IV DOMINGO DA QUARESMA
Leitura do Livro do Êxodo Ex 20, 1-17
Naqueles dias, Deus pronunciou todas estas palavras. «Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egipto, dessa casas da escravidão. Não terás outros deuses perante Mim. Não farás para ti qualquer imagem esculpida, nem figura do que existe lá no alto dos céus ou cá em baixo na terra ou nas águas debaixo da terra. O rei dos caldeus deportou para Babilónia todos os que tinham, escapado ao fio da espada; e foram escravos deles e de seus filhos, até que se estabeleceu o reino dos persas. Assim se cumpriu o que o Senhor anunciara pela boca de Jeremias: «Enquanto o país não descontou os seus sábados, esteve num sábado contínuo, durante todo o tempo da sua desolação, até que se completaram setenta anos». No primeiro ano do reinado de Ciro, rei da Pérsia, para se cumprir a palavra do Senhor, pronunciada pela boca de Jeremias, o Senhor inspirou Ciro, rei da Pérsia, que mandou publicar, em todo o seu reino, de viva voz e por escrito, a seguinte proclamação: «Assim fala Ciro, Rei da Pérsia: O Senhor, Deus do Céu, deu-me todos os reinos da terra e Ele próprio me confiou o encargo de Lhe construir um templo em Jerusalém, na terra de Judá Quem de entre vós fizer parte do seu povo ponha-se a caminho e que Deus esteja com ele».
Palavra do Senhor.
Salmo Responsorial Salmo 136 (137)
Se eu não me lembrar de ti, Jerusalém, fique presa a minha língua
Sobre os rios da Babilónia
Nos sentámos a chorar, com saudades de Sião.
Nos salgueiros das suas margens,
Dependurámos nossas harpas.
Aqueles que nos levaram cativos
Queriam ouvir os nossos cânticos
E os nossos opressores uma canção de alegria:
«Cantai-nos um cântico de Sião».
Como poderíamos nós cantar
Um cântico do Senhor em terra estrangeira?
Se eu me esquecer de ti, Jerusalém,
Esquecida fique a minha mão direita.
Apegue-se a língua ao paladar,
Se não me lembrar de ti,
Se não fizer de Jerusalém
A maior das minhas alegrias
Leitura da Epístola do Apóstolo São Paulo aos Efésios Ef 2, 4-10
Irmãos: Deus, que é rico em misericórdia, pela grande caridade com que nos amou, a nós, que estávamos mortos por causa dos nossos pecados, restitui-nos à vida com Cristo – é pela graça que fostes salvos – e com Ele nos ressuscitou e nos fez sentar nos Céus com Cristo Jesus, para mostrar aos séculos futuros e abundante riqueza da sua graça e da sua bondade para connosco, em Cristo Jesus. De facto, é pela graça que fostes salvos, por meio da fé. A salvação não vem de vós: é dom de Deus, Não se deve às obras: ninguém se pode gloriar. Na verdade, nós somos obra sua, criados em Cristo Jesus, em vista das boas obras que Deus de antemão preparou, como caminho que devemos seguir.
Palavra do Senhor.
Glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor.
Deus amou tanto o mundo que lhe deu o Seu Filho Unigénito: quem acredita n’Ele tem a vida eterna.
Glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor
(cf. Lec. P’.429)
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, segundo São João Jo 3, 14-21
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus. E a causa da condenação é esta: a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras. Todo aquele que pratica más acções odeia luz e não se aproxima dela, para que as suas obras não sejam denunciadas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus”.
Palavra de salvação.
