terça-feira, 7 de maio de 2019

Nº 68 - A DIOCESE DO PORTO E OS SEUS BISPOS - 7 DE MAIO DE 2019,

Nº  68


DIOCESE DO PORTO E OS SEUS BISPOS  

 7 DE MAIO DE 2019









Caros Amigos:



65º Bispo do Porto




DOM 
ANTÓNIO FERREIRA GOMES

Bispo do Porto
1952-1982




Na Lista de Bispos do Porto da WIKIPÉDIA há uma extensa Biografia - que, ao contrário do que tenho feito, vou transcrevê-la integralmente, logo após a Biografia inserta no livro "Retratos dos Bispos do Porto na Colecção do Paço Episcopalna CRONOLOGIA consta o nome, imagem (acima) e biografia (que abaixo transcrevo)  do Bispo DOM ANTÓNIO FERREIRA GOMES  e também no EPISCOPOLÓGICO com a indicação de que terá exercido essas funções durante cerca de 30 Anos de 1952 até 1982.

CRONOLOGIA, dos Bispos da Diocese do Porto

A transcrição é como segue:

DOM ANTÓNIO FERREIRA GOMES nasceu na freguesia de São Martinho de Milhundos (concelho de Penafiel), a 10 de maio de 1906. Era filho de Manuel Ferreira e Dona Albina de Jesus, lavradores relativamente abastados.
Fez os primeiros estudos na escola da sua freguesia natal, entrando, com dez anos, para o Seminário Maior do Porto. Em 1925 seguiu para Roma, matriculando-se na Pontificia Universidade Gregoriana. Nessa academia, ingressou na Faculdade de Teologia onde obteve o grau de Bacharel, a 9 de Julho de 1927, após ter prestado provas à disciplina de teologia dogmática. Frequentou, paralelamente, a Faculdade de Filosofia, onde se laureou a 13 de Julho de 1928. Regressando a Portugal DOM ANTÓNIO foi ordenado presbitero, no Porto, a 22 de Setembro de 1928. No ano seguinte seria nomeado prefeito e director da disciplina no seminário de Vilar, ocupando, a partir de Janeiro de 1936, o cargo de vice-reitor dessa mesma Instituição, com funções de reitor por impedimento do titular e seu tio, o cónego Joaquim Ferreira Gomes. A 15 de Junho desse ano tomou posse de um Canonicato na Sé Portuense.
Em 1947, foi encarregado, pelo então Bispo do Porto, DOM AGOSTINHO DE JESUS E SOUSA, de, em seu nome, fazer a visita pastoral a algumas comunidades. A 15 de Janeiro de 1948 o papa PIO XII nomeou-o Bispo titular de Rando e coadjutor da Diocese de Portalegre, com direito a futura sucessão. DOM ANTÓNIO foi ordenado na Sé do Porto, a 2 de Maio de 1948, e tomou posse a 25 desse mês, fazendo a sua entrada solene três dias depois. Pela morte de DOM DOMINGOS FRUTUOSO, a 6 de Junho de 1949, sucedeu-lhe  DOM ANTÓNIO como Bispo de Portalegre.
