Nº 1025-2
Do livro A Religião de Jesus, de José Mª Castillo – Comentário ao Evangelho do dia – Ciclo A (2010-2011) – Edição de Desclée De Brouwer – Henao, 6 – 48009 Bilbao – www.edesclee.com – info@edesclee.com:
tradução de espanhol para português, por António Fonseca
O texto dos Evangelhos, que inicialmente estavam a ser transcritos e traduzidos de espanhol para português, diretamente através do livro acima citado, são agora copiados mediante a 12ª edição do Novo Testamento, da Difusora Bíblica dos Missionários Capuchinhos, (de 1982, salvo erro..). No que se refere às Notas de Comentários continuam a ser traduzidas como anteriormente. AF
28 de Agosto
22º DOMINGO COMUM
Mt 16, 21-27
A partir desse dia, Jesus começou a fazer ver aos Seus discípulos que tinha de ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, e, dos príncipes dos sacerdotes e dos escribas, ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar. Tomando-O de parte, Pedro começou a repreendê-lo, dizendo: «Deus te livre de tal, Senhor. Isso não há-de acontecer!» Ele porém, voltando-Se, disse a Pedro: «Afasta-te, Satanás! Tu és para Mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens»! Jesus disse, então aos discípulos: «Se alguém quiser vir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome a sua Cruz e siga-Me. Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por Minha causa, encontrá-la-á. Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro se, depois perde a sua alma? Ou que poderá dar o homem em troca da sua alma? Porque o Filho do Homem, há-de vir na glória de seu Pai, com os Seus anjos, e então retribuirá a cada um conforme o seu procedimento. Em verdade vos digo, alguns dos que estão aqui presentes não hão-de experimentar a morte, antes de terem visto chegar o Filho do Homem com o Seu Reino».
1. A partir do momento em que os discípulos, por boca do seu porta-voz, Pedro, afirmam sua fé em Jesus como o Messias (Mc 8, 27-30; Mt 16, 13-16; Lc 9, 18-21), este “começa” a explicar àqueles homens em que consistia o seu Messianismo e como se ia realizar. Tal Messianismo não seria uma carreira de êxitos, de triunfos, de poder e de fama. Antes pelo contrário. O Messianismo, que poderia trazer a salvação e a solução ao mundo, seria (tinha que ser) e se realizaria numa vida que ia terminar em confrontação mortal com os poderes religiosos e políticos, até se ver marginalizado, excluído e condenado por tais poderes..
2. Este facto, tal como historicamente sucedeu, pareceu a Pedro intolerável. Por isso “increpou” a Jesus. O que foi motivo de uma confrontação duríssima. Porque Jesus chegou a qualificar Pedro de “Satanás”. Porque chegou aquela confrontação até tal extremo? Estava em jogo o mais decisivo. Porquê? O Messias, segundo o Antigo Testamento, era o “ungido” e, “ungidos” eram o “Sumo Sacerdote” e o “rei”. O Messianismo estava associado, para qualquer judeu, ao mais digno, ao poder e à grandeza. A ideia do Messias estava, portanto, vinculada ao sobre-humano, ao governo glorioso do rei David (Is 9, 1-16; 11, 1 ss; Mi 5, 1-5). Talvez na ideia do Messias entrasse também o conceito de “sagrado”. Mas o que não há dúvida é que a ideia judaica do Messianismo estava associada à realeza, com seu poder e dignidade (K. H. Rengstorff).
3. Estando assim as coisas, e sendo essa a mentalidade do judaísmo proveniente do Antigo Testamento, compreende-se que Jesus, ao explicar o seu Messianismo (tal como de facto se consumou), teve que deitar mão de uma fórmula forte e taxativa: “o Messias tem que ir a Jerusalém e padecer ali muito”. O texto utiliza o vocábulo grego “deí”, que não tem equivalente semítico (W. Popkes) e que designa uma necessidade absoluta, inquestionável. Mas, na história da interpretação bíblica, esta necessidade apresenta um problema que na teologia se comprometeu seriamente: Jesus “tinha que” padecer e morrer recusado pelas autoridades religiosas, porque assim o havia decidido Deus? ou porque o próprio Jesus viveu de forma que aquela vida não podia acabar senão em fracasso, no sofrimento e na morte de um subversivo? Aqui está o problema capital para entender Jesus, para compreender o que significa o cristianismo e para viver a fé cristã com coerência e segundo o seu razoável significado. Que quer dizer isto?
