quarta-feira, 4 de março de 2009

Uma Leitura dos textos Bíblicos - II Domingo da Quaresma

Uma Leitura dos Textos Bíblicos

Deus não poupou o seu Filho!

I Leitura (Gn 22, 1-2.9a.10-13.15-18): “Abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência” Este texto pode e deve ser lido a vários níveis. - Recusa dos sacrifícios humanos, prática corrente nos antigos cultos fenícios e cananeus: em analogia com o que se praticava nesses cultos (sacrifício dos primogénitos), Abraão poderá ter pensado que o seu amor a Deus exigiria como prova real o holocausto de Isaac. Mas Deus não quer a morte do homem, mas a vida e, por isso, impede Abraão de imolar o filho e aponta-lhe, como substituto, o sacrifício de um cordeiro. - Releitura teológica sobre a provação da fé de Abraão, a sua obediência e a promessa: a Deus não agradam os sacrifícios humanos, mas não podia deixar de agradar o amor incondicionado que Abraão lhe demonstra com esta disponibilidade a renunciar a tudo - ao seu próprio futuro: sacrifica o seu único herdeiro quando já não tem qualquer esperança de ter mais filhos - para obedecer ao que julgava ser a vontade divina. Entrevemos aqui o drama e a grandeza da fé que transfigura a vida. - Releitura cristológica: "Deus não poupou o seu Filho" - ouviremos na 2.ª leitura. Jesus é o novo Isaac, o "filho único", o "Amado" do Pai. Tal como Isacc carregou com a lenha para o sacrifício e se deixou atar sobre ela para o sacrifício, assim Jesus carrega com a cruz e deixa cravar-se nela, entregando-se livremente e sem reservas nas mãos do Pai que o entrega numa demonstração suprema e insuperável de amor. Evangelho (Mc 9, 2-10): "Este é o meu Filho ... " Com a profissão de fé em Cesareia de Filipe (Mc 8, 27-30), começa no Evangelho segundo São Marcos uma nova fase na vida de Jesus, que se encaminha decididamente para o desenlace da paixão e da morte, perante a incompreensão de Pedro e dos demais discípulos. O relato da transfiguração de Jesus segue o modelo das narrativas de aparições divinas (teofanias) no AT: a voz, a nuvem, o esplendor, as personagens celestes, símbolos da lei e da profecia. Por outro lado, adianta-se às aparições do Ressuscitado, sendo uma proclamação antecipada da glorificação pascal. Importa ainda ter presente que, neste Evangelho, este trecho segue-se ao primeiro anúncio da paixão (8, 31): morte e ressurreição são duas faces de um único mistério. Marcos sublinha a incompreensão dos discípulos na Transfiguração (tal como já vincara a incompreensão de Pedro face ao anúncio da Paixão). Só passando pela morte (anunciada) se pode chegar à ressurreição (antecipada) e, deste modo, aceder à fé pascal. Entretanto, o único meio para "compreender" é a escuta de Cristo (v. 7), reconhecido como Filho de Deus. A esse reconhecimento chegará o centurião ao ver Jesus expirar (cf. 15, 39). II Leitura (Rm 8,31b-34): "Não poupou o seu Filho" Paulo convida-nos a penetrar no coração da Trindade e a contemplar a sua paixão pela humanidade. Com uma série de perguntas retóricas, afirma a certezas basilares. Como é possível que, para benefício de estranhos - e até "inimigos" - Deus chegue ao extremo de sacrificar o que Lhe é mais caro: o seu Unigénito? E, entretanto, foi isso o que realmente aconteceu na Páscoa de Cristo, morto, ressuscitado e sempre vivo a interceder por nós, na presença do Pai. Por isso, nada nem ninguém se pode interpor entre nós e este amor salvífico, cheio de misericórdia e de perdão.

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