Dos poucos anos passados na cátedra portalegrense, destaca-se o projecto de DOM ANTÓNIO de criar uma associação agrária de inspiração cristã, alicerçada na doutrina social da Igreja, para apresentar, sugerir ou pedir aos poderes públicos soluções para os graves problemas aí vividos. A intenção era de prover às necessidades económicas do proletariado rural, sem esquecer os valores humanos e morais essenciais. Assim, em 1951, nasceu a Acção Social Agrária, como associação canónica, ao abrigo do artigo III da Concordata de 1940. Nesse mesmo ano, em Castelo Branco, seria criada também a Fraternidade Operária, nela tomando parte operários oriundos de toda a diocese.
Para além destas associações DOM ANTÓNIO preocupou-se com a construção de estruturas materiais necessárias ao Bispado, nomeadamente, residência episcopal, seminário, casa de retiros, colégio diocesano e residências paroquiais.
Do seu labor pastoral salienta-se, também. a participação activa na realização do Congresso do Sagrado Coração de Jesus, em 1949, em Castelo de Vide, e na organização da peregrinação diocesana a Roma, no contexto do Ano Santo e da comemoração do quarto Centenário da fundação de diocese, em 1950.
Em Julho de 1952 era dada a conhecer a notícia da nomeação de DOM ANTÓNIO FERREIRA GOMES para Bispo do Porto. tendo tomado posse por procuração em Setembro seguinte, o Prelado fez a sua entrada solene na diocese a 11 de Outubro desse ano.
Uma das suas primeiras iniciativas públicas foi a organização da Marcha de Silêncio, realizada no Porto a 25 de Janeiro de 1954, em protesto contra as perseguições aos cristãos da Europa de Leste e da China, levadas a cabo pelos regimes socialistas totalitários. Esta acção foi acusada de inoportuna, entre outros, pelo Movimento Nacional Democrático, afecto ao Partido Comunista Português (como não podia deixar de ser...NOTA de AF.). A resposta do Prelado focou-se na necessidade de lutar pelos princípios da liberdade humana, baseando a sua intervenção no personalismo cristão e na doutrina social da Igreja. Apoiado nestes mesmos princípios, em Março de 1956 publica uma reflexão intitulada Movimento por um Mundo melhor na Diocese. Nela desenvolve o tema da justiça e da liberdade como pontos fulcrais da personalidade do Homem. Este texto levantaria objecções, tanto por parte do Estado Novo, como de alguns sectores da própria Igreja portuguesa. De facto, DOM ANTÓNIO percebeu que a hierarquia eclesiástica não estava unida e, na tentativa de criar essa união, em Janeiro de 1955, apresentou à Conferência Episcopal Portuguesa o esquema de uma Pastoral colectiva sobre os problemas sociais e as condições dos trabalhadores. Este documento não passou de um projecto, uma vez que vozes discordantes o viam como possível afronta ao governo, reforçando a certeza de que DOM ANTÓNIO não era uma figura unânime. Perante a passividade do episcopado português e o crescente corporativismo do estado, o antístite portuense decidiu manter as suas convicções, exprimindo-as nas mais diversas ocasiões: 

