sexta-feira, 22 de abril de 2011

Nº 897-3 - A RELIGIÃO DE JESUS - SEXTA-FEIRA SANTA - 22 DE ABRIL DE 2011

897-3

Do livro A Religião de Jesus, de José Mª CastilloComentário ao Evangelho do diaCiclo A (2010-2011)Edição de Desclée De BrouwerHenao, 648009 Bilbaowww.edesclee.cominfo@edesclee.com: tradução de espanhol para português, por António Fonseca

22 de Abril – SEXTA-FEIRA SANTA

PAIXÃO DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO

Jo 18, 1-19, 42 

Naquele tempo, Jesus saiu com os discípulos para o outro lado da torrente do Cédron onde havia um  horto, no qual Ele entrou com os discípulos. Ora Judas, o que O ia entregar, também conhecia aquele lugar por Jesus Se ter lá reunido muitas vezes com os discípulos. Então Judas, conduzindo a coorte e os guardas fornecidos pelos príncipes dos sacerdotes e pelos fariseus foi ali ter com lanternas, archotes e armas. Sabendo Jesus tudo o que Lhe ia acontecer, adiantou-se e disse-lhes: «A quem buscais». Responderam-Lhe: «A Jesus, o Nazareno». «Sou Eu», retorquiu Jesus. E Judas, que o ia trair, também estava com eles. Quando Jesus lhes disse: «Sou Eu» recuaram e caíram por terra. Perguntou-lhes novamente: «A quem buscais»? E eles disseram: «A Jesus, o Nazareno». Jesus respondeu: «já vos disse que sou Eu. Se é, pois, a Mim que buscais, deixai partir estes». Isto, para que se cumprisse a palavra que havia dito: «Dos que Me deste não perdi nenhum». Então Simão Pedro que tinha uma espada, desembainhou-a e feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. Mas disse Jesus a Pedro: «Mete a tua espada na bainha; não beberei Eu o cálice que Meu Pai me deu»? Então a coorte, o tribuno e os guardas dos judeus apoderaram-se de Jesus e manietaram-n’O. Conduziram-n’O primeiramente a Anás, por ser sogro de Caifás, que era Sumo Sacerdote, desse ano. Tinha sido Caifás quem dera este conselho aos judeus: «É preferível que morra um só homem pelo povo». Entretanto Simão Pedro, com outro discípulo, seguia a Jesus. Este discípulo era conhecido do Sumo Sacerdote e entrou com Jesus no pátio do Sumo Sacerdote, enquanto Pedro ficava à porta, do lado de fora. Saiu então o outro discípulo, conhecido do Sumo Sacerdote, falou à porteira e levou Pedro para dentro. Então a porteira disse a Pedro: «Não és tu dos discípulos desse homem?» Ele respondeu: «Não sou» Estavam ali presentes os servos e os guardas, que, por estar frio, tinham feito um braseiro e estavam a aquecer-se. Pedro também estava com eles a aquecer-se. Então, o Sumo Sacerdote interrogou Jesus acerca dos Seus discípulos e da Sua doutrina. Jesus, respondeu-lhe: «Falei abertamente ao mundo: sempre ensinei na sinagoga e no Templo, onde todos os judeus se reúnem, e nada disse em segredo. Porque me interrogas? Pergunta aos que ouviram aquilo que lhes ensinei; bem sabem o que Eu disse». Tendo dito isto, um dos guardas, que ali estava, deu uma bofetada a Jesus, dizendo: «É assim que respondes ao Sumo Sacerdote»? Jesus respondeu-lhe: «Se falei mal, mostra onde está o mal; mas, se falei bem, porque Me bates?» Então, Anás mandou-O, manietado, ao Sumo Sacerdote Caifás. Entretanto, Simão Pedro estava ali a aquecer-se. Disseram-lhe então: «Não és também tu um dos seus discípulos»? Ele negou e disse: «Não sou». E um dos servos do Sumo Sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse: «Não te vi eu no horto com Ele?» Pedro negou outra vez, e nesse momento um galo cantou. Depois levaram Jesus da casa de Caifás ao pretório. Era de manhã cedo e eles não entraram no pretório para não se contaminarem e poderem, assim, celebrar a Páscoa. Pilatos então, saiu cá fora e disse-lhes: «Que acusação apresentais contra este homem?» Disseram-lhe em resposta: «Se Ele não fosse malfeitor, não t’O entregaríamos». Retorquiu-lhes Pilatos: «Levai-O vós e julgai-O segundo a vossa Lei». Disseram-lhe então os judeus: «A nós não nos é lícito matar pessoa alguma». Isto, para que se cumprisse a palavra dita por Jesus, ao indicar de que morte ia morrer. Pilatos tornou a entrar no pretório, chamou Jesus e disse-Lhe: «Tu és o rei dos judeus»? Jesus respondeu-lhe: «É por ti mesmo que dizes isso, ou disseram-to outros de Mim»? Pilatos respondeu: «Porventura sou eu judeu? A Tua nação e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim: que fizeste?» Jesus respondeu: «O meu Reino não é deste mundo; se o meu Reino fosse deste mundo, pelejariam, os Meus servos, para que Eu não fosse entregue aos Judeus; mas o Meu Reino não é daqui». Disse-lhe Pilatos: «Logo Tu és Rei?» Jesus retorquiu: «Tu o dizes! Eu Sou Rei! Para isso nasci e para isto vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a Minha voz». Disse-Lhe Pilatos: «Que é a verdade»? Dito isto, tornou a ir ter com os judeus e disse-lhes: «Não acho n’Ele culpa alguma; Vós tendes por costume que eu vos solte alguém pela Páscoa. Quereis que vos solte o rei dos judeus?» Então eles gritaram de novo: «Esse não, mas Barrabás». Barrabás era um salteador. Então Pilatos mandou que levassem Jesus e O açoitassem. E os soldados, depois de tecerem uma coroa