a religiosa francesa Maria da Cruz (Joana, nome civil) Jugan, fundadora da Congregação das Irmãzinhas dos Pobres.

Jozef Damian de Veuster (Bélgica), o conhecido Padre Damião, sacerdote da Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria e da Adoração Perpétua do Santíssimo Sacramento do Altar, consagrou sua vida aos leprosos da Ilha de Molokai, onde ele mesmo faleceu por causa desta doença.

Mário Nogueira, Fundador da Associação “Mãos Unidas P. Damião”, refere em comunicado enviado à Agência ECCLESIA que esta canonização deve servir para renovar “o nosso empenhamento para derrubarmos os muros da marginalização e construir muitas aldeias de Molokai por esse terceiro mundo das desigualdades”, considerando que “a resposta da Igreja surge no tempo certo”.

Quanta a Joana Jugan, a Irmã Maria da Cruz, as Irmãzinhas dos Pobres em Portugal, referem a “grande alegria” da canonização, falando da sua fundadora como uma “figura de mulher humilde, que na simplicidade e pobreza de coração entregou a sua vida a Deus no serviço às pessoas idosas pobres, numa inquebrantável confiança na providência de Deus”. A Congregação das Irmãzinhas dos Pobres está hoje presente em vários países dos cinco continentes

Os outros novos Santos são Francisco Coll y Guitart (Espanha), sacerdote Dominicano, fundador da Congregação das Dominicanas da Anunciação da Bem-aventurada Virgem Maria; Zygmunt Szczesny Felinski (Polónia), Arcebispo, fundador da Congregação das Religiosas Franciscanas da Família de Maria; e Rafael Arnáiz Baron (Espanha), monge da Ordem Cisterciense da Estrita Observância (Trapista), que faleceu aos 27 anos, vítima de um coma diabético. É considerado um dos grandes místicos do século XX.

Bento XVI fez até hoje mais de 750 beatos e 23 novos Santos, incluindo o Português São Nuno Álvares Pereira. O “recordista” João Paulo II fez 482 novos Santos e 1342 novos Beatos, num pontificado de 26 anos e meio.

Joana Jugan, Irmã Maria da Cruz

Nascida em Cancale, em Ille-et-Vilaine (França), na aldeia de Petites Croix, no dia 25 de Outubro de 1792, Joana Jugan é baptizada no mesmo dia do seu nascimento na igreja de Saint-Méen em plena tormenta revolucionária. O seu pai, marinheiro como a maioria dos homens da sua região, encontrava-se na grande pesca de Terranova. Quatro anos mais tarde, desaparece no mar. A sua mãe fica sozinha para educar os seus 4 filhos (outros 4 tinham falecido de pequenos). Para ajudar a família, Joana, aos 16 anos, vai como ajudante de cozinha a um solar perto de Cancale.

Aí permanece até à idade de 25 anos, depois deixa a sua casa para ir para Saint-Servan onde trabalhará como ajudante de enfermeira no hospital “do Rosais”. Ao pedido de casamento dum jovem marinheiro, ela responde: “Deus quer-me para Ele, guarda-me para uma obra que ainda não está fundada”.

Joana Jugan somente quer servir a Deus e aos outros, aos pobres, particularmente aos mais débeis, mais desamparados, fiel ao ideal de configuração a Jesus por Maria que ensinava São João Eudes aos membros da Ordem Terceira do Coração da Mãe Admirável, associação a que Joana pertencera desde à idade de 25 anos.

Uma tarde de Inverno de 1839, ela abre a porta da sua casa e do seu coração a uma velhinha cega e meio paralisada, bruscamente reduzida à solidão. Joana dá-lhe a sua cama... Este gesto vai comprometê-la, para sempre. Outra velhinha seguirá e depois uma terceira... Em 1843 será quarenta, que rodeiam Joana e as suas três jovens companheiras. Estas últimas nomeiam-na superiora da pequena associação, que se encaminha para uma verdadeira vida religiosa.

Em breve Joana Jugan será destituída deste cargo, reduzida à simples actividade do peditório, dura tarefa que ela empreende, animada nesta iniciativa de caridade e partilha pelos Irmãos de São João de Deus. À injustiça, Joana somente responde com o silêncio, a delicadeza, o abandono. A sua fé e o seu amor descobrem nesta decisão o caminho de Deus para ela e para a sua família religiosa.

No decorrer dos anos, a sombra deste anonimato se estende cada vez mais sobre Joana Jugan. O começo da sua obra é falsificado. Vive 27 anos posta de lado (1852 a 1879), quatro deles na casa de Rennes, e os vinte e três últimos em La Tour Saint Joseph, (casa Mãe da Congregação das Irmãzinhas dos Pobres desde 1856).

À sua morte, no dia 29 de Agosto de 1879, tem 87 anos e poucas Irmãzinhas sabem que ela é a fundadora, mas a sua influência entre as jovens postulantes e noviças, com as quais partilha a sua vida no decorrer destes últimos vinte e sete anos, é decisiva. Através deste contacto prolongado, passa o carisma inicial, o espírito com que iniciou a obra se transmite.

Pouco a pouco, a luz vai brilhando... A partir de 1902, a verdade começa a revelar-se: Joana Jugan, Irmã Maria da Cruz, morta no esquecimento, um quarto de século antes, já não é a terceira Irmãzinha, como tinham feito crer, senão a primeira, a Fundadora.

Irmãzinhas dos Pobres - Portugal

Padre Damião de Veuster

O Padre Damião de Veuster, SS.CC., mais conhecido como Damião de Molokai, vai ser declarado Santo pelo Papa Bento XVI no próximo dia 11 de Outubro, na praça de São Pedro, no Vaticano.