na inauguração do Bairro de PIO XII em 1956, no Porto
na alocução realizada na liturgia do dia de São FRANCISCO DE SALES, em 27 de Janeiro de 1957, aos Jornalistas e Homens de Letras Católicos; na intervenção A miséria imerecida, feita durante a I Semana de Estudos Rurais, decorrida em Fátima, em Abril de 1957
numa homilia proferida na Igreja da Trindade, em Setembro de 1957, a propósito da celebração do 24º aniversário do Estatuto do Trabalho Nacional
numa conferência no Centro Académico da Democracia Cristã, em Coimbra, em Março de 1958.

No contexto das eleições para a presidência da República e da campanha do General Humberto Delgado, tornou-se conhecido um documento que DOM ANTÓNIO enviou então ao chefe do governo, António de Oliveira Salazar, com os temas que pretendia abordar numa conversa que este desejava ter com ele. Este Pró-Memória ficaria conhecida como Carta a Salazar, e foi publicado, à revelia do autor, a 13 de Julho de 1958. Nesta Carta o Bispo do Porto lançava quatro perguntas relativas à posição do Estado sobre a acção da Igreja e dos católicos na vida politica. A polémica gerada em torno deste e de outros documentos com ele relacionados, alimentada pela imprensa, levou a que DOM ANTÓNIO saísse de Portugal, sendo impedido de regressar à diocese e forçado a um exílio de dez anos. Durante esse período a diocese foi governada pastoralmente pelo administrador apostólico DOM FLORENTINO DE ANDRADE E SILVA.
residiu inicialmente em Vigo depois em Santiago de Compostela. No entanto, a proximidade ao Porto e o possível contacto com os diocesanos levaram a que a embaixada portuguesa em Madrid fizesse pressão para que DOM ANTÓNIO fosse viver para Valência. Entre  finais de 1963 e 1964 fixou residência na Alemanha e, a partir desse momento, viveu em França, apoiando, como Bispo auxiliar, vários núcleos de emigrantes portugueses.
Nesse período, participou no II Concílio Ecuménico do Vaticano, como membro da Comissão dos Seminários e Estudos, e participou, entre 1963 e 1965, na Aula conciliar com intervenções relativas ao esquema dos Bispos, do ecumenismo, da Igreja no mundo e da liberdade religiosa.
O regresso ao Porto dar-se-ia no contexto das mudanças de governo, liderado desde Setembro de 1968 por Marcelo Caetano, e das pressões exercidas por determinados sectores do clero e da sociedade portuense, salientando-se o papel da Acção Católica do Porto. A 20 de Fevereiro de 1969 (há 50 anos...NOTA DE AF)  foi recebido pelo papa PAULO VI que lhe entrega a decisão de regressar, ou não, a Portugal, e, perante a declaração do presidente do Conselho de que as fronteiras estavam abertas, a 2 de Julho desse ano DOM  ANTÓNIO volta para a sua Diocese.
Atendendo á situação política e social do país, as intervenções do Bispo do Porto, centram-se, em especial, na reflexão sobre a cultura ecuménica, em contraposição com o nacionalismo exacerbado, e sobre a paz e a guerra e a forma como a Igreja deveria integrar as forças armadas. de facto, nos textos de DOM ANTÓNIO estes grandes temas relacionavam-se, uma vez que, na sua opinião, a tradição portuguesa era a de entendimento ecuménico entre os povos e não de conquista e sujeição.
A deposição do regime ditatorial e a implantação de um regime democrático, a 25 de Abril de 1974, traria mudanças na sociedade portuguesa as quais DOM ANTÓNIO já antevira. Consciente das transformações em curso, e reflectindo sobre a cultura moderna, aponta a independência entre a Igreja e o Estado, ainda que em mútua colaboração, como caminho a seguir Apela, igualmente, à reconciliação entre os portugueses e condena o clima de intimidação existente.
Já nos anos 80 do século XX, estabilizado o contexto social e político em Portugal, DOM ANTÓNIO prevê os novos desafios que se colocariam à democracia, nomeadamente a cisão entre a classe política e os cidadãos. O Bispo portuense temia que se perdesse a noção de serviço ao bem comum, fundamental ao exercício dos políticos democráticos.
A 7 de Agosto de 1980 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e a 20 de Maio de 1982 foi homenageado na Assembleia da República.
A 12 de Março de 1981 DOM ANTÓNIO FERREIRA GOMES pediu ao papa a resignação de Bispo do Porto. A cerimónia da passagem e testemunho ao seu sucessor DOM JÚLIO TAVARES REBIMBAS, teve lugar a 2 de maio do ano seguinte. O Prelado Emérito do Porto retirou-se então, para a Quinta da Mão Poderosa, em Ermesinde, onde escreveu as suas Cartas ao papa. Em 1986 concede à Rádio Televisão Portuguesa uma entrevista onde afirmou: 
"Eu professo que Deus é o Senhor da História e que a História tem sentido".

Acabaria por falecer, em Ermesinde, a 13 de Abril de 1989, sendo sepultado no cemitério de Milhundos, sua terra natal. Anos antes, redigira o seu testamento, no qual estabelecera a criação da Fundação SPES, instituição de utilidade pública com fins benéficos, educativos e culturais.
Uma estátua de DOM ANTÓNIO, da lavra do escultor Arlindo Rocha, foi colocada junto da Torre dos Clérigos, como homenagem da cidade ao seu Bispo. E outra obra, da escultora Irene Vilar, foi erguida na sua terra natal. A 25 de Abril de 2017 foi agraciado pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago de Espada. Homenagens a um Bispo que afirmou ser e se definiu como um 
"(...) homem livre, (que) sempre aspirei a oferecer essa liberdade a uma causa que superasse a minha vida
(disponível em: http://wwwfspes.pt/testamento.hmtl consultada em maio de 2017).