com espinhos, puseram-Lha na cabeça e envolveram-n’O com um  manto de púrpura. Depois, avançavam para Ele e diziam: «Salve, ó Rei dos Judeus»! E davam-Lhe bofetadas. Pilatos saiu outra vez fora e disse-lhes: «Aqui vo-Lo trago fora, para que saibais que não acho n’Ele culpa alguma». Saiu, pois, Jesus fora, levando a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Pilatos disse: «Eis aqui o homem"« (Ecce homo) Assim que O viram, os príncipes dos sacerdotes e os guardas gritaram: «Crucifica-O! Crucifica-O!» Tornou Pilatos a dizer: «Tomai-O vós e crucificai-O, que eu não encontro n’Ele culpa alguma». responderam-lhe os judeus: «Nós temos uma Lei e, segundo a nossa Lei, deve morrer, porque se fez Filho de Deus!» Quando Pilatos ouviu estas palavras, mais atemorizado ficou. Entrou outra vez no pretório e disse a Jesus: «De onde és Tu?» Mas Jesus não lhe deu resposta. Disse-Lhe então Pilatos: «Não me falas? Não sabes que tenho poder para Te soltar e poder parra Te crucificar»? Jesus respondeu: «Nenhum poder terias sobre Mim se do Alto te não fosse dado. Por isso, aquele que Me entregou a ti tem maior pecado». A partir de então, Pilatos procurava libertá-Lo; mas os judeus gritavam: «Se O libertardes, não és amigo  de César; todo aquele que se faz rei é contra César». Ouvindo isto, Pilatos levou Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Lajeado, em hebraico “Gabbathá”. Era a Preparação da Páscoa e quase à hora sexta. Pilatos disse aos judeus «Eis aqui o vosso rei»! Mas eles gritaram: «À morte, à morte. Crucifica-O»! Pilatos retorquiu: «Hei-de crucificar o vosso Rei»? Os príncipes dos sacerdotes responderam: «Não temos outro rei senão a César»! Então entregou-Lho para ser crucificado. Levaram, pois, consigo Jesus. E, carregando às costas a cruz, saiu para o lugar chamado Crânio, que em hebraico se diz «Gólgota», onde O crucificaram, e, com Ele, mais dois: Um de cada lado e Jesus no meio. Pilatos escreveu também um letreiro e pô-lo no cimo da cruz. Nele estava escrito: «JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS». Muitos dos judeus leram esse letreiro, porque o lugar onde Jesus estava crucificado era próximo da cidade e o letreiro estava escrito em hebraico, grego e latim. Disseram então os príncipes dos sacerdotes a Pilatos: «Não escrevas: «O rei dos judeus, mas que Ele disse: «Eu sou o rei dos judeus». Pilatos respondeu: «O que escrevi, está escrito». Tendo os soldados crucificado Jesus, tomaram as Suas vestes – de que se fizeram quatro partes, uma para cada soldado – e também a túnica. A túnica, toda tecida de alto a baixo, não tinha costura. Disseram uns aos outros: «Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver de quem será». Assim se cumpriu a Escritura: «Repartiram entre si as Minhas vestes e sobre a Minha túnica deitaram sortes». Assim fizeram, pois, os soldados. Junto da cruz de Jesus estavam Sua mãe, a irmã de Sua Mãe, Maria, mulher de Cleófas e Maria de Magdala. Ao ver Sua Mãe e junto dela, o discípulo que Ele amava, Jesus disse a Sua mãe: «Mulher, eis aí o teu Filho». Depois disse ao discípulo: «Eis aí a tua mãe». E, desde aquela hora, o discípulo recebeu-a em sua casa. Depois, sabendo que tudo estava consumado e para que se cumprisse a Escritura, Jesus disse: «Tenho sede». Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam uma esponja no vinagre, fixando-a a um rapo de hissopo, levaram-lha à boca. Quando Jesus tomou o vinagre, exclamou: «Tudo está consumado». E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito. Então os judeus, visto ser o dia da Preparação, para os corpos não ficarem na cruz ao sábado – pois era um grande dia aquele sábado –, pediram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retiras dos. Vieram então os soldados e quebraram as pernas ao primeiro, depois ao segundo dos que tinham sido crucificados com Ele. Ao chegarem a Jesus, vendo-O já morto, não Lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados perfurou-Lhe o lado com uma lança e logo saiu sangue e água. Aquele que o viu é que o atesta, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que diz a verdade, para que também vós acrediteis. E isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura que diz: «Nem um  só dos Meus ossos se há-de quebrar». E outra vez diz a Escritura: «Hão-de olhar para Aquele que trespassaram». Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, ainda que em oculto por medo dos judeus, pediu a Pilatos para levar o corpo de Jesus. Pilatos permitiu-lho. Veio, pois, e tirou o corpo. Veio, também Nicodemos, aquele que, anteriormente, se dirigira, de noite, a Jesus, trazendo uma composição de quase cem libras de mirra e aloés. Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-n’O em ligaduras juntamente com os perfumes, segundo a maneira de sepultar usada entre os judeus. No lugar em que Ele tinha sido crucificado, havia um  horto e, no horto, um túmulo novo, no qual ninguém fora ainda depositado. por causa da Preparação dos judeus com o o túmulo estava perto, foi ali que puseram Jesus.

