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Do livro A Religião de Jesus, de José Mª Castillo – Comentário ao Evangelho do dia – Ciclo A (2010-2011) – Edição de Desclée De Brouwer – Henao, 6 – 48009 Bilbao – www.edesclee.com – info@edesclee.com: tradução de espanhol para português, por António Fonseca
21 de Abril - QUINTA-FEIRA SANTA
ÚLTIMA CEIA e LAVA-PÉS
Jo 13, 1-15
Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele que amara os Seus que estavam no mundo, levou até ao extremo o Seu amor por eles. E, no decorrer da ceia, tendo já o Diabo metido na cabeça a Judas Iscariotes, filho de Simão, que O entregasse, sabendo Jesus que o Pai depositara nas Suas mãos, todas as coisas e que havia saído de Deus e ia para Deus, levantou-Se da mesa, tirou as vestes e, tomando uma toalha, colocou-a à cinta. Depois, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que pusera à cinta. Ao chegar a Simão Pedro, este disse-Lhe. «Tu vais lavar-me os pés?» Jesus respondeu-lhe: «O que Eu faço, tu não podes entendê-lo agora, mas hás-de sabê-lo depois». Pedro insistiu: «Nunca me lavarás os pés». Jesus respondeu-lhe: «Se eu não te lavar, não terás parte Comigo». «Senhor, disse-Lhe Simão Pedro, não só os pés, mas também as mãos e a cabeça!» Jesus respondeu-lhe: «Aquele que está lavado não necessita de lavar senão os pés, pois está todo limpo. Também vós estais limpos, mas não todos». Ele bem sabia quem O ia entregar; por isso, disse: «Nem todos estais limpos». Depois de lhes lavar os pés, de retomar as Suas vestes e de Se pôr de novo à mesa, disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, visto que sou. Ora, se Eu vos lavei os pés, sendo Senhor e Mestre, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também…»
1. O lava-pés reduziu-se na Igreja a um mero rito litúrgico que uma vez por ano, nos ofícios de Quinta-feira Santa, o sacerdote oficia como mais uma cerimónia. E sem mais consequências, nem na vida da gente, nem no sistema organizativo da Igreja. É verdade que, na missa deste dia, é costume pregar sermões e homilias que elogiam a humildade, a caridade e outras virtudes semelhantes. Mas o facto é que este ritual não modifica nem a vida dos fiéis, nem a exemplaridade da Igreja.
2. Seguramente, o pior que temos feito aos cristãos com este exemplo, que nos deixou Jesus, terá sido organizar com ele um rito litúrgico. E, fazendo isso, talvez nos imaginemos que estamos cumprindo o mandato do Senhor. Mas o que fez Jesus não foi um ritual litúrgico. Se Pedro não estava disposto a aceitar o lava-pés, é que se deu conta de que aquilo era algo muito sério e com o que ele não estava de acordo. Porque lavar os pés era trabalho de escravos. Por isso, como se podia tolerar que o “Mestre” e o “Senhor” se convertesse em “escravo”? Isso equivalia a transtornar toda a ordem estabelecida, o sistema económico, a organização da sociedade.
3. Disse São Paulo, que Deus, em Jesus, “se esvaziou de si mesmo”, o que significa que mudou a “condição divina” pela “condição de escravo” (Fil 2, 7). Isto se sabia uns trinta anos antes de se redigir o IV Evangelho. O lava pés é a forma concreta de representar a Deus, revelado em Jesus, na sociedade de todos os tempos, também (como é lógico) na atual. Que nos diz isto? Que este mundo tem arranjo na medida em que há gente que se nega a fazer de “senhor” dos demais; e aceita ir pela vida como “escravo” de todos.
Compilação por
António Fonseca
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