Transcrição da Biografia da "WIKIPÉDIA"



António Ferreira Gomes


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António Ferreira Gomes
Bispo da Igreja Católica
Bispo de Portalegre
Bispo do Porto
D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto: estátua nos Clérigos, da autoria de Arlindo Rocha
Ordenação e nomeação
Ordenação presbiteral2 de maio de 1949
Ordenação episcopal12 de outubro de 1952
Dados pessoais
NascimentoPortugal PenafielMilhundos
10 de maio de 1906
MortePortugal ValongoErmesinde
13 de abril de 1989 (82 anos)
Bispos
Categoria:Hierarquia católica
Projeto Catolicismo
António Ferreira Gomes GCSE • GCL (PenafielMilhundos10 de maio de 1906 — ValongoErmesinde13 de abril de 1989) foi um religioso católico portuguêsbispodas dioceses de Portalegre (1948-1952) e do Porto (1952-1982).

Biografia[editar | editar código-fonte]

As origens[editar | editar código-fonte]

Nasceu na freguesia de Milhundos (Penafiel) a 10 de maio de 1906. Milhundos é uma pequena terra rural atravessada por um riacho, o Cavalum, que dá fertilidade às breves encostas companheiras do seu percurso. Era o quarto de nove filhos de Manuel Ferreira e Albina de Jesus, lavradores relativamente abastados do lugar de Quintela.

A formação[editar | editar código-fonte]

Teve educação firme, solidificada na disciplina e pautada pela honra. Entrou para o seminário a 16 de outubro de 1916. O facto de ter um tio padre e cónego motivava-o para abraçar a vida de serviço à Igreja. Acabaria os estudos filosófico-teológicos em Roma, na Pontifícia Universidade Gregoriana, entre 1925 e 1928.

Os primeiros anos do sacerdócio[editar | editar código-fonte]

Aos 22 anos é presbítero (22 de setembro de 1928), sendo ordenado na Torre da Marca, por D. António Augusto de Castro Meireles. É logo depois nomeado prefeito e diretor de disciplina no Seminário de Vilar. Por impedimento do seu tio, cónego Ferreira Gomes, em 1936, iria ser vice-reitor com funções de Reitor. Em junho de 1936, é feito cónego da Sé do Porto, juntamente com Manuel Valente e Sebastião Soares de Resende. A ele se deve a colocação de duas máximas nas paredes do Seminário de Vilar: “De joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens” e “Fostes resgatados por grande preço, não queirais tornar-vos servos dos homens” (1Cor 7, 23). A vinda para o Porto de D. Agostinho de Jesus e Sousa, em agosto de 1942, depois dos problemas atribulados surgidos na diocese, foi ocasião para relações de colaboração cordial entre o diretor de Vilar e do novo bispo portuense.

Bispo em Portalegre[editar | editar código-fonte]

