segunda-feira, 30 de março de 2009

A "Armadilha" da Quaresma

Acabou-se a Quaresma
¡Adeus mistério da Ressurreição! Os sete domingos que se seguem ao da RESSURREIÇÃO se vivem como quaisquer domingos.
Se acabó la Cuaresma
Se acabó la Cuaresma
Todos temos muito que varrer, que limpar. A todos, incluindo os santos, - pois isso confessam nos seus escritos -, não doem as nossas infidelidades a Deus, ao próximo e a nós mesmos, e sentimos dor, medo ou temor de Deus pela condenação eterna em que temos incorrido. Isso que nos explicaram, da dor de contrição.

Outros chega a doer-se por um amor grande ao mesmo Deus ofendido, e que nos ensinaram a chamar a essa atitude, dor de contrição: "... que ainda que não houvesse céu, eu te amara, e ainda que não houvesse inferno, te temeria. Não me tens que dar porque te queira, pois ainda que o que espero, não esperará, o mesmo que te quiero, te quisera."

Em nós se despertam, ao pôr-nos frente ao nosso passado obscuro, de modo especial durante o tempo de Quaresma, se despertam, repito, sentimentos de culpabilidade em maior ou menor grau e de um vago e ambíguo pesar, sentindo desgosto de coisas passadas.
E em parte ou em muito, nossa ignorância dos conteúdos cristãos, de sua doutrina, do Evangelho sobretudo, produz em alguns, reacções e atitudes um pouco masoquistas, é dizer, sentindo um raro e obscuro prazer dessas sensações de dor, arrependimento, desgosto...

Mas que poucos há con esse convencimento da nova vida que Jesus Cristo nos há ganho para que vivamos aqui e agora ¡JÁ! ¿Não recordais as palavras de Jesus, quando na sinagoga acabou de ler um texto do profeta Isaías? (61, 1-2): “Hoje se cumpre esta Escritura que acabais de ouvir". Depois da barreira da morte, a viveremos EM PLENITUDE. A Quaresma é só mediação, é só ponte. Não nos fiquemos na ponte, que é só um passo para chegar à outra margem.

Não produzamos um desconcerto de valores, dando umas dimensões desproporcionadas à Quaresma, deixando o resto de nossos esforços, de nossos trabalhos, de nossas ilusões ensonadas e esgotado nosso corpo e nosso espírito, demos por finalizado o projecto truncado do mistério da Ressurreição do Filho de Deus dentre os mortos. Tudo se acabou. ¡Adeus mistério da Ressurreição!
Os sete domingos que se seguem ao da RESSURREIÇÃO geralmente se vivem como domingos quaisquer.
A Liturgia da Igreja não é um conjunto de ritos, mas uma realidade que busca e promove a relação íntima e mística do ser humano com Deus e de Deus com o mesmo ser humano.
Pois essa Liturgia, que é meio privilegiado para nossa formação cristã, a autêntica, nos declara em suas Normas Universais para o Ano Litúrgico (NUAL):
    - Os DOMINGOS deste tempo de PÁSCOA de RESSURREIÇÃO hão-de ser considerados e chamados “domingos de Páscoa”
- Têm precedência sobre qualquer festa do Senhor e de qualquer solenidad - As solenidades que coincidem con estes 7 domingos hão-de trasladar-se para segunda-feira seguinte
Suponho que vos dais conta da importância que tem a Páscoa de Ressurreição para a Igreja, para nossa Mãe do espírito, porque esta Ressurreição de Cristo é o centro, o cume de toda a vida cristã, de toda a vida da Igreja e que se celebra e que Jesus Cristo o actualiza na celebração da Eucaristía, nos diz o Concilio Vaticano II. É o caminho autêntico cristão da santidade até os desposarmos com Deus.
E minha triste experiência, em três continentes, é que esta etapa, este tempo de PÁSCOA de RESSURREIÇÃO não se aproxima em nada ao esforço e interesse que põe o povo cristão, em todo o mundo, durante as quatro semanas de Quaresma com a Semana Santa como corolário, que abre a porta com a Vigilia Pascal a este tempo de Ressurreição, mas que não passamos da porta.
Estes sentimentos e ideias que vos transmito, afortunadamente não são dogma de fé. Há e haverá muitas coisas que matizar e até que suprimir. Vós o podeis fazer com inteira liberdade. E não esqueçais que eu parto das muitas coisas boas que fazemos os cristãos durante a Quaresma, ainda com nossas excessos e apesar de que estejamos descentrados, pelo papel proeminente que damos à Quaresma com respeito à Páscoa de Ressurreição. Não me recordeis, nem o recordeis, que todos o sabemos.
Agora, depois desta terceira e última entrega, bom será, que vós digais o que falta, o que se pode juntar. O que devemos suprimir, porque talvez eu me tenha passado da fronteira. Mas que sempre tive razão e buscando o bem de todos, o meu em primeiro, se estou errado. Clarito, ¿verdade? Pois adiante. Agora é o vossoo turno, intentando buscar, repito, o bem de Todos.
Saudação fraternal, Eduardo MART-ABAD, escolapio.
Morte, ¿onde está tua vitória?
Chega o Sábado Santo e tudo se acabou. Já temos acabado. As recordações de nossos pecados, de nossos arrependimentos, ficam guardados
Muerte, ¿dónde está tu victoria?
Muerte, ¿dónde está tu victoria?
Ainda ressoa em minha mente dos meus 17 anos, a palavra ronca de um sacerdote já idoso, acrescentando comocomplemento a sua prática de exercícios quaresmais: “Olha que hás-de morrer. Olha que não sabes quando.”
Não obstante, temos caído numa gramde "armadilha" porque temos pregado, apresentado, explicado com sermões e charlas quaresmais todo o conteúdo da Quaresma, com seu conteúdo de conversão, como objetivo principal, como o nuclear, como o principal, como o essencial do mistério ao qual a mesma Quaresma nos está preparando: a Ressurreição de Jesus Cristo, ao terceiro dia, dentre os muertos.
E a Quaresma nos háq preparado com horas extras, horas durante todos os dias e ainda antes da Quaresma, renovando e tirando à luz um ano mais, todos os símbolos e gestos de um arrependimento e conversão vazios de Jesus Cristo e cheios de nossos sentimentos de um obscuro pesar, não sabemos de quê.
Acabada a Quaresma, se acabou tudo. Se acabou todo o esforço e todo o projecto de futuro da renovação, da conversão de nossa vida.

