Nº 53
A DIOCESE DO PORTO E OS SEUS BISPOS
A DIOCESE DO PORTO E OS SEUS BISPOS
22 DE ABRIL DE 2019
Caros Amigos:
50º Bispo do Porto
DOM
FREI JOSÉ MARIA DA FONSECA (AFFONSECA) E ÉVORA
Bispo do Porto
1741-1752
Na Lista de Bispos do Porto da WIKIPÉDIA consta apenas a seguinte indicação na Lista dos Bispos do Porto:
FREI JOSÉ (II) MARIA DA FONSECA DE ÉVORA, O. F. M. (1741-1752)
Por outro lado no livro "Retratos dos Bispos do Porto na Colecção do Paço Episcopal" na CRONOLOGIA consta o nome, imagem (acima) e biografia (que abaixo transcrevo) do Bispo DOM FREI JOSÉ MARIA DA FONSECA (AFFONSECA) E ÉVORA e também no EPISCOPOLÓGICO com a indicação de que terá exercido essas funções durante cerca de 7 Anos de 1741 até 1752.
A transcrição é como segue:
DOM FREI JOSÉ MARIA DA FONSECA (AFFONSECA) E ÉVORA nasceu em Évora, a 3 de Dezembro de 1690, com o nome de JOSÉ RIBEIRO DA FONSECA FIGUEIREDO E SOUSA. Era filho de Manuel Ribeiro da Fonseca Figueiredo, que serviu como tenente na cavalaria austríaca, em Milão e na Flandres, e de Dona Ana Maria Barroso da Gama Michão.
Obteve o grau de Mestre em Artes na Universidades de Évora e frequentou algumas cadeiras de direito canónico, entre 1709 e 1711, na Universidade de Coimbra. Nesse ano, tomou o hábito no seminário do Varatojo, da Ordem de São Francisco. Nos inícios de 1712 partiu para Roma, integrado na embaixada do marquês de Fontes, ingressando no convento franciscano de Santa Maria in Aracoeli, dessa cidade, em Dezembro de 1712. Neste cenóbio estudou filosofia, durante um ano, e teologia, entre 1715 e 1719, tendo, a partir dessa data, leccionado essas duas disciplinas. Em 1721, instituiu em Aracoeli aulas públicas de filosofia, teologia especulativa e moral. Jubilando-se como leitor em teologia, passou a dirigir a enfermaria e aromatória.
O seu papel em Aracoeli não passou despercebido pelos seus pares que, no capítulo geral da Ordem, de 1723, nomearam DOM JOSÉ FREI MARIA secretário-geral, cargo que exerceu até 1727. Nesse ano tornou-se procurador-geral de toda a Ordem (1727-1729), seu visitador e reformador apostólico.
Apesar destes cargos, DOM FREI FONSECA E ÉVORA manteve a sua relação com o convento de Aracoeli, mandando fazer obras de restauro e conservação na capela de São Francisco, em 1727, em cuja balaustrada se conservam as armas do futuro Prelado portuense. Também mandou adornar, restaurar ou construir vários espaços da igreja e do convento. Mas a mais emblemática das suas obras terá sido a do restauro e enriquecimento da biblioteca, designada Biblioteca Eborense, de que se tornou administrador vitalício, por breve pontifício, em 1727. Empreendeu, entre 1731 e 1741, a publicação dos Annales Minorum do franciscano Luca Wadding, em 17 volumes, DOM FREI JOSÉ MARIA deixou também a sua marca nas obras que empreendeu noutras igrejas e conventos pertencentes ou ligados à Ordem seráfica.
Durante as várias décadas que viveu na "cidade eterna", DOM FREI JOSÉ MARIA escreveu mais de 50 livros, entre impressos e manuscritos, em latim, italiano e português, dedicados à filosofia, teologia, hagiografia, devoção e história da Ordem franciscana. De entre elas registam-se, por exemplo,
Claudi Frasen Philosophia et Theologia correcta et emendata, Romae, 1724;
Compendio della vita de S. Giacomo della Marca, minore osservante dell'Ordine di S. Francesco, Roma;
Nella stamperia di Giorgio Placho a S. Marco, 1726;
Excellencias virtudes y milagros del espanol de las Indias, S. Francisco Solano, Roma, 1727;
Regestum de Constitutionibus, Brevibus, etc.,
Romanae curiae ad Seraphicum Ordinem petinentibus ad anno 1722 usque ad ann, 1729, Romae 1731.
Deixou, outrossim, um vasto conjunto de cartas resultantes, em especial, do papel que teve como embaixador/diplomata português.
Para além dos cargos que exerceu no seio da sua Ordem, DOM FREI JOSÉ MARIA ocupou diversas funções na cúria pontifícia e esteve ao serviço de vários monarcas, em especial, de Dom João V. De facto, a partir de 1728, no momento em que as relações entre Portugal e a Santa Sé se encontravam suspensas, O futuro Prelado foi encarregado dos negócios do rei de Portugal em Roma, ocupando o lugar de embaixador entre 1730 e 1740. Em 1731, passou a ministro residente e, a 1 de Agosto de 1733, a ministro plenipotenciário. A sua missão principal era a de resolver o longo braço-de-ferro relacionado com o provimento dos Bispos sob a fórmula ad praesentationem regis, e a obtenção do cardinalato para os Núncios de Lisboa. Os esforços diplomáticos de DOM FREI JOSÉ MARIA aliados ao empenho pessoal do papa BENTO XIV, que admirava a erudição e a tenacidade do ministro português, acabariam por levar a bom porto as negociações, tendo o rei de Portugal alcançado as suas exigências nos finais de 1740.