Em 15 de janeiro de 1948, ano da proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, dos quais foi insistente defensor, o Papanomeia-o bispo e coadjutor de Portalegre, com direito a sucessão.
É ordenado na Sé do Porto a 2 de maio de 1948, dia de Santo Atanásio de Alexandria. Preside à celebração D. Agostinho de Jesus e Sousa, sendo ladeado por D. António Valente da Fonseca, bispo de Vila Real, e D. Manuel Maria Ferreira da Silva, bispo titular de Gurza. Tomou posse a 25 de maio.
Pela morte de D. Domingos Frutuoso, a 6 de junho de 1949, é nomeado Bispo de Portalegre e aí prossegue o contacto com a realidade do Alentejo, que estuda, como testemunha o seu então secretário particular, P. José Geraldes Freire.[1] O outro secretário seria o P. Elias Lopes, que o acompanharia durante alguns meses no Porto. De facto, a experiência alentejana iria durar pouco. A sua sensibilidade para com os problemas sociais vem ao de cima desde a primeira hora, perante a situação do proletariado alentejano. Sonhou constituir uma associação agrária de inspiração cristã, com base na doutrina social da Igreja, para apresentar soluções para os graves problemas aí vividos e, juntamente com as necessidades económicas, atender aos valores morais.
O proprietário e engenheiro agrónomo José Adriano Pequito Rebelo, lançou, em março de 1949, um apelo ao novo bispo para que se fizesse defensor da criação de uma irmandade dos proprietários alentejanos de Lisboa, junto dos bispos vizinhos de Évora e Beja. António Ferreira Gomes contrapõe razões à ideia de Pequito: era o bispo mais novo para tomar iniciativas em todo o Alentejo, tinha prioridades pastorais como a construção do Seminário, a associação não devia valorizar os absentistas. Perante esta resposta, Pequito advoga que não vale a pena deitar mãos à criação da associação como D. António a concebera. De facto, a ideia foi sendo trabalhada. Em 1951, nasce a Ação Católica Agrária, animada pelo engenheiro Nuno Vaz Pinto, e cria-se uma Fraternidade Operária, inaugurada a 8 de abril de 1951, com operários de toda a diocese. Os poucos anos de contacto com as gentes do Alentejo foram suficientes para criar no bispo um carinho e um apreço muito especiais.

Bispo do Porto[editar | editar código-fonte]

A 13 de julho de 1952, é nomeado bispo do Porto. Toma posse por procuração a 14 de setembro e entra solenemente no dia 12 de outubro, uma vez que continuou como Administrador Apostólico de Portalegre até à tomada de posse do sucessor, D. Agostinho Lopes de Moura, a 2 de maio de 1953.
De 1952 a 1958, notabilizou-se pela atenção à miséria social do povo português, pela crítica do corporativismo do Estado e pela exigência de livre expressão do pensamento e da ação política.[2]

A «carta a Salazar»[editar | editar código-fonte]

A seguir à campanha do General Humberto Delgado para a Presidência da República, tornou-se conhecido o pró-memória, enviado pelo bispo do Porto a Oliveira Salazar para anteceder uma conversa que este desejou. É conhecido erradamente como Carta a Salazar (13 de julho de 1958). Ao terminar o pró-memória para uma conversa com Salazar, lançou quatro perguntas relativas às possíveis objeções que o Estado teria à acção da Igreja e dos católicos. Com estas questões, não pretende qualquer favor e declara: “antes, pelo contrário, penso que se não forem capazes de aguentar o desfavor e a animosidade do Poder, pouco podem merecer o respeito e a liberdade. Apenas sugiro e peço, mas isso com toda a nitidez e firmeza, o respeito, a liberdade e a não-discriminação devidos ao cidadão honesto em qualquer sociedade civil.»
O texto começou a circular, devido a inconfidências de um amigo de D. António e de um ministro de Salazar, causando grande polémica nos jornais.

O exílio[editar | editar código-fonte]

Certo é que, saindo do país a 24 de julho de 1959, por ser aconselhado a retirar-se uns tempos para férias, é depois proibido de entrar. Vê-se forçado a um exílio de dez anos, iniciado em Vigo e depois continuado em Santiago de Compostela, Valência – onde colabora na ação Pastoral –, LourdesCiudad Rodrigo e Salamanca. Nestes locais, recebe frequentes visitas de amigos e apoio da diocese do Porto, que soube ser fiel e digna no exílio do seu bispo.
Durante o Concílio está em Roma, é membro da Comissão dos Seminários e Estudos, e participa na aula conciliar com intervenções de interesse, relativas ao esquema dos bispos, do ecumenismo, da Igreja no mundo e da liberdade religiosa (1963-1965), talvez esta a mais pertinente. Juntamente com o portuense D. Sebastião Soares de Resende, tem as intervenções mais relevantes da presença portuguesa no Concílio Vaticano II.

