quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

CARTA A TITO - S. PAULO - CAP. I, II e III

Cartas de São Paulo
Carta a Tito
EXPRESSAR A FÉ NA VIDA
Introdução
A carta a Tito e a primeira carta a Timóteo tratam de problemas idênticos. O Evangelho foi anunciado, as comunidades foram fundadas e, algumas dezenas de anos mais tarde, aparecem os verdadeiros problemas. Alguns cristãos, provavelmente de origem judaica, misturam o Evangelho com teorias propagadas por grupos judaicos que se arrogam o direito de regulamentar o uso de alimentos e proibir o matrimónio. Por outro lado, também os costumes trazidos do paganismo se infiltram na comunidade, falseando a moral. É preciso recordar aos cristãos que a salvação foi trazida por Cristo, e também traçar as grandes linhas do comportamento para a vida particular e social, e ainda prover à organização das Igrejas. A carta foi escrita provavelmente nos anos 64-65. Tito, seu destinatário, é o delegado pessoal de Paulo na ilha de Creta. Segundo Gl 2,1ss, ele era grego, acompanhou Paulo e Barnabé em Antioquia e, apesar da sua origem pagã, não foi circuncidado; isso para demonstrar a liberdade evangélica perante a Lei. Agora Paulo conta com ele para organizar a comunidade de Creta e lutar contra os que falseiam a Palavra de Deus. O centro da carta é a «sã doutrina», isto é, a vontade salvadora de Deus e a salvação gratuita trazida por Cristo. Ao redor desse núcleo giram as várias partes da carta, numa organização temática bem mais feliz que na primeira a Timóteo. Tito deve instituir presbíteros, a fim de que exortem à «sã doutrina» e refutem todos os que a contradizem; além do mais, o próprio Tito deverá «fechar a boca» dessa gente, ensinando, praticando e fazendo praticar a «sã doutrina».

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Endereço e saudação

1Paulo, servo de Deus, Apóstolo de Jesus Cristo para levar os escolhidos de Deus à fé e ao conhecimento daquela verdade que conduz à piedade 2e se fundamenta sobre a esperança da vida eterna. Deus, que não mente, prometeu-nos essa vida antes dos tempos eternos, 3e no tempo certo manifestou-a com a sua Palavra, através da pregação que me foi confiada por ordem de Deus, nosso Salvador. 4A ti, Tito, meu verdadeiro filho na fé comum, graça e paz da parte de Deus e de Jesus Cristo, nosso Salvador.

Organização da comunidade

5Eu deixei-te em Creta para que cuidasses de organizar o que ainda restava para fazer, e para que nomeasses em cada cidade os presbíteros das Igrejas, conforme as instruções que te deixei: 6o candidato deve ser irrepreensível, esposo de uma única mulher, e seus filhos devem ter fé e não ser acusados de maus costumes nem de desobediência. 7De facto, sendo administrador de Deus, o dirigente deve ser irrepreensível, não arrogante, nem beberrão ou violento, nem ávido de lucro desonesto. 8Pelo contrário, deve ser hospitaleiro, bondoso, ponderado, justo, piedoso, disciplinado, 9e de tal modo fiel à fé verdadeira, conforme o ensinamento transmitido, que seja capaz de aconselhar segundo a sã doutrina e também de refutar quando a contradizem.

Tudo é puro para os puros

10De facto, há muitos rebeldes, faladores e enganadores, principalmente entre os que vieram do judaísmo. 11É preciso fazer com que eles se calem, pois estão a perverter famílias inteiras, ensinando o que não devem, com a intenção vergonhosa de ganhar dinheiro. 12Um dos seus profetas disse: «Os habitantes da ilha de Creta são sempre mentirosos, animais ferozes, comilões preguiçosos». 13E o que ele disse é verdade. Por isso, repreende-os com firmeza, para que sejam sãos na fé, 14e não dêem ouvidos a fábulas judaicas ou a mandamentos de homens desviados da verdade. 15Tudo é puro para os puros; mas nada é puro para os impuros e descrentes, porque a sua mente e a sua consciência estão corrompidas. 16Dizem que conhecem a Deus, mas negam-no com os próprios actos, pois são cheios de ódio, desobedientes e incapazes de fazer qualquer obra boa.

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Expressar a fé na vida

1Quanto a ti, ensina o que é conforme à sã doutrina. 2Que os velhos sejam sóbrios, respeitáveis, sensatos, fortes na fé, no amor e na paciência. 3As mulheres idosas também devem comportar-se como convém a pessoas sensatas: não sejam caluniadoras, nem escravas de bebida excessiva; 4pelo contrário, sejam capazes de dar bons conselhos, de modo que as recém-casadas aprendam com elas a amar os seus maridos e filhos, 5a ser ajuizadas, castas, boas donas de casa, submissas aos seus esposos, amáveis, a fim de que a Palavra de Deus não seja difamada. 6Aconselha igualmente os jovens, para que em tudo tenham bom senso. 7E tu mesmo sê exemplo de boa conduta, sincero e sério no teu ensino, 8exprimindo-te numa linguagem digna e irrepreensível, para que o adversário nada tenha a dizer contra nós e fique envergonhado. 9Os servos devem ser em tudo obedientes aos seus senhores, dando-lhes motivo de alegria; não devem ser teimosos, 10nem roubar; pelo contrário, devem dar provas de inteira fidelidade, para em tudo honrar a doutrina de Deus, nosso Salvador.