O FILHO DO HOMEM SERÁ ELEVADO
1ª Leitura (2 Cr 36, 14-16, 19-23): “Quem fizer parte do seu povo ponha-se a caminho”
Grande “teologia da história”: o “Cronista” interpreta as desgraças nacionais do seu povo como consequência – “castigo” divino - das suas infidelidades à Aliança. O esquema do castigo/prémio temporal com que Deus retribui a infidelidade ou fidelidade é, seguramente, simplista. Deus não teria menos motivos para “castigar” Nabucodonosor e a Assíria do que Judá e os seus chefes... No próprio Antigo Testamento se assiste à superação dessa perspectiva parcial segundo a qual todos os males são castigo merecido (ler, por ex., Ezequiel ou Job e, sobretudo, os cânticos do Servo de Yahweh (Javé) em Isaías). Entretanto, tem plena justificação a releitura dos acontecimentos da história pessoal e/ou colectiva à luz da fé, vendo neles apelos à conversão e sinais da intervenção providencial de Deus que concorre em tudo para o bem daqueles que o amam. Foi o que fez o Autor das Crónicas: abandonando a Palavra de Deus, que é a nossa luz (S/118, 105) e a nossa vida (Dt 32, 47), caímos inevitavelmente nas trevas e na morte de um “exílio” qualquer. Porém, o caminho é reversível: aproximando-nos de Deus e da sua Palavra, podemos recuperar de novo a luz e a vida.
Evangelho (Jo 3, 14-2): “Quem pratica a verdade aproxima-se da luz”
O Evangelista São João convida-nos a olhar para Jesus como o Filho Unigénito que veio ao mundo para lhe demonstrar o amor desmedido do Pai que não quer a sua ruína, mas tão-somente a sua salvação. Esta actuação divina na história provoca uma crise: perante a revelação do amor de Deus os homens têm necessariamente de tomar posição acolhendo e correspondendo ou, pelo contrário, recusando e contrariando. Quanto maior é a luz maior é a cegueira, quando, obstinadamente, se fecham os olhos para a não ver. Perante o amor ilimitado de um Deus que só quer a salvação, agiganta-se o drama da auto-condenação dos homens que preferem as trevas à luz. Não se trata, recorda o Evangelista, de uma opção teórica, intelectual, mas sim de opção prática, ética e existencial: quem pratica más acções odeia a luz e condena-se à morte; quem pratica a verdade, aproxima-se da luz e recebe o dom da Vida. No centro deste drama ergue-se a Cruz: “assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do Homem será elevado”. Aparentemente, a crucifixão será uma condenação humilhante, mas, na verdade., será uma elevação a que Jesus se guindou com a força do amor salvífico. Doravante é para o Crucificado que é preciso olhar (= crer) para obter a salvação e a vida: “Quando Eu for elevado da terra, atrairei tudo a mim” (Jo 12, 32).
2ª Leitura (Ef 2, 4-10): “Pela graça fostes salvos”
Esta leitura fala-nos da união dos cristãos com o mistério de Cristo em termos próximos daqueles que serão repropostos na epístola da Vigília Pascal (Rm 6, 3-11). Da morte para a vida em Cristo Jesus: movimento baptismal (da morte para a vida) e fórmula baptismal (“em Cristo Jesus”). Nisto se manifestou “o grande amor com que Deus nos amou” (Ef 2, 4). Mas há muito mais “coisas” inauditas de que Paulo tem de se socorrer, inovando até o vocabulário grego, num esforço supremo para tentar traduzir este indizível “grande amor” de Deus: com Cristo nos con-vivificou (Ef 2, 5), nos con-ressuscitou e nos con-sentou nos Céus (Ef 2, 6). Compreenda-se, portanto, o incompreensível: tudo isto já nos aconteceu! Somos, de facto, obra de Deus! (Ef 2, 10). Esta participação na vida de Cristo é descrita em termos positivos como pura graça, independentemente de quaisquer méritos. O homem só pode intervir com a fé que consiste, no fundo, em deixar-se amar... Só depois de se ter sido objecto do amor misericordioso de Deus em Cristo se é capaz de corresponder com as boas obras correspondentes (v. 10) que são, portanto, mais graça do que mérito.
