NOSSA SENHORA MEDIANEIRA
O glorioso título de Maria Medianeira, que é celebrado nalgumas dioceses, exprime o papel da maternal intercessão que a Santíssima Virgem desempenha junto do seu divino Filho em favor dos filhos da terra. Este privilégio de Nossa Senhora funda-se na sua dupla maternidade: natural, a respeito de Jesus; espiritual, em relação com os homens. A Virgem Maria adquiriu esta última à custa de ter cooperado na obra de redenção, cooperação que esteve num íntimo sofrer, ligado com a vida e o sacrifício do Salvador. Em troca, recebeu a potência de alcançar e distribuir todas as graças destinadas aos homens.
I – História da crença na mediação mariana
1º - A Sagrada Escritura – as origens desta doutrina encontram-se no Génesis, na célebre passagem que trata da brilhante desforra da mulher e da sua posteridade sobre a serpente. A Bíblia proclama aí a mediação da Santíssima Virgem, anunciando que por ela nos viria o Vencedor do demónio e se operaria a reconciliação do homem com Deus. Mas é o Evangelho, naturalmente, que anuncia os mistérios relacionados com a mediação de Maria: a anunciação, a visitação, o nascimento, as bodas de Caná, e sobretudo o Calvário, onde a Virgem Santíssima sofre com Jesus e nos é dada por Mãe.
2º. A tradição –
1. Dos tempos apostólicos até ao principio do século V – Antes do édito de Constantino (313), a história, por causa sem dúvida das perseguições, não abunda muito em documentos escritos. Todavia, os Diálogos de S. Justino (165) oferecem uma das argumentações fundamentais da mediação mariana: a antítese entre Eva e Maria, fazendo par com a que se realiza entre Adão e Cristo. Aparece também, em Santo Ireneu (200). Mas, a partir dos fins das perseguições, constituem multidão os documentos que provam a confiança bem estabelecida do povo cristão para com Maria. No século IV, a antítese é retomada por S. Cirilo de Jerusalém, Santo Efrém, Santo Epifânio, S. Jerónimo e S. João Crisóstomo. Santo Ambrósio escreve: «Maria gerou o autor da salvação. Operou a salvação do mundo e concebeu a redenção de todos».
2. Do século V ao século XII – Ao decorrer este período são afirmadas, com ainda maior energia e autoridade, a maternidade espiritual e a mediação universal de Maria. Santo Agostinho (430): «Maria é mãe de todos os membros da nossa cabeça, Jesus Cristo». Pelo Concílio de Éfeso (431), é a Virgem Maria proclamada Mãe de Deus, título que está na base da nossa doutrina. No século VIII, S. Beda Venerável desenvolve a mesma verdade. Mais tarde, S. Pedro Damião (1072) e Santo Anselmo (1109). Mas S. Bernardo (1153), o mais célebre panegirista da Virgem Maria, é incansável a este propósito. «Deus, afirma ele, quis que nós tivéssemos tudo por Maria». Faz da Medianeira «pescoço do Corpo místico: chama-lhe «aqueduto das graças, etc. .
3. Do século XII aos nosso dias – Notam-se, especialmente a contar do século XVI, afirmações muito explicitas da cooperação de Maria na nossa redenção. São as principais testemunhas, santo Alberto Magno (1280) e S. Tomás de Aquino (1274). Este último ensina que a Virgem deu o próprio consentimento à encarnação, em nome da humanidade inteira. Nos séculos XVI e XVII, os ataques dos protestantes são a ocasião de estudos mais aprofundados da mediação mariana. Fazem-se ouvir Bossuet, o Padre António Vieira e tantos outros oradores e escritores. No século XIX, idêntico ensinamento é dado em geral pelos teólogos: assim Ventura, o cardeal Pie, Terrien, Bittremieux e outros. E no século XX, particularmente Bover e Aldama. Os próprios Sumos Pontífices têm claramente afirmado a cooperação de Maria para a nossa redenção, a sua mediação e o seu papel no distribuir das graças. Assim Pio IV (em 1476); Bento XIV (1758); Leão XIII, que escreveu várias encíclicas tocando a mediação de Maria em numerosas passagens. Eis dois trechos de encíclicas diferentes: «Da mesma maneira que não se pode chegar ao Pai senão pelo Filho, também não se pode chegar a Jesus Cristo senão por sua Mãe»; «A Virgem é digna e bem aceite medianeira, junto do Medianeiro». Desde S. Pio X até João Paulo II, não houve Pontífice que não tenha trazido a sua pedra para o edifício da mediação universal de Maria.
II. O testemunho da arte através dos séculos
O facto da ligação espiritual ou mística que existe entre os textos e as imagens, traz-nos precioso socorro, sobretudo para a as origens, em que tanto faltam os testemunhos explícitos. As catacumbas conservaram-nos frescos do século II que representam a Virgem Maria com os braços em cruz, a interceder pela Igreja (figurada por S. Pedro e S. Paulo) e a rogar por todos os filhos dela. Estas Virgens, chamadas Orantes, encontram-se nos séculos seguintes, variando entre si. No século X, a Auxiliadora figura em moedas. Nos séculos das catedrais góticas (XII e XIII), há esculturas, que todos conhecem, de eloquência genial. Mais tarde, vidreiros e santeiros miniaturistas reproduzem à porfia as lendas dos «milagres de Nossa Senhora». Canções e poesias desenvolvem abundantemente esses temas; citemos ao menos Dante, no século XIV. Os símbolos são inumeráveis: o manto protector da Mãe de Todos; a fonte da vida; o tinteiro da predestinação oferecido pela Virgem ao Menino Jesus; o livro da vida; a janela e a porta do céu; a chave e a escada do paraíso. Por fim, no além, a Virgem com a balança, a advogada no julgamento.
III. O magistério da Igreja e a mediação até aos anos de 1950
O Cardeal Mercier dirigiu, em 1921, uma carta ao episcopado do mundo inteiro com a finalidade de provocar um movimento em favor do reconhecimento dogmático desta verdade. Diante dos progressos da devoção a Maria medianeira, Pio XI instituiu uma comissão de estudo; dos trabalhos dela concluiu-se que esta doutrina está afirmada na revelação. Um teólogo de renome julgava, nessa altura, que a doutrina da mediação de Maria tinha chegado à maturidade e podia ser elevada a dogma. Parece tudo isto, escrevia-se há uns 30 anos, sinal precursor da definição. E acrescentava-se: A época em que vivemos, em que abundam as intervenções da Santíssima Virgem, época que se chama «idade mariana», verá talvez esse acontecimento , que serias bem glorioso para Maria, nossa Mãe. Este parece ser também o sentido mais profundo da mensagem de Fátima: mostrar ao mundo a função transcendente e insubstituível de Maria na obra da salvação. É o que a Pastorinha Jacinta recomendada na despedida à sua prima Lúcia: «Diz a toda a gente que Deus nos concede as graças por meio do Coração Imaculado de Maria; que lhas peçam a Ela; que peçam a paz ao Coração Imaculado de Maria, que Deus lha entregou a Ela».
A recolha e transcrição deste texto foi efectuada em separado, na rubrica SANTOS DO DIA, por ser muito extensa através do livro SANTOS DE CADA DIA, publicado por www.jesuitas.pt, por António Fonseca e será também editada neste blogue separadamente, após a inserção dos SANTOS DO DIA DE HOJE (8/Maio/2010)
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