O regresso[editar | editar código-fonte]

No ano de 1969, devido a diligências da ala liberal, em colaboração com padres diocesanos atuantes junto da Nunciatura, Marcello Caetano autoriza a sua entrada em Portugal. Agora é o esforço de retomar e de redescobrir a diocese e de a reestruturar no estilo do Concílio. A sua preocupação dominante de pastor foi a doutrinação e a criação de organismo de correspondência eclesial.
Não deixa de ser uma figura incómoda e polémica. São exemplos: a presença no julgamento do P. Mário Pais de Oliveira nos dias 7 e 8 de janeiro de 1971, a homilia da paz de 1972 quando fala da teologia da guerra e inclui referências às «virtudes militares» dos capelães, o interdito à paróquia de Mozelos no dia 1 de janeiro de 1974. A mesma linha ética se manteve após o 25 de Abril do mesmo ano. É um período de escrita singularmente fecundo. O diálogo com a cultura moderna será o seu tema central desde 1976 até ao fim. Isto após os esclarecidos avisos aos portugueses, com apelos à tolerância e a denúncia dos novos perigos pós-revolucionários. Dentro da Igreja, a crítica aos cristãos pelo socialismo demonstrou o homem da fidelidade à memória doutrinal da Igreja (ver Cristianismo, Liberdade e Socialização, in Igreja e Missão, 75/76 (1975) 305/330). A partir de 1978, notam-se algumas reações do clero com posições mais irrequietas e radicais. Nos anos oitenta, diminuem os momentos de intervenção.

Os últimos anos[editar | editar código-fonte]


Funeral de D. António Ferreira Gomes em 1989
Escolhe mais uma vez, o dia 2 de maio de 1982 – passados trinta e quatro anos da sua ordenação sacerdotal – para se despedir do seu rebanho do Porto e ir viver para a Quinta da Mão Poderosa, casa da diocese em Ermesinde. Aí viveu discretamente e morreu serenamente. Aí escreveu as Cartas ao Papa e previa escrever um volume de Provas, mas a falta progressiva da visão e a morte do Secretário, Cónego Rebelo, fizeram-no desistir. Em 1986, esteve presente na RTP, onde afirmou em longa entrevista: «eu professo que Deus é o Senhor da História e que a História tem sentido».

O testamento[editar | editar código-fonte]

Deixou testamento, redigido em 21 de agosto de 1977. Testemunha o desprendimento nobre e a pobreza essencial que nortearam a sua vida e revela a criação da Fundação Spes, com fins benéficos, educativos e culturais.

A obra[editar | editar código-fonte]