HOMILIÁRIO PATRÍSTICO
A Vida morta matou a morte
Que vem a ser a serpente elevada? A morte do Senhor na cruz. Uma vez que a morte provém da serpente, foi representada pela imagem da serpente. A mordedura da serpente é letal, a morte do Senhor é vital. Olhe-se para a serpente para se ficar imune da serpente. Que quer isto dizer? Olhe-se para a morte, para que a morte nada valha. Mas a morte de quem? A morte da Vida, se assim se pode dizer: a morte da Vida. E porque assim se pode dizer é maravilhoso dizê-lo. ... Acaso terei dúvidas em dizer aquilo que o Senhor se dignou fazer por mim? Porventura não é Cristo a Vida? E, contudo, foi crucificado. Não é Cristo a Vida? E todavia morreu. Mas na morte de Cristo morreu a morte; porque a Vida morta matou a morte, a plenitude da Vida devorou a morte; a morte foi absorvida no corpo de Cristo. Assim também nós diremos na Ressurreição, quando, triunfantes, cantaremos: “Onde está, ó morte, a tua pretensão? Onde está o teu aguilhão? (1 Cor 15, 55). Entretanto, irmãos, para sermos curados do pecado, contemplemos a Cristo crucificado.
(S. Agostinho, In Io. Ev. Tr. 12, 11)
SUGESTÕES LITÚRGICAS
1. Este é o Domingo “laetare”, assim chamado pelo convite do cântico de entrada: “Alegra-te, ó Jerusalém”. No conjunto do percurso quaresmal a Liturgia como que alivia o rigor da austeridade: é admitido o som dos instrumentos (mesmo sem ser como acompanhamento e suporte do canto), pode ornamentar-se o altar com flores e, onde os haja, usam-se paramentos de cor rosa. O uso do prefácio do 4º Domingo (próprio do Ano A) é uma hipótese a considerar.
2. Diante da comunidade reunida para a celebração eucarística, ergue-se a imagem do Amor Crucificado: “Deus amou tanto o mundo que entregou o Seu Filho Unigénito!” (Evangelho). Na 2ª leitura, São Paulo reafirma que Deus, “rico de misericórdia”, nos salva por amor: “pela grande caridade com que nos amou”, fez-nos passar da morte à vida. É este o amor que já resplandecia na história do Povo da primeira Aliança. Amor tantas vezes atraiçoado mas sempre paciente e disposto a sucessivas iniciativas de paz, em que o perdão supera infinitamente a indignação, capaz de suscitar novos inícios após as maiores catástrofes. Tal é a altura e profundidade da Cruz bendita, fonte inexaurível de vida eterna para os crentes.
3. Leitores: 1ª leitura – Não é difícil. Trata-se tão só de pôr em prática a técnica elementar da dicção, sobretudo a articulação (atenção às consoantes e aos finais das frases que devem ser nítidos e às palavras difíceis: infidelidades, abomináveis, sem cessar, escarneciam, indignação). 2ª Leitura – Leitura excepcionalmente difícil de proclamar. Se a primeira frase sair bem, a leitura salva-se. Tente preparar a primeira frase, retirando o inciso (entre travessões): É (melhor, foi) pela graça que fostes salvos”. Quando achar que está bem, coloque o inciso no seu lugar como se fosse um aparte.
SUGESTÃO DE CÂNTICOS
Entrada:
Alegra-te, ó Jerusalém, F. Santos, BML 32, 8;
Lembrai-vos, Senhor, A Oliveira, NCT 89;
Jesus, nossa redenção, M. Luís, NCT 496;
Salmo responsorial
Jerusalém, Jerusalém, F. Santos, BML, 15, 12;
Se eu de ti me não lembrar, M. Luís, SRAE 196;
Aclamação ao Evangelho
Deus amou de tal modo o mundo, F. Santos, BML 45, 11 ou 115, 45;
Comunhão:
Deus amou de tal modo, F. Valente, BML 60, 51;
O Filho do homem, F. Santos, NCT 491;
Fim:
Salvé, ó Cruz, M. Faria, NCT 117;
Ó Cruz vitoriosa, F. Silva, NCT 143.
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Ver Cadernos Litúrgicos da Quaresma
António Fonseca
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