4. A forte afirmação, que faz Jesus, segundo a qual o Messias “tem que padecer muito” (deí pollá pathein), associa o sofrimento e a morte de Cristo com “uma necessidade absoluta”. O problema está em que o vocábulo “deí” (“é necessário”, “tem que”) associa-se no Novo Testamento com decretos divinos (W. Popkes). Isto é o que deu pé a dizer que foi Deus que decretou o sofrimento e a morte de Jesus. Mas, se chegamos a esta conclusão, no fundo o que estamos afirmando é que Deus necessitou de sofrimento e morte, nada menos do que a morte de seu Filho. O que faz de Deus um monstro de maldade e sadismo. Semelhante afirmação teológica é absolutamente intolerável e inaceitável. Num Deus assim, não se pode acreditar.
5. Para pôr as coisas no seu lugar, é necessário saber: 1) No Novo Testamento relaciona-se o vocábulo deí com normas de Deus para a ética e piedade (Act 5, 29; Tes 4, 1; Rom 8, 26; 1 Cor 8, 2; 1 Tim 3, 2.7.15; Lc 13, 14. 16). 2) Nunca se relaciona com sofrimentos que Deus o manda com decisões divinas relativas à morte de alguém. 3) E, por suposto, jamais se vincula a sofrimentos, violência e morte cuja origem esteja nas autoridades religiosas.
6. Há que dizer, portanto, o que dizem os evangelhos quando põem na boca de Jesus os anúncios da sua Paixão: foram os sumos sacerdotes, os letrados e os senadores os que decidiram torturar, humilhar e assassinar Jesus. Neste sentido, pode-se afirmar que não foi Deus, mas sim que foi a Religião (pelos seus representantes oficiais) que matou Jesus.
7. O apóstolo Pedro não entendeu o que Jesus disse. Nem o aceitou. E mais, sentiu-se no dee4r de “repreender” a Jesus. Esta repreensão é expressa com o verbo apitimaô, que significa “vencer com uma palavra de poder” (H. Giesen). O que Jesus qualificou como um “escândalo”. E disse a Pedro que ele era “Satanás”.
8. Como a Pedro, a quem dizemos que acreditamos em Jesus e o seguimos, não nos entra na cabeça que a tarefa messiânica e salvífica sobre este mundo se tenha que realizar mediante o sofrimento, a exclusão, o fracasso e até a morte. Não porque Deus o haja disposto assim. Quem o dispõe é o poder ou, melhor, os poderes deste mundo, que não toleram a quem se atreva a apresentar uma ordem de coisas diferente, não baseada na primazia do poder, mas na primazia da solidariedade. A salvação não consiste em “sacrifícios religiosos” que aplacam um “Deus sádico”. A salvação vem de quem joga seu nome, seu prestigio, sua comodidade, seus interesses e até sua vida, por fazer que este mundo sejas menos inumano e mais solidário.
Compilação por
António Fonseca
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António Fonseca
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NOTA FINAL:
Desejo esclarecer que os comentários aos textos do Evangelho, aqui expressos, são de inteira responsabilidade do autor do livro A RELIGIÃO DE JESUS e, creio eu… apenas retratam a sua opinião – e não a minha ou de qualquer dos meus leitores, que eventualmente possam não estar de acordo com ela. Eu apenas me limito a traduzir de espanhol para português os Comentários e NEM EU NEM NINGUÉM ESTÁ OBRIGADO A ESTAR DE ACORDO. Desculpem e obrigado. AF.
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