O Padre Damião, nascido na Bélgica em1840,  foi viver como missionário junto aos leprosos da ilha de Molokai (Hawai) aos 33 anos de idade.  Após 16 anos a atender heroicamente os leprosos,  morreu também leproso em 1889. Tinha 49 anos.  Seguindo o exemplo de Jesus, “amou-os até ao fim”, dando a vida por eles.

Damião nasceu no seio de uma família numerosa da região flamenga, a norte da Bélgica. Eram pequenos proprietários de fazenda agrícola e pecuária, e os pais, de fé católica profunda, pensaram em dedicar o pequeno dos filhos para continuar o trabalho da casa. Contava Damião 18 anos e já duas das irmãs tinham se tornado religiosas e o irmão mais velho, Pânfilo, era para já religioso dos Sagrados Corações, na altura uma pequena Congregação missionária de origem francesa.  Damião sentiu a vocação, foi difícil comunicá-la aos pais. Entretanto, professou como irmão dos ss.cc. e, após luta apurada com o latim  e o francês, conseguiu dos superiores encetar a Teologia. O seu sonho era ser missionário em terras longínquas, queria ser como São Francisco Xavier: a ocasião pintou quando o seu irmão ficou doente pouco antes do barco partir para o Pacífico Sul. Damião, em arrebatado entusiasmo, pediu para substituí-lo.

Não dá para narrar a viagem dos missionários por aqueles oceanos, do Atlântico Norte ao Sul, a passagem pelo Cabo de Hornos, a entrada no Pacífico… Cinco meses de navegação!

Damião formava parte da equipa missionária de padres e irmãs dos SS.CC. que tinham recebido da Congregação para Propagação da Fé a missão das Ilhas Sandwich, assim chamado então o arquipélago hawaiano. Aprender a língua kanaka, adaptar-se ao clima, aos costumes… Damião encarou isso tudo com a proverbial fogosidade do seu temperamento.

Estala uma epidemia de lepra no arquipélago: o  governo das Ilhas, naquela altura uma monarquia autóctone,  resolve internar os leprosos num cárcere natural, a cara norte da ilha de Molokai, entre o mar e a montanha.

A lepra, uma doença da pele, incurável  na altura, provocava então muito mais terror do que hoje. Alguns suspeitavam ela ser própria de povos subdesenvolvidos, ligada com costumes licenciosos, relacionada com a sífilis e outras doenças venéreas. O estigma do leproso era total: para além da desintegração física, a exclusão social, a maldição  divina.

É neste contexto que se compreende a angústia do padre provincial ao pedir voluntários para atender os leprosos. “Sem tocá-los, sem conviver com eles…”, disse. Mas, “alguém poderia ir à Molokai durante um tempo?” Levantam-se alguns sacerdotes, entre eles Damião. É ele o escolhido para lá ir.

Consta que Damião, aos 33 anos, nunca imaginara o que ia acontecer com ele: simplesmente tomou uma decisão coerente com a sua profissão perpétua em baixo do manto mortuário.  Ele era assim: entusiasta, lançado, convencido de que o Senhor precisava dele  para ir à Molokai naquele momento.

O que aconteceu depois ultrapassou as expectativas: Damião chegou à ilha e encontrou uma espécie de semi-caos. Kalawao era uma aldeia mais para depósito de doentes não atendidos, destinados a morrer, sem família, nem hospital nem cuidados, do que um assentamento humano digno desse nome. Prostituição, droga, assassínios.., normal entre  pessoas abandonadas a si próprias.  Foi precisa muita paciência, muita dedicação, muita oração.., para conseguir formar um povo daquela massa de moribundos.

Sempre é citada a frase de Mahatma Ghandi “é preciso saber de onde tirou este homem a força para tal heroísmo”, e todos nos perguntamos onde esteve o segredo de Damião para levar a cabo uma tal empresa. A resposta está no sacrário, certamente, na presença constante do Jesus  Eucarístico , nas adorações e celebrações… Jesus foi o Amigo que Damião teve nas idas a cavalo a visitar as aldeias, nas curas dos leprosos, na forma de encarar aos inimigos – que não foram poucos, dentro e fora da ilha - , na presença de ânimo para não se deprimir nos momentos piores de solidão.  Quando contraiu a doença – nunca obedeceu a quem lhe dissera que “não tocara os leprosos” – houve médicos a suspeitar dele ter tido relações com leprosas.  Logo se demonstrou o contrário…

Damião amou em excesso.  Entrou naquilo que Paulo disse na 1Cor: a loucura da Cruz.  Li há pouco:  “O Reino faz-se presente não pelas instituições de direito, mas pela acção dos homens justos. O Reino advém lá onde o poder do bem faz que recue o mal, sempre fascinante. Por isso, a metáfora da ‘clareira na floresta’ parece-me razoável.  Assim percebido, o Reino é uma  clareira no coração da história perversa ou ambígua..”p.270.  E mais adiante (p.272) “Os justos não se contentam com seguir  uma conduta razoável; excedem-se no desempenho, porque o mal  que o mundo gera é também excessivo, daí a reclamar  um excesso de bem”. (Christian Duquoc,  “Creo en la Iglesia”, Precariedad institucional y Reino de Dios, Sal Terrae, Santander, 2001).

Damião é uma “clareira no coração da história”,  uma testemunha  de que  o Reino  está  aí a fazer o seu trabalho. As sementes de misericórdia, compaixão e solidariedade que se manifestam na sua vida têm dado fruto no Senhor.  Ele morreu, segundo consta, feliz.  Caindo aos pedaços, com seus membros desfigurados, porém feliz.  Disse: “Como é  doce morrer  filho dos Sagrados Corações”.

São Damião, rogai por nós.

Luís Manuel Alvarez Garcia, ss.cc

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