segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

9 de Janeiro de 2012 - In memoriam - 108 anos depois

 

 

9-1-1904 a 19-3-1986

ARLINDO JOAQUIM PINTO DA FONSECA,

natural de Cinfães do Douro, onde nasceu em 9 de Janeiro de 1904 e que faleceu em 19 de Março de 1986. se hoje ainda fosse vivo, completaria 108 anos de idade.

Era um simples cidadão, trabalhou toda a vida, desde os 9 anos quando emigrou para o Porto, onde começou por ser ajudante numa padaria, depois de acabar a Instrução primária, Pouco depois, por volta dos anos 1912 a 1914, trabalhou em vários locais, aprendendo bem e depressa e a determinada altura, foi trabalhar para um escritório de advogados, onde esteve a trabalhar até aos 75 anos. Nesse escritório de advogados, aprendeu a escrever à máquina e trabalhava com um conceituado advogado (Dr. Morais de Almeida) e mais tarde, com o filho deste (que era mais ou menos da sua idade), que ainda foi mais famoso do que o pai, que entretanto já havia falecido. Este advogado, sabia praticamente de cor, todos os livros de Direito, pois havia-os lido quase todos, antes de se formar e começar a exercer a sua atividade e normalmente dizia ao empregado para procurar na biblioteca do escritório determinados livros dando a indicação exata dos nºs dos artigos, códigos, etc., de que necessitava, para qualquer causa de que estivesse a tratar no momento, no escritório ou no Tribunal. Era um indivíduo sumamente inteligente e leitor compulsivo de todas as leis que iam saindo, de tal modo, que devido à sua sapiência, nos anos de 1950/60, teve que ser internado na Suíça, onde esteve alguns anos, para ser tratado a problemas do foro mental, sem resultados favoráveis. Acabou por ter de voltar para casa onde faleceu na década de 60, após se ter delapidado a sua fortuna, e, bem assim, grande parte da fortuna de sua mulher –. que não sei se ainda é viva, - com os tratamentos a que foi submetido no estrangeiro e em Portugal, durante longos anos.

Meu Pai, - que é dele que se trata afinal, - tinha casado aos 25 anos (em 1929) com minha mãe que se chamava Regina, tendo ido morar para Rio Tinto, primeiro nu lugar da Campainha (creio eu) e depois na Rua de Medancelhe, onde ainda hoje vive a minha irmã mais nova. Minha mãe teve 8 filhos, mas dois morreram à nascença e outro que seria mais velho do que eu, parece que sobreviveu ainda alguns meses. Entretanto havia nascido em 1935 a minha irmã Maria Regina; em 1940 nasci eu; em 1943 nasceu meu irmão Fernando; em 1948 nasceu minha irmã Arminda e depois em 1952 (já não esperávamos…) nasceu meu irmão Luís Francisco, que faleceu de acidente vascular ou coisa parecida, quando estava na Guarda Nacional Republicana (antiga Brigada de Trânsito) em 1980 com 28 anos incompletos.

Por volta dos seus 18 ou 19 anos, foi fundado o Corpo Nacional de Escutas (CNE) e meu pai com alguns colegas da mesma idade ou aproximada, envolveram-se entusiasticamente nessa Associação, sendo considerado por muitos e por mim, principalmente, um dos fundadores do Escutismo na Região do Porto. Fundou vários Agrupamentos na cidade do Porto e nos arredores, nomeadamente em Rio Tinto, participou em inúmeras caminhadas e em todos os Acampamentos de Agrupamentos, Regionais e Nacionais. Com muita pena sua e também porque os tempos eram muito difíceis, só não pôde ir a Jamborees realizados fora do País, porquanto apenas ele trabalhava, para sustentar esta família que chegou a ser formada por sete pessoas (meus pais e cinco filhos, todos menores). No entanto, não esmoreceu nunca o seu entusiasmo pelo Escutismo, tendo levado todos os filhos para essa atividade. Primeiro minha irmã mais velha, que chegou a ser Chefe de Alcateia, no Grupo 10, sito no Bonfim. A seguir fui eu (com 6 anos apenas) fui integrado na referida Alcateia, como Lobito, onde percorri os escalões de sub-guia e guia de Bando (de Lobitos); depois fui Explorador, onde também fui sub-guia e guia de patrulha (patrulha Lobo). Mais tarde, ao atingir a idade de 16 anos, transferi-me por opção para o grupo de Campanhã, onde fui Caminheiro e Guia de Clã e finalmente na minha maioridade, que nessa altura, era aos 20 anos (creio eu) fui refundar o Agrupamento de Águas Santas, que estava paralisado por falta de Chefes, onde até 1962 exerci as funções de Chefe de Agrupamento. Meu irmão Fernando, também foi Lobito e Explorador no Bonfim. A Arminda foi Pioneira em Rio Tinto, assim como meu irmão Luís também andou por lá algum tempo.

Entretanto meu pai, conhecido como CHEFE ARLINDO ou VELHO LOBO DO NORTE – enquanto eu era o LOBO DO NORTE … -  não só no meio escutista, mas até fora dele, sofreu diversos dissabores, na Região do Porto, nomeadamente por parte de alguns dirigentes que na altura mandavam na Junta Regional do Porto, que o desrespeitaram muitíssimo; inclusive alguns desses dirigentes (que já cá não estão, felizmente..) tiveram o topete de o insultar, proibindo-o até de exercer as funções de dirigente de Agrupamento, nomeadamente o de Rio Tinto, que aliás tinha sido o primeiro por ele fundado. Mau grado, essas tribulações, que a mim pessoalmente, envergonhavam porque estive presente quando tal sucedeu, não esfriaram o seu entusiasmo, e fez questão de que quando morresse lhe vestissem a farda de Escuta (que sempre foi) e com o Rosário na mão.

O Escutismo foi para ele a sua meta; em tudo que ali fez, empregou todo o seu saber, entusiasmo, alegria e contagiava todos os que o rodeavam, com as canções que cantava e fazia cantar; sabia-as todas na ponta da língua e quando era preciso falar perante fosse quem fosse, fazia-o sem se preocupar com as críticas que alguns (… os já acima citados…) pejorativamente lhe manifestavam. Nunca odiou ninguém, pelo contrário, sempre os ajudou a manter viva a chama do Escutismo que nele ardia com muita intensidade. Morreu perdoando a todos e uma hora antes de falecer, no Hospital de S. João, ao fim de oito dias de internamento, quando lhe perguntei se já tinha falado com o Confessor, ele disse-me que não me preocupasse porque já o tinha feito e estava completamente em paz com os Homens e com Deus e só esperava a chamada final

Adeus meu querido Pai e até quando Deus quiser.

Pai Nosso e Ave Maria. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, assim como era no princípio, agora e sempre. Ámen.

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Post colocado em 9/1/2012, às 15,36 Horas

ANTÓNIO FONSECA

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