1. O que chama a atenção primeiro que tudo é que o mais significativo, que nos deixou Jesus (o final da sua vida), não nos é apresentado en forma de uma “reflexão teológica”, mas sim com o um “relato histórico”. O decisivo na vida (a de Jesus e nossa) não são as “ideias”, mas sim os “factos”. Há muitos escritores, pregadores, artistas, músicos, que se empregaram a fundo para explicar a morte de Jesus. Mas há muito menos imitadores do exemplo que nos deixou Jesus. O que salva o mundo é explicar a vida de Jesus mediante a própria vida.

2. Este relato da Paixão destaca a solidão de Jesus: o abandonam os apóstolos (Jo 18, 8); o atraiçoa Judas (Jo 18, 3); Pedro renega da sua fé e relação com Jesus (Jo 18, 15-27); a multidão entusiasta não se menciona. Fica Jesus só perante os Sumos Sacerdotes que, em todo o relato, atuam como os que forçam o procurador para a condenação à morte. E morte de cruz, a mais horrenda forma de execução que havia então.

3. Jesus se entrega livremente a uma tropa de polícias a que atira por terra só com a sua Palavra (Jo 18, 6). A duvidosa historicidade deste incidente não lhe tira o significado religioso.

4. Destaca a liberdade de Jesus perante o tribunal religioso. A “audácia” o atrevimento “parresia” de Jesus, que não tinha nada que ocultar (Jo 18, 19-21). É o modelo para o que a Igreja diz e como o diz. E também para o que cala e oculta.

5. O relato se esforça por deixar de lado a responsabilidade da autoridade política. Se bem que o motivo formal da condenação foi o delito  de laesae maiestatis, como consta pelo letreiro que puseram, sobre a cruz. A Jesus se condenou por uma ambição política que jamais teve nem mostrou.

6. Os responsáveis da morte na cruz foram os sacerdotes (Jo 19, 6. 7. 15). Foi a religião que matou Jesus (Jo 19, 7). O “sacerdote” e o “profeta” são incompatíveis.

7. A morte de Jesus não foi um acto religioso, nem um cerimonial sagrado, nem exemplo de devoção,  estética ou beleza. Foi um crime “legal”. E foi, portanto, a execução de um condenado. A salvação que transporta Jesus é laica; não está vinculada nem ao tempo, nem ao sacerdócio, nem ao culto. Está vinculada à liberdade profética e à transparência ética de um homem que existiu para os outros.

 

Compilação por

António Fonseca

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