Nenhum dos seus escritos foge ao carácter pastoral. Não escreveu tratados temáticos nem manuais. O conjunto da sua obra proporciona critérios bem alicerçados para os ouvintes ficarem habilitados no discernimento da realidade e da história segundo os princípios do humanismo personalista cristão. Uma ou outra vez, acedeu a insistências para escrever textos introdutórios. Um deles é a Saudação para a Lusitania Sacra (1 (1956) 7-15). Aqui, critica o historicismo como naufrágio da história, lança alguns desafios para o fazer de uma «história arquitectónica», como combinação de ciência, arte e filosofia. A História devia chegar a «disciplina total», compreender e respeitar a tradição por consideração para com a vida e traçar visões panorâmicas de conjunto, irradiar uma profunda filosofia da história.
Várias vezes desenhou perfis com a densidade própria da visão alargada, que é seu timbre. É o caso, por exemplo, de D. António Barroso e de D. António Castro Meireles.
O drama Herói e Santo (1931) sobre a vida do beato Nuno é a sua estreia literária. Se é falho de valor dramatúrgico, embora escrito com intenção pedagógica para os alunos do Seminário, quer, já então, sugerir uma nova interpretação do Condestável, levantada de novo em Coimbra, em 1974. Teve pena que ninguém lhe confirmasse ou rebatesse a tese sugerida. Uma conferência, pronunciada na sede da Justiça e Paz de Coimbra, tem por título Os direitos do homem na tradição portuguesa antiga. É um contributo para conhecer melhor a tradição cristã em Portugal. O longo e belo Pórtico à 3ª edição (1969) dos Contos Exemplares de Sophia de Mello Breyner Andresen é uma profunda e erudita reflexão de teor histórico. Considera o bispo que Sophia chega à verdade não pela via platónica grega, mas pela paixão invoca o mistério e a transcendência do ser humano, ao modo católico.
A distância do tempo ajudará a estabelecer a verdadeira estatura deste vulto. Para tal, contribuirá a publicação de textos que a Fundação Spes tem vindo a dar à luz.
O discurso de D. António Ferreira Gomes «entre Revelação/Tradição e Modernidade/História» (A. Pinho), ficará em amálgama com o testemunho vivido em nobre serviço à liberdade superior do homem, a interpelar o presente. A concluir fiquem, por isso, as suas próprias palavras: «O homem existe, cumpre-se e pensa-se na história. E a história não existe, faz-se. É o homem que a faz e escreve; mas também é ela, feita e escrita, que faz o homem…». Assim quisemos.
Perante a pergunta: “seremos nós os homens do fim?” (Cartas, p.139), o Bispo de Portalegre e do Porto assume uma atitude de profissão de fé nestes termos: “Penso e creio que a História tem um sentido, que o tempo é um dom de Deus e que os sucessivos avatares de encarnação [...] são passos [...] que sustentam o templo de Deus altíssimo” (Cartas, p.147). Ou mais adiante: "cremos e professamos que o Bem supera o mal, que onde abundou o pecado superabundou a Redenção e que no fim o Bem triunfará. É isto que dá sentido à história” (Cartas, p. 148). Aceitou livremente a morte com plena lucidez, a 13 de abril de 1989. Também no seu fim adere à realidade e vive o último traço do seu itinerário com pleno humanismo cristão.
A figura do bispo portuense é emblemática não só por ter pago com dez anos de exílio (1959-1969) o seu amor à verdade, a sua fidelidade à doutrina social da Igreja, mas por ser um grande homem do pensamento português, pela inovação com que lê a tradição nacional. O ter aliado a intervenção da reflexão com a vivência do testemunho guindam o perfil da sua estatura moral a um nível fora do comum. Faz doutrina ao longo de quase quarenta anos, variando de temas segundo a realidade que tinha diante e a partir das referências da renovação da doutrina cristã, desde Pio XII ao Concílio, desde São Tomás a Rahner. Reflete, como poucos, o caráter ético da busca da verdade, em diálogo e confronto com os grandes “mestres da suspeita” como Nietzche, Marx e Freud.
Homem livre, configurando a liberdade em referência ao Absoluto, defende os direitos humanos em tom profético, com intransigência de génio. Entusiasma-se com o II Concílio do Vaticano e percebe as resistências interiores à mudança de perspetiva, exigida pelo fim do constantinismo. A dimensão sociopolítica das suas reflexões integra-se perfeitamente e unicamente na missão pastoral da Igreja. Foi sempre impulsionado pelo dever de bispo que abriu caminho a um diálogo com a cultura contemporânea, consciente e atento observador das suas manifestações concretas no viver da sociedade. O diálogo crítico que entabulou com a modernidade partiu da novidade do evento Jesus Cristo, pela ligação entre história e Revelação acontecida nele. Ao caminhar para uma civilização de liberdade e de amor, como meta da história, estava ciente do mundo ecuménico e pluralista e lançava pontes para uma relação entre cultura e transcendência.

Homenagens[editar | editar código-fonte]

Uma estátua do escultor Arlindo Rocha foi colocada em frente da Torre dos Clérigos, ex-libris do Porto. Outra obra, da escultora Irene Vilar, comemora a presença do ilustre prelado na sua terra natal.
Foi agraciado a 22 de abril de 1980 com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade e a 20 de abril de 2017, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[3]
A 20 de maio de 1982, foi homenageado na Assembleia da República.
Foi iniciada recentemente uma página no Facebook dedicada ao início do processo de beatificação de D. António Ferreira Gomes.[4]


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Na publicação de amanhã, prosseguirei com a história dos BISPOS DO PORTO



ANTÓNIO FONSECA

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