O único projecto era a Quaresma, com todo o seu folclore, de procissões de kilómetros, a percorrer em 16, 20 ou mais horas, passos ou carroças com figuras da Paixão de Jesus Cristo, penitentes e flagelantes, encapuzados, nazarenos com cadeias ou com cruzes, sangrando-lhes os ombros de puxar os passos ou carroças.

¡Que grande"armadilha" ! Porque o importante não é a Quaresma, momento, etapa de preparação do Grande Mistério. O período de Quaresma fica desproporcionado em sua intensidade e vivência. O importante, que digo importante, o fundamental, é a Ressurreição do Filho de Deus de entre os mortos.
“Morte, ¿onde está tua vitória? Morte ¿onde está teu aguilhão?”
Se me vai a imaginação pelo que conheço: Semana Santa de Andalucía, de Castilla, ainda que digam que é diferente. Chega o Sábado Santo e tudo se acabou. Já temos acabado. As recordações de nossos pecados, de nossos arrependimentos, ficam aparcados. Agora, a descansar de tantos trabalhos extra, que temos tido nos quarenta dias e sobretudo dessa grande Semana, que a chamamos Santa, em que ficamos vazios no corpo e mente para viver o Grande Mistério para que todo esse período ou etapa nos havia preparado. Tudo se acabou, tudo se acabou. Chegamos ao final. Adeus Ressurreição, para a que nos estava preparando. Estamos cansados e fartos já de tanto “trajín”.

A RESSURREIÇÃO DO FILHO DE DEUS DE ENTRE OS MORTOS... já falaremos mais tarde, que agora estamos cansados, agoniados, de procissões, e tudo o demais da Quaresma. Uff! 40 dias e mais, trabalhando e preparando para que tudo saia bem. As procissões de “passos” de imagens preciosas, as bandas de música com ensaios e ensaos, os via crucis processionais com cruzes penitenciais aos homens e os cirios e os archotes, e os gemidos de dor...

Para quê todo este esforço, todo este tilintar de milhões e milhões, para que todo saia ben e se veja bonito, que esteja bem, de que goste e satisfaça a todos, por essa tendência do ser humano, farto de tensões, a descarregar-se de suas tensões internas, de sua culpabilidade, por certo masoquismo de toda esta Quaresma que temos montado e que cada vez degenera num grande espectáculo e um trajar nas paróquias, preparando todo...

http://es-catholic.net De: Eduardo Mart (Abad) Escolápio in: catholic.net
António Fonseca

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