Estando DOM FREI FONSECA E ÉVORA ainda em Roma, Dom João V nomeou-o Bispo do Porto, a 11 de Fevereiro de 1739, como reconhecimento dos seus méritos e serviços . Foi sagrado em Lisboa, pelo patriarca DOM TOMÁS DE ALMEIDA, a 12 de Março de 1741 e entrou no seu Bispado a 5 de maio de 1743 com enorme fausto e aparato, segundo descrições coevas.
Durante o exercício do seu múnus episcopal, DOM FREI JOSÉ MARIA FONSECA E ÉVORA envolveu-se em varias controvérsias. A primeira delas prendeu-se com a dissensão que surgiu entre os Dominicanos e os Terceiros da mesma Ordem, em 1743. O vigário-geral e o arcebispo de Braga foram chamados a intervir para fazer cumprir as ordens papais em relação àquela questão. No entanto, o Prelado portuense recusou-se a aceitar esta intervenção, do que resultou a interdição da cidade pelo primaz bracarense. Dom João V teve que interferir na contenda admoestando ambas as partes.
A seguinte discórdia ocorreu com o abade do mosteiro beneditino de São Bento da Vitória que se recusava a obedecer à ordem pontifícia sobre o uso de pontificais por Prelados inferiores. O antístite foi obrigado a escrever duas cartas pastorais, em Setembro de 1743 e em Janeiro de 1745, exigindo o cumprimento do decreto papal.
O terceiro conflito teve origem no problema da isenção de jurisdição episcopal que a Misericórdia do Porto alegava para não receber o Bispo na sua igreja, quando da visita jubilar de 12 de Março de 1746. Sentindo-se desconsiderado e afrontado, DOM FREI JOSÉ MARIA interditou a Igreja e suspendeu os seus capelães. Como resposta, a Irmandade recorreu aos tribunais, mas as cartas rogatórias aí proferidas seriam sempre contestadas pelo Prelado. DOM FREI JOSÉ MARIA acabaria por reconsiderar a sua posição, em 1747, levantando o interdito e a suspensão.
O longo período de vacância que antecedeu a vinda de DOM FREI FONSECA E ÉVORA para o Porto acabaria por obrigar o Bispo a visitar, pessoalmente ou por delegados, a sua diocese, de modo a administrar o sacramento da Confirmação e conferir ordens menores e maiores. Durante essas visitas e, mesmo antes delas, publicou várias cartas pastorais e editais que revelam a sua preocupação em corrigir os desvios disciplinares de clérigos e paroquianos e com a administração judicial da diocese. Este Prelado franciscano empenhou-se, igualmente, em finalizar as obras na catedral portuense e em engrandecê-la com paramentos e ornamentos, assim como em reparar e decorar as quintas de Santa Cruz do Bispo e do Prado.
DOM FREI JOSÉ MARIA adoeceu , pela primeira vez, em Abril de 1749. Nunca recuperaria totalmente e, em finais de 1751, voltou a adoecer durante a sua segunda visita pastoral à diocese. Considerando-se incapaz para exercer as suas funções, foi nomeado DOM JOÃO DA SILVA FERREIRA, Bispo de Tânger e Deão da Capela de Vila Viçosa, como administrador apostólico, a 22 de Janeiro de 1752. DOM FREI JOSÉ MARIA acabaria por falecer a 16 de Junho desse ano, sendo sepultado no dia seguinte, na cripta da capela-mor da Sé portuense.
À sua ,morte, este Prelado portuense, que cultivava as artes e as letras e pertencia à Academia Portuguesa de História e a várias Academias italianas, deixou uma colecção de obras de arte, em particular italiana, que acabaria por se dispersar por ter sido vendida, em hasta pública, a fim de saldar dívidas do Bispo. Do que é possível reconstituir, sabem-se que faziam parte deste espólio várias pinturas, de temática sacra ou do âmbito da retratística, esculturas, nomeadamente bustos do Bispo, e peças de ourivesaria, tanto de uso civil como sacro, feitas em prata.
DOM FREI JOSÉ MARIA DA FONSECA E ÉVORA (que no retrato existente na Colecção do paço Episcopal aparece com a legenda "D. FR. JOZE MARIA DE AAFONSECA E ÉVORA" Nota de AF) foi frade mendicante, Bispo, orador, poeta e diplomata. mas o papel em que mais capacidade e talento demonstrou foi, nas palavras de Mons. JOSÉ AUGUSTO FERREIRA, como escritor tendo "na respectiva galeria um lugar de destaque"
(FERREIRA, 1924, t. II, p. 327).
Ao quadro de DOM FREI JOSÉ MARIA conservado no paço episcopal, junta-se um outro existente na secretaria da Irmandade dos Clérigos, no Porto. Também o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, depois de ter levado a cabo uma campanha pública de recolha de donativos, adquiriu um pequeno retrato pintado sobre marfim, executado, provavelmente, nos inícios do século XVII quando DOM FREI JOSÉ MARIA DE FONSECA E ÉVORA vivia em Roma
(http://museudearteantiga.pt/exposicoes/somos-todos-mecenas).
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Na publicação de amanhã, prosseguirei com a história dos BISPOS DO PORTO
ANTÓNIO FONSECA
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