Aguardando a realização da esperança

11A graça de Deus manifestou-se para a salvação de todos os homens. 12Essa graça ensina-nos a abandonar a impiedade e as paixões mundanas, para vivermos neste mundo com autodomínio, justiça e piedade, 13aguardando a bendita esperança, isto é, a manifestação da glória de Jesus Cristo, nosso grande Deus e Salvador. 14Ele entregou-Se a Si mesmo por nós, para nos resgatar de toda a iniquidade e para purificar um povo que Lhe pertence, e que seja zeloso nas boas obras. 15Diz-lhes todas estas coisas. Exorta-os e repreende-os com toda a autoridade. Que ninguém te despreze.

3

O mistério cristão

1Lembra-lhes que devem ser submissos aos magistrados e autoridades, que devem obedecer e estar prontos para toda a boa obra; 2não devem difamar ninguém, nem meter-se em brigas, mas antes ser pacíficos e atenciosos no trato com todos.

3Também nós, antigamente, éramos insensatos, desobedientes, extraviados, escravos de todo o tipo de paixões e prazeres, vivendo na perversidade e na inveja, dignos de ódio e odiando-nos uns aos outros. 4Mas a bondade e o amor de Deus, nosso Salvador, manifestaram-se. Ele salvou-nos, 5não por causa dos actos justos que tivéssemos praticado, mas porque fomos lavados pela sua misericórdia através do poder regenerador e renovador do Espírito Santo. 6Deus derramou abundantemente o Espírito sobre nós, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador, 7para que, justificados pela sua graça, nos tornássemos herdeiros da esperança da vida eterna.

Viver a fé

8Esta é uma palavra digna de fé. Por isso quero que insistas nestas coisas, a fim de que aqueles que acreditam em Deus sejam os primeiros a praticar o bem. Estas coisas são boas e úteis para os homens.

9Evita controvérsias inúteis, genealogias, discussões e debates sobre a Lei, porque para nada servem e são vazias. 10Depois de um primeiro e um segundo conselho, nada mais tens a fazer com um herege, 11pois sabemos que um homem desse tipo se perverteu e se entregou ao pecado, condenando-se a si mesmo.

Saudações finais

12Vou enviar-te Ártemas ou Tíquico. Quando chegar aí, faz o possível por vires ter comigo a Nicópolis, onde resolvi passar o Inverno. 13E esforça-te por ajudar Zenas, o jurista, e Apolo, de modo que nada lhes falte para a viagem. 14Todos os da nossa gente precisam de aprender a praticar boas obras, de modo que sejam capazes de atender às necessidades urgentes e assim não vivam uma vida inútil. 15Todos os que estão comigo te mandam saudações.

Saudações a todos os que nos amam na fé.

Que a graça esteja com todos vós.

============================= reflexão ==========================

1,1-4: A tarefa do Apóstolo é anunciar aos homens o projecto de Deus, que quer conduzi-los à vida eterna.

5-9: As primeiras comunidades cristãs permaneciam sob a dependência directa do Apóstolo ou de um seu delegado. Este era encarregado de organizar um grupo de pessoas que presidiam ao ensinamento e ao funcionamento da comunidade. Surgiram, então, os presbíteros, os dirigentes (= epíscopos), os presidentes, os pastores. Quanto ao desempenho dos cargos, pouco sabemos: governavam simultaneamente, ou cada um por sua vez, ou cada um como responsável por um determinado grupo. Com o desaparecimento dos Apóstolos e dos delegados, a situação desenvolveu-se: a comunidade é animada por um bispo, que preside ao colégio dos sacerdotes e ao grupo dos diáconos. A função ministerial na Igreja exige vida digna, em vista do dever fundamental de anunciar a Palavra de Deus.

10-16: O texto relembra Mc 7,1-23, mostrando que o importante é entregar-se a Deus de coração sincero, e não o ritual de purificação, ou a proibição de alimentos. O autor recorda a fama dos habitantes de Creta, citando uma frase do poeta cretense Epiménides de Cnossos.

2,1-10: Estas normas não criticam o quadro social do tempo, mas representam o desejo de que as comunidades cristãs se tornem focos de justiça e dignidade. Há, porém, uma novidade tipicamente cristã: o amor. Os cristãos de todas as idades e condições devem mostrar, com a vida prática, que se converteram e vivem para Deus e para os irmãos.

11-15: A manifestação de Deus muda o modo de compreender e viver a vida. O cristão passa a viver voltado para a realização final, isto é, para a manifestação gloriosa de Jesus. O v. 13 testemunha a fé dos primeiros cristãos na divindade de Jesus.

3,1-7: O autor relembra o acontecimento marcante, a conversão que provocou uma radical mudança no seu modo de viver. Em poucas palavras, todo o mistério cristão é relembrado: o amor de Deus, a salvação pela graça, o baptismo, o dom do Espírito, a esperança da realização final.

8-11: Ter fé não significa aceitar apenas mentalmente um quadro de verdades, mas viver na vida prática o compromisso com o projecto de Deus. Herege é aquele que escolhe na fé somente o que lhe convém, esquecendo o essencial e dividindo a comunidade.

12-15: Despedindo-se, o autor recorda uma regra de ouro: praticar o bem, ajudando concretamente quem está na necessidade.

http://diocese-porto.pt/

http://ecclesia.pt/anopaulino

BENDITO SEJA DEUS

António Fonseca

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