Nº 1614-6 - IN MEMORIAN do Pde Mário Salgueirinho - 6 de Abril de 2013

Nº 1614-6

(Post para publicação em 6 de Abril de 2013 – 10,30 h).

(Pde Mário Salgueirinho Barbosa)

Padre Mário Salgueirinho foi para todos nós um ser humano exemplar, uma pessoa marcante e ficam definitivamente as nossas vidas mais pobres sem o seu carácter, bondade e sabedoria.

Que descanse em paz com as honras do Senhor.

18\06\1927 - 29\10\2011

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Do livro “Caminhos da Felicidade”

QUANTAS ANGÚSTIAS

Na semana passada, tive de ir ao Instituto de Medicina Legal a que o nosso povo chama Morgue.

Deparei com um mundo de inquietação, tristeza e luto. Para ali são levados para serem autopsiados os cadáveres de sinistrados, de suicidas e de quantos morrem repentinamente, sem assistência médica.

Para ali se encaminha todos os dias um cortejo doloroso de gente vestida de luto, de coração despedaçado, para reconhecer e levar o corpo de um familiar ou de um amigo...

No meio daquele mundo dramático, precisei e fazer um telefonema. Vi no outro lado da rua uma cabine telefónica. Aproximei-me. Era uma cabine muito gasta, muito usada.

Entretanto meditei. Todos os telefones transmitem mensagens de alegria e de tristeza. Mas aquele telefone rescendia a dor. Se ele falasse, quantas angústias nos diria, que ali foram vividas,  comunicadas  choradas. Quantas comunicações ali transmitidas: de indignação, de revolta, de surpresas dolorosas, de tristeza profunda.

Participei depois no funeral da pessoa que me levara ali. E algo me sensibilizou gratamente.

Era uma pessoa pobre. Mas os vizinhos, com a tristeza no rosto. compareceram com as suas orações, com as suas flores  com os seus lamentos e até com as suas lágrimas.

Bem-aventurada a vizinhança que partilha assim, que vive como família: que sofre quando a dor chega à casa do lado, como rejubila nas suas horas de alegria.

Porto, Dezembro de 1998

Mário Salgueirinho

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Do livro “Dar é receber”

REGRESSO DA PAZ

Todo o mundo anseia pela paz. Uns manifestam-se desfilando pelas ruas gritando slogans, embora muitas dessas pessoas sejam pouco ou nada amantes da paz nos seus lares, nos seus campos de trabalho  na sociedade. Mas é a sua forma de manifestação, algumas vezes com efeitos válidos.

Outros - os crentes, respondendo ao apelo do Papa e dos seus líderes religiosos, oram confiadamente ao Senhor do Universo rogando o regresso rápido da paz.

Eis uma oração expressiva do escritor católico inglês, Thomas Merton, intitulada: «NA TUA VONTADE ESTÁ A NOSSA PAZ».

"Omnipotente e misericordioso Deus,

Pai de todos os homens,

Criador e dominador do Universo,

Senhor da História,

cujos desígnios são imperscrutáveis,

cuja glória é sem mancha,

cuja compaixão pelos erros dos homens é inexaurível,

na Tua vontade está a nossa paz!

Na Tua misericórdia, ouve esta oração que sobe a Ti

do tumulto e do desespero

de um mundo que se esqueceu de Ti,

no qual o Teu nome não é invocado,

tuas leis são ridicularizadas

e Tua presença é ignorada.

Não Te conhecemos e, assim, não temos paz.

Concede-nos prudência proporcional ao nosso poder,

sabedoria proporcional à nossa ciência,

unidade proporcional à nossa riqueza e vigor.

E abençoa a nossa vontade

de ajudar todas as raças e povos a caminhar,

em amizade connosco, pela estrada da justiça,

da liberdade e da paz perene.

Mas concede-nos, sobretudo,

compreender que os nossos caminhos

não são necessariamente os teus caminhos,

que não podemos penetrar plenamente

o mistério dos teus desígnios,

e que a própria tempestade de poder

que agora cresce na terra

revela a Tua secreta vontade

e a Tua imperscrutável decisão.

Concede-nos ver o teu rosto

à luz desta tempestade cósmica,

ó Deus de santidade, misericordioso com os homens,

Concede-nos encontrar a paz

onde ela realmente pode ser encontrada:

na Tua vontade, ó Deus, está a nossa paz".

Porto, Dezembro/2003

Mário Salgueirinho

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A publicar em:

6-Abril-2013 - 10,30 horas

António Fonseca